Depois que eu apresentei Mateus aos meus tios tudo melhorou e eu estava muito feliz.
Nós íamos para a escola juntos, voltávamos juntos e passávamos os fins de semana juntos.
Mas eu nunca poderia imaginar o quanto tudo isso ia mudar logo.
Um dia, depois da aula, eu convidei Mateus para passar a tarde na minha casa.
Meus tios estavam trabalhando, então só seríamos eu, ele e meu primo Felipe - infelizmente.
Felipe foi direto para o quarto, com uma cara emburrada, enquanto eu e Mateus ficamos na sala.
Liguei a TV e coloquei um filme para nós dois assistirmos, me aconchegado ao lado dele enquanto esperava o filme começar.
De repente eu ouvi um estrondo na cozinha, que me assustou.
Nós dois nos entreolhamos e então fomos até lá para ver, pensando que talvez pudesse ser Felipe aprontando algo, mas ao invés disso nos deparamos com três homens que estavam invadindo a minha casa.
Dei um passo para trás assustada, mas não tive tempo de me esconder, pois eles me viram.
Mateus entrou na minha frente de forma protetora e um dos homens riu, sacando uma arma da cintura da calça e apontando ela para nós.
- Então... Esse é o moleque que deixaram para proteger você? - zombou ele, se preparando para atirar.
- Não. - respondeu uma voz do outro lado da cozinha. Era Felipe.
Rapidamente ele lançou uma faca no homem que havia falado, acertando-o no ombro.
- Sou eu quem protege ela. - Felipe completou.
Os outros dois homens que estavam de pé, correram na direção dele, mas Felipe estava com uma espada na mão - que eu não fazia ideia de onde ele havia tirado - mas eu sabia quão bom ele era com uma espada.
Aqueles homens também estavam armados, mas eles mal tiveram tempo de usar as armas, pois Felipe cortou a mão de um deles e Mateus começou a lutar com o outro.
Uma das armas escorregou para perto de mim e eu fixei meus olhos nela.
Eu não sabia atirar, então de nada ia adiantar eu pegá-la, mas por algum motivo eu estava tentada a fazer isso.
Vi Felipe derrubar o homem com o qual lutava e eu nunca havia visto tanto sangue na minha vida, o que me deixou um pouco assustada e enjoada.
Mateus também conseguiu derrubar o outro homem e estava sentado sobre ele, distribuindo socos em seu rosto.
Felipe veio na minha direção com um olhar preocupado, mas eu não sabia porque.
Eu estava vendo tudo aquilo acontecer, mas parecia que eu nem estava ali. Eu estava completamente paralisada, apenas vendo tudo acontecer.
Um dos homens se arrastou até uma das armas que estavam caídas no chão, perto da porta. Ele a pegou e a apontou na minha direção.
Mateus chamou o meu nome, mas eu não consegui me mexer, eu só conseguia olhar fixamente para a arma apontada para mim, enquanto meu coração disparava freneticamente, me deixando zonza.
Ele atirou e eu fechei os olhos, esperando pela dor que não veio.
Quando abri os olhos de novo vi Felipe caído no chão com o braço todo ensanguentado.
O choque me tirou do meu transe e eu corri em direção a ele.
- Por que você fez isso!? - gritei desesperada.
Eu não entendia porque ele havia me protegido, se atirando na minha frente e levado um tiro por mim. Não parecia ser algo que ele faria.
Olhei para a arma que estava ali no chão e dessa vez eu a peguei.
Eu estava com raiva, muita raiva, e a adrenalina tomava conta do meu corpo.
Me levantei, apontei a arma na direção do homem e atirei.
Eu não sabia se acertaria, afinal eu nunca havia usado uma arma antes, mas quando eu vi ele agonizando no chão com um tiro no peito, para minha surpresa eu me senti aliviada e com uma sensação de poder.
Eu havia acabado de matar uma pessoa! Aquilo tudo não aprecia real.
Mateus e Felipe ficaram olhando para mim enquanto eu continuava admirada e assustada com o que acabara de fazer.
Logo em seguida uma forte ânsia me acometeu e eu larguei a arma e vomitei no chão.
Eu fiquei horas no hospital, esperando para poder ver meu primo. Meus tios estavam preocupadíssimos, mas eu sabia que ele ficaria bem. Dois dos homens que haviam invadido a nossa casa também foram levados para o hospital, mas seriam presos assim que se recuperassem e o outro estava morto. Dei meu depoimento aos policiais e tive medo de que eu seria presa também, ou no mínimo julgada, mas Marcelo me garantiu que eu não precisava me preocupar, pois eu havia apenas me defendido e tudo já estava resolvido. Quando os médicos finalmente nos deixaram entrar para vê-lo fiquei surpresa que ele parecesse ainda melhor do que eu esperava. Felipe estava sentado na maca, e apesar de estar com o cabelo todo bagunçado, ele me parecia ótimo, apenas com o ombro enfaixado. Tive vontade de socá-lo por ele ter sido tão descuidado, mas no fundo eu estava grata, afinal ele salvou a minha vida. Meus tios o abraçaram e eu ri da careta de dor que ele fe
Assim que Felipe voltou do hospital nós começamos a nossa viagem.Pegamos um avião para a cidade de Ônix, que ficava em um país quase vizinho do nosso.Felipe se sentou ao meu lado no avião, e meus tios na frente.Eu tinha muitas perguntas a fazer, mas decidi deixa-las para depois da viagem, afinal não poderíamos conversar ali no avião.- Você está bem? - perguntei a Felipe.- Sim. Eu não gosto muito de voar, mas...- Eu estava me referindo ao seu ombro.- Ah... - ele riu.- Você tem medo de avião? - zombei.- Não. Não é medo. Eu só... não gosto de altura.Ri dele e voltei a minha atenção para a janela.Eu nunca havia voado de avião, pelo menos não que eu me lembrasse, mas eu estava tranquila.Assim que começamos a sentir o tremor da deco
Quando consegui pegar no sono já era quase de manhã.Acordei com batidas na minha porta, levantei lentamente para ver quem era e me surpreendi ao ver Felipe parado em frente ao meu quarto.- O que foi? - perguntei ainda meio dormindo.- Nada... Eu só queria ver se você estava bem. Já é tarde e você não saiu do quarto o dia todo.- Eu estou bem. Só fui dormir tarde ontem, só isso.Olhei bem para ele e só então percebi que aquilo parecia estranho. Felipe nunca havia se importado tanto comigo.- Por que está tão preocupado?
Nos próximos dias que se passaram eu evitei Felipe o máximo que consegui, pois não estava pronta para encará-lo depois do que aconteceu e também não tive coragem de falar com Mateus, nem sobre Felipe, nem sobre eu ser a herdeira de Solares. Eram assuntos que eu estava guardando para um momento adequado, assim como o possível término de namoro, afinal eu não achava que poderíamos continuar namorando, não depois de tudo o que eu havia descoberto sobre mim. Mateus tinha a vida dele e eu logo seria uma princesa de um reino distante. Não teria como dar certo, ou teria?Um dia, porém, enquanto eu estava sentada no meu quarto, rabiscando um papel qualquer, sem escrever nada de importante, ouvi meu celular tocando. Era Mateus mais uma vez, a segunda vez naquele dia.
Mais tarde, quando meus tios chegaram das compras que haviam feito, nós nos sentamos para almoçar. Eu não pretendia falar nada sobre Mateus, mas o que eu não esperava era que Felipe fosse me fazer falar. - Pai, você não vai adivinhar quem veio nos fazer uma visita hoje. - disse ele de repente. Eu o encarei numa pergunta silenciosa do por que ele estava dizendo aquilo, enquanto meu tio nos olhava, esperando uma resposta. - Mateus veio me visitar. - respondi com um suspiro - Ele disse que ia se mudar para a cidade. - Você disse à ele o nosso endereço? - É claro que disse, ele é... ele era o meu namorado.
Minha tia estava fazendo o jantar, enquanto Felipe e eu estávamos sentados à mesa, olhando um para o outro.Sorri envergonhada e baixei os olhos para a minha mão, sentindo um misto de euforia, nervosismo, medo e vergonha, tudo misturado.Foi quando meu tio entrou na cozinha sério, fazendo toda a atmosfera do ambiente mudar e me tirando das minhas fantasias irreais.- Precisamos conversar sobre uma coisa. - anunciou.Ele se sentou numa cadeira à minha frente e respirou fundo.- Eu sei que estamos nos adaptando à mudança ainda, mas...- Tio, eu não quero me mudar de novo. - interrompi.- Espera eu terminar. - pediu ele - Você já vai fazer dezoito anos daqui duas semanas, então acho que... já podemos voltar para casa.- Você quer dizer...- Sim, o castelo. - ele confirmou - Eu estava pensando sobre o assunto e acho que não seria
No dia seguinte eu estava na cozinha, fazendo um brigadeiro caseiro para me acalmar.Minha tia nunca havia se preocupado em me ensinar a cozinhar, e agora eu sabia o por que, mas eu gostava muito de fazer doces quando eu estava chateada, sem ela saber, é claro. Fazê-los, e principalmente comê-los, me acalmava mais do que qualquer outra coisa e eu precisava aproveitar que meus tios haviam saído mais uma vez.Ouvi a campainha tocar, desliguei o fogo e fui até a janela para ver quem era.- Quem está aí? - perguntou Felipe atrás de mim, me dando um susto.- É o Mateus. - respondi.Ele ficou sério de repente e foi em direção a porta.- O que você vai fazer? - perguntei, segurando-o pelo braço.- Vou fazer ele ir embora.- Não. Eu falo com ele.Abri a porta e fui até o portão antes que Felipe dissesse ou fizesse
Dois dias se passaram sem muitas mudanças. Minhas malas estavam prontas e nós estávamos nos preparando para a viagem. Eu estava com medo do que me esperava quando chegássemos ao castelo, mas tentei não pensar muito nisso e me concentrar na viagem apenas. Eu já estava arrumada, meu coração batia acelerado com a expectativa, enquanto meus tios terminavam de organizar tudo e eu esperava perto da porta. Felipe escorou na bancada da cozinha e suspirou. - O que foi? - perguntei a ele. - Nada. Eu só... estou nervoso. - Você está nervoso? Por quê? - Sei lá... Vai ser uma viagem long