Abri meus olhos e tentei me sentar, mas minha cabeça latejou e fui obrigada a ficar deitada.
Senti algo apertado em meu rosto e percebi que eu estava com uma máscara de oxigênio.
Também havia um saquinho de soro que pingava lentamente em um fio que estava conectado em meu pulso direito.
- Majestade?
Uma enfermeira se aproximou e me analisou por um momento.
- Ainda bem que acordou. Está se sentindo bem?
Ela tirou a máscara de oxigênio para que eu pudesse responder e eu puxei o ar lentamente, percebendo que meus pulmões doíam um pouco. Aliás, meu corpo todo estava dolorido.
- Não estou nada bem. - respondi com sinceridade.
Estranhei o som da minha voz, que estava rouca.
- Está sentindo dor em algum lugar?
- Tudo está doendo... - respondi.
A enfermeira suspirou e me analisou mais um pouco, olhando em meus olhos.
- Vou lhe trazer um remédio para dor...
- O que aconteceu exatamente? - interrompi, tentando ignorar a estranheza da minha voz mais uma vez.
- A senhorita ingeriu algum tipo de veneno. - ela explicou - felizmente foi em pouca quantidade, por isso conseguimos tirar tudo, mas a senhorita precisará ficar em observação por alguns dias para ter certeza de que não ficará nenhuma sequela.
- Quanto tempo fiquei desacordada?
- Pouco mais de um dia, majestade. Está aqui desde ontem de manhã e é quase hora do almoço.
Franzi a testa tentando organizar os pensamentos e só então percebi que alguma coisa não estava certa.
Coloquei a mão sobre a barriga e olhei para a enfermeira.
- O... o meu bebê... - as palavras se perderam quando eu vi a expressão no rosto dela.
- Sinto muito majestade, mas não conseguimos salvá-lo.
Aquilo foi um choque para mim e eu senti meu corpo todo gelar repentinamente. Todo o desespero que eu senti quando descobri que estava grávida se tornou nada naquele momento.
Senti as lágrimas se acumulando em meus olhos e o pânico formar uma bola e minha garganta.
Eu não podia acreditar naquilo.
Tudo o que eu havia feito, o casamento, todos os planos, tudo aquilo foi por causa da minha gravidez e agora...Pisquei os olhos tentando afastar as lágrimas, mas ao invés disso elas rolaram pelo meu rosto teimosamente.
- Por favor... chame... chame o guarda que me trouxe aqui. Felipe. Chame Felipe, por favor. - pedi.
Comecei a sentir dificuldades para respirar, mas não me importei.
A enfermeira me olhou com a testa franzida.
- Vou chamar majestade, mas... sua família toda está na sala de espera querendo vê-la. Vieram logo pela manhã para saber se a senhorita estava melhor e estão esperando que acorde...
- Vou recebê-los depois. - respondi com firmeza.
Ela acenou com a cabeça e saiu.
Respirei fundo, tentando me acalmar para não passar mal.
Não demorou muito para que Felipe entrasse na sala e eu quase pulei da cama para tentar ir até ele, mas minhas pernas cederam ao meu peso e Felipe teve que correr para me segurar.
- Alice, o que está fazendo?
Ele me segurou firme e eu me agarrei nele e comecei a chorar.
Em um segundo coloquei para fora tudo o que estava preso em minha garganta e Felipe me abraçou com força enquanto eu soluçava em seu ombro.
- Calma... Fique calma. Vai ficar tudo bem.
- Não. Não vai ficar tudo bem. Eu... eu perdi o nosso bebê, Felipe. Eu o perdi.
- Eu sei... - ele murmurou baixinho e me apertou ainda mais, me deixando chorar mais um pouco.
- Sua família está esperando para vê-la. - ele falou depois de um tempo.
- Eu não quero ver eles.
- Mas precisa. - ele insistiu.
Suspirei.
- Tem mais algum guarda ali fora?
- Da Guarda do Sol só está o meu pai ali na sala de espera.
"Guarda do Sol", era como meus guardas pessoais haviam se autonomeado, e eu fiquei constrangida quando soube que o "Sol" se referia a mim.
- Chame ele e Kevyn e volte junto também. - pedi - E diga que não vou receber mais ninguém hoje. Falarei com eles outro dia.
- Tem certeza disso?
- Tenho. Eu preciso resolver algo. E precisa ser agora. O resto pode esperar.
- Tudo bem.
Ele me apertou contra seu peito mais uma vez e então saiu.
Logo depois que Felipe foi embora a enfermeira voltou trazendo um copo de água e um comprimido.
Bebi a água praticamente em um único gole, só então percebendo o quanto estava com sede.
- Você pode tirar isso de mim? - perguntei ao apontar para o meu pulso.
- Claro.
Ela retirou o soro e então colocou um curativo.
- Logo a médica virá examiná-la e aí te daremos algo para comer. Apenas tente não fazer nenhum esforço, majestade.
- Tudo bem. - concordei, apesar de não ter certeza se obedeceria.
Felipe entrou acompanhado de Marcelo e Kevyn e a enfermeira saiu novamente.
Meu estômago roncou e eu desejei que ela tivesse me dado algo para comer naquele momento, mas eu poderia esperar, haviam coisas mais importantes do que a minha fome.
Kevyn veio em minha direção como que para me abraçar, mas eu levantei a mão para para-lo.
- Precisamos ter uma conversa séria, Kevyn.
Ele franziu a testa, mas não falou nada.
- Ontem de manhã, antes que eu começasse a passar mal, a única coisa que eu comi foi o café da manhã que você deixou para mim.
Kevyn arregalou os olhos surpreso.
- A-Alice... Eu...
- Eu fui envenenada, Kevyn. Quase morri e perdi o meu filho. E o veneno que fez isso estava no café da manhã que você deixou no quarto para mim. O que tem a dizer sobre isso?
- Alice, eu nunca faria uma coisa dessas. Eu juro... Eu te amo, você sabe disso. E você estava esperando um filho meu, por que eu faria isso?
Engoli em seco.
- Eu não sei. Por quê?
Kevyn deu um passo em minha direção parecendo desesperado, mas Felipe e Marcelo se aproximaram dele com as mãos sobre as armas que carregavam no cinto.
- Alice, eu juro que não fiz isso. Eu amo você. Por favor, você precisa acreditar em mim.
Os olhos de Kevyn se encheram de lágrimas e ao vê-lo desesperado daquela forma me deu ainda mais certeza de algo que eu já desconfiava.
- Eu acredito em você. - falei.
Ele ficou paralisado, me olhando de olhos arregalados, ainda tentando se recuperar.
- Nunca pensei realmente que você teria feito isso, mas precisava ter certeza. O problema é: Se não foi você, então quem foi?
- E-eu não sei. Qualquer um poderia ter feito isso.
- Qualquer um é muito vago, Kevyn. Meu quarto é vigiado o tempo todo, então o veneno foi colocado antes de você levar a bandeja. Patrícia nunca me envenenaria, então foi depois de ela ter feito tudo. Me dê nomes, Kevyn! Preciso que diga tudo o que aconteceu aquele dia. Preciso que diga quem mais teve acesso àquela bandeja antes de você levá-la para mim!
Fiquei mais um dia todo na enfermaria e aquilo estava me deixando estressada.Eu não via a hora de receber alta para poder ao menos ficar no meu quarto.Fiz alguns exames e a enfermeira vinha sempre para checar como eu estava e me dava alguns remédios.Minha garganta ainda ardia um pouco, como se estivesse machucada, mas minha voz estava voltando ao normal aos poucos.Meu mal-estar melhorou depois que eu comi um pouco e bebi bastante água, mas tudo o que eu comia ou bebia era inspecionado antes.Logo comecei a me sentir mais forte, e eu precisava estar forte, pois tinha coisas para resolver.Meus dois tios, meu
- Oi. - Felipe cumprimentou quando entrou na biblioteca.Levantei os olhos do livro que estava lendo e sorri. Me levantei da cadeira e dei a volta na mesa, me aproximando dele.- Preciso que faça uma coisa para mim. - falei de forma direta.- O que seria? - Felipe perguntou com as sobrancelhas franzidas.Me aproximei mais um passo, segurando em sua mão.- Eu preciso que encontre provas ou testemunhas que eu possa usar contra o meu tio no julgamento. Sei que minha palavra é suficiente, mas se vamos fazer isso publicamente, e ele tem direito a uma defesa, é melhor que eu tenha algo mais do que apenas a minha palavra.Felipe assentiu.- Eu vou testemunhar por você, - afirmou - e Kevyn também, mas vou tentar encontrar mais alguém que saiba de alguma coisa.- Obrigada. Você é o único em quem eu confio.Soltei um suspiro e me aproximei mais dele, apoiando a te
- Então... O que você queria comigo? - perguntei, arrumando minha postura na cadeira.Edward pigarreou antes de falar.- Bom, majestade. É que faz muito tempo que eu não mando nenhuma notícia ao rei Marcus...- Claro. - concordei.Eu sabia que ele provavelmente estava preocupado com a filha.- Felipe você trouxe o celular?- Sim, majestade.Ele tirou o aparelho do bolso e o estendeu para mim.- Pode entregar para ele.Felipe obedeceu.- Envie uma mensagem ao rei Marcus dizendo que eu pareço estar ansiosa e com medo. Diga que ao que parece eu não pretendo fazer nada ainda, pois não quero levar Solares à guerra. Tente fazer com que eu pareça frágil e assustada. E diga também que eu fui envenenada e perdi o bebê que estava esperando.Dei um sorriso.Eu não tinha exatamente um plano ao enviar essa mensag
Eu estava descansando em meu quarto e estava um pouco depressiva demais para sair de lá.Eu não sabia bem o motivo da minha tristeza, mas aquele era um daqueles dias em que eu não tinha vontade de fazer nada, além de ficar deitada na cama.Até tentei ler um livro, mas não consegui me concentrar o bastante para isso.Aos poucos estava caindo a minha ficha de que a minha vida estava acabada.Eu estava presa a um casamento que eu não desejava, eu havia perdido o meu filho - o único motivo pelo qual eu havia me casado - e eu estava perdendo Felipe aos poucos. Para piorar tudo, eu ainda precisava resolvertodos os problemas de um reino inteiro, incluindo uma maldita guerra.De repente ouvi uma batida na porta e uma voz me chamando. Era uma voz de mulher.- Entre. - falei ao me sentar na cama.A porta se abriu e Patrícia entrou trazendo uma bandeja com o meu almoço.<
Entrei embaixo da água fria do chuveiro e deixei ela escorrer por todo o meu corpo, numa tentativa de me refrescar do calor.Eu havia acabado de almoçar e, como eu não estava mais tendo aulas durante a tarde, não havia mais nada para fazer, então eu pretendia ficar trancada no meu quarto o resto do dia.Desliguei o chuveiro e enrolei a toalha em volta do corpo, então fui até o meu closet e coloquei um vestido preto qualquer dentre os muitos vestidos que haviam ali.Eu poderia doar algumas daquelas roupas, já que Julian insistia em sempre me trazer roupas novas.Fui mais para o fundo, onde estava a minha coroa e também alguns presentes que eu havia guardado ali.Havia gavetas de joias, prateleiras de sapatos, dois quadros que eu ainda não havia decidido onde colocar, uma garrafa de vinho branco... e uma espada, que Felipe havia me dado de presente.Parei subitamente e encar
As palavras de Kevyn ecoavam na minha cabeça e sua expressão não saia da minha mente.- Você o ama tanto assim? - ele perguntou quando eu disse que faria qualquer coisa se ele me prometesse que Felipe ficaria bem e vivo. Ao que eu respondi que sim, que o amava mais do que qualquer outra coisa no mundo.- Então... tudo o que aconteceu entre nós dois... foi uma mentira realmente? - ele exigiu saber - O noivado? O casamento? A... gravidez? Você estava mesmo grávida? Ou... Você estava grávida dele?Kevyn foi juntando os pontos e seu olhar era de puro sofrimento, o que me fez, por um momento, sentir pena dele.Não menti. Eu já estava ficando cansada de mentiras.Confessei a ele minhas ações e meus motivos, e ele me deu suas condições.Ele disse que não contaria nada a ninguém e continuaria nosso casamento, como eu imaginava,
Acordei pela manhã me sentindo mais ansiosa do que nunca.Felipe não compareceu ao café da manhã, o que me deixou apreensiva, mas ao mesmo tempo aliviada, pois não era bom que ele e Kevyn se vissem de novo.Na noite anterior eu havia falado com meu primeiro ministro, meu secretário e com o tesoureiro, e consegui que preparassem um carro com motorista e uma mala de dinheiro para Felipe e disse que o estava enviando para um tipo de missão urgente e confidencial.É claro que eles quiseram saber os motivos e o que era aquela missão, mas eu exigi que conseguissem tudo o que eu havia pedido e não perguntassem nada.Depois da minha reunião eu voltei para o quarto e
Subi as escadas em direção à biblioteca mais uma vez. Lá era o meu refúgio e o meu esconderijo.Andei pelos corredores de cabeça baixa e sem tentar esconder o quanto eu estava arrasada, mesmo com os dois guardas atrás de mim.Perdida em pensamentos nem percebi que havia alguém vindo e esbarrei em Mateus, quase derrubando nós dois no chão.Felizmente ele me segurou pelo braço com a mão livre e se equilibrou.Era bem estranho, mas estava se tornando um hábito nós dois nos encontrarmos assim.- Desculpe. - pedi, já tentando me esquivar dele.
Último capítulo