Assim que Felipe voltou do hospital nós começamos a nossa viagem.
Pegamos um avião para a cidade de Ônix, que ficava em um país quase vizinho do nosso.
Felipe se sentou ao meu lado no avião, e meus tios na frente.
Eu tinha muitas perguntas a fazer, mas decidi deixa-las para depois da viagem, afinal não poderíamos conversar ali no avião.
- Você está bem? - perguntei a Felipe.
- Sim. Eu não gosto muito de voar, mas...
- Eu estava me referindo ao seu ombro.
- Ah... - ele riu.
- Você tem medo de avião? - zombei.
- Não. Não é medo. Eu só... não gosto de altura.
Ri dele e voltei a minha atenção para a janela.
Eu nunca havia voado de avião, pelo menos não que eu me lembrasse, mas eu estava tranquila.
Assim que começamos a sentir o tremor da decolagem, percebi que Felipe fechou a mão em punho e ficou tenso, então coloquei minha mão sobre a dele, tentando acalma-lo.
- Não se preocupe. Vamos ficar bem.
Ele olhou para mim e para minha mão e só então eu percebi o quanto aquela cena parecia estranha.
Tirei a minha mão de cima da dele e me virei para a janela de novo.
O resto da viagem foi tranquila. Algumas horas depois nós estávamos em nossa nova casa, que era um pouco menor que a antiga, mas era bonita.
Me fechei em meu novo quarto o resto do dia, alternando entre arrumar as minhas coisas e olhar para a janela deprimida.
Mandei uma mensagem para Mateus, avisando que eu havia chegado e ficamos conversando por alguns minutos, até minha tia me chamar para o jantar.
Fui até a cozinha em passos lentos e me sentei pesadamente em uma das cadeiras.
- Alice, precisamos falar algumas coisas para você. - começou meu tio, finalmente.
Me ajeitei na cadeira e olhei para ele, esperando ansiosamente por respostas.
Marcelo e Patrícia se entreolharam antes que meu tio continuasse.
- Você estudou sobre a história de alguns reinos na escola, não estudou?
- Sim... Um pouco. - Respondi, apesar de não saber em quê aquilo seria relevante.
- Você sabe alguma coisa sobre Solares?
Pensei um pouco, tentando me lembrar das aulas de história.
- É aquele reino que era grande, mas foi dividido entre os nove filhos do rei Robert e receberam os nomes dos planetas, sendo Solares o reino principal, que ficou para o filho mais velho. Não é isso?
- Sim, é isso. - confirmou ele.
- E o que é que tem?
Meu tio respirou fundo antes de continuar a explicação.
- Bom, você se lembra quando eu disse que seu pai morreu na guerra?
- Lembro.
- Ele morreu lutando por Solares, mas ele não era bem um soldado.
- Não?
Franzi a testa.
A explicação de meu tio estava se tornando cada vez mais confusa.
- Seu pai era bisneto do rei Robert. Ele era o rei de Solares.
Fiquei olhando para o meu tio, tentando compreender o que ele havia acabado de dizer, e por mais que eu entendesse o que a frase dizia, ela não me fazia sentido algum.
- E... Eu não sou seu tio. - continuou - Eu era da guarda real, na verdade era o guarda pessoal do seu pai, e um amigo dele. Quando você nasceu, sua mãe morreu no parto e seu pai ficou preocupado com a sua segurança, pois o reino estava em guerra. Ele me pediu para fugir com você e disse a todos que você também havia morrido com sua mãe. Felipe já havia nascido nessa época, e eu também estava preocupado com a segurança dele, por isso fiz o que seu pai mandou. A intenção era esconder você por alguns meses apenas, mas pouco tempo depois nós ficamos sabendo da morte do seu pai e decidimos que não voltaríamos até a guerra ter acabado oficialmente, pois seria mais seguro.
- Mas... Solares ainda está em guerra? - perguntei.
- Não exatamente. - meu tio explicou - Solares está sob ameaça de guerra, pois o reino da Lua ainda é seu inimigo declarado. E provavelmente foram eles que enviaram aqueles homens para atacar você.
Fiquei totalmente perplexa com a revelação, pois eu realmente não esperava por algo assim.
Todos os olhares estavam em mim, mas eu não estava ali. Minha mente parecia estar longe e eu não conseguia entender o que aquilo tudo significava.
Eu era filha do rei de Solares? Isso não podia ser verdade. Eu com certeza havia entendido errado. Não fazia sentido.
- Você é a futura rainha de Solares. - disse minha tia.
- Mas eu não entendo... Eu vou ser rainha? Meu pai não teve outros filhos antes de mim?
- Não. Sua mãe estava tendo dificuldades para engravidar e já fazia anos que eles estavam tentando. Eles já estavam um pouco velhos quando você nasceu. Foi uma gravidez complicada e um nascimento ainda mais complicado. Por isso sua mãe...
- Foi por isso que ela morreu... - completei.
Minha mente ainda tentava absorver a magnitude de tudo aquilo.
Eu era filha única do rei de Solares. Minha mãe morreu no parto e meu pai na guerra, mas eu sobrevivi. Parecia a história de outra pessoa e não a minha.
Voltei para o meu quarto e me tranquei lá o resto da noite. Fiquei sem jantar, pois minha fome havia ido embora, assim como o meu sono.
Quando consegui pegar no sono já era quase de manhã.Acordei com batidas na minha porta, levantei lentamente para ver quem era e me surpreendi ao ver Felipe parado em frente ao meu quarto.- O que foi? - perguntei ainda meio dormindo.- Nada... Eu só queria ver se você estava bem. Já é tarde e você não saiu do quarto o dia todo.- Eu estou bem. Só fui dormir tarde ontem, só isso.Olhei bem para ele e só então percebi que aquilo parecia estranho. Felipe nunca havia se importado tanto comigo.- Por que está tão preocupado?
Nos próximos dias que se passaram eu evitei Felipe o máximo que consegui, pois não estava pronta para encará-lo depois do que aconteceu e também não tive coragem de falar com Mateus, nem sobre Felipe, nem sobre eu ser a herdeira de Solares. Eram assuntos que eu estava guardando para um momento adequado, assim como o possível término de namoro, afinal eu não achava que poderíamos continuar namorando, não depois de tudo o que eu havia descoberto sobre mim. Mateus tinha a vida dele e eu logo seria uma princesa de um reino distante. Não teria como dar certo, ou teria?Um dia, porém, enquanto eu estava sentada no meu quarto, rabiscando um papel qualquer, sem escrever nada de importante, ouvi meu celular tocando. Era Mateus mais uma vez, a segunda vez naquele dia.
Mais tarde, quando meus tios chegaram das compras que haviam feito, nós nos sentamos para almoçar. Eu não pretendia falar nada sobre Mateus, mas o que eu não esperava era que Felipe fosse me fazer falar. - Pai, você não vai adivinhar quem veio nos fazer uma visita hoje. - disse ele de repente. Eu o encarei numa pergunta silenciosa do por que ele estava dizendo aquilo, enquanto meu tio nos olhava, esperando uma resposta. - Mateus veio me visitar. - respondi com um suspiro - Ele disse que ia se mudar para a cidade. - Você disse à ele o nosso endereço? - É claro que disse, ele é... ele era o meu namorado.
Minha tia estava fazendo o jantar, enquanto Felipe e eu estávamos sentados à mesa, olhando um para o outro.Sorri envergonhada e baixei os olhos para a minha mão, sentindo um misto de euforia, nervosismo, medo e vergonha, tudo misturado.Foi quando meu tio entrou na cozinha sério, fazendo toda a atmosfera do ambiente mudar e me tirando das minhas fantasias irreais.- Precisamos conversar sobre uma coisa. - anunciou.Ele se sentou numa cadeira à minha frente e respirou fundo.- Eu sei que estamos nos adaptando à mudança ainda, mas...- Tio, eu não quero me mudar de novo. - interrompi.- Espera eu terminar. - pediu ele - Você já vai fazer dezoito anos daqui duas semanas, então acho que... já podemos voltar para casa.- Você quer dizer...- Sim, o castelo. - ele confirmou - Eu estava pensando sobre o assunto e acho que não seria
No dia seguinte eu estava na cozinha, fazendo um brigadeiro caseiro para me acalmar.Minha tia nunca havia se preocupado em me ensinar a cozinhar, e agora eu sabia o por que, mas eu gostava muito de fazer doces quando eu estava chateada, sem ela saber, é claro. Fazê-los, e principalmente comê-los, me acalmava mais do que qualquer outra coisa e eu precisava aproveitar que meus tios haviam saído mais uma vez.Ouvi a campainha tocar, desliguei o fogo e fui até a janela para ver quem era.- Quem está aí? - perguntou Felipe atrás de mim, me dando um susto.- É o Mateus. - respondi.Ele ficou sério de repente e foi em direção a porta.- O que você vai fazer? - perguntei, segurando-o pelo braço.- Vou fazer ele ir embora.- Não. Eu falo com ele.Abri a porta e fui até o portão antes que Felipe dissesse ou fizesse
Dois dias se passaram sem muitas mudanças. Minhas malas estavam prontas e nós estávamos nos preparando para a viagem. Eu estava com medo do que me esperava quando chegássemos ao castelo, mas tentei não pensar muito nisso e me concentrar na viagem apenas. Eu já estava arrumada, meu coração batia acelerado com a expectativa, enquanto meus tios terminavam de organizar tudo e eu esperava perto da porta. Felipe escorou na bancada da cozinha e suspirou. - O que foi? - perguntei a ele. - Nada. Eu só... estou nervoso. - Você está nervoso? Por quê? - Sei lá... Vai ser uma viagem long
Depois de toda a agitação que foi a minha noite, demorou mais ainda para que eu conseguisse dormir.Assim que fechei os olhos e peguei no sono escutei uma batida na porta e a voz do meu tio nos chamando. Já era de manhã. As poucas horas em que estive dormindo pareceram minutos e eu estava exausta.- Tio, será que não podemos ficar aqui no hotel por mais um dia? - perguntei quando estávamos tomando o café da manhã.Marcelo franziu a testa.- Por quê?- É que eu estou muito cansada, não dormi muito bem com toda essa agitação por causa da viagem, e viajar de carro é muito cansativo...- Mas se ficarmos vamos ter que passar outra noite aqui.- E não podemos? - perguntei.Eu realmente não queria continuar nossa viagem agora.- Me desculpe querida, mas é melhor não. Eu já aluguei um apartam
Na manhã seguinte eu acordei sozinha em meu quarto do apartamento e demorei um pouco para me lembrar de onde eu estava e o que havia acontecido na noite passada.Era normal eu acordar assim, meio sonolenta e sem saber quem eu era e onde estava, mas a constante mudança de cenários das últimas semanas estava me deixando ainda mais confusa.Quando saí do quarto encontrei todos já acordados na cozinha, tomei o café da manhã tranquilamente e depois voltei para o quarto mais uma vez.Um pouco mais tarde eu entrei novamente na piscina e fiquei lá praticamente o dia todo. Meus tios e Felipe também entraram na água um pouco, mas eu fui a que ficou mais tempo. Sempre fui como um peixe fora d'agua e sempre que havia a oportunidade de nadar eu aproveitava ao máximo.À noite Felipe foi ao meu quarto mais uma vez e nós passamos quase a noite toda juntos.Logo pela m