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C a p í t u l o ♡ 4

Christopher 

— Você não devia ter vindo...

— Ralf, eu tinha que vir!

— Eu entendo o seu fascínio, ela é espirituosa e sem dúvida muito bonita.

— Não é sobre ela, é sobre a situação. Ela vai denunciar o desgraçado?

— Não, eu pesquisei um pouco. Ela está endividada, se denunciar o ex-patrão, será difícil conseguir um novo emprego.

— Droga! — murmurei, incapaz de controlar a raiva que borbulhava dentro de mim — Entende porque esse tipo de situação me deixa revoltado? Esse maldito provavelmente não faz ideia das consequências que o comportamento idiota dele ocasionou.

— Acho que ele não precisou esperar muito pra ver, ela jogou café quente nele...

— É pouco — estreitei os olhos, alguns pensamentos obscuros dominando a minha mente 

— Christopher, eu conheço esse olhar. Me promete que não vai fazer nada? Eu te considero como um filho, eu te encontrei dentro dessa escuridão para qual você está pensando em voltar, não faça isso. Eu sei que você se importa com a moça, mas não vai ajudar dessa forma!

— Não é sobre ela — tornei a repetir, sentindo o gosto amargo das escolhas do meu passado. 

Lembrei-me das noites sem fim, das decisões que me levaram até aqui, e de como jurara a mim mesmo que nunca mais deixaria alguém sofrer por causa da injustiça de outros.

— Christopher, me promete! — o olhar bondoso de Ralf me observava, aguardando uma resposta que eu não posso dar.

— Eu não posso... — dei uma última olhada para o interior da cafeteria. 

As mesas bistrô, as luzes baixas, criavam um ambiente intimista. Um homem robusto caminhava tranquilamente pelo local, alheio à tempestade de emoções que eu sentia. Sabendo que a raiva dentro de mim só seria aplacada com o derramamento de sangue, voltei para o carro.

— Vamos embora daqui! — Ralf franziu a testa, antes de dar partida no carro.

— Como ela estava? — perguntei, enfim.

— Arrasada, mas ela é uma garota forte. Se você quer realmente ajudar, deveria pensar em arrumar um emprego para ela na empresa.

— Não posso fazer isso! Como o Dragão, eu posso baixar a guarda, me divertir com ela. Agora, como CEO, eu não posso me dar ao capricho de arriscar tudo o que eu conquistei, dando um emprego pra uma pessoa que não é devidamente qualificada.

— Como o Dragão você se esconde atrás de uma máscara! — Ralf cruzou os braços, o tom de voz dele carregado de frustração — Você quer mantê-la em seu mundo de faz de conta. É isso o que te fascina na senhorita Emily Carter, não é real! Mas essa menina tem problemas reais, e pode ficar sem um teto sobre a cabeça, mas você é egoísta demais para se importar.

Poucas vezes eu vi o Ralf tão irritado.

— Pelo jeito ela também te conquistou? — dei um sorriso amarelo, mas ele continuava implacável.

— Eu vi o currículo dela, mas você sequer deu uma chance!

— Ralf, ela faz faculdade de Letras. Não me servirá de nada na empresa! Sejamos honestos, o que ela poderia fazer? Revisar os textos das campanhas?

— Você está impossível — Ralf fechou a cara, e eu soube imediatamente que ele não queria falar mais sobre isso.

Apesar de ter dito a Célia que eu não voltaria para a empresa, eu voltei. A chegada de Anastacia Romanova em Nova York alterava completamente o cronograma da campanha.

Assinei alguns documentos que estavam presentes em minha mesa e por fim me deparei com o currículo de Emily Carter, Ralf ficou impressionado, mas no entanto ele não é um empresário. Ainda assim, fiquei curioso.

— Droga! — interfonei apressado para Célia — Chame Emily Carter para uma entrevista, urgente! Agende para amanhã no primeiro horário.

— Você tem uma reunião com Luke e na sequência com a Anastacia Romanova.

— Não me questione, eu quero Emily Carter às oito horas da manhã aqui na empresa!

— Sim, senhor!

A vida é realmente cheia de surpresas. Quem diria que Emily Carter era fluente em diversos idiomas, inclusive russo? Ela é mesmo surpreendente.

Ter a Srta. Carter na empresa significava muitas coisas. Primeiro, eu teria que tomar cuidado pra que ela não descubra que eu sou o Dragão, e segundo, eu tenho que ficar longe dela.

As horas foram passando e a noite foi chegando, e eu ainda estava no escritório, precisava de uma vantagem para controlar Anastacia Romanova, nunca aceitei clientes se metendo no meu trabalho e não vou aceitar agora.

Não chamei o Ralf pra me levar pra casa, porque ainda tinha um trabalho a fazer.

Peguei o jipe e dirigi até a cafeteria Grão de Ouro. As luzes estavam apagadas, e a placa de fechado já estava na porta de vidro. Eu soube pelas inúmeras publicações nas redes sociais, que a Sra. Flora vai pra missa toda segunda-feira. O velho Gerard provavelmente estava sozinho.

Eles moravam em cima da cafeteria, coloquei a máscara do Dragão e escalei o muro rapidamente, pelo telhado do vizinho pude alcançar uma das janelas da casa, com habilidade destranquei a trava.

O interior da casa estava completamente escuro, com um cheiro forte de produtos de limpeza indicando que dona Flora havia feito uma faxina. Pulei para dentro de uma sala impecavelmente arrumada e caminhei devagar até uma porta entreaberta, que devia ser o quarto.

Meus olhos, já acostumados à escuridão, distinguiram a silhueta do velho caído no chão. Aproximei-me lentamente, sentindo um arrepio percorrer minha espinha. Chequei seu pulso; ele estava morto. Alguém havia chegado antes de mim. Acendi a lanterna do celular, revelando o quarto completamente revirado e o homem com vários ferimentos na cabeça.

— Droga!

Peguei um vidrinho que carrego comigo no bolso, limpei todo os lugares que eu toquei e saí da casa.

Voltei para o jipe, com o coração batendo descompassado. Uma surra provavelmente não traria muitos problemas, mas com um assassinato haveria uma investigação. E isso sim, era um grande problema!

— Ralf, acho que eu estou encrencado…

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