Quando consegui pegar no sono já era quase de manhã.
Acordei com batidas na minha porta, levantei lentamente para ver quem era e me surpreendi ao ver Felipe parado em frente ao meu quarto.
- O que foi? - perguntei ainda meio dormindo.
- Nada... Eu só queria ver se você estava bem. Já é tarde e você não saiu do quarto o dia todo.
- Eu estou bem. Só fui dormir tarde ontem, só isso.
Olhei bem para ele e só então percebi que aquilo parecia estranho. Felipe nunca havia se importado tanto comigo.
- Por que está tão preocupado?
- Nada... eu só...
Ergui as sobrancelhas esperando ele responder, mas ele não disse mais nada.
- Então...? Por que está preocupado comigo? Por que me protegeu e levou um tiro por mim? Foi só por que eu sou uma princesa? Você sempre me odiou e sempre cagou para a minha segurança, o que deu em você agora?
- Eu nunca odiei você, Alice.
Revirei os olhos para ele.
- Tá legal, ódio pode ser uma palavra forte, mas... eu sempre tento ter uma relação amigável com você, mesmo assim nós acabamos sempre brigando e...
Antes que eu terminasse de falar ele me agarrou, me pegando de surpresa com um beijo em minha boca. Então eu o empurrei com força, fazendo-o esbarrar na porta.
- Por que você fez isso?! - gritei com a mão na boca, tentando entender o que havia acabado de acontecer.
Ele apenas respirou fundo e ajeitou a camisa.
- Eu gosto de você. - ele respondeu - Eu nunca te odiei, Alice. No começo, quando éramos crianças, eu tinha raiva de você porque meus pais te davam tudo e sempre me diziam pra eu cuidar de você e coisas desse tipo, mas com o tempo aquele sentimento se transformou em outra coisa e eu não tive coragem de admitir porque achava que éramos primos, então tentei esconder esse sentimento o máximo possível e tentei te afastar, porque eu sabia que se ficássemos próximos demais eu não conseguiria esconder o que eu sentia, mas aí o meu pai me contou sobre quem você era... quando ele foi me buscar no hospital. Acontece que eu só cansei de fingir, Alice. Eu te amo e não consigo mais esconder isso. - disse ele ao se aproximar de mim mais uma vez.
Fiquei paralisada com aquela declaração.
Felipe não parecia estar mentindo. Não era uma brincadeira de mal gosto, era verdade.
Ele segurou meu rosto carinhosamente.
- Eu te amo. - ele repetiu, e dessa vez eu não o impedi quando senti seus lábios tocarem os meus.
Meu coração acelerou tanto que tive medo que ele parasse.
Felipe me beijou suavemente e eu nunca pensei que um beijo dele pudesse ser tão bom e que pudesse me provocar tantas sensações diferentes.
Me vi retribuindo o beijo, até que percebi o que estava fazendo. Felipe era como um irmão e eu tinha um namorado.
Me afastei dele, xingando a mim mesma por ser tão estúpida.
Não tive coragem de olhar nos olhos dele, ao invés disso eu me virei de costas.
- É melhor você sair do meu quarto. - pedi.
Permaneci virada para a parede, esperando que ele saísse, o que ele demorou para fazer.
Ouvi seus passos lentos até a porta, onde ele permaneceu parado por alguns instantes antes de fecha-la.
Me sentei pesadamente na cama e levei as mãos à cabeça.
Como eu era idiota!
Me perguntei por que aquele tipo de coisa acontecia comigo, como se eu já não tivesse coisas demais para me preocupar.
Nesse momento meu celular tocou. Era Mateus.
- Oi, meu amor. - ouvi a voz dele do outro lado.
- Oi.
- Alguma coisa errada?
- Não. - respondi, sem ter coragem de contar a verdade para ele.
Ele pareceu perceber que alguma coisa estava diferente, mas não insistiu.
- Eu... queria te pedir o endereço da sua casa. Eu vou te mandar uma coisa pelo correio.
- Tudo bem, eu te mando por mensagem.
- Certo. Agora eu vou desligar, mas te ligo de novo mais tarde.
- Okay. Tchau.
- Tchau.
Soltei um suspiro e mandei a mensagem para ele com o meu novo endereço, depois me deitei na cama, me perguntando o que eu faria da minha vida.
Eu era herdeira de um reino, meu namorado morava em outro país e o menino com o qual eu cresci havia dito que me amava.
Minha vida estava ficando mais complicada a cada dia. Tudo estava virando de ponta cabeça e eu não sabia o que fazer.
Levei a mão à boca, pensando no beijo de Felipe.
Eu nunca havia nem mesmo imaginado como seria beijá-lo, mas agora que aquilo havia acontecido, eu não conseguia parar de pensar em seus lábios nos meus. Aquilo não devia ter sido tão bom. Ele era como um irmão para mim e eu não devia sentir atração por ele, parecia errado. Balancei a cabeça tentando parar de pensar nisso.
Eu não tinha certeza do que eu deveria sentir. Não tinha certeza de mais nada.
Viajar para um reino e me tornar uma rainha parecia uma coisa surreal, não só porque eu não me sentia apta para ser uma rainha, mas também porque eu sempre tive raiva da monarquia por saber que meu pai havia morrido em uma guerra por causa de um rei, mas a perspectiva mudava agora que eu sabia que ele havia sido o rei.
Aquilo tudo me deixou confusa. Eu não sabia se ainda deveria odiar a monarquia, se deveria aceitar me tornar uma rainha, se deveria fugir, se deveria sentir algo por Felipe ou não, se deveria continuar meu namoro com Mateus, mesmo ele estando tão distante... Eram tantas coisas que eu precisava decidir, isso se me deixassem escolher, afinal meus tios haviam controlado a minha vida desde que eu era um bebê, sempre me dizendo o que comer, o que vestir, como me sentar, o que fazer, aonde ir, o quanto estudar, que cursos fazer... Eu havia começado a pensar que decidiria algo em minha vida, como a minha carreira, porque estava perto de fazer dezoito anos, mas eu estava enganada. Eu não poderia mais escolher uma carreira, pois ela já estava escolhida para mim. Eu seria Rainha algum dia, querendo ou não. Era a sensação que eu tinha.
No fim, não haviam escolhas a serem feitas, não por mim.
Nos próximos dias que se passaram eu evitei Felipe o máximo que consegui, pois não estava pronta para encará-lo depois do que aconteceu e também não tive coragem de falar com Mateus, nem sobre Felipe, nem sobre eu ser a herdeira de Solares. Eram assuntos que eu estava guardando para um momento adequado, assim como o possível término de namoro, afinal eu não achava que poderíamos continuar namorando, não depois de tudo o que eu havia descoberto sobre mim. Mateus tinha a vida dele e eu logo seria uma princesa de um reino distante. Não teria como dar certo, ou teria?Um dia, porém, enquanto eu estava sentada no meu quarto, rabiscando um papel qualquer, sem escrever nada de importante, ouvi meu celular tocando. Era Mateus mais uma vez, a segunda vez naquele dia.
Mais tarde, quando meus tios chegaram das compras que haviam feito, nós nos sentamos para almoçar. Eu não pretendia falar nada sobre Mateus, mas o que eu não esperava era que Felipe fosse me fazer falar. - Pai, você não vai adivinhar quem veio nos fazer uma visita hoje. - disse ele de repente. Eu o encarei numa pergunta silenciosa do por que ele estava dizendo aquilo, enquanto meu tio nos olhava, esperando uma resposta. - Mateus veio me visitar. - respondi com um suspiro - Ele disse que ia se mudar para a cidade. - Você disse à ele o nosso endereço? - É claro que disse, ele é... ele era o meu namorado.
Minha tia estava fazendo o jantar, enquanto Felipe e eu estávamos sentados à mesa, olhando um para o outro.Sorri envergonhada e baixei os olhos para a minha mão, sentindo um misto de euforia, nervosismo, medo e vergonha, tudo misturado.Foi quando meu tio entrou na cozinha sério, fazendo toda a atmosfera do ambiente mudar e me tirando das minhas fantasias irreais.- Precisamos conversar sobre uma coisa. - anunciou.Ele se sentou numa cadeira à minha frente e respirou fundo.- Eu sei que estamos nos adaptando à mudança ainda, mas...- Tio, eu não quero me mudar de novo. - interrompi.- Espera eu terminar. - pediu ele - Você já vai fazer dezoito anos daqui duas semanas, então acho que... já podemos voltar para casa.- Você quer dizer...- Sim, o castelo. - ele confirmou - Eu estava pensando sobre o assunto e acho que não seria
No dia seguinte eu estava na cozinha, fazendo um brigadeiro caseiro para me acalmar.Minha tia nunca havia se preocupado em me ensinar a cozinhar, e agora eu sabia o por que, mas eu gostava muito de fazer doces quando eu estava chateada, sem ela saber, é claro. Fazê-los, e principalmente comê-los, me acalmava mais do que qualquer outra coisa e eu precisava aproveitar que meus tios haviam saído mais uma vez.Ouvi a campainha tocar, desliguei o fogo e fui até a janela para ver quem era.- Quem está aí? - perguntou Felipe atrás de mim, me dando um susto.- É o Mateus. - respondi.Ele ficou sério de repente e foi em direção a porta.- O que você vai fazer? - perguntei, segurando-o pelo braço.- Vou fazer ele ir embora.- Não. Eu falo com ele.Abri a porta e fui até o portão antes que Felipe dissesse ou fizesse
Dois dias se passaram sem muitas mudanças. Minhas malas estavam prontas e nós estávamos nos preparando para a viagem. Eu estava com medo do que me esperava quando chegássemos ao castelo, mas tentei não pensar muito nisso e me concentrar na viagem apenas. Eu já estava arrumada, meu coração batia acelerado com a expectativa, enquanto meus tios terminavam de organizar tudo e eu esperava perto da porta. Felipe escorou na bancada da cozinha e suspirou. - O que foi? - perguntei a ele. - Nada. Eu só... estou nervoso. - Você está nervoso? Por quê? - Sei lá... Vai ser uma viagem long
Depois de toda a agitação que foi a minha noite, demorou mais ainda para que eu conseguisse dormir.Assim que fechei os olhos e peguei no sono escutei uma batida na porta e a voz do meu tio nos chamando. Já era de manhã. As poucas horas em que estive dormindo pareceram minutos e eu estava exausta.- Tio, será que não podemos ficar aqui no hotel por mais um dia? - perguntei quando estávamos tomando o café da manhã.Marcelo franziu a testa.- Por quê?- É que eu estou muito cansada, não dormi muito bem com toda essa agitação por causa da viagem, e viajar de carro é muito cansativo...- Mas se ficarmos vamos ter que passar outra noite aqui.- E não podemos? - perguntei.Eu realmente não queria continuar nossa viagem agora.- Me desculpe querida, mas é melhor não. Eu já aluguei um apartam
Na manhã seguinte eu acordei sozinha em meu quarto do apartamento e demorei um pouco para me lembrar de onde eu estava e o que havia acontecido na noite passada.Era normal eu acordar assim, meio sonolenta e sem saber quem eu era e onde estava, mas a constante mudança de cenários das últimas semanas estava me deixando ainda mais confusa.Quando saí do quarto encontrei todos já acordados na cozinha, tomei o café da manhã tranquilamente e depois voltei para o quarto mais uma vez.Um pouco mais tarde eu entrei novamente na piscina e fiquei lá praticamente o dia todo. Meus tios e Felipe também entraram na água um pouco, mas eu fui a que ficou mais tempo. Sempre fui como um peixe fora d'agua e sempre que havia a oportunidade de nadar eu aproveitava ao máximo.À noite Felipe foi ao meu quarto mais uma vez e nós passamos quase a noite toda juntos.Logo pela m
Meu coração acelerou quando chegamos no aeroporto, pois logo eu estaria no que deveria ser o meu lar e eu não sabia como me sentir sobre isso.O avião que pegamos ia nos deixar no reino de Urano, que era aliado do reino de Solares.Mais uma vez me sentei ao lado de Felipe no avião, e ele parecia um pouco mais calmo do que da ultima vez, mas eu segurei em sua mão mesmo assim.Quando chegamos ao reino de Urano já estava anoitecendo, mas eu pude reparar na beleza do lugar. As luzes ali eram bem diferentes e as construções também. As casas eram pequenas, mas eram todas decoradas e coloridas.Pegamos um taxi e fomos até um hotel para passarmos a noite, então jantamos e fomos todos dormir, pois estávamos todos cansados da viagem interminável.No outro dia meu tio saiu logo cedo, dizendo que resolveria tudo para a nossa chegada à Solares e que ma