Saí às onze, caminhando em direção ao restaurante para afastar o sono e o medo. No horário combinado, o vi sentado em um lugar isolado, como ele pediu. Estava saboreando um vinho e mergulhado em um livro. Um homem bonito, atraente, aparentando ter entre 45 e 50 anos. — Procurador Dawson, boa tarde, sou Candance. Ele se levantou. Ficou ainda mais charmoso. Alto, elegante, no terno impecável, e me cumprimentou com um aperto de mão. Mão grandes, suaves e poderosas. Só não balancei a cabeça para afastar esses pensamentos, pois o procurador falou primeiro.— Senhorita. É um prazer. Sente-se, por favor. Aceita um vinho? — Sim, por favor. — Sentei-me e, de tão nervosa, não sabia onde colocar a bolsa. Estava atrapalhada. — Ansiosa? Não precisa ter medo, senhorita. — Pode me chamar pelo nome. Não tenho medo do que contarei. Só tenho receio de perder uma amizade maravilhosa. Como disse, ela não sabe de nada, e apesar de sentir que é o certo, estarei a traindo.— Daremos um jeito. Quer almo
Alguns minutos antes…Quando o diretor soltou a bomba, quase desmaiei. O impacto da notícia reverberou por todo o meu corpo, paralisando-me por um momento. Assim que Lily deixou o refeitório, liguei para o procurador. Se mandasse mensagem, com certeza me ignoraria.— Olá, bom falar com a senhorita.— O que está fazendo no hospital? Quer acabar com a amizade que conquistei? Você falou que daria um jeito.— Senhora Jim, é um prazer — cumprimentou o procurador. Eu estava ferrada. Existia uma grande chance de Lily ter ouvido minha voz, eu falava alto.Desliguei o telefone e comecei a fazer a evolução de alguns pacientes. A cabeça estava nas nuvens. Os dois residentes que me acompanhavam perceberam. — Doutora, a senhora está bem? Leu errado o prontuário do paciente do quarto 201.— Não, não estou bem. Vocês poderiam terminar para mim? Preciso resolver uma coisa. Vou pedir para o Doutor Claude ficar com vocês nos pacientes que faltam. Também vou tentar cancelar a cirurgia.Saí correndo pel
Estava na lanchonete quando Candance entrou para tomar o café da manhã. Ela não tentou falar comigo, soube respeitar o meu espaço. Ela olhou-me, mas me levantei antes que ela talvez criasse coragem. Ainda me sentia traída, mas nada que um final de semana na Suíça para me curar.Abasteci o carro, após evoluir os pacientes e trabalhar apenas no período da manhã, como combinara com o diretor. Comprei um café e parti pela via A10, para os arredores de Lugano. Cheguei já de tarde e fui recebida por Deli, a mulher que cuidava da casa e de mim, desde que eu a comprara.— Querida, quanto tempo? Saudade de você. — Deli abraçou-me.— Muito trabalho, mas vou conseguir ficar pelo menos até segunda. Tem janta? Estou com muita fome.— Deixei preparado. Quer comer na varanda?— Sim, vendo a beleza do lago. Acompanhe-me, por favor? — Ela sorriu e se retirou.Deli arrumou a mesa e sentou-se comigo. Ela já havia se alimentado, então apenas me fez companhia.— Os seus olhos estão tristes, Lily. O que es
A viagem de volta aos Estados Unidos foi tranquila, dentro do possível. O barulho das máquinas ligadas ao corpo de Jack causava-me angústia. Sempre fomos muito unidos, e foi ele que me deu suporte, inclusive para montar a academia que tanto gostava, hoje considerada a melhor e mais badalada de Los Angeles.Mamãe insistiu que nos esperaria no hospital. Janet não era velha, só tinha 55 anos, mas lutou tanto na vida, além de um tratamento de câncer, que a debilitou bastante. Estaríamos os dois juntos para cuidar de Jack, que ultimamente não estava com um relacionamento muito bom com a mamãe. Na visão dele, ela só pensava em dinheiro, mas, a meu ver, ele se esquecia o quanto ela sofreu. Em relação à outra surpresa de Cannes, não sabia ainda se contaria à ela sobre Sara.Quando entrei no Dignity Health California Hospital Medical Center, mamãe estava encostada no vitral olhando eles descerem o filho da ambulância.— Mamãe. — A chamei a abraçando.— Jeremy, que saudade! Não queria ter visto
Ela sorriu e abraçou-me forte.— Vamos nos atrasar. Podemos conversar no carro? Quero tomar café antes da cirurgia que tenho às dez. — Pediu-me feliz da vida de novo.— Resolvi depor. Como sou naturalizada francesa, usarei o direito de fazer videoconferência. Contarei tudo.— Tudo, tudo? — Perguntou Candance ao colocar o cinto de segurança — Sim, amiga. Inclusive que salvei Jack. Na verdade, fugi para salvar a carreira dele, por ameaça daquele monstro.— Mesmo assim, devo-lhe desculpas.— Já está desculpada e qualquer outra coisa que queira fazer eu aceito, insista comigo.— O bom é que passei um dia andando pelas ruas da bela Paris. A doida riu solto.— E pelo jeito almoçou num restaurante chique?— E como!— E pelos olhos brilhando achou o procurador lindo, charmoso, sorridente.— Nossa, você o descreveu na integra.Começamos a rir as duas. A vida começava a tomar um rumo diferente. Talvez as engrenagens e trilhos estivessem se ajustando, por agora apenas entre nós duas, mas quem
Quando Jeremy desligou o telefone na minha cara, estava de boca aberta. Candance chegou bem na hora. Ao ver minha expressão, e a força que eu segurava o volante, tentou tirar a minha mão e colocar na minha perna. Os dedos estavam já vermelhos.— O que aconteceu? Está tudo bem?— Posso contar depois, ainda estou em choque? — Falei com o carro ligado.— Pode, mas não quer passar para o banco do passageiro e eu dirijo. Suas mãos estão vermelhas de tão tensas.*****Cheguei em casa ainda sem entender. Tomei um banho, ligada no automático e fui me deitar. Rolei na cama, durante um tempo e só dormi, depois da meia noite. Para completar, durante à noite, tive um sonho romântico que me fez acordar triste. Lembrei-me da noite anterior à fuga. Fizemos amor com uma paixão incandescente. Um furor, uma ganância. Corpos entrelaçados pelo amor. Não sei como ele não percebeu que era uma despedida. Acordei mais uma vez com olheiras bem pesadas. No carro contei para Candance sobre Jeremy.— Esse cara
Eu não me cabia de felicidade. Primeiro, porque há dias Jack estava acordado em definitivo. E segundo, porque em momento algum mencionou Sara. Tudo foi apenas um sonho enquanto estava em coma. Mas os rumos da vida podem mudar de forma tão rápida que não dá tempo de perceber ou fazer qualquer coisa.Havíamos acabado de jantar quando Jack pediu para colocar no noticiário da noite. Estava passando notícias sobre a economia do país. Mamãe lia o jornal e um livro ao mesmo tempo, e Jack prestava atenção na televisão. Ocasionalmente, adormecia e pedia para saber de tudo.De repente, entrou no ar uma notícia de última hora que nos deixou completamente chocados.BREAKING NEWSHoje, acabamos de receber o impactante depoimento da ex-atriz Sara Jim.Sara, que misteriosamente desapareceu da cena pública, emerge agora para compartilhar sua angustiante história como uma das maiores vítimas do influente produtor de cinema, Ferguson.Emocionando a todos por meio de uma videoconferência, Sara detalhou
“O primeiro filme que fiz, o que realmente me lançou ao estrelato como ator principal, ocorreu aos quatorze anos. Eu era jovem, alto, com uma aparência mais madura e uma musculatura que enlouquecia as jovens. Minha habilidade de atuação destacada garantiu-me contratos para filmes românticos que encantavam, explorando amores à primeira vista, conceito que eu, na época, nem acreditava existir, muito menos com finais felizes.Para mim, o verdadeiro final feliz era poder proporcionar o melhor para minha família, especialmente após passarmos por diversas provações. Agora, enxergava a oportunidade de reverter o jogo. Estava no auge da fama, tornando-me o queridinho da América, e, como tal, decidiria a atriz que contracenaria comigo. O produtor buscava rostos novos, capazes de causar impacto, pois considerava as atrizes famosas desgastadas.A seleção começou em uma segunda-feira, 15 de abril. Às 08 h, já havia uma fila imensa de jovens ensandecidas na rua. Mal tínhamos tempo para almoçar, po