As dores ainda me impediam de dormir à noite toda. Dr. Wallace veio me ver às 08 h e deu-me uma boa notícia: o fisioterapeuta começaria os exercícios de reabilitação naquela tarde. A parte ruim da manhã foi quando recebi a visita inesperada de mamãe. Mais uma vez, ela tentou se desculpar. Não dei ouvidos, apenas conversei amenidades. Não dei abertura para que ela entrasse em qualquer assunto que fosse.O pior foi Carly sair, dizendo que tinha um problema de família para resolver, e me deixou sozinho com a senhora, minha mãe. A solução foi fingir um sono profundo e, logo após o almoço, fiquei sozinho. Liguei a televisão, mas a concentração estava longe do quarto. Eu escutava na cabeça a voz sonolenta de Sara quando liguei na semana passada. Ao mesmo tempo que a lembrança dava prazer, a memória me levava ao dia em que ela me deixou…Era o dia da entrega da premiação mais importante do cinema americano. Eu já ganhara a estatueta com apenas 14 anos. Foi o primeiro papel dramático e me ren
— Entre, por favor.Suspirei, rezei e, sem saída, abri a porta. Encarei o homem que ainda amava, e que jamais deixaria de amar.— Oi, Jack.— Oi, Sara. Sente-se, por favor. — Ele apontou uma poltrona azul, perto da janela.Tentei não transparecer nervosismo. Uma cirurgia, de aneurisma hemorrágico, era mais fácil do que aquela situação. Enquanto pensava no que dizer primeiro, Jack saiu na frente.— Veio responder minha pergunta, Sara? Se sim, por que tão rápido?— Jack, tudo veio à tona muito rápido. Você vai a Cannes, se acidenta, eu o opero. Depois, o crápula do produtor é preso. Não são coincidências, são fatos. Acho que chegou a hora de nos libertarmos da dor, da culpa, da consciência.— A dor, acho que cabe a mim — falou Jack — e a consciência a você. Concorda comigo?— O que fiz pode ter sido errado, a seu ver, mas fiz por amor. Eu jamais ficaria em paz, vendo sua carreira ser destruída. Fui assediada, aguentei, pensei a princípio que nessa vida tudo era glamour, mas não podia de
Sara, mais uma vez, fugiu de mim. Pediu perdão, mas meu coração só tinha rancor. Dr. Wallace me viu agoniado e puxou a cadeira para perto de mim.— Quer desabafar? Foi uma inesperada visita de Lily para você. Quer dizer, Sara.— Para o senhor, é Lily, a mulher médica, altiva e competente que saiu correndo daqui para salvar uma pessoa que não conheço. Amei apenas a atriz, Sara, que me abandonou há 15 anos.— Elas são as mesmas pessoas, Jack.— Não é o que meu coração diz.— Jack, já parou para pensar que tudo o que aconteceu foi um sinal, talvez um reencontro? Pode ser apenas para haver o perdão, mas também pode ser para que vocês se conheçam de novo.— Não consigo, doutor, mesmo ao assistir ao depoimento. Sei e imagino tudo o que ela passou, mas Sara agiu sozinha, sem pensar em nosso relacionamento. Ela não confiou em mim.— Não sei se considero uma falta de confiança. Concordo que ela agiu errado, mas a intenção foi pelo seu bem. Acredito que teve uma nova chance e isso significa que
Depois do diagnóstico de um tumor no cérebro, logo após um terrível acidente que quase me matou, passei a acreditar que o universo estava me conectando a Sara, mais uma vez. Ainda não conseguia olhá-la como mulher, amiga, amante, como antes, mas confiava na profissional que iria me operar.Desde o acidente, quatro meses se passaram. Mais uma vez, eu arrumava as malas para partir para Cannes. Mamãe e Jeremy iriam comigo. Só aceitei com a condição de que respeitassem minha decisão e tratassem Sara com cordialidade. Nessa pequena comitiva também embarcava o médico de confiança, que participaria como assistente na cirurgia.O avião decolou do aeroporto de Los Angeles às cinco da tarde. Aluguei um jato particular, com contrato de confidencialidade. Se fosse descumprido, a empresa com certeza iria à falência, com o valor que seria pago de indenização. No hospital, já estava tudo acertado. Eu ficaria em uma ala reservada e daria entrada com um nome falso.Estava ansioso, e não sabia dizer se
Depois de uma longa cirurgia e alguns dias sedados, queria ter acordado com a visão de Sara, mas não foi o que aconteceu. Quando abri os olhos, já escutei um grito estridente de mamãe.— Oh, Jack. Você acordou, já estava para processar aquela médica. Por sorte, Dr. Wallace veio me salvar.— Olá, dormiu bem? Vou chamar a Dr.ᵃ Lily.Eu não conseguia emitir som, saía embolado, mas o médico não se assustou e não me preocupei. Mary continuou me acariciando, até quando ela entrou, linda e altiva, pela porta do quarto.— Bom dia, vejo que o paciente dorminhoco acordou.Sara tentou chegar perto da cama, mas dona Mary não se tocava, até que fiz um gesto com a mão, como se a empurrasse. Ela só se tocou quando uma enfermeira também entrou no quarto e foi me ajeitar na cama.Sara pediu licença para realizar os procedimentos clínicos necessários. Ela examinou meus olhos com uma luz, auscultou-me e fez-me seguir seu dedo de um lado para o outro.— Jack, consegue falar? Emita algum som para mim, po
Este enredo, repleto de reviravoltas, certamente renderia um filme de suspense e drama. No entanto, mais importante do que a trama cinematográfica é o sentimento de resgate da vida que ficará marcado nessas mulheres. O veredicto representa não apenas a justiça sendo feita, mas também o empoderamento das vítimas que encontraram coragem para se manifestar.Continue conosco para mais detalhes sobre esse caso e suas repercussões.Eu ainda estava com o telefone na mão. Candance gritava meu nome, até que voltei a mente para a sala e comecei a chorar no telefone com ela.— Chora amiga, chora. Esse crápula vai ficar o resto da vida atrás das grades. E falo mais, declare-se para Jack, você o ama, merecem ser felizes.— Ele disse que me perdoou, no dia da cirurgia, mas ainda não sinto verdade.— Lily, corre para o hospital e lasca um beijo nele, depois vocês se resolvem. — Falou Dawson, quando tomou o telefone de Candance.— Doutor, procurador. O senhor cada dia me surpreende mais com esse roma
Acordei com o celular aos berros, bem próximo do ouvido. Tive uma noite de sono tão revigorante e sem sonhos que me assustei. A sensação era de que não haviam se passado nem duas horas, mas o relógio já marcava 07:00 da manhã.— Alô. Lily falando.— Oi, sou eu, Jack. Por que outro médico me examinou? Liguei para esclarecer isso. Estou indignado.— Hoje é meu dia de folga. Só irei ao hospital depois do almoço, pois estou cobrindo o plantão de Candance, que está de férias.— Passe aqui, por favor. Pensei na proposta que me fez. Já tenho uma resposta.— Passarei. Antes de discutirmos qualquer proposta, lembre-se de que você é um paciente.— Durma e desculpe por tê-la acordado. — Sorri e então ele desligou. Guardei o celular no criado mudo e me aconcheguei no travesseiro, fechando os olhos ainda sorrindo. *****Dormi, e por um milagre, acordei quase na hora do almoço. Aqueci uma refeição rápida e liguei para Deli, dando-lhe instruções para o futuro. Meu sexto sentido indicava que ele ac
Adrie, a fonoaudióloga, chegou cedo. Junto com ela, o enfermeiro Juliê, que só ficaria na primeira semana, depois Jack conseguiria se virar sozinho. Dr. Wallace e eu fomos ao hospital, e mostrei a ele a parte particular; depois, fomos à chamada clínica popular. Era esse departamento que queria que ele cuidasse.Não faltava nada; além do dinheiro da fundação, também recebíamos incentivo do governo e da população abastada. Era tudo simples, mas também contávamos com uma emergência e um centro cirúrgico. A enfermeira-chefe nos recebeu. Era uma excelente pessoa, mais velha, quase setenta anos, mas ainda na ativa e de uma experiência sem igual.— Dr.ᵃ, quanto tempo? A médica está em cirurgia, mas logo que sair virá falar com a senhora.— Vou estar na sala do antigo diretor.— Estou feliz em revê-la. Demorou mais para vir dessa vez.— Uma série de intercorrências, mas estou de volta.— Seja bem-vinda.— Obrigada.Puxei Wallace e fomos ao segundo andar.— Lembra-se quando fui a Los Angeles e