Estava terminando de fechar a loja de cristais quando ouvi o som inconfundível do velho Cadillac da vovó. Herança do vovô que ela amava como se fosse um filho.
A nossa casa ficava na parte de cima da loja, precisando apenas contornar o prédio e subir pelas escadas.
Esperei ela estacionar na vaga e descer do carro com a bolsa batendo em sua bunda, ao se inclinar e puxar duas sacolas de dentro do automóvel.
Vovó podia ter setenta anos, mas ninguém podia dizer isso, ela tinha aparência de no máximo cinquenta e tão forte quanto um touro.
Caminhei até e ela e peguei as sacolas de suas mãos.
— Obrigada querida. Comprei alguns ingredientes para fazer almôndegas, deve estar faminta — ela disse, encaminhando-se para a parte de trás do prédio, a segui em silêncio e coloquei as sacolas sobre a mesa da cozinha.
— Um homem foi lhe procurar na loja... — comecei, enquanto tirava as compras da sacola.
— É mesmo? O que ele queria? — ela questionou, procurando alguma coisa em sua bolsa.
—Ele não disse, só pediu para avisá-la que os Lýkos estão na cidade. — O farfalhar dela mexendo na bolsa parou subitamente me fazendo erguer a cabeça para olhá-la. Seus olhos azuis esverdeados estavam focados em meu rosto de um jeito estranho, antes de começar a rodar pela sala colocando alguns frascos e ervas dentro da bolsa.
— Querida, se importa de pedir uma pizza? Preciso sair. — Vovó entrou em seu quarto e agachpu-se em frente a baú, tirando a chave da corrente em seu pescoço.
Seu corpo estava praticamente tapando toda a visão do conteúdo que tinha ali dentro, só via sua mão desaparecer e colocar algumas coisas na bolsa. Ela voltou a fechar o baú sobre meu olhar curioso.
— Não estou com fome. Posso ir com você? — As palavras saltaram da minha boca antes que pudesse contê-las.
— Querida, você nunca quis ir a nenhuma das minhas visitas, apesar de convidá-la muitas vezes. Por que agora? — questionou com genuíno interesse.
Por um momento pensei em contar sobre o homem e as coisas estranhas que senti ao pôr meus olhos nele e queria vê-lo de novo para ter certeza de que aquilo aconteceu mesmo.
— Acho que já está na hora de acompanhá-la, sabe que amo a loja de cristais, talvez esteja pronta para ver uma das suas seções. — Na verdade, nunca aceitei seus convites com medo e vergonha de começar a ser chamada de bruxa também. Não me orgulho disso, no entanto, mas a escola tende a ser bem cruel com quem é “diferente.”
Ela me analisou minuciosamente e por um momento me senti completamente exposta por seu escrutínio.
— Se ainda estiver interessada, poderá me acompanhar amanhã — disse encaminhando-se para porta.
Segurei seu braço impedindo-a de sair. Isso a surpreendeu fazendo-a arquear as sobrancelhas grisalhas como a cor dos seus cabelos.
— Por favor! — implorei, sem saber o porquê, só sabia que precisava ir com ela essa noite. Precisava vê-lo de novo nem que seja pela última vez e alguma coisa dentro de mim, quase uma voz sussurrada em meu ouvido me dizia que se não fosse com vovó, nunca mais o veria.
Vovó soltou um suspiro e colocou sua mão sobre a minha ainda em seu braço.
— Lavínia, a coisas que você desconhece e não sei se está pronta para isso. Aonde vou é o último lugar em que deveria levá-la para sua primeira visita. Os Lýkos são um grupo bem peculiar e tenho certeza de que deve ter percebido, pelo homem que foi até a loja, sei que deve estar curiosa, mas acredite em mim, essa não é uma boa noite para saciar sua curiosidade. — Se antes estava com vontade de ir para ver o homem de novo, agora estava curiosa para saber sobre esse “grupo peculiar.”
— Por favor, vó eu preciso que me leve com você — supliquei novamente. Não sei se foi a expressão em meu rosto, ou o que a fez soltar um longo suspiro e balançar a cabeça levemente concordando. Antes que ela pudesse desistir, peguei minha bolsa e saí logo atrás dela.
Dentro do velho Cadillac, vovó me observou por alguns segundos.
— Não sei qual motivo os Lýkos me chamaram, mas sei o porquê estão na cidade, só mantenha a mente aberta e não surte — orientou com o semblante carregado. Engoli em seco por suas palavras e toquei o cristal que repousava em meu peito, em um gesto involuntário. O tenho desde que me lembro. Vovó disse que era da minha mãe e que era para dar proteção. Lembro que na época pensei que o cristal não tinha feito muito bem seu serviço já que minha mãe havia morrido no parto. Naquele momento, seus olhos umedeceram pelas lágrimas e disse que a vida tem seu início, meio e fim e o de minha mãe, sua nora, tinha chegado ao fim pelos meios naturais e que o cristal me protegeria e me guardaria até esse momento chegar e me fez jurar nunca o tirar do pescoço. E assim o fiz, mantendo-o sempre comigo. Por algum motivo, sempre quando estava com medo, tocar a pedra me acalmava.
— Manter a mente aberta e não surtar. Entendi — respondi fazendo um gesto de continência. Vovó revirou os olhos e ligou o carro ignorando meu gesto brincalhão.
Queria perguntar sobre os Lýkos, mas permaneci em silêncio enquanto vovó dirigia pelas estradas sinuosas em direção a parte rural. Conforme ela percorria a estrada de terra, sentia o ar da noite pesado, o vento que entrava pela janela aberta, estava quente e carregado, como se estivesse prestes a cair um temporal, mas as estrelas cintilantes que brilhavam no céu era um sinal que esse, não era o caso.
Vovó virou em uma rua estreita de cascalho e vi a pequena luz no final da trilha.
Ao ver a casa, minha pulsação acelerou com expectativa e ansiedade. Não sabia o que mais me deixava ansiosa, rever o homem, ou saber mais sobre o grupo peculiar e as palavras misteriosas da vovó.
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O relógio marcava pouco mais de oito horas quando a batida soou na porta. Não precisava perguntar quem estava batendo, eu sabia. Sentia o cheiro de gardênias através das frestas da casa e fiquei paralisado no lugar, enquanto Hector abria a porta, dando passagem para uma senhora miúda de cabelos grisalhos com roupas espalhafatosas e coloridas.
A garota entrou logo atrás dela, minhas narinas dilataram e farejei o ar inconscientemente, me deliciando com o suave aroma de flores. Como se fios invisíveis a atraíssem, seus olhos desviaram de todos, focando-se em meu rosto do outro lado da sala.
Novamente ali estava; o chamado. A urgência quase desesperadora de fazê-la minha. Movido por puro instinto, dei um passo à frente mantendo meus olhos cativos nos seus.
“Contenha-se Nikólas.” A voz de Cibele sussurrada em minha mente, me fez congelar e apertar as mãos em punho, as unhas como garras cravadas em minha carne na ânsia de conter o lado lupino que gritava para reclamá-la.
— Obrigada por ter vindo Dona Clara — disse Hector, a cumprimentando de forma gentil. A senhora olhou para cada um de nós reunidos.
— Pensei que me encontraria com Damon — disse ela, olhando-nos com o cenho franzido.
A expressão carregada de meus irmãos se assemelhava a minha.
— Nosso pai morreu há sete anos. Ele disse muitas vezes que se precisássemos de ajuda, poderíamos chamá-la. Fui eu que a procurei — Contei focando-se na senhora e não na moça que ainda estava ao seu lado em completo silêncio.
— Sinto muito, eu não sabia. Damon era um bom homem e, por favor, me chamem apenas de Clara — exclamou com pesar, seus olhos azuis esverdeados brilharam com lágrimas não derramadas.
— Sou Nikólas, esses são meus irmãos. Eros, Hector, Adônis e Cibele. — Apresento-os apontando cada um deles que balançam a cabeça em cumprimento.
— Como já sabem, eu sou Clara e essa é minha neta Lavínia. É um prazer conhecer os filhos de Damon. — elucidou, indicando a garota com a cabeça.
— Prazer em conhecer vocês — ela disse, sua voz macia como fios de seda fazendo o lobo ronronar ao ouvi-la.
— O prazer é todo nosso, doçura — gracejou Eros, aproximando-se dela.
Um rugido saiu dos meus lábios quando ele segurou sua mão e beijou delicadamente. Antes que me percebesse, minhas mãos fecharam-se em punho e meus joelhos se dobraram em posição de ataque. O lobo grunhiu ao sentir a presença de outro macho tocando sua fêmea.
— Eros, um passo atrás, agora! Ela é minha! — vociferei com a voz animalesca, tentando controlar a fera possessiva por natureza, querendo arrancar a cabeça de meu irmão por atrever-se a tocá-la.
Um pesado silêncio caiu sobre o cômodo, meus músculos tensos, a mandíbula cerrada, enquanto lutava uma árdua batalha para manter o meu lado lupino sob controle.
O lado humano via o irmão galanteador que não podia ver uma mulher bonita sem despejar todo o seu charme. O lado animal, só o via como uma ameaça.
Eros saltou para longe ao meu comando, seus olhos cinzentos como os meus me fitaram intensamente, assim como todos na sala.
Soltei a respiração lentamente.
— Me diga que isso não é o que estou pensando? — questionou Clara. Seus olhos viajando entre nós. Lavínia estava congelada no lugar sem compreender a dimensão do que tinha acontecido ali.
Eu, inconscientemente, movido pelo puro instinto animal, havia sem perceber, reivindicado minha companheira.
LavíniaNão fazia ideia do que tinha acabado de acontecer.Primeiro; foi o som que saiu da boca de Nikólas, que parecia mais um grunhido de um animal enfurecido.Segundo; foi a forma em que falou com o irmão. O que ele quis dizer com ela é minha? Vovó nos olhava intensamente, seu semblante mostrava que ela finalmente havia compreendido minha ânsia de acompanhá-la essa noite.— Isso explica muita coisa — disse com um suspiro. — O chamado — ela completou me deixando ainda mais confusa.— Podemos esquecer isso e voltar ao assunto que a trouxe aqui? — vociferou Nikólas com os dentes trincados.— Podemos, mas depois temos que conversar sobre isso, meu rapaz. — Seus olhos de águia fixos no homem que permaneceu inabalável pela forma que ela impunha naquele olhar que normalmente me fazia confessar todos os meus pecados, quand
NikólasA ameaça em sua voz me fez entrar em ação. Meus pés se moveram com graça felina, mas antes que conseguisse rasgar o pescoço da mulher, os vampiros se moveram com a mesma velocidade e colocaram-se em frente a ela.Com os sentidos aguçados, meus dedos se fecharam duramente ao redor da garganta de um deles, empurrando minha mão com as unhas em garras no peito do vampiro, sentindo o osso se romper conforme forcei dentro da caixa torácica arrancando o coração do maldito com um grunhido.Vampiros pareciam brotar de todos os lados. Pela visão periférica via meus irmãos lutado a árdua batalha.Grunhindo de raiva, golpeei com as pernas chutando um dos vampiros no estômago.— Nikólas! — O chamado de Hector me fez virar rapidamente e segurar a estaca de madeira afiada, que ele me lançará. Com os insti
LavíniaO doce perfume das madressilvas, misturado com o cheiro dos cravos que se estendiam pelo jardim florido, coberto pelas mais belas flores que já vi.Fechei os olhos e inspirei o ar absorvendo o suave aroma. Abri os braços e ergui a cabeça sentindo os raios do sol em minha pele. Não estava quente, estava perfeito.A brisa refrescante fazia as fragrâncias misturarem-se deixando um cheiro único no ar.Não sabia onde estava, mas não importava; tudo o que sentia era paz. Meu coração tão leve como plumas ao vento.— Venha cá querida! Ajude-me com essas rosas. — O som da voz de vovó me fez abrir os olhos. Ela estava ajoelhada em frente às rosas em um canto do jardim florido.Seus cabelos brancos estavam presos em um coque e sua mão esticada em minha direção com um sorriso. Foi quando me lembrei de que vi
NikólasNão sei por quanto tempo fiquei observando ela em minha cama. Não era momento para isso, mas cada parte do meu corpo ansiava por diminuir o pouco espaço que nos separava e deitar ao seu lado e envolvê-la em meus braços.O sentimento tão intenso, tão primitivo, que precisei me mover para o outro lado do quarto, o mais longe possível e, apertar as mãos em punho controlando o desejo insano de meu lobo de ignorar tudo e fazê-la minha.Alguns segundos depois, ela sentou abruptamente. Os olhos arregalados fixos em uma chave com uma corrente de prata em sua mão.— Não foi um sonho — murmurou para si mesma, antes de erguer a cabeça e saltar para fora da cama, quando me viu escorado na parede do outro lado do quarto.— Não vou machucá-la. — Ergui as mãos ao alto em rendição. Pelo menos, nã
NikólasDeveria deixá-la seguir seu caminho, ela estará mais segura, ela é forte e sabe se cuidar. Fiquei debatendo comigo mesmo enquanto via seu carro desaparecer na estrada.— Foda-se. — praguejei baixinho e peguei as chaves da moto.Ela disse que iria descobrir a verdade, não sei o que ela quis dizer, mas não importa, já tinha decidido. Lavínia não ia ficar sozinha, nem que ficasse escondido observando nas sombras até conseguir matar a maldita bruxa que sumiu magicamente no meio da batalha; cadela medrosa.A segui a uma distância segura e fiquei como disse; observando nas sombras quando ela contornou a loja de cristais em direção a parte detrás ao deduzi ser a entrada para o apartamento no andar de cima.“Ela precisa de você” — murmurou Cibele em minha mente, me fazendo rugir.“É sério?
NikólasPermaneci ao seu lado por um longo tempo enquanto ela lia o que estava escrito no caderno. Se eu fosse intrometido como Cibele, estaria espiando as páginas, para saber o que estava escrito ali. Lavínia estava tão concentrada na leitura, que nem percebeu quando levantei e entrei na casa.Procurei nos armários até encontrar o que procurava. Depois preparei um sanduíche, não sabia do que ela gostava, mas suspeitava que estivesse com fome e mesmo que não, ela precisava se alimentar.Servi um copo de leite e levei junto em uma bandeja que encontrei para a sacada.Ela havia colocado o pé embaixo do corpo, mudando de posição, mas seus olhos permaneciam colados nas páginas amarelas. Não queria interromper, mas o lado protetor estava ativado e o lobo estava inquieto. O macho alfa precisava assegurar que ela estivesse confortável.— Prepar
NikólasOs lábios que ela me ofereceu sedutoramente; tomei com os meus de forma exigente. Lavínia correspondeu com a mesma urgência, sua língua habilidosamente dançando com a minha, fazendo-me grunhir e a fera ronronar em completo abandono, com o gosto inebriante e o cheiro intoxicante provocado pela sua excitação.Meu sangue imediatamente começou a ferver. Deslizei a mão até tocar o broto do seu mamilo, tão suave quanto pêssego. Senti a boca salivar na ânsia de provar da fruta mais suculenta.Ela inclinou o quadril e arqueou o pescoço quando meus dentes rasparam na pele sensível. De alguma forma, apesar da banheira pequena, consegui me mover até suas pernas torneadas envolver ao redor da minha cintura, me colocando entre elas. Suas mãos deslizaram por baixo de minha camisa, o toque de seus dedos em minha pele acendeu ainda mais a chama ar
NikólasSeus cabelos como chocolate esparramado sobre o travesseiro, sua perna dobrada com o lençol cobrindo parcialmente sua nudez.Só de observá-la me sinto quente de novo, o calor se espalhando e se alojando em meu membro que volta a ficar rijo na ânsia de tomá-la novamente.Controlar os desejos escuros do lobo foi uma tarefa árdua. Tudo o que ele mais queria era marcá-la, mas o lado humano se sobressaiu à fera e consegui conter o chamado da besta.Ela ainda tem chance, ainda poderá seguir uma vida “normal”. Se tivesse seguido meus instintos e mordido seu lindo pescoço lânguido, nunca poderia ir embora e ela viveria em constante perigo ao lado do lobo.Vesti as calças molhadas com dificuldade. Tudo o que queria era voltar para cama e me deleitar em seus braços, mas depois de senti-la por completo, não sei por quanto tempo mais pos