Nova York
Tygor, o gerente do clube de luta, inclinou-se na cadeira, os olhos deslizando lentamente pelo meu corpo. Seus lábios se curvaram em um sorriso predatório, senti um arrepio de desconforto percorrer a minha espinha. Meus olhos buscaram desesperadamente por Lindsey, que apenas ria despreocupada do outro lado do camarim. — Passe um batom vermelho e seja bem-vinda ao "Covil"! Ele se retirou e Lindsey veio correndo até onde eu estava. — Eu sabia que você conseguiria, olha esse cabelo, essa pele, você é perfeita amiga — Lindsey exclamou, seu entusiasmo quase contagiante. Mas, enquanto eu olhava meu reflexo no espelho, tudo o que via eram as olheiras escuras de noites sem dormir, preocupada com Daniel e com as contas acumulando na mesa da cozinha. — As pessoas aqui gostam muito de vermelho — falei enquanto passava o batom, esfregando os lábios pra cor ficar uniforme — vermelho sangue! Lindsey deu uma risada escandalosa. — Agora vamos fofa, que o Tygor já está de olho em nós. Que eu não encontre nenhum pai de um futuro aluno meu, pensei enquanto fazia o sinal da cruz e saía do camarim para a área ao redor do ringue, onde as pessoas se aglomeravam. — Enquanto nenhum lutador chamar, a gente serve drinques para o público — Lindsey me instruía. — Ainda não tenho certeza se eu deveria ter te escutado — comentei, observando o lugar. De um lado do ringue havia umas mesas pequenas, provavelmente reservadas para os clientes vip, em torno do ringue havia uma arquibancada que formava uma meia lua, para os demais apostadores, o ambiente tinha uma atmosfera violenta que me assustava. — Aquela é a Melissa, ela recolhe o dinheiro das apostas. Ela não faz massagens e jura que recusou até mesmo um convite do Dragão, eu duvido. — Quem é Dragão? — Você vai ver, é ele quem vai fazer a última luta de hoje. Ah, detalhe importante, não se aproxime dele em momento algum, ele é um gostoso, mas um grande babaca. Ele nunca chamou nenhuma garota, então se concentre no adversário dele, eles ficam arrasados, e normalmente chamam várias meninas para massagear o ego deles, que foi pisoteado. — Você é má, Lindsey Lorrane! — a provoquei, eu sabia que ela detestava o segundo nome. — Shhh, nunca mais diga esse nome aqui, ou eu contarei todos os seus segredos mais nojentos — Lindsey fez um biquinho e ambas fomos chamadas ao trabalho. As horas passavam rápido, enquanto eu andava de um lado para o outro servindo bebidas e ouvindo gracinhas. Durante um breve momento de descanso, encostei-me na parede e deixei a minha mente vagar. O peso das dívidas pressionava o meu peito, cada centavo ganho aqui era uma tentativa desesperada de garantir o tratamento do meu irmão. As gorjetas generosas ofereciam um lampejo de esperança em meio ao caos financeiro que eu enfrentava. O trabalho na cafeteria durante o dia pagava muito pouco, só com as gorjetas dessa noite eu ganhei o salário de uma semana, eu estava empolgada, e Lindsey me avisou que o melhor viria quando as lutas acabassem, muitos homens queriam massagens, lutadores ou não. Um novo alvoroço iniciou e eu sabia que mais uma luta iria começar, apesar de estar concentrada em não cair enquanto atravessava o salão de salto alto com a bandeja na mão, eu pude ouvir a empolgação do locutor ao anunciar a entrada do Dragão. Ótimo! Significava que era a última luta da noite, e que o meu trabalho estava perto do final, com um pouco de sorte, conseguiria dormir antes de ir para a cafeteira. Não consegui evitar a curiosidade em olhar para o homem que entrava no ringue, Lindsey me disse que eu acostumaria com a pancadaria, mas confesso que passei a noite inteira evitando aquela direção. O Dragão andava calmante no ringue, a cabeça baixa, ele utilizava uma máscara igual ao do Zorro, cobria a região em volta dos olhos, haviam dois furos, para que pudesse enxergar. No peito havia uma tatuagem de um dragão, ele era musculoso, mas não tão grande quanto o seu adversário, senti um frio na barriga quando o sino tocou anunciando o início da luta. — Ei, loira! Cadê a minha bebida? — um homem gesticulava com as duas mãos pra mim. Mas, eu estava completamente entretida na luta. O Dragão tinha algo diferente, talvez o jeito que ele lutava ou o corpo definido em conjunto com o maxilar perfeito. Não deixe esse idiota acertar o seu queixo! Senti uma onda de tensão invadir o meu corpo. Quando o grandão finalmente caiu, os músculos do meu corpo relaxaram. O Dragão se aproximou do público para comemorar a vitória e eu dei um sorriso enorme, torcendo pra que ele retirasse a máscara. — Traz a minha bebida! — o homem gritou novamente, e eu caminhei sorridente até ele. As lutas haviam terminado, mas o meu trabalho pelo jeito ainda não, Tygor vinha caminhando apressado na minha direção. — Volte ao camarim, retoque esse batom, dê uma ajeitada no cabelo, suba as escadas a direita e vá para o camarim um, alguém precisa de uma bela massagista, não de uma garçonete descabelada. — Ah tá — respondi insegura. Eu não sabia muito bem como aquilo iria funcionar, ainda assim segui passo a passo como me foi ordenado. Eu podia escutar o burburinho das garotas empolgadas se retocando, soltei o cabelo, repassei o batom e subi as escadas. Um carpete vermelho forrava todo o piso, e o meu salto alto parecia afundar levemente, enquanto eu pisava, placas douradas marcavam a numeração dos camarins dos lutadores, no final do longo corredor estava o número 1. Respirei fundo e bati na porta. — Entre! — ouvi a voz soar do lado de dentro. O homem estava olhando pela janela, a luz suave da lua delineando os seus músculos bem definidos sob a calça de moletom preta e a blusa de capuz. Quando ele se virou, seus olhos azuis, quase elétricos, perfuraram os meus. Ainda usando a máscara, ele exalava uma mistura de perigo e fascínio que me deixou intrigada. — Eu sinto muito, eu me confundi. É o meu primeiro dia, com certeza devo ter entendido errado o número do camarim, o barulho lá fora... me desculpe! — senti o meu rosto corar, enquanto me lembrava das palavras de Lindsey, sobre ficar longe do Dragão. — Sente-se! — sua voz soou firme, quase hipnótica. Eu obedeci, sentindo o meu coração acelerar. Retirei um pote de massagem de dentro da minha bolsa, minhas mãos tremendo ligeiramente. Ele se aproximou lentamente, cada passo seu parecia ressoar no silêncio tenso do camarim. — Qual essência prefere? Lavanda? Camomila? — Senhorita Emily, não te chamei pela massagem! Eu quero... companhia — suas palavras foram acompanhadas por um sorriso enigmático. Ele caminhou até o frigobar, pegou duas garrafas de cerveja e me entregou uma, o toque de seus dedos brevemente, encontrando os meus, enviando um arrepio inesperado pela minha pele. — Foi uma longa noite, acho que você merece um descanso, bebe comigo... — Ah sim, eu aceito — respondi completamente confusa. O Dragão podia ser feroz e violento no ringue, mas ali, em sua companhia, ele mostrou um lado surpreendentemente educado e divertido. — Emily Carter, espero você na semana que vem — sua voz soou baixa e envolvente. Ele se inclinou e os seus lábios roçaram suavemente o canto da minha boca. Um arrepio percorreu a minha pele, deixando um rastro de desejo e uma promessa de algo mais. Eu fiquei ali, paralisada, enquanto ele se afastava, deixando-me ansiosa pelo nosso próximo encontro.Christopher — Sr. Donovan, que bom que está bem!— Ralf, eu deveria tê-lo avisado que iria demorar mais do que o previsto hoje...— Christopher, qualquer dia você irá me encontrar infartado ao lado do carro. Isso que você está fazendo é imprudente e muito arriscado.— Creio que está na hora de falarmos da sua aposentadoria, Ralf — falei rindo.— Ah, seu moleque atrevido! Na próxima vez que demorar, eu entro lá e te trago pelas orelhas.Ralf ligou o carro, e seguimos pela estrada principal de volta para a mansão. A visão das casas do subúrbio foi, aos poucos, substituída pelas construções opulentas do bairro nobre onde eu morava.A lembrança de um belo sorriso passou por meus pensamentos.— Eu estava com uma massagista, por isso atrasei...— Oh! Isso é novidade — Ralf me olhou pelo retrovisor — a senhora Susi Tanaka não é mais a sua favorita?Susi é a minha massagista há anos, antes mesmo de iniciar no clube de lutas, é uma senhora japonesa formidável, e além do mais possui mãos mágic
Emily Não dormi quase nada, pensando sobre a minha estréia no "Covil", além do mais Lindsey não parava de me mandar mensagem, pra saber como foi a massagem com o Dragão.Pensar nele me deixava sorridente, mas o rabugento dono da cafeteria Grão de Ouro, não parecia muito satisfeito com o quanto um homem mascarado de queixo perfeito e músculos atraentes, estava me deixando distraída.— Caaaaarter! Leve esse café na mesa 4! — Já vou — respondi irritada, por ele estar gritando a mesma coisa pela terceira vez.A cafeteria não estava cheia, mas eu não tive muito tempo depois que saí do clube de luta para pensar no gentil lutador que eu acabara de conhecer. Quando eu cheguei no apartamento o cansaço da noite em claro era tão grande que eu dormi com roupa e tudo no sofá, quase perdi a hora de entrar no trabalho.Eu não podia me dar ao luxo de perder o emprego, as cartas se acumulando em baixo da porta era um sinal claro disso, então entrei debaixo do chuveiro por dois minutos, coloquei uma
Christopher — Você não devia ter vindo...— Ralf, eu tinha que vir!— Eu entendo o seu fascínio, ela é espirituosa e sem dúvida muito bonita.— Não é sobre ela, é sobre a situação. Ela vai denunciar o desgraçado?— Não, eu pesquisei um pouco. Ela está endividada, se denunciar o ex-patrão, será difícil conseguir um novo emprego.— Droga! — murmurei, incapaz de controlar a raiva que borbulhava dentro de mim — Entende porque esse tipo de situação me deixa revoltado? Esse maldito provavelmente não faz ideia das consequências que o comportamento idiota dele ocasionou.— Acho que ele não precisou esperar muito pra ver, ela jogou café quente nele...— É pouco — estreitei os olhos, alguns pensamentos obscuros dominando a minha mente — Christopher, eu conheço esse olhar. Me promete que não vai fazer nada? Eu te considero como um filho, eu te encontrei dentro dessa escuridão para qual você está pensando em voltar, não faça isso. Eu sei que você se importa com a moça, mas não vai ajudar dessa
Emily A sala de espera da AdVision Productions era maior que o meu apartamento inteiro. Olhei para os meus pés, satisfeita por ter escolhido botas ao invés do tênis velho de sempre.Pensei em ir mais uma vez ao banheiro, analisar a minha imagem no espelho. A calça jeans skinny, o terninho azul marinho e a camisa branca não ficariam mais elegantes, pelo simples fato de eu estar conferindo a cada cinco minutos.Dei mais uma olhada ao redor. O ambiente era amplo, com decorações minimalistas, e a elegância em cada detalhe fazia com que eu me sentisse deslocada. A própria recepcionista parecia uma extensão da decoração: alta, com uma saia lápis verde musgo e um terninho de corte perfeito na mesma cor, que combinavam perfeitamente com sua pele morena bronzeada e seus olhos verdes.— Emily Carter, o Sr. Donovan irá recebê-la agora. Por favor, me acompanhe — disse a recepcionista com um sorriso educado, levantando-se e sinalizando para que eu a seguisse. Quando entrei no escritório do CEO
Christopher — Alguém me explica como Anastacia Romanova conhece Victoria? — perguntei aos pares de olhos atônitos à minha frente, na sala de reunião. Victoria Blake era a dona da maior concorrente da AdVision Productions e, embora a nossa relação fosse aparentemente amistosa, a ligação dela com a minha melhor cliente com certeza não era mera coincidência. — Talvez Anastacia tenha procurado a concorrência buscando um melhor preço — Luke respondeu fracamente. — Anastacia me procurou porque eu sou o melhor, ela não está atrás de uma pechincha. Saiam todos daqui! — explodi. Voltei para minha sala, ainda fervendo de raiva. Notei várias chamadas perdidas de Ralf no meu celular. — Ralf, o que aconteceu? — A polícia está investigando a morte do Gerard. Um amigo disse que sabem que você esteve lá. — Você está de sacanagem, isso é impossível! — Tem uma testemunha que alega ter visto o Dragão. É melhor você evitar o clube nesse fim de semana. — Que droga! Se eu for interrogado, terei
Emily — Srta. Carter, em cima da minha mesa estão todos os contratos da AdVision Productions. Vou pedir que confira um a um e os coloque em ordem alfabética. — Devo procurar algo específico nesses contratos, Sr. Donovan? — perguntei, enquanto admirava o quanto ele ficava lindo todo de preto: terno preto, camisa preta e gravata impecável, que ele continuava a ajustar. — Acredito que é capaz de compreender bem o nosso idioma, então apenas faça o que pedi! — Sim, senhor — respondi, sem graça, ao perceber os seus olhos azuis intensos cravados em mim. Christopher saiu do escritório e finalmente pude me concentrar na pilha de papéis à minha frente. Hoje nada vai me abalar. Será a minha segunda noite no clube. O clube de luta funciona aos finais de semana apenas, de sexta a domingo, e eu estou ansiosa para encontrar o Dragão novamente. Enquanto olhava os contratos, não pude deixar de reparar em inconsistências no contrat
Emily A noite no clube começou animada, com as meninas cochichando pelos cantos, sobre o Dragão e eu. — E aí, boneca? Ouvi dizer que ele não dura cinco minutos — uma das garotas me provocou. Eu dei um sorrisinho amarelo. Eu duvido e muito disso, mas dizer que ele é uma máquina de fazer sexo seria mentira, porque a verdade é que eu não sei. Tudo o que rolou entre nós foi meio beijo, um beijinho tímido no canto da boca. — Se um cara matasse outro por mim, eu daria até os buracos proibidos. Isso é muito sexy! — Ele não matou ninguém! — falei imediatamente. As outras meninas riram, e eu fechei a cara, emburrada. — Você não deveria defender ele! Você nem o conhece. — Lindsey se aproximou de mim, os olhos vermelhos e inchados. — Ei, o que aconteceu com você? Andou chorando? — Não, é só enxaqueca. — Lindsey Lorrane, você nunca foi boa em contar mentiras... — Já falei p
Christopher Eu estava caído no meio do ringue, quando o meu raio de sol apareceu, o juiz não iria parar a luta, alguém no clube estava tentando me matar. Primeiro o drinque contaminado, agora um juiz decidido a deixar que a luta durasse até a minha morte, mas eu não iria me render. Não diante daqueles olhos esverdeados como uma pequena porção do mar, não morreria sem sentir a textura daqueles cabelos dourados por entre os meus dedos. Reage! Emily Carter era o antídoto perfeito para qualquer droga que tenham me dado. Me senti bem o suficiente para virar o jogo e vencer a luta, mas eu ainda tinha algo a fazer, tirar Emily do meio daqueles selvagens. Coloquei Emily sobre os meus ombros e a levei comigo para o meu camarim. — Você é resistente — sua voz era apenas um sussurro, quando a deitei na cama, tomando cuidado para não soltar o peso do meu corpo sobre ela. — Se você me permitir, eu te mostrarei o tamanho da minha resistência, querida! Esfreguei a minha ereção nela sem