Me sentei na mesa de jantar tentando esconder a minha ansiedade.
Kevyn entrou logo atrás de mim com um sorriso de orelha a orelha e nem se deu ao trabalho de se sentar antes de começar a falar.
Todos já estavam presentes e nos olharam com curiosidade.
- Alice e eu temos uma boa notícia para dar. - começou ele.
Todos os olhos foram de Kevyn para mim e eu olhei para os rostos de cada um deles.
- Nós vamos ter um bebê. - ele anunciou com um largo sorriso.
Patrícia e Marcelo sorriram, verdadeiramente contentes com a notícia. Felipe permaneceu sério, enquanto que meu tio Lucas franziu as sobrancelhas, mas depois sorriu quando olhei para ele. Mateus me deu um meio sorriso e seu pai Sebastian tinha uma expressão vazia, quase como se não se importasse.
Logo depois disso todos conseguiram disfarçar suas primeiras reações e se levantaram, nos dando parabéns e sorrindo para mim e para Kevyn.
Meu tio Lucas me abraçou, mas pareceu preocupado. Patrícia e Marcelo eram os únicos que pareciam realmente contentes com a notícia e me parabenizaram de forma veemente, principalmente Patrícia. Mateus me deu um leve abraço e um olhar cheio de curiosidade. Felipe nem se levantou do lugar e eu entendia o porque. O que mais me surpreendeu foi meu tio Sebastian me dar um longo abraço e dizer que aquela era uma ótima notícia.
Fiquei um pouco aturdida por um momento e me surpreendi ainda mais quando ele propôs um brinde a isso.
- Brindemos ao pequeno príncipe ou princesa, e futuro herdeiro de Solares!
Ele ergueu a taça e todos fizeram o mesmo. Esperei que Kevyn enchesse a minha taça e a dele para que eu também pudesse brindar.
- Espera! - Felipe quase gritou do outro lado da mesa, fazendo todos se assustarem e olharem para ele.
Ele ficou um pouco sem graça e pigarreou.
- É que... Eu... posso estar enganado, mas... não se pode beber bebidas alcoólicas durante a gravidez, não é?
- É verdade. - concordei - Eu quase me esqueci disso.
- Uma vez só não fará diferença. - contrapôs Sebastian - Estamos comemorando!
- É. - concordei - Mas acho que é melhor eu beber outra coisa mesmo.
Algo estava muito estranho na forma como Felipe havia falado, por isso resolvi entrar na dança.
Peguei um outro copo e coloquei um suco de laranja.
- Então... À nossa família. - falei ao erguer o meu copo. Todos fizeram o mesmo e beberam suas taças.
Olhei de relance para Felipe e ele passou a mão de leve pelo cabelo. Nós precisávamos conversar.
Assim que todos terminaram de comer eu me levantei para sair da sala e todos fizeram o mesmo. Kevyn me seguiu para o lado de fora, mas meu tio Sebastian o puxou para uma conversa, o que ele fazia com certa frequência.
Felipe ficou parado na porta por um momento, e eu fui em direção às escadas com uma sensação estranha. Naquele dia tudo parecia estranho.
Meus guardas me seguiram escada acima e quando me virei para a esquerda, na direção da biblioteca, levei um susto ao ver meu tio Lucas ali.
- Desculpe. - ele pediu - Não queria assustá-la. Acho que precisamos conversar.
Meu coração acelerou.
Eu gostava de meu tio Lucas, mas estava se tornando incômodo o fato de que ele sabia todos os meus segredos e sempre me observava.
Ele queria cuidar de mim como um pai, mas ele não era o meu pai.
Sorri, apesar de tudo.
- Podem ir. Estão dispensados por hoje. - falei aos guardas - Eu vou conversar com meu tio e depois vou para o meu quarto.
Os dois guardas fizeram uma reverência e saíram.
- E então?...
- Me acompanhe, por favor. É melhor irmos para um lugar mais reservado.
Ele me guiou até uma sala qualquer e fechou a porta atrás de nós.
Tentei parecer tranquila quando ele olhou para mim e soltou um suspiro.
- Alice, eu não sei como perguntar isso, mas...
- O senhor quer saber sobre a minha gravidez? - perguntei direta.
Não havia motivo para enrolação e eu ainda queria falar com Felipe.
Ele franziu a testa, levemente incomodado.
- Eu não tenho a intenção de te ofender, mas já faz um tempo que você sabe que está grávida, não é?
- Sim, tio. Eu já sabia que estava grávida há algum tempo. E sim, fiquei grávida antes de me casar com Kevyn. E sim, o filho é dele.
Tentei soar convincente, falando tudo de uma vez para ele não perceber a mentira.
Meu tio me olhou nos olhos longamente, mas depois respirou fundo, parecendo um pouco aliviado.
- Me desculpe. Eu só estava preocupado, queria ter certeza.
- Tudo bem. Eu entendo.
Dei um leve sorriso para ele e saí.
Eu não sabia se o tinha convencido totalmente, mas eu não me importava. Ele não teria a minha confissão.
Quase corri para a biblioteca, mas não havia ninguém lá. Deixei a porta destrancada e esperei enquanto lia um livro.
Felipe demorou um pouco para aparecer e eu comecei a ficar preocupada, afinal logo Kevyn procuraria por mim e Felipe teria que trabalhar, então não teríamos muito tempo.
Quando a porta finalmente se abriu eu me levantei e sorri ao vê-lo, mas Felipe parecia sério e preocupado.
- Você está bem? - ele perguntou.
- Claro. Estou ótima, só um pouco confusa com tudo o que aconteceu hoje no jantar.
Felipe olhou para trás, como se para verificar que estávamos sozinhos.
- Alice, você precisa ser mais cuidadosa. O que eu falei sobre bebidas alcoólicas era sério, você precisa parar de beber, mas eu só usei aquilo como desculpa.
- Desculpa para quê?
Fiquei confusa e meu coração acelerou de medo.
- Olha, eu não tenho muita certeza, mas... eu tive a impressão de que seu tio colocou alguma coisa na sua taça.
- Meu tio? Qual tio? Como assim "colocou alguma coisa"?
- Alice, estou dizendo que eu acho que seu tio tentou te envenenar. Seu tio Sebastian. Quando ele levantou para te abraçar eu acho que vi ele pôr alguma coisa na sua taça. E depois ele propôs um brinde, o que eu achei ainda mais estranho. Eu precisava fazer alguma coisa e não podia simplesmente acusá-lo assim, sem ter certeza, então esperei que Kevyn colocasse o vinho na sua taça e então falei aquilo para que você tivesse que pegar outro copo.
Fiquei totalmente chocada com essa revelação.
Eu sempre desconfiei de meu tio Sebastian, mas eram apenas conjecturas. Eu não conseguia acreditar que ele poderia realmente ter tentado me matar.
Por que ele faria isso? E por que naquele momento, tão de repente?
- Alice, você precisa tomar cuidado. Não deve confiar em ninguém. - Felipe me encarou sério.
Assenti, entendendo a gravidade da situação.
- Tudo bem. Vou tomar cuidado.
Num instante tudo mudou e eu fiquei com medo de tudo e de todos.Talvez Felipe estivesse certo e eu não podia confiar em ninguém, afinal estávamos em tempos de guerra e eu era uma rainha, talvez todos me quisessem morta. Talvez Solares inteira me quisesse morta, pois eu era a culpada de tudo isso de certa forma.Enquanto meu tio era rei o reino da Lua não havia atacado, provavelmente porque meu tio era um rei forte. Assim que eu fui coroada rainha o rei Marcus resolveu começar uma guerra e eu tinha a sensação de que ele estava me testando ao atacar e depois se afastar, ficando tanto tempo sem dar notícias.Talvez ele quisesse saber se eu era uma rainha paciente ou se eu me precipitaria. Ou talvez ele tivesse outro plano. Talvez ele quisesse me derrotar de uma maneira mais sutil, usando alguém próximo a mim para me matar.Mas o que ele ganharia com isso?Mesmo depois que eu morres
Abri meus olhos e tentei me sentar, mas minha cabeça latejou e fui obrigada a ficar deitada.Senti algo apertado em meu rosto e percebi que eu estava com uma máscara de oxigênio.Também havia um saquinho de soro que pingava lentamente em um fio que estava conectado em meu pulso direito.- Majestade?Uma enfermeira se aproximou e me analisou por um momento.- Ainda bem que acordou. Está se sentindo bem?Ela tirou a máscara de oxigênio para que eu pudesse responder e eu puxei o ar lentamente, percebendo que meus pulmões doíam um pouco. Aliás, meu corpo todo estava dolorido.- Não estou nada bem. - respondi com sinceridade.Estranhei o som da minha voz, que estava rouca.- Está sentindo dor em algum lugar?- Tudo está doendo... - respondi.A enfermeira suspirou e me analisou mais um pouco, olhando em meus olhos.- V
Fiquei mais um dia todo na enfermaria e aquilo estava me deixando estressada.Eu não via a hora de receber alta para poder ao menos ficar no meu quarto.Fiz alguns exames e a enfermeira vinha sempre para checar como eu estava e me dava alguns remédios.Minha garganta ainda ardia um pouco, como se estivesse machucada, mas minha voz estava voltando ao normal aos poucos.Meu mal-estar melhorou depois que eu comi um pouco e bebi bastante água, mas tudo o que eu comia ou bebia era inspecionado antes.Logo comecei a me sentir mais forte, e eu precisava estar forte, pois tinha coisas para resolver.Meus dois tios, meu
- Oi. - Felipe cumprimentou quando entrou na biblioteca.Levantei os olhos do livro que estava lendo e sorri. Me levantei da cadeira e dei a volta na mesa, me aproximando dele.- Preciso que faça uma coisa para mim. - falei de forma direta.- O que seria? - Felipe perguntou com as sobrancelhas franzidas.Me aproximei mais um passo, segurando em sua mão.- Eu preciso que encontre provas ou testemunhas que eu possa usar contra o meu tio no julgamento. Sei que minha palavra é suficiente, mas se vamos fazer isso publicamente, e ele tem direito a uma defesa, é melhor que eu tenha algo mais do que apenas a minha palavra.Felipe assentiu.- Eu vou testemunhar por você, - afirmou - e Kevyn também, mas vou tentar encontrar mais alguém que saiba de alguma coisa.- Obrigada. Você é o único em quem eu confio.Soltei um suspiro e me aproximei mais dele, apoiando a te
- Então... O que você queria comigo? - perguntei, arrumando minha postura na cadeira.Edward pigarreou antes de falar.- Bom, majestade. É que faz muito tempo que eu não mando nenhuma notícia ao rei Marcus...- Claro. - concordei.Eu sabia que ele provavelmente estava preocupado com a filha.- Felipe você trouxe o celular?- Sim, majestade.Ele tirou o aparelho do bolso e o estendeu para mim.- Pode entregar para ele.Felipe obedeceu.- Envie uma mensagem ao rei Marcus dizendo que eu pareço estar ansiosa e com medo. Diga que ao que parece eu não pretendo fazer nada ainda, pois não quero levar Solares à guerra. Tente fazer com que eu pareça frágil e assustada. E diga também que eu fui envenenada e perdi o bebê que estava esperando.Dei um sorriso.Eu não tinha exatamente um plano ao enviar essa mensag
Eu estava descansando em meu quarto e estava um pouco depressiva demais para sair de lá.Eu não sabia bem o motivo da minha tristeza, mas aquele era um daqueles dias em que eu não tinha vontade de fazer nada, além de ficar deitada na cama.Até tentei ler um livro, mas não consegui me concentrar o bastante para isso.Aos poucos estava caindo a minha ficha de que a minha vida estava acabada.Eu estava presa a um casamento que eu não desejava, eu havia perdido o meu filho - o único motivo pelo qual eu havia me casado - e eu estava perdendo Felipe aos poucos. Para piorar tudo, eu ainda precisava resolvertodos os problemas de um reino inteiro, incluindo uma maldita guerra.De repente ouvi uma batida na porta e uma voz me chamando. Era uma voz de mulher.- Entre. - falei ao me sentar na cama.A porta se abriu e Patrícia entrou trazendo uma bandeja com o meu almoço.<
Entrei embaixo da água fria do chuveiro e deixei ela escorrer por todo o meu corpo, numa tentativa de me refrescar do calor.Eu havia acabado de almoçar e, como eu não estava mais tendo aulas durante a tarde, não havia mais nada para fazer, então eu pretendia ficar trancada no meu quarto o resto do dia.Desliguei o chuveiro e enrolei a toalha em volta do corpo, então fui até o meu closet e coloquei um vestido preto qualquer dentre os muitos vestidos que haviam ali.Eu poderia doar algumas daquelas roupas, já que Julian insistia em sempre me trazer roupas novas.Fui mais para o fundo, onde estava a minha coroa e também alguns presentes que eu havia guardado ali.Havia gavetas de joias, prateleiras de sapatos, dois quadros que eu ainda não havia decidido onde colocar, uma garrafa de vinho branco... e uma espada, que Felipe havia me dado de presente.Parei subitamente e encar
As palavras de Kevyn ecoavam na minha cabeça e sua expressão não saia da minha mente.- Você o ama tanto assim? - ele perguntou quando eu disse que faria qualquer coisa se ele me prometesse que Felipe ficaria bem e vivo. Ao que eu respondi que sim, que o amava mais do que qualquer outra coisa no mundo.- Então... tudo o que aconteceu entre nós dois... foi uma mentira realmente? - ele exigiu saber - O noivado? O casamento? A... gravidez? Você estava mesmo grávida? Ou... Você estava grávida dele?Kevyn foi juntando os pontos e seu olhar era de puro sofrimento, o que me fez, por um momento, sentir pena dele.Não menti. Eu já estava ficando cansada de mentiras.Confessei a ele minhas ações e meus motivos, e ele me deu suas condições.Ele disse que não contaria nada a ninguém e continuaria nosso casamento, como eu imaginava,