“O primeiro filme que fiz, o que realmente me lançou ao estrelato como ator principal, ocorreu aos quatorze anos. Eu era jovem, alto, com uma aparência mais madura e uma musculatura que enlouquecia as jovens. Minha habilidade de atuação destacada garantiu-me contratos para filmes românticos que encantavam, explorando amores à primeira vista, conceito que eu, na época, nem acreditava existir, muito menos com finais felizes.Para mim, o verdadeiro final feliz era poder proporcionar o melhor para minha família, especialmente após passarmos por diversas provações. Agora, enxergava a oportunidade de reverter o jogo. Estava no auge da fama, tornando-me o queridinho da América, e, como tal, decidiria a atriz que contracenaria comigo. O produtor buscava rostos novos, capazes de causar impacto, pois considerava as atrizes famosas desgastadas.A seleção começou em uma segunda-feira, 15 de abril. Às 08 h, já havia uma fila imensa de jovens ensandecidas na rua. Mal tínhamos tempo para almoçar, po
Ao retornar para a casa de Lily, percebi o quanto estava feliz. Ela me perdoara e ainda me proporcionara uma viagem de descanso. Embora ainda faltassem mais de duas horas, mal podia esperar para testemunhar o pôr do sol daquela maravilhosa varanda, acompanhado por um bom vinho.Ao entrarmos na garagem, Deli sussurrou algo ao ouvido da patroa. Não quis me intrometer e entrei na casa. A mesa com chá, café e rosquinhas estava posta na varanda, e logo a anfitriã chegou para fazer-me companhia.— Não nos cansamos de olhar para esse lago, não é? — Perguntou Lily, ao meu lado.— Com certeza. Não sei o que é mais belo, o oceano agitado ou essa calmaria. Você está querendo trabalhar aqui. Tem um hospital aqui também? — Pergunto a ela.— Não — sorriu Lily. — Até tenho, mas gosto de Cannes. Lá sinto a energia do mar, foi onde fiz a residência. Sinto saudades daqui, mas venho quando preciso.Deli chegou e avisou algo a Lily, que saiu junto com ela. Nem vi para onde foram, estava saboreando outro
Nesse sonho, mergulhei de volta ao passado, revivendo momentos que já pareciam longínquos… ‘Cheguei atrasado no teatro, naquele dia crucial da desforra entre as candidatas. A primeira candidata já aguardava impaciente. Meus olhos buscaram freneticamente por Sara, mas ela não estava à vista.— Procurando alguém, Jack? — Questionou o produtor, sua voz cortando meu nervosismo.— Não, estou vendo todas as candidatas.— Acalme-se. Sara, a melhor candidata, para você, está treinando nos bastidores. Demos outro trecho para as três. Agora é o tira-teima. Será sua parceira quem se sair melhor. Senhorita Carol, pode começar. — Chamou Antony.As duas primeiras foram desastrosas. Eu, secretamente, comemorava, pois Antony havia apostado na primeira, mas ela desmoronou diante da mudança de cena. Então, Sara entrou firmemente no palco, e minhas pernas tremeram. Com razão, ela estava ainda mais deslumbrante. Mesmo diante de um novo desafio, ela brilhou, calando as críticas do diretor e do produtor, t
'Um mês antes de fugir de Los Angeles, fui mais uma vez chamada à casa do crápula do produtor. Como sempre, ele fez o jogo de poder e insinuações sexuais, juntamente com ameaças. Enquanto eu o repugnava, ele me molestava e me mostrou a suposta lista do prêmio, os mais cotados a saírem na ordem definitiva. No meu ouvido, disse: — Quero seu nome aqui. Você terá a glória como atriz, e eu como produtor e roteirista — eu mal conseguia respirar e falar, e ele aproveitou essa situação para continuar o assédio. — Sara Jim, a mais nova estrela de Hollywood. E quem a colocou no topo? Eu, e ainda a farei brilhar ainda mais.Fiquei congelada, estática, era como se não tivesse controle sobre meu corpo ou sentimentos.— Eu não quero um Oscar. — Respondi com os lábios tremendo, as pernas bambas.— Quer, sim, ainda mais que você ama aquele idiota e não quer vê-lo ser destruído por mim, não é?Saí de lá transtornada. Ele já fizera várias ameaças antes, mas essa pareceu ainda mais verdadeira. No outro
As dores ainda me impediam de dormir à noite toda. Dr. Wallace veio me ver às 08 h e deu-me uma boa notícia: o fisioterapeuta começaria os exercícios de reabilitação naquela tarde. A parte ruim da manhã foi quando recebi a visita inesperada de mamãe. Mais uma vez, ela tentou se desculpar. Não dei ouvidos, apenas conversei amenidades. Não dei abertura para que ela entrasse em qualquer assunto que fosse.O pior foi Carly sair, dizendo que tinha um problema de família para resolver, e me deixou sozinho com a senhora, minha mãe. A solução foi fingir um sono profundo e, logo após o almoço, fiquei sozinho. Liguei a televisão, mas a concentração estava longe do quarto. Eu escutava na cabeça a voz sonolenta de Sara quando liguei na semana passada. Ao mesmo tempo que a lembrança dava prazer, a memória me levava ao dia em que ela me deixou…Era o dia da entrega da premiação mais importante do cinema americano. Eu já ganhara a estatueta com apenas 14 anos. Foi o primeiro papel dramático e me ren
— Entre, por favor.Suspirei, rezei e, sem saída, abri a porta. Encarei o homem que ainda amava, e que jamais deixaria de amar.— Oi, Jack.— Oi, Sara. Sente-se, por favor. — Ele apontou uma poltrona azul, perto da janela.Tentei não transparecer nervosismo. Uma cirurgia, de aneurisma hemorrágico, era mais fácil do que aquela situação. Enquanto pensava no que dizer primeiro, Jack saiu na frente.— Veio responder minha pergunta, Sara? Se sim, por que tão rápido?— Jack, tudo veio à tona muito rápido. Você vai a Cannes, se acidenta, eu o opero. Depois, o crápula do produtor é preso. Não são coincidências, são fatos. Acho que chegou a hora de nos libertarmos da dor, da culpa, da consciência.— A dor, acho que cabe a mim — falou Jack — e a consciência a você. Concorda comigo?— O que fiz pode ter sido errado, a seu ver, mas fiz por amor. Eu jamais ficaria em paz, vendo sua carreira ser destruída. Fui assediada, aguentei, pensei a princípio que nessa vida tudo era glamour, mas não podia de
Sara, mais uma vez, fugiu de mim. Pediu perdão, mas meu coração só tinha rancor. Dr. Wallace me viu agoniado e puxou a cadeira para perto de mim.— Quer desabafar? Foi uma inesperada visita de Lily para você. Quer dizer, Sara.— Para o senhor, é Lily, a mulher médica, altiva e competente que saiu correndo daqui para salvar uma pessoa que não conheço. Amei apenas a atriz, Sara, que me abandonou há 15 anos.— Elas são as mesmas pessoas, Jack.— Não é o que meu coração diz.— Jack, já parou para pensar que tudo o que aconteceu foi um sinal, talvez um reencontro? Pode ser apenas para haver o perdão, mas também pode ser para que vocês se conheçam de novo.— Não consigo, doutor, mesmo ao assistir ao depoimento. Sei e imagino tudo o que ela passou, mas Sara agiu sozinha, sem pensar em nosso relacionamento. Ela não confiou em mim.— Não sei se considero uma falta de confiança. Concordo que ela agiu errado, mas a intenção foi pelo seu bem. Acredito que teve uma nova chance e isso significa que
Depois do diagnóstico de um tumor no cérebro, logo após um terrível acidente que quase me matou, passei a acreditar que o universo estava me conectando a Sara, mais uma vez. Ainda não conseguia olhá-la como mulher, amiga, amante, como antes, mas confiava na profissional que iria me operar.Desde o acidente, quatro meses se passaram. Mais uma vez, eu arrumava as malas para partir para Cannes. Mamãe e Jeremy iriam comigo. Só aceitei com a condição de que respeitassem minha decisão e tratassem Sara com cordialidade. Nessa pequena comitiva também embarcava o médico de confiança, que participaria como assistente na cirurgia.O avião decolou do aeroporto de Los Angeles às cinco da tarde. Aluguei um jato particular, com contrato de confidencialidade. Se fosse descumprido, a empresa com certeza iria à falência, com o valor que seria pago de indenização. No hospital, já estava tudo acertado. Eu ficaria em uma ala reservada e daria entrada com um nome falso.Estava ansioso, e não sabia dizer se