Duas semanas de casada e eu já estava de saco cheio.
Fingir que gostava de Kevyn era mais fácil quando nos víamos apenas algumas vezes no mês, mas acordando todos os dias ao lado dele, era quase impossível.
Todos os dias - e noites - eram uma tortura para mim, e eu tentava suportar com ajuda de vinho, sempre que possível, mesmo sabendo que não deveria beber.
Abri meus olhos e soltei um suspiro ao tentar me soltar do abraço de Kevyn.
Saí da cama silenciosamente e fui ao banheiro. Lavei o rosto e arrumei meu cabelo até que ouvi passos atrás de mim.
Pelo reflexo eu vi Kevyn se aproximar e me abraçar por trás.
- Bom dia, minha rainha. - ele falou alegre e pousou um beijo em meu pescoço.
- Bom dia. - respondi, tentando forçar um sorriso.
Kevyn passou a mão suavemente pela minha barriga.
- Está se sentindo bem?
- Estou sim. - respondi.
Aos poucos eu estava melhorando e já não ficava enjoada todos os dias, mas estava evitando comidas pesadas ou em grande quantidade, como a médica havia recomendado.
Também estava tentando não ficar muito agitada ou muito nervosa, mas isso era uma missão quase impossível.
Kevyn me soltou e foi até a pia para lavar o próprio rosto, enquanto que eu dei as costas e fui ao meu closet para me trocar. Ele foi logo atrás, entrando no closet enquanto eu ainda colocava o vestido.
Fiquei constrangida por ele ficar olhando para mim e me apressei a me vestir.
- Sua barriga ainda não cresceu nada. - ele comentou.
- É claro. Eu ainda nem completei um mês.
Era mentira. Eu já havia passado de um mês, mas a barriga continuava lisa como sempre, o que era normal, mas Kevyn parecia estar com pressa de vê-la crescer.
Ele suspirou.
- Você não acha que deveríamos dizer pra todo mundo que você está grávida?
- Eu já te falei que quanto mais tempo a gente esperar melhor. - respondi, um pouco impaciente.
Desde que nos casamos Kevyn insistia que devíamos anunciar a gravidez, mesmo eu dizendo que não era uma boa ideia.
- Eu sei. - ele teimou - Mas estamos casados há duas semanas já. Todos vão ficar contentes com a notícia, afinal você é uma rainha e estamos em tempos de crise. Quanto mais rápido tivermos um herdeiro, melhor. Ninguém vai se importar se fizemos ele antes de casar, afinal estamos casados agora e é isso o que importa.
Soltei um suspiro.
Talvez ele tivesse razão, mas eu tinha medo mesmo assim. O que ele não entendia era que meu medo não era as pessoas saberem que eu fiquei grávida antes de me casar, isso não tinha tanta importância, apesar de poder se tornar um escândalo da realeza. O meu medo era as pessoas desconfiarem que o filho não era dele.
- E então... - Ele insistiu.
- Tudo bem, Kevyn. Você pode anunciar a minha gravidez... Mais tarde, no jantar.
Kevyn sorriu.
Eu tinha esperança de que ele esquecesse isso até lá, mas era improvável.
Ele veio em minha direção e me abraçou, me pegando de surpresa.
...
Durante o café da manhã eu fiquei observando a minha família, me perguntando se eu devia mesmo dizer a eles que estava grávida e qual seria a reação deles.
Talvez eu devesse falar com Felipe sobre isso primeiro.
Meus olhos encontraram os dele sobre a mesa e eu lhe dei um leve sorriso e coloquei uma mecha de cabelo atrás da orelha, confirmando nosso encontro mais tarde.
Felipe e eu havíamos combinado de nos encontrar em suas folgas, e eu tive que decorar todos os horários dele para que isso pudesse dar certo, mas estava funcionando.
...
Depois da reunião diária com o conselho eu fui até a biblioteca e mandei que os guardas me deixassem sozinha.
Tranquei a porta e fui até uma das estantes de livros, perto do pequeno sofá que ficava ali.
Tirei um livro específico de lá e o abri. Era um livro falso e dentro dele havia um pequeno controle remoto com números. Disquei a senha 6789 e apertei o botão verde.
A parede da biblioteca se abriu para mostrar um pequeno corredor.
Fazia um tempo que Felipe havia me mostrado aquele lugar. Era um tipo de esconderijo para o caso de o castelo ser atacado, e acabou se tornando o nosso esconderijo secreto.
Coloquei o controle e o livro de volta no lugar e entrei pelo corredor, então apertei um botão que havia do lado de dentro e a porta se fechou.
As luzes estavam acesas, o que significava que ele já estava ali.
Andei até uma sala espaçosa onde Felipe já me esperava sentado em um banco de madeira.
Ele se levantou e quase correu em minha direção, me dando um beijo arrebatador.
Me agarrei nele, devolvendo-lhe o beijo com a mesma intensidade.
- Senti sua falta. - ele murmurou contra meus lábios.
Eu ri.
- A gente se vê todo dia, e faz apenas dois dias que eu não venho aqui.
- Isso já é muito tempo. - ele retrucou.
Durante as últimas duas semanas nós nos encontrávamos ali com frequência, mesmo sabendo que era arriscado.
Felipe acariciou o meu rosto lentamente e sorriu.
- Eu te amo. - murmurou ele.
Dei um leve sorriso.
- Eu também...
Apoiei minha testa na dele e soltei um suspiro, me lembrando do que havia me levado até ali.
- Kevyn está insistindo de novo que quer anunciar a minha gravidez. - falei em voz baixa - Eu disse a ele que poderia fazer isso hoje no jantar.
Felipe franziu a testa.
- Você acha que isso é uma boa ideia?
- Não acho muito não, mas ele já está insistindo nisso há algum tempo e eu cansei de ficar discutindo sobre o assunto. De todo modo, acho que não vai fazer tanta diferença. Todo mundo já sabe sobre nós dois, então... mesmo que eu esperasse mais todos ficariam desconfiados do mesmo jeito.
- Como assim "todo mundo sabe sobre nós dois"?
- Bom, quase todo mundo sabe. Mateus, meu tio Sebastian, meu tio Lucas... todos eles sabem que nós dois temos alguma coisa. Eles só não sabem que ainda nos encontramos assim.
Felipe apertou os lábios pensativo.
- Acho que você tem razão. Mesmo assim, todo cuidado é pouco.
- Eu sei.
Soltei um suspiro mais uma vez e me aconcheguei em seu peito.
- O que vamos fazer Felipe? - perguntei em tom suplicante.
Eu não queria parecer desesperada, mas era assim que eu me sentia e não conseguia esconder isso dele.
Felipe me abraçou protetoramente.
- Eu não sei. - ele respondeu com sinceridade - Eu realmente não sei.
Me sentei na mesa de jantar tentando esconder a minha ansiedade.Kevyn entrou logo atrás de mim com um sorriso de orelha a orelha e nem se deu ao trabalho de se sentar antes de começar a falar.Todos já estavam presentes e nos olharam com curiosidade.- Alice e eu temos uma boa notícia para dar. - começou ele.Todos os olhos foram de Kevyn para mim e eu olhei para os rostos de cada um deles.- Nós vamos ter um bebê. - ele anunciou com um largo sorriso.Patrícia e Marcelo sorriram, verdadeiramente contentes com a notícia. Felipe permaneceu sério, enquanto que meu tio Lucas franziu as sobrancelhas, mas depois sorriu quando olhei para ele. Mateus me deu um meio sorriso e seu pai Sebastian tinha uma expressão vazia, quase como se não se importasse.Logo depois disso todos conseguiram disfarçar suas primeiras reações e se levantaram, nos
Num instante tudo mudou e eu fiquei com medo de tudo e de todos.Talvez Felipe estivesse certo e eu não podia confiar em ninguém, afinal estávamos em tempos de guerra e eu era uma rainha, talvez todos me quisessem morta. Talvez Solares inteira me quisesse morta, pois eu era a culpada de tudo isso de certa forma.Enquanto meu tio era rei o reino da Lua não havia atacado, provavelmente porque meu tio era um rei forte. Assim que eu fui coroada rainha o rei Marcus resolveu começar uma guerra e eu tinha a sensação de que ele estava me testando ao atacar e depois se afastar, ficando tanto tempo sem dar notícias.Talvez ele quisesse saber se eu era uma rainha paciente ou se eu me precipitaria. Ou talvez ele tivesse outro plano. Talvez ele quisesse me derrotar de uma maneira mais sutil, usando alguém próximo a mim para me matar.Mas o que ele ganharia com isso?Mesmo depois que eu morres
Abri meus olhos e tentei me sentar, mas minha cabeça latejou e fui obrigada a ficar deitada.Senti algo apertado em meu rosto e percebi que eu estava com uma máscara de oxigênio.Também havia um saquinho de soro que pingava lentamente em um fio que estava conectado em meu pulso direito.- Majestade?Uma enfermeira se aproximou e me analisou por um momento.- Ainda bem que acordou. Está se sentindo bem?Ela tirou a máscara de oxigênio para que eu pudesse responder e eu puxei o ar lentamente, percebendo que meus pulmões doíam um pouco. Aliás, meu corpo todo estava dolorido.- Não estou nada bem. - respondi com sinceridade.Estranhei o som da minha voz, que estava rouca.- Está sentindo dor em algum lugar?- Tudo está doendo... - respondi.A enfermeira suspirou e me analisou mais um pouco, olhando em meus olhos.- V
Fiquei mais um dia todo na enfermaria e aquilo estava me deixando estressada.Eu não via a hora de receber alta para poder ao menos ficar no meu quarto.Fiz alguns exames e a enfermeira vinha sempre para checar como eu estava e me dava alguns remédios.Minha garganta ainda ardia um pouco, como se estivesse machucada, mas minha voz estava voltando ao normal aos poucos.Meu mal-estar melhorou depois que eu comi um pouco e bebi bastante água, mas tudo o que eu comia ou bebia era inspecionado antes.Logo comecei a me sentir mais forte, e eu precisava estar forte, pois tinha coisas para resolver.Meus dois tios, meu
- Oi. - Felipe cumprimentou quando entrou na biblioteca.Levantei os olhos do livro que estava lendo e sorri. Me levantei da cadeira e dei a volta na mesa, me aproximando dele.- Preciso que faça uma coisa para mim. - falei de forma direta.- O que seria? - Felipe perguntou com as sobrancelhas franzidas.Me aproximei mais um passo, segurando em sua mão.- Eu preciso que encontre provas ou testemunhas que eu possa usar contra o meu tio no julgamento. Sei que minha palavra é suficiente, mas se vamos fazer isso publicamente, e ele tem direito a uma defesa, é melhor que eu tenha algo mais do que apenas a minha palavra.Felipe assentiu.- Eu vou testemunhar por você, - afirmou - e Kevyn também, mas vou tentar encontrar mais alguém que saiba de alguma coisa.- Obrigada. Você é o único em quem eu confio.Soltei um suspiro e me aproximei mais dele, apoiando a te
- Então... O que você queria comigo? - perguntei, arrumando minha postura na cadeira.Edward pigarreou antes de falar.- Bom, majestade. É que faz muito tempo que eu não mando nenhuma notícia ao rei Marcus...- Claro. - concordei.Eu sabia que ele provavelmente estava preocupado com a filha.- Felipe você trouxe o celular?- Sim, majestade.Ele tirou o aparelho do bolso e o estendeu para mim.- Pode entregar para ele.Felipe obedeceu.- Envie uma mensagem ao rei Marcus dizendo que eu pareço estar ansiosa e com medo. Diga que ao que parece eu não pretendo fazer nada ainda, pois não quero levar Solares à guerra. Tente fazer com que eu pareça frágil e assustada. E diga também que eu fui envenenada e perdi o bebê que estava esperando.Dei um sorriso.Eu não tinha exatamente um plano ao enviar essa mensag
Eu estava descansando em meu quarto e estava um pouco depressiva demais para sair de lá.Eu não sabia bem o motivo da minha tristeza, mas aquele era um daqueles dias em que eu não tinha vontade de fazer nada, além de ficar deitada na cama.Até tentei ler um livro, mas não consegui me concentrar o bastante para isso.Aos poucos estava caindo a minha ficha de que a minha vida estava acabada.Eu estava presa a um casamento que eu não desejava, eu havia perdido o meu filho - o único motivo pelo qual eu havia me casado - e eu estava perdendo Felipe aos poucos. Para piorar tudo, eu ainda precisava resolvertodos os problemas de um reino inteiro, incluindo uma maldita guerra.De repente ouvi uma batida na porta e uma voz me chamando. Era uma voz de mulher.- Entre. - falei ao me sentar na cama.A porta se abriu e Patrícia entrou trazendo uma bandeja com o meu almoço.<
Entrei embaixo da água fria do chuveiro e deixei ela escorrer por todo o meu corpo, numa tentativa de me refrescar do calor.Eu havia acabado de almoçar e, como eu não estava mais tendo aulas durante a tarde, não havia mais nada para fazer, então eu pretendia ficar trancada no meu quarto o resto do dia.Desliguei o chuveiro e enrolei a toalha em volta do corpo, então fui até o meu closet e coloquei um vestido preto qualquer dentre os muitos vestidos que haviam ali.Eu poderia doar algumas daquelas roupas, já que Julian insistia em sempre me trazer roupas novas.Fui mais para o fundo, onde estava a minha coroa e também alguns presentes que eu havia guardado ali.Havia gavetas de joias, prateleiras de sapatos, dois quadros que eu ainda não havia decidido onde colocar, uma garrafa de vinho branco... e uma espada, que Felipe havia me dado de presente.Parei subitamente e encar