Capítulo 2 - Namorado?

No dia seguinte, para a minha surpresa, Felipe pegou minha mochila mais uma vez e foi andando ao meu lado no caminho para a escola. Achei a atitude dele tão esquisita que nem soube como reagir.

- Você não vai se encontrar com seus amigos hoje? - perguntei ao passarmos pela rua onde normalmente os amigos dele apareciam.

- Não. - ele respondeu - Eu disse que não precisavam me esperar, então já devem ter ido.

- Ah... - resmunguei.

Andamos em silêncio por mais um momento.

- Soube que você tirou dez na prova de matemática de novo, gênia. - ele comentou de repente.

- Não é para tanto... - respondi sem graça.

- Ta falando sério? Com as suas notas você consegue uma bolsa na faculdade facinho. - ele elogiou - Já sabe o que vai fazer?

- Na verdade não faço ideia. E você?

- Acho que quero ser policial igual ao meu pai. Ou talvez me aliste no exército. Afinal, as garotas gostam de homens em uniformes. - ele brincou e eu revirei os olhos.

- Não sei se você ficaria bem em um. - debochei.

- Ah, qual é? - ele falou - Eu ficaria um gato num uniforme do exército.

Nós dois rimos e eu revirei os olhos.

- E você deveria fazer um curso de fotografia. - Felipe sugeriu.

- E matar seus pais do coração? - perguntei - Com as minhas notas era de se esperar que eu fizesse algo mais difícil do que fotografia.

- Fotografia não é nada fácil - ele argumentou - E você gosta. Meus pais não iam se importar.

- Ah, tá. - eu ri.

- Tabom. - ele concordou - Eles iriam surtar no começo, mas depois iriam te apoiar, como sempre fazem.

Senti uma pontada de inveja na última frase, mas decidi ignorar para não estragar aquele momento de paz.

Chegamos na escola e cada um foi para a sua sala.

Nós dois estávamos no último ano escolar, porém estudávamos em salas diferentes, assim como Matheus também. Afinal havia cinco salas do último ano naquela escola.

No fim das aulas encontrei Matheus me esperando na porta, como sempre fazia, mas ao sair vi Felipe se aproximando.

- Vamos? - ele perguntou, pegando a minha mochila mais uma vez.

Mateus o encarou e eu soltei um suspiro, achando que teríamos mais uma briga, mas ao invés disso Felipe apenas foi andando na nossa frente, nos dando um certo espaço.

Saímos da escola em silêncio, estranhando toda aquela situação.

- Alice, o que você acha de contar para os seus tios sobre nós dois? - sugeriu Mateus assim que saímos da escola.

- Contar para eles?

- É... eu estava pensando em... falar com eles. Dizer que estamos namorando.

- E estamos?

Mateus franziu a testa.

Ele parecia ofendido, mas essa não havia sido a minha intenção.

- Eu... não quis... - tentei consertar - Eu só fiz essa pergunta porque não estamos exatamente namorando... Não oficialmente.

Felipe, que estava andando um pouco mais a frente, balançou a cabeça e começou a rir baixinho.

- Eu sei que não estamos namorando. O que eu estou dizendo é que eu quero namorar com você. - explicou Mateus.

- Ah... - falei constrangida.

Eu queria sim namorar com Mateus, afinal ele era um cara legal, e apresenta-lo oficialmente como namorado facilitaria a minha vida, pois eu não precisaria me preocupar que eles descobrissem nada. O problema era que meus tios eram super protetores comigo e eu tinha medo de que não aceitassem o namoro.

- Então... ?

- Eu quero. Sim. Mas meus tios...

- Eles não devem ser tão ruins assim.

- Não. Eles não são ruins, eles só são preocupados demais. - expliquei.

Parei no meio da calçada e o puxei pelo braço, fazendo-o olhar para mim.

- Se você quiser, então eu quero, mas se eles não aprovarem...

- Eles vão aprovar. - disse ele confiante.

Respirei fundo e sorri. Mateus me segurou pela cintura, me trazendo mais para perto.

- Vamos logo Alice. Está ficando tarde. - gritou Felipe, do outro lado da rua.

Revirei os olhos e contei até dez mentalmente.

- Tchau. - me despedi.

- Por que tchau? Eu vou com você.

- Hoje?

- Por que não?

Pensei bem e cheguei a conclusão de que realmente era o dia perfeito. Minha tia estava em casa e meu tio ia chegar mais cedo então ele logo estaria em casa também.

- Certo. - concordei.

Felipe fez careta o resto do caminho por causa disso.

...

Assim que abri a porta da cozinha vi minha tia preparando o almoço, e o cheiro estava delicioso.

- Vocês demoraram... - começou ela, antes de perceber a presença de Mateus ao meu lado.

Felipe deu de ombros e foi se sentar no sofá da sala.

- Tia, esse é Mateus... meu namorado.

Minha tia ergueu as sobrancelhas, mas sorriu logo depois.

- Olá... Mateus.

- Mateus, essa é minha tia Patrícia.

- É um prazer. - cumprimentou ele, extremamente educado.

Guiei Mateus até a sala, onde nos sentamos em um dos sofás.

Eu estava muito nervosa, pois era a primeira vez que eu aparecia em casa com um menino.

Mas meu coração quase parou mesmo foi quando eu ouvi a porta da cozinha se abrindo mais uma vez. Era meu tio.

Ouvi minha tia conversando baixinho com ele e depois ouvi seus passos raivosos.

Mateus logo se levantou, indo em direção ao meu tio quando ele apareceu.

- Olá, senhor. Meu nome é Mateus. Peço desculpas por aparecer assim na sua casa sem avisar, mas...

- É você que quer namorar minha sobrinha? - perguntou meu tio, com aquela voz grave e postura firme que ele sempre tinha.

- Sim, senhor.

- Meu nome é Marcelo, garoto.

- Certo, Marcelo. É um prazer conhece-lo, senhor.

Mateus sorriu sem graça e eu resolvi intervir, mas minha tia foi mais rápida.

- Seja educado, meu amor. Nossa sobrinha o trouxe aqui para apresenta-lo. Não vai querer que ele tenha uma ideia errada sobre nós.

- Não. Eu estou passando exatamente a ideia que quero passar. - insinuou meu tio - Estou de olho em você, garoto.

Ele então deu as costas e saiu.

Mateus deu um assovio e voltou a se sentar.

- Isso foi...

- Estranho? - completei.

- Fácil. - disse ele com um sorriso brincalhão.

Revirei os olhos e sorri.

Mateus se aproximou de mim para me dar um beijo, mas Felipe pigarreou.

- Se está incomodado, saia daqui. - sugeri.

Ouvi ele bufar e sair da sala, mas não olhei.

Mateus me puxou e me deu um beijo de tirar o fôlego.

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