Início / Romance / Sombras e estrelas / Prólogo e Capítulo 1
Sombras e estrelas
Sombras e estrelas
Por: Cinthya Amaral
Prólogo e Capítulo 1

Lily.

O brilho deslumbrante das lantejoulas prateadas em meu vestido refletia-se no espelho do quarto do casal. A luxuosa limusine, elegantemente estacionada à porta de casa, aguardava-me para conduzir ao Dolby Theatre, em Los Angeles. Aos 21 anos, encontrava-me indicada para um prestigioso prêmio da Academia de Cinema de Hollywood, sendo reconhecida como a melhor atriz coadjuvante. Nesse momento crucial da minha carreira, eu brilhava como a estrela mais radiante no vasto céu da indústria cinematográfica. Contudo, por trás desse sonho, uma realidade sombria e deteriorada se escondia, revelando-se por entre as cortinas e câmeras.

Mesmo após estar elegantemente trajada, optei por abandonar o deslumbrante conjunto de brilho. Despojei-me das joias suntuosas e do vestido, aproveitando o fato de que Jack, meu parceiro e talentoso ator, já havia seguido para a cerimônia antes de mim. Fui rápida em dar seguimento ao meu meticulosamente planejado plano de fuga. Deslizei a mala preparada de debaixo da cama, mudei meu visual ao adotar uma peruca preta e lisa, e recolhi os documentos falsificados obtidos no mercado clandestino para a viagem. Desci para o carro, adotando a nova identidade de Lily e deixando para trás o nome Sara Jim. Em menos de meia hora, já estava no hangar do aeroporto internacional, pronta para embarcar no avião fretado. O motorista contratado exclusivamente para esse trajeto foi recompensado para desaparecer, mantendo meus atos em absoluto sigilo.

O avião particular decolou uma hora após minha partida do aeroporto de Los Angeles. Antecipava que Jack só perceberia minha ausência ao notar que meu rosto não estava entre as indicadas. Nosso relacionamento era mantido em estrito segredo, escapando assim das incômodas lentes dos paparazzi que perturbam a vida dos famosos. Na aeronave, brindei com champanhe e, ao mesmo tempo, chorei pela difícil decisão que tomei. Deixá-lo não foi algo simples, mas naquela época era a única solução viável. Hoje, após 15 anos desde que me afastei, meu coração ainda palpita descompassadamente ao relembrar daqueles momentos tão intensos.

********

Anos Depois...

Em meio à tranquilidade da lanchonete do hospital principal de Cannes, eu tentava relaxar, após realizar uma cirurgia de seis horas. A pequena Béatrice de apenas quatro anos fora vítima de um grave acidente e eu havia lutado arduamente para salvá-la. Meu corpo doía sob os holofotes cirúrgicos e o cheiro de formol impregnava meu jaleco. O cansaço era tão grande que não percebi o lugar encher-se em poucos minutos, enquanto alguém ligava a TV. Meus pensamentos estavam focados na salada e no suco, o estômago roncava no compasso da fome, depois de mais de oito horas sem nada comer.

Nesse momento, Candance entrou como sempre descontraída.

— Lily, Lilly. Você está bem? Nossa Lily, você está um trapo! Como foi o caso? — Questionou, parada ao meu lado, olhando para a sala ao redor, colocando um café nas minhas mãos. Contei a ela sobre os desafios da cirurgia. 

— Você realmente está bem? — Perguntou com preocupação.

— Sim, estou. Por quê? Que aglomeração é essa na lanchonete?

— Amiga, em que mundo você vive? Hoje é o dia de abertura do Festival de Cannes. A cidade está fervilhando com artistas magníficos. — Sorri nervosamente, pois não fazia sentido pensar em festividades naquele momento.

— Saí de casa sem comer e quando cheguei já estava uma correria aqui no hospital, terminei de fazer uma cirurgia de quase seis horas. A criança tem apenas quatro anos e quer que eu me lembre do festival de cinema de Cannes, Candance?

— Que mau-humor é esse! A criança está viva, graças a você, doutora.

Imediatamente, percebi a grosseria na minha voz quando falei com ela. Candance, após resmungar uma resposta à altura, mordeu o sanduíche mais forte do que o normal, ainda de pé, parada ao meu lado. Isso indicava sua insatisfação.

— Peço desculpas — falei, acariciando a sua mão — e sente-se comigo. Estou cansada e você sabe como fico depois de uma cirurgia, especialmente ao envolver uma criança.

— Não precisa se desculpar. Você está estressada. Foca apenas no trabalho. Lily, há quanto tempo não se diverte com um homem? Qual é o problema de assistir atores famosos desfilando no tapete vermelho? Você precisa relaxar, mulher. Na vida, nem tudo é trabalho. Existe vida além desse hospital. Por acaso você já parou para pensar nisso.

— Ok, ok. Sugiro, então, que aproveitemos o brilho do tapete vermelho.

Olhei para a televisão que Candance e metade do hospital assistia… A sala estava lotada de mulheres em êxtase. Foi quando na TV vi a imagem de Jack Alton, meu antigo amor do passado que acabara de chegar e percorria o corredor principal. Meu coração disparou ao reconhecê-lo depois de tanto tempo.

— Lindo, não é mesmo, Lily? — Questionou minha amiga, observando meus olhos fixos na tela. Meus olhos estavam presos ali, sem poder desviar o olhar. Ele estava mais velho, mas ainda era deslumbrante. Seu sorriso aberto trouxe lembranças de como ele costumava sorrir para mim, especialmente nas manhãs tumultuadas, quando os dois estavam envolvidos em gravações, roteiros e mídia. 

Pisquei com rapidez, tentando escapar da pergunta de Candance. 

— Não o conheço. Você sabe que é raro eu assistir filmes, seriados e coisas do tipo. 

— Vou perguntar novamente, amiga. Em que mundo você vive? 

— Vivo no mundo do trabalho, que amo, aliás. E, ocasionalmente, algum tipo de relacionamento e muitas leituras. Você sabe o quanto gosto de ler. 

— Mas me diz, mesmo assim, olhando agora pela televisão. Ele é incrível! Já imaginou se eu o conhecesse pessoalmente? — Candance suspirou, quase como em um devaneio. 

— Acha que viveria um conto de fadas? — Respondi seriamente, mas com um sorriso travesso. — Tipo a Cinderela. Você seria a gata-borralheira e ele o príncipe rico, charmoso e bonito.

Ela soltou uma gargalhada. 

— Não, só tiraria uma foto mesmo. 

Também sorri. Ela tinha esse dom; mesmo sendo séria e, às vezes, carrancuda, Candance conseguia sempre me arrancar um sorriso. Voltei a olhar para a tela e agora meus olhos estavam fixos nas imagens dele sozinho, em poses cada vez mais deslumbrantes. 

— Lily, você não está se apaixonando pelo Jack, não é? Não tire os olhos da tela. Veja todas as mulheres no refeitório. É uma competição acirrada. — Ela brincou. 

Pensei rápido e decidi que era hora de ir embora. Levantei-me e dei um beijo estalado na bochecha da alta mulher, de cabelos claros, olhos verdes e pele clara como a neve. 

— Aproveite a visão do seu ator. Preciso descansar e ir para casa dormir. 

— Passo lá para irmos trabalhar juntas. 

— Sim, comandante. — Brinquei, fazendo sinal de concordância. 

— Quero dizer, hoje estou de plantão. Tomarei café na sua casa. 

Minha antiga residência, à beira do mar, na avenida principal, era meu refúgio.

Leia este capítulo gratuitamente no aplicativo >
capítulo anteriorpróximo capítulo

Capítulos relacionados

Último capítulo