- Oi. - Felipe cumprimentou quando entrou na biblioteca.
Levantei os olhos do livro que estava lendo e sorri. Me levantei da cadeira e dei a volta na mesa, me aproximando dele.
- Preciso que faça uma coisa para mim. - falei de forma direta.
- O que seria? - Felipe perguntou com as sobrancelhas franzidas.
Me aproximei mais um passo, segurando em sua mão.
- Eu preciso que encontre provas ou testemunhas que eu possa usar contra o meu tio no julgamento. Sei que minha palavra é suficiente, mas se vamos fazer isso publicamente, e ele tem direito a uma defesa, é melhor que eu tenha algo mais do que apenas a minha palavra.
Felipe assentiu.
- Eu vou testemunhar por você, - afirmou - e Kevyn também, mas vou tentar encontrar mais alguém que saiba de alguma coisa.
- Obrigada. Você é o único em quem eu confio.
Soltei um suspiro e me aproximei mais dele, apoiando a testa em seu ombro.
Felipe passou as mãos por minha cintura e me abraçou.
- Você está bem? - ele perguntou.
- Estou, eu acho.
Ele me apertou um pouco mais e deu um beijo em minha testa.
- Alice... Você ainda pretende continuar casada com Kevyn?
A pergunta me pegou de surpresa e eu levantei a cabeça para olhá-lo nos olhos.
- Eu não sei. - respondi depois de pensar um pouco.
- Então é sim. - ele concluiu.
- Felipe...
Ele colocou o dedo em minha boca, fazendo com que eu parasse de falar.
- Eu entendo. Você ainda precisa da aliança com o reino de Marte. Você ainda é a rainha, essa é a sua vida e o seu dever. Eu sei.
- Você não vai ir embora, não é? - perguntei com medo.
- Não. Eu não vou embora. Sei que você precisa de mim e o meu dever é te ajudar e te proteger. Estarei ao seu lado sempre.
- Eu te amo. - sussurrei emocionada.
- Eu também te amo. - ele respondeu.
Respirei fundo e me aconcheguei em seu peito.
- Está tudo bem, Alice. Vai ficar tudo bem.
Ele se afastou um pouco e segurou meu rosto entre as mãos, me olhando nos olhos, e então me deu um beijo suave.
- Agora é melhor eu ir.
- Certo.
Ele me deu mais um selinho e foi até a porta, mas parou antes de abri-la e se virou para mim.
- Estava quase me esquecendo... Nosso hóspede está querendo falar com você.
Levei um momento para entender de quem ele estava falando, mas então me lembrei e acenei com a cabeça.
- Posso falar com ele mais tarde. Depois do jantar.
- Tudo bem.
Felipe então abriu a porta e foi embora, me deixando sozinha ali na biblioteca.
Fiquei me questionando sobre o que exatamente eu pretendia fazer. Será que eu ainda conseguiria seguir com o meu plano inicial?
Meus olhos se encheram de lágrimas ao perceber que eu estava totalmente encurralada num caminho sem volta e sem final feliz.
Não deixei as lágrimas caírem, ao invés disso guardei o livro que estava lendo e saí.
Andei pelos corredores distraidamente, perdida em meus pensamentos, até que avistei alguém se aproximando.
Levantei a cabeça para encontrar tristes olhos verdes olhando para mim.
- Mateus?
Ele tinha o semblante sério e parecia estar cansado.
- Majestade... - ele cumprimentou com um aceno de cabeça. - Será que podemos conversar?
- Podemos.
Mateus desviou os olhos dos meus e suspirou antes de ajoelhar em minha frente.
- Eu queria implorar que soltasse o meu pai.
- Mateus, eu já lhe disse que não vou fazer isso. Não posso fazer isso. Levante-se.
Ele se levantou, mas não me olhou nos olhos, apenas encarou o chão.
- Eu sei que deve ser difícil pra você, e se eu estivesse em seu lugar também imploraria por meu pai, mas eu tenho bons motivos para desconfiar dele. Não posso me arriscar a deixa-lo solto, então ele ficará detido até o julgamento, onde será provada a sua culpa ou inocência.
- Alice, meu pai não fez nada, eu sei disso! Ele é seu tio e nunca faria mal a você. Por favor...
- Eu já tomei a minha decisão, Mateus.
Ele me encarou, e dessa vez parecia realmente bravo.
- Eu sei que meu pai pode parecer suspeito por causa das coisas que ele fez, mas tudo o que ele queria era que eu me casasse com você. - Mateus quase gritou - Agora que eu e Camille estamos nos dando bem e ele viu que eu estou feliz... ele havia desistido disso. Não faz o menor sentido ele tentar fazer alguma coisa contra você agora. Abra os seus olhos, Alice. A única pessoa que ganharia com isso tudo é o seu marido.
Eu não podia dizer que ele estava errado, mas acusar o meu marido me traria consequências ainda piores do que acusar o meu tio, e eu não achava que ele tinha alguma culpa...
- Eu sei disso, mas sinto muito Mateus. Eu não posso fazer nada até o julgamento, me desculpe. Tudo o que você pode fazer é tentar provar que seu pai é inocente, apesar de eu achar que isso será impossível.
Mateus ficou em silêncio por um momento.
- Por que você desconfia tanto assim do meu pai? - ele quis saber - Tem alguma prova ou algo que te faça pensar isso?
- Eu não posso te dizer agora, mas você vai saber no julgamento.
Ele soltou um suspiro.
- Alice, eu estou tentando entender isso tudo. O meu pai não tentaria envenenar você, eu sei disso. Então por que acha que ele fez isso?
- Sinto muito mesmo Mateus, não direi nada até o julgamento, mas acho que irá se decepcionar muito. Seu pai pode não ser tão bom como você pensa...
Mateus apertou os lábios, mas não respondeu, ao invés disso passou por mim, indo embora.
Eu ainda queria falar com ele sobre Camille, mas não era o momento, por isso deixei que ele fosse.
Aquela situação toda estava cada vez mais complicada, mas eu não tinha escolha. Meu tio havia tentado me matar e eu não podia simplesmente ignorar isso, por mais doloroso que fosse.
Tudo o que eu precisava descobrir era o motivo de ele ter feito isso. "Motivos, Meios e Oportunidade" - eu havia lido isso em algum lugar sobre investigação de crimes.
Meu tio possuía os meios, já que ele era um príncipe rico e poderia facilmente ter acesso à algum tipo de veneno, seja diretamente ou usando alguém para conseguir. Ele teve a oportunidade na manhã da minha quase morte, mas os motivos...
Se eu morresse meu tio Lucas seria rei novamente, então o que Sebastian ganharia com isso?
A não ser que ele pretendesse matar o próprio irmão depois.
Ainda havia muitas perguntas sem respostas e eu estava ficando cada vez mais confusa, sem saber em quem confiar ou no que acreditar.
- Então... O que você queria comigo? - perguntei, arrumando minha postura na cadeira.Edward pigarreou antes de falar.- Bom, majestade. É que faz muito tempo que eu não mando nenhuma notícia ao rei Marcus...- Claro. - concordei.Eu sabia que ele provavelmente estava preocupado com a filha.- Felipe você trouxe o celular?- Sim, majestade.Ele tirou o aparelho do bolso e o estendeu para mim.- Pode entregar para ele.Felipe obedeceu.- Envie uma mensagem ao rei Marcus dizendo que eu pareço estar ansiosa e com medo. Diga que ao que parece eu não pretendo fazer nada ainda, pois não quero levar Solares à guerra. Tente fazer com que eu pareça frágil e assustada. E diga também que eu fui envenenada e perdi o bebê que estava esperando.Dei um sorriso.Eu não tinha exatamente um plano ao enviar essa mensag
Eu estava descansando em meu quarto e estava um pouco depressiva demais para sair de lá.Eu não sabia bem o motivo da minha tristeza, mas aquele era um daqueles dias em que eu não tinha vontade de fazer nada, além de ficar deitada na cama.Até tentei ler um livro, mas não consegui me concentrar o bastante para isso.Aos poucos estava caindo a minha ficha de que a minha vida estava acabada.Eu estava presa a um casamento que eu não desejava, eu havia perdido o meu filho - o único motivo pelo qual eu havia me casado - e eu estava perdendo Felipe aos poucos. Para piorar tudo, eu ainda precisava resolvertodos os problemas de um reino inteiro, incluindo uma maldita guerra.De repente ouvi uma batida na porta e uma voz me chamando. Era uma voz de mulher.- Entre. - falei ao me sentar na cama.A porta se abriu e Patrícia entrou trazendo uma bandeja com o meu almoço.<
Entrei embaixo da água fria do chuveiro e deixei ela escorrer por todo o meu corpo, numa tentativa de me refrescar do calor.Eu havia acabado de almoçar e, como eu não estava mais tendo aulas durante a tarde, não havia mais nada para fazer, então eu pretendia ficar trancada no meu quarto o resto do dia.Desliguei o chuveiro e enrolei a toalha em volta do corpo, então fui até o meu closet e coloquei um vestido preto qualquer dentre os muitos vestidos que haviam ali.Eu poderia doar algumas daquelas roupas, já que Julian insistia em sempre me trazer roupas novas.Fui mais para o fundo, onde estava a minha coroa e também alguns presentes que eu havia guardado ali.Havia gavetas de joias, prateleiras de sapatos, dois quadros que eu ainda não havia decidido onde colocar, uma garrafa de vinho branco... e uma espada, que Felipe havia me dado de presente.Parei subitamente e encar
As palavras de Kevyn ecoavam na minha cabeça e sua expressão não saia da minha mente.- Você o ama tanto assim? - ele perguntou quando eu disse que faria qualquer coisa se ele me prometesse que Felipe ficaria bem e vivo. Ao que eu respondi que sim, que o amava mais do que qualquer outra coisa no mundo.- Então... tudo o que aconteceu entre nós dois... foi uma mentira realmente? - ele exigiu saber - O noivado? O casamento? A... gravidez? Você estava mesmo grávida? Ou... Você estava grávida dele?Kevyn foi juntando os pontos e seu olhar era de puro sofrimento, o que me fez, por um momento, sentir pena dele.Não menti. Eu já estava ficando cansada de mentiras.Confessei a ele minhas ações e meus motivos, e ele me deu suas condições.Ele disse que não contaria nada a ninguém e continuaria nosso casamento, como eu imaginava,
Acordei pela manhã me sentindo mais ansiosa do que nunca.Felipe não compareceu ao café da manhã, o que me deixou apreensiva, mas ao mesmo tempo aliviada, pois não era bom que ele e Kevyn se vissem de novo.Na noite anterior eu havia falado com meu primeiro ministro, meu secretário e com o tesoureiro, e consegui que preparassem um carro com motorista e uma mala de dinheiro para Felipe e disse que o estava enviando para um tipo de missão urgente e confidencial.É claro que eles quiseram saber os motivos e o que era aquela missão, mas eu exigi que conseguissem tudo o que eu havia pedido e não perguntassem nada.Depois da minha reunião eu voltei para o quarto e
Subi as escadas em direção à biblioteca mais uma vez. Lá era o meu refúgio e o meu esconderijo.Andei pelos corredores de cabeça baixa e sem tentar esconder o quanto eu estava arrasada, mesmo com os dois guardas atrás de mim.Perdida em pensamentos nem percebi que havia alguém vindo e esbarrei em Mateus, quase derrubando nós dois no chão.Felizmente ele me segurou pelo braço com a mão livre e se equilibrou.Era bem estranho, mas estava se tornando um hábito nós dois nos encontrarmos assim.- Desculpe. - pedi, já tentando me esquivar dele.
O mundo estava desabando sobre mim de uma só vez e os destroços estavam me soterrando cada vez mais, me sufocando.Fiquei a noite toda acordada assistindo aos noticiários na sala de estar.Alguns dos meus guardas estavam comigo, assim como Kevyn também.De tempos em tempos recebíamos novas notícias, mas nada que fizesse muita diferença.Urano estava sendo fortemente atacado e parcialmente destruído.A destruição estava sendo muito maior do que a que ocorrera no reino de Júpiter e pessoas inocentes estavam sendo mortas.Felizmente conseguimos encurralar os atacantes, cercando-os por trás.O meu maior medo era que esse ataque fosse apenas uma distração, por isso mandei que os soldados ficassem atentos, fortificando as nossas fronteiras.Poderíamos ter sido atacados a qualquer momento, mas não fomos.A noite acabo
Meu tio Sebastian não parecia muito bem. Ele estava com os cabelos bagunçados e a barba já começando a crescer, seus olhos estavam inchados e com olheiras e seu rosto parecia um pouco inchado também.Respirei fundo.Assim que me viu ele me encarou com as sobrancelhas erguidas, me analisando de cima à baixo.Eu estava com uma bermuda jeans e uma camisa regata branca e meu cabelo curto estava solto.- Tio... - cumprimentei.- Majestade.Ele fez uma leve reverência e depois me encarou, me olhando nos olhos como se me desafiasse.- Bom... - comecei - Eu vim aqui para dizer que terei que adiar o seu julgamento por um tempo e o senhor permanecerá preso até lá... A não ser que esteja pronto para fazer uma confissão, é claro. Isso poderia ajudar muito.Ele deu um riso de escárnio.- Você acha mesmo que eu vou confessar?