Depois do diagnóstico de um tumor no cérebro, logo após um terrível acidente que quase me matou, passei a acreditar que o universo estava me conectando a Sara, mais uma vez. Ainda não conseguia olhá-la como mulher, amiga, amante, como antes, mas confiava na profissional que iria me operar.Desde o acidente, quatro meses se passaram. Mais uma vez, eu arrumava as malas para partir para Cannes. Mamãe e Jeremy iriam comigo. Só aceitei com a condição de que respeitassem minha decisão e tratassem Sara com cordialidade. Nessa pequena comitiva também embarcava o médico de confiança, que participaria como assistente na cirurgia.O avião decolou do aeroporto de Los Angeles às cinco da tarde. Aluguei um jato particular, com contrato de confidencialidade. Se fosse descumprido, a empresa com certeza iria à falência, com o valor que seria pago de indenização. No hospital, já estava tudo acertado. Eu ficaria em uma ala reservada e daria entrada com um nome falso.Estava ansioso, e não sabia dizer se
Depois de uma longa cirurgia e alguns dias sedados, queria ter acordado com a visão de Sara, mas não foi o que aconteceu. Quando abri os olhos, já escutei um grito estridente de mamãe.— Oh, Jack. Você acordou, já estava para processar aquela médica. Por sorte, Dr. Wallace veio me salvar.— Olá, dormiu bem? Vou chamar a Dr.ᵃ Lily.Eu não conseguia emitir som, saía embolado, mas o médico não se assustou e não me preocupei. Mary continuou me acariciando, até quando ela entrou, linda e altiva, pela porta do quarto.— Bom dia, vejo que o paciente dorminhoco acordou.Sara tentou chegar perto da cama, mas dona Mary não se tocava, até que fiz um gesto com a mão, como se a empurrasse. Ela só se tocou quando uma enfermeira também entrou no quarto e foi me ajeitar na cama.Sara pediu licença para realizar os procedimentos clínicos necessários. Ela examinou meus olhos com uma luz, auscultou-me e fez-me seguir seu dedo de um lado para o outro.— Jack, consegue falar? Emita algum som para mim, po
Este enredo, repleto de reviravoltas, certamente renderia um filme de suspense e drama. No entanto, mais importante do que a trama cinematográfica é o sentimento de resgate da vida que ficará marcado nessas mulheres. O veredicto representa não apenas a justiça sendo feita, mas também o empoderamento das vítimas que encontraram coragem para se manifestar.Continue conosco para mais detalhes sobre esse caso e suas repercussões.Eu ainda estava com o telefone na mão. Candance gritava meu nome, até que voltei a mente para a sala e comecei a chorar no telefone com ela.— Chora amiga, chora. Esse crápula vai ficar o resto da vida atrás das grades. E falo mais, declare-se para Jack, você o ama, merecem ser felizes.— Ele disse que me perdoou, no dia da cirurgia, mas ainda não sinto verdade.— Lily, corre para o hospital e lasca um beijo nele, depois vocês se resolvem. — Falou Dawson, quando tomou o telefone de Candance.— Doutor, procurador. O senhor cada dia me surpreende mais com esse roma
Acordei com o celular aos berros, bem próximo do ouvido. Tive uma noite de sono tão revigorante e sem sonhos que me assustei. A sensação era de que não haviam se passado nem duas horas, mas o relógio já marcava 07:00 da manhã.— Alô. Lily falando.— Oi, sou eu, Jack. Por que outro médico me examinou? Liguei para esclarecer isso. Estou indignado.— Hoje é meu dia de folga. Só irei ao hospital depois do almoço, pois estou cobrindo o plantão de Candance, que está de férias.— Passe aqui, por favor. Pensei na proposta que me fez. Já tenho uma resposta.— Passarei. Antes de discutirmos qualquer proposta, lembre-se de que você é um paciente.— Durma e desculpe por tê-la acordado. — Sorri e então ele desligou. Guardei o celular no criado mudo e me aconcheguei no travesseiro, fechando os olhos ainda sorrindo. *****Dormi, e por um milagre, acordei quase na hora do almoço. Aqueci uma refeição rápida e liguei para Deli, dando-lhe instruções para o futuro. Meu sexto sentido indicava que ele ac
Adrie, a fonoaudióloga, chegou cedo. Junto com ela, o enfermeiro Juliê, que só ficaria na primeira semana, depois Jack conseguiria se virar sozinho. Dr. Wallace e eu fomos ao hospital, e mostrei a ele a parte particular; depois, fomos à chamada clínica popular. Era esse departamento que queria que ele cuidasse.Não faltava nada; além do dinheiro da fundação, também recebíamos incentivo do governo e da população abastada. Era tudo simples, mas também contávamos com uma emergência e um centro cirúrgico. A enfermeira-chefe nos recebeu. Era uma excelente pessoa, mais velha, quase setenta anos, mas ainda na ativa e de uma experiência sem igual.— Dr.ᵃ, quanto tempo? A médica está em cirurgia, mas logo que sair virá falar com a senhora.— Vou estar na sala do antigo diretor.— Estou feliz em revê-la. Demorou mais para vir dessa vez.— Uma série de intercorrências, mas estou de volta.— Seja bem-vinda.— Obrigada.Puxei Wallace e fomos ao segundo andar.— Lembra-se quando fui a Los Angeles e
A fisioterapia estava tranquila; já me acostumara com os exercícios, e os músculos pareciam se desenvolver e voltar à vida. A voz ainda saía um pouco enrolada. Na noite anterior à partida do Dr. Wallace, o ouvi conversando com Lily sobre eu mesmo estar travando. A vontade na hora foi me levantar e dizer que eles estavam loucos, mas percebi que há um pouco de verdade nisso.Adorei a conversa de Lily comigo no hospital, inclusive o beijo. Por isso, aceitei vir com ela para Lugano, mas quando a olhava, ainda me ressentia e ficava com medo de soltar a voz, dizer ‘Eu ainda te amo e te perdoo’, sem que o coração também esteja dizendo essas palavras.Deli entrou no quarto com uma bandeja de chá com biscoitos.— Bom dia, senhor. Trouxe o café da manhã.— Bom dia, senhora. Acho que estou muito preguiçoso. A senhora pega a muleta para mim. Vou comer na varanda. Estou perdendo essa vista maravilhosa, já tem dois dias. Só fui lá um dia no fim da tarde.— Lily deve estar chegando também. Ela será
Ainda não havíamos terminado o almoço e me assustei com um pedido de Jack, pois antes ele parecia empolgado.— Lily, não quero sair agora após o almoço. Prefiro dar uma descansada.— Está tudo bem? Não está escondendo nada da sua médica?— Não, só quero ficar aqui.— E o jantar, ainda quer?— Sim, como disse, acho melhor que seja aqui. Sua sugestão foi ótima.Eu ia perguntar mais, porém o gesto dele de se levantar para voltar ao quarto me travou.— Quer ajuda?— Não, obrigado.Segui-o com o olhar até ele entrar no quarto. Não vi que Deli também o observava. Ela chegou com o telefone na mão.— Ligaram do hospital. Precisam falar com você.— Você viu aquela reação, Deli. Não quis sair, mal comeu e voltou para o quarto. Isso tudo depois de me dar um beijo de disparar o coração de qualquer um.— Para mim, isso se chama medo. Acalenta o coração. Dê tempo ao tempo.— Isso para mim me diz que ele não consegue e não conseguirá me perdoar.— Acalme o coração. Escuta sua mãe, por favor.Fiquei
— É ela, só um minuto, senhor.— Oi, Lily. Como estão as coisas por aí? — Ela colocou no viva voz.— Péssimas, acabei de perder um paciente. Uma criança de três anos de idade, Deli. A mãe… entrou em desespero. Dei a notícia, tive que sedar a jovem. E já vou para a terceira cirurgia.— A enfermeira-chefe me disse. Você comeu?— Não vai dar tempo. Tomei um suco agora. O acidente foi muito feio, tem mais pacientes chegando a cada minuto. E não temos médico suficiente.— Lily, liguei para Candance e mandei um avião para ela. Ela deve chegar em pouco tempo. Quando vi a reportagem na televisão, também fiquei transtornada. Mas estou preocupada com você, porque pelo jeito vai varar a noite em cirurgia.— Obrigada por ligar para Candance; ela vai ajudar muito. E sim, vou varar a noite. — Estou indo levar comida para a senhora, e não me diga que não. Logo depois dessa cirurgia, vai comer, nem que eu tenha que amarrá-la. Entendeu?— Ok, não sei quando sairei do centro cirúrgico. Deixe com a enf