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Capítulo 6 - De Cabeça Para Baixo

Quando consegui pegar no sono já era quase de manhã.

Acordei com batidas na minha porta, levantei lentamente para ver quem era e me surpreendi ao ver Felipe parado em frente ao meu quarto.

- O que foi? - perguntei ainda meio dormindo.

- Nada... Eu só queria ver se você estava bem. Já é tarde e você não saiu do quarto o dia todo.

- Eu estou bem. Só fui dormir tarde ontem, só isso.

Olhei bem para ele e só então percebi que aquilo parecia estranho. Felipe nunca havia se importado tanto comigo.

- Por que está tão preocupado?

- Nada... eu só...

Ergui as sobrancelhas esperando ele responder, mas ele não disse mais nada.

- Então...? Por que está preocupado comigo? Por que me protegeu e levou um tiro por mim? Foi só por que eu sou uma princesa? Você sempre me odiou e sempre cagou para a minha segurança, o que deu em você agora?

- Eu nunca odiei você, Alice.

Revirei os olhos para ele.

- Tá legal, ódio pode ser uma palavra forte, mas... eu sempre tento ter uma relação amigável com você, mesmo assim nós acabamos sempre brigando e...

Antes que eu terminasse de falar ele me agarrou, me pegando de surpresa com um beijo em minha boca. Então eu o empurrei com força, fazendo-o esbarrar na porta.

- Por que você fez isso?! - gritei com a mão na boca, tentando entender o que havia acabado de acontecer.

Ele apenas respirou fundo e ajeitou a camisa.

- Eu gosto de você. - ele respondeu - Eu nunca te odiei, Alice. No começo, quando éramos crianças, eu tinha raiva de você porque meus pais te davam tudo e sempre me diziam pra eu cuidar de você e coisas desse tipo, mas com o tempo aquele sentimento se transformou em outra coisa e eu não tive coragem de admitir porque achava que éramos primos, então tentei esconder esse sentimento o máximo possível e tentei te afastar, porque eu sabia que se ficássemos próximos demais eu não conseguiria esconder o que eu sentia, mas aí o meu pai me contou sobre quem você era... quando ele foi me buscar no hospital. Acontece que eu só cansei de fingir, Alice. Eu te amo e não consigo mais esconder isso. - disse ele ao se aproximar de mim mais uma vez.

Fiquei paralisada com aquela declaração.

Felipe não parecia estar mentindo. Não era uma brincadeira de mal gosto, era verdade.

Ele segurou meu rosto carinhosamente.

- Eu te amo. - ele repetiu, e dessa vez eu não o impedi quando senti seus lábios tocarem os meus.

Meu coração acelerou tanto que tive medo que ele parasse.

Felipe me beijou suavemente e eu nunca pensei que um beijo dele pudesse ser tão bom e que pudesse me provocar tantas sensações diferentes.

Me vi retribuindo o beijo, até que percebi o que estava fazendo. Felipe era como um irmão e eu tinha um namorado.

Me afastei dele, xingando a mim mesma por ser tão estúpida.

Não tive coragem de olhar nos olhos dele, ao invés disso eu me virei de costas.

- É melhor você sair do meu quarto. - pedi.

Permaneci virada para a parede, esperando que ele saísse, o que ele demorou para fazer.

Ouvi seus passos lentos até a porta, onde ele permaneceu parado por alguns instantes antes de fecha-la.

Me sentei pesadamente na cama e levei as mãos à cabeça.

Como eu era idiota!

Me perguntei por que aquele tipo de coisa acontecia comigo, como se eu já não tivesse coisas demais para me preocupar.

Nesse momento meu celular tocou. Era Mateus.

- Oi, meu amor. - ouvi a voz dele do outro lado.

- Oi.

- Alguma coisa errada?

- Não. - respondi, sem ter coragem de contar a verdade para ele.

Ele pareceu perceber que alguma coisa estava diferente, mas não insistiu.

- Eu... queria te pedir o endereço da sua casa. Eu vou te mandar uma coisa pelo correio.

- Tudo bem, eu te mando por mensagem.

- Certo. Agora eu vou desligar, mas te ligo de novo mais tarde.

- Okay. Tchau.

- Tchau.

Soltei um suspiro e mandei a mensagem para ele com o meu novo endereço, depois me deitei na cama, me perguntando o que eu faria da minha vida.

Eu era herdeira de um reino, meu namorado morava em outro país e o menino com o qual eu cresci havia dito que me amava.

Minha vida estava ficando mais complicada a cada dia. Tudo estava virando de ponta cabeça e eu não sabia o que fazer.

Levei a mão à boca, pensando no beijo de Felipe.

Eu nunca havia nem mesmo imaginado como seria beijá-lo, mas agora que aquilo havia acontecido, eu não conseguia parar de pensar em seus lábios nos meus. Aquilo não devia ter sido tão bom. Ele era como um irmão para mim e eu não devia sentir atração por ele, parecia errado. Balancei a cabeça tentando parar de pensar nisso.

Eu não tinha certeza do que eu deveria sentir. Não tinha certeza de mais nada.

Viajar para um reino e me tornar uma rainha parecia uma coisa surreal, não só porque eu não me sentia apta para ser uma rainha, mas também porque eu sempre tive raiva da monarquia por saber que meu pai havia morrido em uma guerra por causa de um rei, mas a perspectiva mudava agora que eu sabia que ele havia sido o rei.

Aquilo tudo me deixou confusa. Eu não sabia se ainda deveria odiar a monarquia, se deveria aceitar me tornar uma rainha, se deveria fugir, se deveria sentir algo por Felipe ou não, se deveria continuar meu namoro com Mateus, mesmo ele estando tão distante... Eram tantas coisas que eu precisava decidir, isso se me deixassem escolher, afinal meus tios haviam controlado a minha vida desde que eu era um bebê, sempre me dizendo o que comer, o que vestir, como me sentar, o que fazer, aonde ir, o quanto estudar, que cursos fazer... Eu havia começado a pensar que decidiria algo em minha vida, como a minha carreira, porque estava perto de fazer dezoito anos, mas eu estava enganada. Eu não poderia mais escolher uma carreira, pois ela já estava escolhida para mim. Eu seria Rainha algum dia, querendo ou não. Era a sensação que eu tinha.

No fim, não haviam escolhas a serem feitas, não por mim.

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