Num instante tudo mudou e eu fiquei com medo de tudo e de todos.
Talvez Felipe estivesse certo e eu não podia confiar em ninguém, afinal estávamos em tempos de guerra e eu era uma rainha, talvez todos me quisessem morta. Talvez Solares inteira me quisesse morta, pois eu era a culpada de tudo isso de certa forma.
Enquanto meu tio era rei o reino da Lua não havia atacado, provavelmente porque meu tio era um rei forte. Assim que eu fui coroada rainha o rei Marcus resolveu começar uma guerra e eu tinha a sensação de que ele estava me testando ao atacar e depois se afastar, ficando tanto tempo sem dar notícias.
Talvez ele quisesse saber se eu era uma rainha paciente ou se eu me precipitaria. Ou talvez ele tivesse outro plano. Talvez ele quisesse me derrotar de uma maneira mais sutil, usando alguém próximo a mim para me matar.
Mas o que ele ganharia com isso?
Mesmo depois que eu morresse havia os meus tios para me suceder. Ou talvez meus tios também estivessem envolvidos nisso e pretendessem entregar Solares ao reino da Lua, mas isso não fazia muito sentido.
Minha mente não parava de criar teorias, e cada uma parecia mais sem sentido do que a anterior.
Olhei para o lado. Kevyn já estava dormindo, mas eu não conseguia fazer o mesmo.
Me livrei dos braços dele e me virei para o lado.
Fiquei mais um tempo deitada, mas como não consegui pegar no sono resolvi me levantar.
Eu precisava de ar puro.
Peguei um livro da minha cômoda e fui até a varanda, me sentei numa das cadeiras e comecei a ler um pouco.
...
Senti meu corpo sendo erguido por um par de braços fortes e depois fui colocada gentilmente sobre a cama.
Meus olhos se abriram apenas o suficiente para ver o rosto de Kevyn.
Ele me deu um beijo na testa e acariciou meu rosto até que eu voltei a dormir.
Quando acordei de novo Kevyn não estava mais no quarto, mas na cômoda ao lado de minha cama estava uma bandeja de café da manhã com uma torta, um copo de suco, um bilhete e uma rosa vermelha.
Abri o bilhete.
"Bom dia. Espero que goste do seu café da manhã. Sua "mãe" disse que você gostava de torta de maçã, então pedi que ela fizesse especialmente para você. Te amo. Assinado, Kevyn."
Sorri ao olhar para a torta. Patrícia me conhecia muito bem.
Ainda era um pouco estranho chamá-la de Patrícia, e também era estranho Kevyn chamá-la de minha "mãe", afinal eu sempre a chamei de tia. Aquilo tudo era um tanto confuso.
Comi apenas um pequeno pedaço da torta, ainda com medo de ficar enjoada. E bebi apenas um gole do suco.
Olhei a hora no celular e fiquei contente ao perceber que não estava tão tarde.
Levantei depressa e me arrumei para ir à reunião.
Ao entrar na sala todos já estavam presentes, inclusive Kevyn, e todos se levantaram e fizeram uma reverência enquanto eu caminhava para o meu lugar.
- Bom dia, meu amor. - Kevyn me cumprimentou com um sorriso e um rápido selinho.
Todos nos sentamos e então começamos a reunião.
Eu estava um pouco cansada ainda, e com uma dor no pescoço por ter dormido na cadeira da varanda, então deixei que Kevyn resolvesse a maioria das coisas, falando apenas quando eu não concordava com algo.
Desde que me casei meu tio Lucas não participava mais das reuniões, mas Kevyn e eu estávamos indo bem sozinhos. Kevyn era melhor nisso do que eu imaginava, e estava muito feliz em poder me ajudar, afinal esse era um dos motivos que o havia convencido a se casar comigo.
Fiquei escutando atentamente enquanto eles conversavam, dando a minha opinião - e minha decisão - sempre que achava necessário, até que comecei a me sentir mal, com uma sensação incômoda de queimação em meu estômago.
Primeiramente pensei que fosse um mal estar comum da gravidez, mas então meu estômago começou a doer muito e minha garganta a arder.
Engoli em seco e levei a mão ao pescoço.
- Alguma coisa errada? - Kevyn perguntou.
Todos olharam para mim preocupados.
- E-eu... - tentei falar, mas minha voz falhou.
Me levantei assustada e fiquei tonta.
Kevyn se levantou bem a tempo de me segurar antes que eu caísse.
- Está tudo bem. - garanti ao tentar me equilibrar - É só um mal estar. Eu... vou ir à enfermaria.
Minha voz saiu fraca, mas ele me escutou.
- Eu te levo, então.
- Não. Pode ficar aqui. - Eu não confiava em ninguém. Precisava de Felipe. - Vou pedir para um guarda me acompanhar. Termine a reunião por mim.
Não esperei por uma resposta dele e saí.
Eu ainda me sentia mal, mas ao menos a tontura havia passado e eu consegui andar, não dando motivos para Kevyn me seguir.
Felipe estava do lado de fora da sala e eu fiquei feliz por aquele ser o horário dele.
- Felipe, venha comigo, por favor. Cornélio aguarde aqui.
Felipe assentiu e me ofereceu o braço, percebendo que eu não estava bem, e então me acompanhou pelo corredor.
- O que houve? Você está pálida.
Olhei para trás, para ter certeza de que estávamos longe o suficiente, e só então deixei transparecer o quanto eu me sentia mal.
Meu estômago estava doendo ainda mais, como se estivesse queimando por dentro. Parecia que eu havia bebido ácido.
- Tem algo de errado. - confessei.
- Isso dá pra perceber, Alice. - Ele colocou a mão em minha testa e franziu as sobrancelhas. - Você está gelada. E sua boca está branca.
Levei a mão à boca de forma instintiva.
Minhas mãos começaram a formigar e então eu percebi que minha garganta estava se fechando, me impedindo de respirar.
Segurei em Felipe quando senti mais uma vez que ia desmaiar, mentalmente pedindo por socorro, mas sem encontrar a voz para dizer.
Felipe me pegou no colo, me apertando contra seu peito enquanto me levava escada abaixo para a enfermaria.
- Fique calma. Não desmaie. - ele pediu.
- Me desculpe. - falei com a voz falhando enquanto arranhava minha garganta. - Acho que fui envenenada. Você tinha razão...
- Shhhh... Não fale nada. Estamos chegando na enfermaria.
Felipe quase correu comigo no colo e entrou na enfermaria às pressas.
Ouvi algumas exclamações e vozes distantes.
- O que houve? - uma enfermeira perguntou.
- A rainha está passando mal. Há suspeitas de que ela pode ter sido envenenada. Por favor examinem ela.
A enfermeira se aproximou, passou a mão pelo meu rosto, segurou meus olhos abertos para poder olhar e depois segurou minhas mãos, virando as palmas para cima e analisando-as.
- Infelizmente há uma possibilidade muito grande de que essas suspeitas sejam verdadeiras. - ela disse - Traga ela aqui.
Felipe seguiu a enfermeira comigo ainda em seu colo, mas eu não pude ver aonde me lavaram, pois desmaiei antes de chegar lá.
A dor estava forte demais para que pudesse suportar e a ultima coisa que pensei foi que eu ia morrer.
Abri meus olhos e tentei me sentar, mas minha cabeça latejou e fui obrigada a ficar deitada.Senti algo apertado em meu rosto e percebi que eu estava com uma máscara de oxigênio.Também havia um saquinho de soro que pingava lentamente em um fio que estava conectado em meu pulso direito.- Majestade?Uma enfermeira se aproximou e me analisou por um momento.- Ainda bem que acordou. Está se sentindo bem?Ela tirou a máscara de oxigênio para que eu pudesse responder e eu puxei o ar lentamente, percebendo que meus pulmões doíam um pouco. Aliás, meu corpo todo estava dolorido.- Não estou nada bem. - respondi com sinceridade.Estranhei o som da minha voz, que estava rouca.- Está sentindo dor em algum lugar?- Tudo está doendo... - respondi.A enfermeira suspirou e me analisou mais um pouco, olhando em meus olhos.- V
Fiquei mais um dia todo na enfermaria e aquilo estava me deixando estressada.Eu não via a hora de receber alta para poder ao menos ficar no meu quarto.Fiz alguns exames e a enfermeira vinha sempre para checar como eu estava e me dava alguns remédios.Minha garganta ainda ardia um pouco, como se estivesse machucada, mas minha voz estava voltando ao normal aos poucos.Meu mal-estar melhorou depois que eu comi um pouco e bebi bastante água, mas tudo o que eu comia ou bebia era inspecionado antes.Logo comecei a me sentir mais forte, e eu precisava estar forte, pois tinha coisas para resolver.Meus dois tios, meu
- Oi. - Felipe cumprimentou quando entrou na biblioteca.Levantei os olhos do livro que estava lendo e sorri. Me levantei da cadeira e dei a volta na mesa, me aproximando dele.- Preciso que faça uma coisa para mim. - falei de forma direta.- O que seria? - Felipe perguntou com as sobrancelhas franzidas.Me aproximei mais um passo, segurando em sua mão.- Eu preciso que encontre provas ou testemunhas que eu possa usar contra o meu tio no julgamento. Sei que minha palavra é suficiente, mas se vamos fazer isso publicamente, e ele tem direito a uma defesa, é melhor que eu tenha algo mais do que apenas a minha palavra.Felipe assentiu.- Eu vou testemunhar por você, - afirmou - e Kevyn também, mas vou tentar encontrar mais alguém que saiba de alguma coisa.- Obrigada. Você é o único em quem eu confio.Soltei um suspiro e me aproximei mais dele, apoiando a te
- Então... O que você queria comigo? - perguntei, arrumando minha postura na cadeira.Edward pigarreou antes de falar.- Bom, majestade. É que faz muito tempo que eu não mando nenhuma notícia ao rei Marcus...- Claro. - concordei.Eu sabia que ele provavelmente estava preocupado com a filha.- Felipe você trouxe o celular?- Sim, majestade.Ele tirou o aparelho do bolso e o estendeu para mim.- Pode entregar para ele.Felipe obedeceu.- Envie uma mensagem ao rei Marcus dizendo que eu pareço estar ansiosa e com medo. Diga que ao que parece eu não pretendo fazer nada ainda, pois não quero levar Solares à guerra. Tente fazer com que eu pareça frágil e assustada. E diga também que eu fui envenenada e perdi o bebê que estava esperando.Dei um sorriso.Eu não tinha exatamente um plano ao enviar essa mensag
Eu estava descansando em meu quarto e estava um pouco depressiva demais para sair de lá.Eu não sabia bem o motivo da minha tristeza, mas aquele era um daqueles dias em que eu não tinha vontade de fazer nada, além de ficar deitada na cama.Até tentei ler um livro, mas não consegui me concentrar o bastante para isso.Aos poucos estava caindo a minha ficha de que a minha vida estava acabada.Eu estava presa a um casamento que eu não desejava, eu havia perdido o meu filho - o único motivo pelo qual eu havia me casado - e eu estava perdendo Felipe aos poucos. Para piorar tudo, eu ainda precisava resolvertodos os problemas de um reino inteiro, incluindo uma maldita guerra.De repente ouvi uma batida na porta e uma voz me chamando. Era uma voz de mulher.- Entre. - falei ao me sentar na cama.A porta se abriu e Patrícia entrou trazendo uma bandeja com o meu almoço.<
Entrei embaixo da água fria do chuveiro e deixei ela escorrer por todo o meu corpo, numa tentativa de me refrescar do calor.Eu havia acabado de almoçar e, como eu não estava mais tendo aulas durante a tarde, não havia mais nada para fazer, então eu pretendia ficar trancada no meu quarto o resto do dia.Desliguei o chuveiro e enrolei a toalha em volta do corpo, então fui até o meu closet e coloquei um vestido preto qualquer dentre os muitos vestidos que haviam ali.Eu poderia doar algumas daquelas roupas, já que Julian insistia em sempre me trazer roupas novas.Fui mais para o fundo, onde estava a minha coroa e também alguns presentes que eu havia guardado ali.Havia gavetas de joias, prateleiras de sapatos, dois quadros que eu ainda não havia decidido onde colocar, uma garrafa de vinho branco... e uma espada, que Felipe havia me dado de presente.Parei subitamente e encar
As palavras de Kevyn ecoavam na minha cabeça e sua expressão não saia da minha mente.- Você o ama tanto assim? - ele perguntou quando eu disse que faria qualquer coisa se ele me prometesse que Felipe ficaria bem e vivo. Ao que eu respondi que sim, que o amava mais do que qualquer outra coisa no mundo.- Então... tudo o que aconteceu entre nós dois... foi uma mentira realmente? - ele exigiu saber - O noivado? O casamento? A... gravidez? Você estava mesmo grávida? Ou... Você estava grávida dele?Kevyn foi juntando os pontos e seu olhar era de puro sofrimento, o que me fez, por um momento, sentir pena dele.Não menti. Eu já estava ficando cansada de mentiras.Confessei a ele minhas ações e meus motivos, e ele me deu suas condições.Ele disse que não contaria nada a ninguém e continuaria nosso casamento, como eu imaginava,
Acordei pela manhã me sentindo mais ansiosa do que nunca.Felipe não compareceu ao café da manhã, o que me deixou apreensiva, mas ao mesmo tempo aliviada, pois não era bom que ele e Kevyn se vissem de novo.Na noite anterior eu havia falado com meu primeiro ministro, meu secretário e com o tesoureiro, e consegui que preparassem um carro com motorista e uma mala de dinheiro para Felipe e disse que o estava enviando para um tipo de missão urgente e confidencial.É claro que eles quiseram saber os motivos e o que era aquela missão, mas eu exigi que conseguissem tudo o que eu havia pedido e não perguntassem nada.Depois da minha reunião eu voltei para o quarto e