Após sair da UTI, verificar os sinais vitais de Jack mais uma vez, me dirigi um pouco para a sala médica, onde tentaria descansar. Não queria ir embora, estava angustiada, com medo de que o paciente pudesse ter uma recaída durante a noite. Entrei, sem vontade para nada, tentei descansar um pouco, encostada na cabeceira da cama de solteiro, mas a agitação não me permitiu. Foi quando vi, na pequena cômoda que abrigava um computador, uma luminária e o controle da televisão. Levantei-me e o busquei, na clara intenção de encontrar um canal de comédias, ou filmes mais alegres, que pudessem me alegrar um pouco. Estava difícil, cliquei os dedos por vários e nada, até que uma reportagem, de um canal americano, me chamou a atenção e fez eu parar para ver a cena.Inúmeras pessoas estavam aglomeradas no aeroporto de Los Angeles. Adolescentes, jovens, adultos, esperavam o avião abrir a saída de emergência, para a retirada do corpo da atriz Pietra Streep, que morrera no acidente de carro na estrada
Quando a porta do escritório do diretor foi aberta e eu a vi, uma tempestade de emoções invadiu o meu interior. A raiva pulsava em minhas veias, uma vontade incontrolável de esmurrá-la, de liberar toda a frustração acumulada ao longo dos anos. Ela havia abandonado Jack, meu irmão, sem explicação, deixando cicatrizes profundas na sua alma.Apesar de tudo, uma onda de saudade me envolvia. Era como se o tempo tivesse retrocedido e me transportado para os momentos em que éramos uma família unida. Ela fez parte da nossa história e, de alguma forma, mesmo que contraditória, também teve um papel crucial em salvar meu irmão.À medida que eu perguntava de forma mecânica, a médica, a antiga companheira de Jack, respondia a todas as perguntas. No entanto, o que eu realmente queria perguntar não pode ser feito ali. Quando ela saiu correndo, uma sensação de choque envolveu meu ser. Deus, eu estava tão nervoso que não conseguia dizer seu nome. Um nome que, curiosamente, era falso; sempre a conheci
Não tinha forças nem para beber água quando cheguei em casa. A comida também revirava no estômago. A vontade era de sumir, desaparecer do mapa, como em um passe de mágica. Enviei uma mensagem para minha amiga relatando o terrível encontro com Jeremy, e ela respondeu que o levou para o hotel. — Como ele estava Candance?— Uma pilha de nervos. Tive que sair escondida do hospital, e o levei ao hotel.— Oh, Deus, por que isso tudo está acontecendo agora? Já se passaram quinze anos.— Porque talvez chegou a hora de vocês se encontrarem.— E se eu não estiver preparada para encarar essa realidade?— Se for para você encarar, a Lily que conheço, mulher forte, poderosa, irá encontrar a melhor maneira.— Vou tentar dormir.— Vá e consiga. Amanhã será um longo dia.A noite foi tensa. Sonhei com o acidente de carro, com Jeremy contando para Jack, e ele me acusando de ter causado o acidente quando me viu correndo pela rua. Quando senti os primeiros raios de sol, fiquei feliz por acordar viva.
Depois de duas taças de vinho, senti-me um pouco mais segura. Precisava liberar a energia ruim que me sufocava há mais de 15 anos. — Candance, a parte de como conheci Jack, já contei. Assim sendo, vou começar a parte ruim. Ela pegou-me na mão, sentiu que precisava passar para mim toda a energia da grande amiga que ela era.— Conte, sem cortes, vou ficar assim, pregada em suas mãos, a dando força.— Obrigada — respirei profundamente antes de começar. — Depois do sucesso do primeiro filme em que atuei com Jack, a mídia começou a focar em mim. Jovem, talentosa, atraente — falei sorrindo para quebrar o clima tenso. — Quatro meses depois, fui procurada pelos assessores de Ferguson. Eles me chamaram para uma reunião. A felicidade não cabia dentro de mim. Estava na mídia e sendo chamada pelo magnata do cinema… era tudo o que eu precisava. Diante da grande expectativa gerada naquele momento, não achei estranho que a reunião fosse agendada para a residência dele e não para o escritório. Como
Naquele dia, minha amiga parecia diferente, mas eu tinha preocupações maiores naquele momento. Ignorei essa agonia incontida. Precisava enfrentar Jeremy mais uma vez, e ele já estava à minha espera.Bati na porta, e ele mesmo a abriu a pedido do chefe. — Bom dia. Desculpe o atraso. Não sabia que tinha reunião agendada para hoje de manhã. — Não tínhamos mesmo, mas o Dr. Wallace, — disse Jeremy, apontando para um médico mais velho, alto, de cabelos grisalhos encostado na janela, admirando o mar — chegou e quer conversar com a doutora. — Dr. Wallace, é um prazer. — O prazer é meu, doutora. Não nego, estou espantado com o quanto é jovem e já tem um currículo invejável. — Gosto de estudar bastante. O senhor já está de posse do prontuário?— Ainda não. Preferi aguardá-la. — Vamos ver o paciente e lhe explicarei os procedimentos que fiz. Pedi licença e saímos da sala, acompanhados pelo médico americano. Subimos ao quarto andar e o levei até o leito de Jack. Com o tablet em mãos, mostr
Durante o dia, não toquei no papel que estava no bolso. Almocei com Lily, o que não foi bom. Olhar para ela fazia-me ter ainda mais vontade de ligar para os promotores de justiça americanos. Essa era a minha ideia, desde que, na sala médica, assisti a mais um testemunho de outra modelo. O medo que me torturava era o receio de perder aquela amizade tão valiosa. A vontade aumentava à medida que eu pensava no quão triste ela estava ao se despedir de Jack. Realizei uma cirurgia de emergência à tarde, que durou duas horas. Após um breve descanso, vi Lily entrando na ambulância para acompanhar Jack até o aeroporto. Quando o carro ligou a sirene, a vontade voltou com força total, ainda mais quando ela me olhou, antes da porta de trás se fechar, e vi o semblante triste dela. Num impulso, corri até um lugar onde não seria descoberta, peguei o telefone e disquei o número sem pensar. — Alô, gabinete do procurador Dawson Thomas. — Boa tarde, meu nome é Candance. Preciso muito falar com o procu
Saí às onze, caminhando em direção ao restaurante para afastar o sono e o medo. No horário combinado, o vi sentado em um lugar isolado, como ele pediu. Estava saboreando um vinho e mergulhado em um livro. Um homem bonito, atraente, aparentando ter entre 45 e 50 anos. — Procurador Dawson, boa tarde, sou Candance. Ele se levantou. Ficou ainda mais charmoso. Alto, elegante, no terno impecável, e me cumprimentou com um aperto de mão. Mão grandes, suaves e poderosas. Só não balancei a cabeça para afastar esses pensamentos, pois o procurador falou primeiro.— Senhorita. É um prazer. Sente-se, por favor. Aceita um vinho? — Sim, por favor. — Sentei-me e, de tão nervosa, não sabia onde colocar a bolsa. Estava atrapalhada. — Ansiosa? Não precisa ter medo, senhorita. — Pode me chamar pelo nome. Não tenho medo do que contarei. Só tenho receio de perder uma amizade maravilhosa. Como disse, ela não sabe de nada, e apesar de sentir que é o certo, estarei a traindo.— Daremos um jeito. Quer almo
Alguns minutos antes…Quando o diretor soltou a bomba, quase desmaiei. O impacto da notícia reverberou por todo o meu corpo, paralisando-me por um momento. Assim que Lily deixou o refeitório, liguei para o procurador. Se mandasse mensagem, com certeza me ignoraria.— Olá, bom falar com a senhorita.— O que está fazendo no hospital? Quer acabar com a amizade que conquistei? Você falou que daria um jeito.— Senhora Jim, é um prazer — cumprimentou o procurador. Eu estava ferrada. Existia uma grande chance de Lily ter ouvido minha voz, eu falava alto.Desliguei o telefone e comecei a fazer a evolução de alguns pacientes. A cabeça estava nas nuvens. Os dois residentes que me acompanhavam perceberam. — Doutora, a senhora está bem? Leu errado o prontuário do paciente do quarto 201.— Não, não estou bem. Vocês poderiam terminar para mim? Preciso resolver uma coisa. Vou pedir para o Doutor Claude ficar com vocês nos pacientes que faltam. Também vou tentar cancelar a cirurgia.Saí correndo pel