Fiquei mais um dia todo na enfermaria e aquilo estava me deixando estressada.
Eu não via a hora de receber alta para poder ao menos ficar no meu quarto.
Fiz alguns exames e a enfermeira vinha sempre para checar como eu estava e me dava alguns remédios.
Minha garganta ainda ardia um pouco, como se estivesse machucada, mas minha voz estava voltando ao normal aos poucos.
Meu mal-estar melhorou depois que eu comi um pouco e bebi bastante água, mas tudo o que eu comia ou bebia era inspecionado antes.
Logo comecei a me sentir mais forte, e eu precisava estar forte, pois tinha coisas para resolver.
Meus dois tios, meu primo Mateus, Marcelo e Patrícia... Todos foram me ver, mas eu quase não falei com eles, apenas os tranquilizei dizendo que estava me sentindo melhor. A conversa séria eu estava guardando para depois, quando eu me sentisse pronta.
Logo pela manhã do outro dia eu finalmente fui liberada, então mandei que chamassem Felipe e o esperei no meu quarto, deitada na cama.
Ele não demorou muito para chegar e fiquei aliviada ao ver o seu rosto.
- Oi. - ele cumprimentou ao fechar a porta atrás de si e vir em minha direção. - Está melhor?
- Estou sim.
Dei a ele um sorriso fraco, o que fez minhas palavras soarem falsas.
Fisicamente eu estava melhor, mas emocionalmente eu estava um caco.
Felipe se sentou na cama e acariciou o meu rosto. Fechei os olhos ao seu toque e suspirei.
- Conseguiu fazer a pesquisa que eu te pedi? - perguntei em voz baixa.
- Sim, e você vai ficar feliz em saber que em casos como esse a sua palavra é lei. Você é uma rainha e pode decretar qualquer tipo de punição para qualquer pessoa que tenha te feito mal de alguma forma, ou até se a pessoa simplesmente tiver ofendido você.
- Mesmo se for um membro da família real?
- Sim, mesmo se for um membro da família real. A única coisa que ele tem direito é um tipo de julgamento em que ele deve provar sua inocência publicamente. E depois dessas provas serem mostradas você ainda poderá escolher a punição, mas fará isso em público também.
Pensei um pouco no assunto, relembrando tudo o que Kevyn havia me falado.
- Ótimo. - murmurei.
- Bom, acho que é melhor eu ir agora...
Felipe se levantou, mas eu o segurei pelo braço.
- Espera. - pedi.
Puxei ele para mim e o beijei.
Felipe soltou um gemido e segurou meu rosto entre as mãos, mas logo se afastou.
- É melhor eu ir.
Fiz um beicinho, mas eu sabia que ele tinha razão.
Ele me deu um selinho e saiu, me deixando sozinha ali com os meus pensamentos e planos.
Mais tarde eu tomei um banho, coloquei um vestido simples preto, uma sandália baixa e também coloquei a minha coroa na cabeça. O peso dela nunca me foi tão incômodo como naquele momento, mas eu precisava usa-la.
Pedi para que toda a minha família fosse convocada, assim como quatro de meus guardas pessoais.
Fui até a sala de estar e esperei sentada no sofá.
Precisei reunir toda a coragem que havia em mim para seguir em frente.
Ele tentou me matar. Lembrei a mim mesma. Eu não podia vacilar, pois era a minha vida que estava em risco.
Coloquei em meu rosto uma máscara fria, com a boca séria e os olhos sem nenhuma emoção.
Kevyn foi o primeiro a chegar, depois dos meus guardas, mas pouco tempo depois estavam todos ali.
Me levantei e os encarei, mantendo a postura firme.
- Quero dizer a todos que, apesar da tentativa recente de regicídio, eu estou muito bem. - comecei - Infelizmente eu perdi o meu filho e levarei um tempo para me recuperar totalmente de tudo isso. Estou tomando todas as precauções possíveis e estou tomando todos os remédios, meus alimentos também são todos testados antes que eu coma, por isso acho que, com o tempo, tudo vai ficar bem.
Olhei para o meu tio Sebastian com um meio sorriso.
- Porém... - continuei - Eu não conseguirei dormir em paz enquanto a pessoa que fez isso estiver em pune. Então...
Dei um sinal para os guardas, que já sabiam o que fazer.
Cornélio e Pedro se aproximaram de meu tio e o seguraram pelos braços antes que ele sequer percebesse o que estava acontecendo.
- Sebastian, você está sendo preso por traição, tentativa de regicídio e assassinato, e aguardará em sua cela até o seu julgamento.
Meu tio ficou totalmente desesperado e tentou se soltar dos guardas, mas não conseguiu.
- O quê? Você não pode fazer isso! - ele gritou.
- Já fiz. - retruquei com um sorriso.
Foi então que Mateus se levantou e se colocou de joelhos na minha frente.
- Alice, por favor. O que está fazendo? Meu pai não fez nada. Você deve ter se enganado, ele nunca faria uma coisa dessas. - implorou ele.
Mas eu sabia que faria.
Encarei Mateus com uma expressão tão fria quanto estava o meu coração naquele momento.
- Levem ele. - falei para os guardas.
- Não! - Mateus gritou e tentou correr em direção ao pai, mas Felipe e Marcelo o seguraram - Me soltem! Vocês não podem fazer isso! Me soltem!
Em meio aos gritos e protestos de Mateus, meu tio Lucas me encarava sério e também surpreso.
- Tem certeza disso? - ele perguntou quando olhei para ele.
- Tenho. - respondi com convicção.
- Alice, você pode não estar pensando direito. Essa é uma acusação muito séria e, sendo provada ou não, trará consequências horríveis para a nossa família. Ele é seu tio. Meu irmão, e irmão do seu pai.
- Isso só torna o que ele fez ainda mais grave. - respondi.
- E você tem provas? - meu tio quis saber.
- Tenho testemunhas. - falei, não querendo revelar muito.
Mateus ainda se debatia, tentando se soltar de Felipe e de Marcelo então eu pedi para que o soltassem.
Ele veio em minha direção com uma expressão furiosa e parou bem em minha frente, me encarando nos olhos com toda a raiva que tinha.
Encarei ele de volta sem medo algum.
Parecia que ele queria dizer algo, uma ameaça talvez, mas pensou melhor e me deu às costas, saindo da sala.
Eu sabia que havia feito a coisa certa, mas naquele momento parecia que eu era a bruxa ali.
Respirei fundo.
Meu tio Lucas também parecia querer defender o irmão, mas não disse mais nada.
Sendo tão observador como ele era, talvez já desconfiasse que Sebastian estava aprontando algo, ou talvez ele até já soubesse. Eu não poderia mais confiar em ninguém e se as coisas continuassem a se desenrolar dessa forma eu acabaria por prender toda a minha família, mas esperava eu que não chegasse a esse ponto.
- Oi. - Felipe cumprimentou quando entrou na biblioteca.Levantei os olhos do livro que estava lendo e sorri. Me levantei da cadeira e dei a volta na mesa, me aproximando dele.- Preciso que faça uma coisa para mim. - falei de forma direta.- O que seria? - Felipe perguntou com as sobrancelhas franzidas.Me aproximei mais um passo, segurando em sua mão.- Eu preciso que encontre provas ou testemunhas que eu possa usar contra o meu tio no julgamento. Sei que minha palavra é suficiente, mas se vamos fazer isso publicamente, e ele tem direito a uma defesa, é melhor que eu tenha algo mais do que apenas a minha palavra.Felipe assentiu.- Eu vou testemunhar por você, - afirmou - e Kevyn também, mas vou tentar encontrar mais alguém que saiba de alguma coisa.- Obrigada. Você é o único em quem eu confio.Soltei um suspiro e me aproximei mais dele, apoiando a te
- Então... O que você queria comigo? - perguntei, arrumando minha postura na cadeira.Edward pigarreou antes de falar.- Bom, majestade. É que faz muito tempo que eu não mando nenhuma notícia ao rei Marcus...- Claro. - concordei.Eu sabia que ele provavelmente estava preocupado com a filha.- Felipe você trouxe o celular?- Sim, majestade.Ele tirou o aparelho do bolso e o estendeu para mim.- Pode entregar para ele.Felipe obedeceu.- Envie uma mensagem ao rei Marcus dizendo que eu pareço estar ansiosa e com medo. Diga que ao que parece eu não pretendo fazer nada ainda, pois não quero levar Solares à guerra. Tente fazer com que eu pareça frágil e assustada. E diga também que eu fui envenenada e perdi o bebê que estava esperando.Dei um sorriso.Eu não tinha exatamente um plano ao enviar essa mensag
Eu estava descansando em meu quarto e estava um pouco depressiva demais para sair de lá.Eu não sabia bem o motivo da minha tristeza, mas aquele era um daqueles dias em que eu não tinha vontade de fazer nada, além de ficar deitada na cama.Até tentei ler um livro, mas não consegui me concentrar o bastante para isso.Aos poucos estava caindo a minha ficha de que a minha vida estava acabada.Eu estava presa a um casamento que eu não desejava, eu havia perdido o meu filho - o único motivo pelo qual eu havia me casado - e eu estava perdendo Felipe aos poucos. Para piorar tudo, eu ainda precisava resolvertodos os problemas de um reino inteiro, incluindo uma maldita guerra.De repente ouvi uma batida na porta e uma voz me chamando. Era uma voz de mulher.- Entre. - falei ao me sentar na cama.A porta se abriu e Patrícia entrou trazendo uma bandeja com o meu almoço.<
Entrei embaixo da água fria do chuveiro e deixei ela escorrer por todo o meu corpo, numa tentativa de me refrescar do calor.Eu havia acabado de almoçar e, como eu não estava mais tendo aulas durante a tarde, não havia mais nada para fazer, então eu pretendia ficar trancada no meu quarto o resto do dia.Desliguei o chuveiro e enrolei a toalha em volta do corpo, então fui até o meu closet e coloquei um vestido preto qualquer dentre os muitos vestidos que haviam ali.Eu poderia doar algumas daquelas roupas, já que Julian insistia em sempre me trazer roupas novas.Fui mais para o fundo, onde estava a minha coroa e também alguns presentes que eu havia guardado ali.Havia gavetas de joias, prateleiras de sapatos, dois quadros que eu ainda não havia decidido onde colocar, uma garrafa de vinho branco... e uma espada, que Felipe havia me dado de presente.Parei subitamente e encar
As palavras de Kevyn ecoavam na minha cabeça e sua expressão não saia da minha mente.- Você o ama tanto assim? - ele perguntou quando eu disse que faria qualquer coisa se ele me prometesse que Felipe ficaria bem e vivo. Ao que eu respondi que sim, que o amava mais do que qualquer outra coisa no mundo.- Então... tudo o que aconteceu entre nós dois... foi uma mentira realmente? - ele exigiu saber - O noivado? O casamento? A... gravidez? Você estava mesmo grávida? Ou... Você estava grávida dele?Kevyn foi juntando os pontos e seu olhar era de puro sofrimento, o que me fez, por um momento, sentir pena dele.Não menti. Eu já estava ficando cansada de mentiras.Confessei a ele minhas ações e meus motivos, e ele me deu suas condições.Ele disse que não contaria nada a ninguém e continuaria nosso casamento, como eu imaginava,
Acordei pela manhã me sentindo mais ansiosa do que nunca.Felipe não compareceu ao café da manhã, o que me deixou apreensiva, mas ao mesmo tempo aliviada, pois não era bom que ele e Kevyn se vissem de novo.Na noite anterior eu havia falado com meu primeiro ministro, meu secretário e com o tesoureiro, e consegui que preparassem um carro com motorista e uma mala de dinheiro para Felipe e disse que o estava enviando para um tipo de missão urgente e confidencial.É claro que eles quiseram saber os motivos e o que era aquela missão, mas eu exigi que conseguissem tudo o que eu havia pedido e não perguntassem nada.Depois da minha reunião eu voltei para o quarto e
Subi as escadas em direção à biblioteca mais uma vez. Lá era o meu refúgio e o meu esconderijo.Andei pelos corredores de cabeça baixa e sem tentar esconder o quanto eu estava arrasada, mesmo com os dois guardas atrás de mim.Perdida em pensamentos nem percebi que havia alguém vindo e esbarrei em Mateus, quase derrubando nós dois no chão.Felizmente ele me segurou pelo braço com a mão livre e se equilibrou.Era bem estranho, mas estava se tornando um hábito nós dois nos encontrarmos assim.- Desculpe. - pedi, já tentando me esquivar dele.
O mundo estava desabando sobre mim de uma só vez e os destroços estavam me soterrando cada vez mais, me sufocando.Fiquei a noite toda acordada assistindo aos noticiários na sala de estar.Alguns dos meus guardas estavam comigo, assim como Kevyn também.De tempos em tempos recebíamos novas notícias, mas nada que fizesse muita diferença.Urano estava sendo fortemente atacado e parcialmente destruído.A destruição estava sendo muito maior do que a que ocorrera no reino de Júpiter e pessoas inocentes estavam sendo mortas.Felizmente conseguimos encurralar os atacantes, cercando-os por trás.O meu maior medo era que esse ataque fosse apenas uma distração, por isso mandei que os soldados ficassem atentos, fortificando as nossas fronteiras.Poderíamos ter sido atacados a qualquer momento, mas não fomos.A noite acabo