Christopher
— Você não devia ter vindo... — Ralf, eu tinha que vir! — Eu entendo o seu fascínio, ela é espirituosa e sem dúvida muito bonita. — Não é sobre ela, é sobre a situação. Ela vai denunciar o desgraçado? — Não, eu pesquisei um pouco. Ela está endividada, se denunciar o ex-patrão, será difícil conseguir um novo emprego. — Droga! — murmurei, incapaz de controlar a raiva que borbulhava dentro de mim — Entende porque esse tipo de situação me deixa revoltado? Esse maldito provavelmente não faz ideia das consequências que o comportamento idiota dele ocasionou. — Acho que ele não precisou esperar muito pra ver, ela jogou café quente nele... — É pouco — estreitei os olhos, alguns pensamentos obscuros dominando a minha mente — Christopher, eu conheço esse olhar. Me promete que não vai fazer nada? Eu te considero como um filho, eu te encontrei dentro dessa escuridão para qual você está pensando em voltar, não faça isso. Eu sei que você se importa com a moça, mas não vai ajudar dessa forma! — Não é sobre ela — tornei a repetir, sentindo o gosto amargo das escolhas do meu passado. Lembrei-me das noites sem fim, das decisões que me levaram até aqui, e de como jurara a mim mesmo que nunca mais deixaria alguém sofrer por causa da injustiça de outros. — Christopher, me promete! — o olhar bondoso de Ralf me observava, aguardando uma resposta que eu não posso dar. — Eu não posso... — dei uma última olhada para o interior da cafeteria. As mesas bistrô, as luzes baixas, criavam um ambiente intimista. Um homem robusto caminhava tranquilamente pelo local, alheio à tempestade de emoções que eu sentia. Sabendo que a raiva dentro de mim só seria aplacada com o derramamento de sangue, voltei para o carro. — Vamos embora daqui! — Ralf franziu a testa, antes de dar partida no carro. — Como ela estava? — perguntei, enfim. — Arrasada, mas ela é uma garota forte. Se você quer realmente ajudar, deveria pensar em arrumar um emprego para ela na empresa. — Não posso fazer isso! Como o Dragão, eu posso baixar a guarda, me divertir com ela. Agora, como CEO, eu não posso me dar ao capricho de arriscar tudo o que eu conquistei, dando um emprego pra uma pessoa que não é devidamente qualificada. — Como o Dragão você se esconde atrás de uma máscara! — Ralf cruzou os braços, o tom de voz dele carregado de frustração — Você quer mantê-la em seu mundo de faz de conta. É isso o que te fascina na senhorita Emily Carter, não é real! Mas essa menina tem problemas reais, e pode ficar sem um teto sobre a cabeça, mas você é egoísta demais para se importar. Poucas vezes eu vi o Ralf tão irritado. — Pelo jeito ela também te conquistou? — dei um sorriso amarelo, mas ele continuava implacável. — Eu vi o currículo dela, mas você sequer deu uma chance! — Ralf, ela faz faculdade de Letras. Não me servirá de nada na empresa! Sejamos honestos, o que ela poderia fazer? Revisar os textos das campanhas? — Você está impossível — Ralf fechou a cara, e eu soube imediatamente que ele não queria falar mais sobre isso. Apesar de ter dito a Célia que eu não voltaria para a empresa, eu voltei. A chegada de Anastacia Romanova em Nova York alterava completamente o cronograma da campanha. Assinei alguns documentos que estavam presentes em minha mesa e por fim me deparei com o currículo de Emily Carter, Ralf ficou impressionado, mas no entanto ele não é um empresário. Ainda assim, fiquei curioso. — Droga! — interfonei apressado para Célia — Chame Emily Carter para uma entrevista, urgente! Agende para amanhã no primeiro horário. — Você tem uma reunião com Luke e na sequência com a Anastacia Romanova. — Não me questione, eu quero Emily Carter às oito horas da manhã aqui na empresa! — Sim, senhor! A vida é realmente cheia de surpresas. Quem diria que Emily Carter era fluente em diversos idiomas, inclusive russo? Ela é mesmo surpreendente. Ter a Srta. Carter na empresa significava muitas coisas. Primeiro, eu teria que tomar cuidado pra que ela não descubra que eu sou o Dragão, e segundo, eu tenho que ficar longe dela. As horas foram passando e a noite foi chegando, e eu ainda estava no escritório, precisava de uma vantagem para controlar Anastacia Romanova, nunca aceitei clientes se metendo no meu trabalho e não vou aceitar agora. Não chamei o Ralf pra me levar pra casa, porque ainda tinha um trabalho a fazer. Peguei o jipe e dirigi até a cafeteria Grão de Ouro. As luzes estavam apagadas, e a placa de fechado já estava na porta de vidro. Eu soube pelas inúmeras publicações nas redes sociais, que a Sra. Flora vai pra missa toda segunda-feira. O velho Gerard provavelmente estava sozinho. Eles moravam em cima da cafeteria, coloquei a máscara do Dragão e escalei o muro rapidamente, pelo telhado do vizinho pude alcançar uma das janelas da casa, com habilidade destranquei a trava. O interior da casa estava completamente escuro, com um cheiro forte de produtos de limpeza indicando que dona Flora havia feito uma faxina. Pulei para dentro de uma sala impecavelmente arrumada e caminhei devagar até uma porta entreaberta, que devia ser o quarto. Meus olhos, já acostumados à escuridão, distinguiram a silhueta do velho caído no chão. Aproximei-me lentamente, sentindo um arrepio percorrer minha espinha. Chequei seu pulso; ele estava morto. Alguém havia chegado antes de mim. Acendi a lanterna do celular, revelando o quarto completamente revirado e o homem com vários ferimentos na cabeça. — Droga! Peguei um vidrinho que carrego comigo no bolso, limpei todo os lugares que eu toquei e saí da casa. Voltei para o jipe, com o coração batendo descompassado. Uma surra provavelmente não traria muitos problemas, mas com um assassinato haveria uma investigação. E isso sim, era um grande problema! — Ralf, acho que eu estou encrencado…Emily A sala de espera da AdVision Productions era maior que o meu apartamento inteiro. Olhei para os meus pés, satisfeita por ter escolhido botas ao invés do tênis velho de sempre.Pensei em ir mais uma vez ao banheiro, analisar a minha imagem no espelho. A calça jeans skinny, o terninho azul marinho e a camisa branca não ficariam mais elegantes, pelo simples fato de eu estar conferindo a cada cinco minutos.Dei mais uma olhada ao redor. O ambiente era amplo, com decorações minimalistas, e a elegância em cada detalhe fazia com que eu me sentisse deslocada. A própria recepcionista parecia uma extensão da decoração: alta, com uma saia lápis verde musgo e um terninho de corte perfeito na mesma cor, que combinavam perfeitamente com sua pele morena bronzeada e seus olhos verdes.— Emily Carter, o Sr. Donovan irá recebê-la agora. Por favor, me acompanhe — disse a recepcionista com um sorriso educado, levantando-se e sinalizando para que eu a seguisse. Quando entrei no escritório do CEO
Christopher — Alguém me explica como Anastacia Romanova conhece Victoria? — perguntei aos pares de olhos atônitos à minha frente, na sala de reunião. Victoria Blake era a dona da maior concorrente da AdVision Productions e, embora a nossa relação fosse aparentemente amistosa, a ligação dela com a minha melhor cliente com certeza não era mera coincidência. — Talvez Anastacia tenha procurado a concorrência buscando um melhor preço — Luke respondeu fracamente. — Anastacia me procurou porque eu sou o melhor, ela não está atrás de uma pechincha. Saiam todos daqui! — explodi. Voltei para minha sala, ainda fervendo de raiva. Notei várias chamadas perdidas de Ralf no meu celular. — Ralf, o que aconteceu? — A polícia está investigando a morte do Gerard. Um amigo disse que sabem que você esteve lá. — Você está de sacanagem, isso é impossível! — Tem uma testemunha que alega ter visto o Dragão. É melhor você evitar o clube nesse fim de semana. — Que droga! Se eu for interrogado, terei
Emily — Srta. Carter, em cima da minha mesa estão todos os contratos da AdVision Productions. Vou pedir que confira um a um e os coloque em ordem alfabética. — Devo procurar algo específico nesses contratos, Sr. Donovan? — perguntei, enquanto admirava o quanto ele ficava lindo todo de preto: terno preto, camisa preta e gravata impecável, que ele continuava a ajustar. — Acredito que é capaz de compreender bem o nosso idioma, então apenas faça o que pedi! — Sim, senhor — respondi, sem graça, ao perceber os seus olhos azuis intensos cravados em mim. Christopher saiu do escritório e finalmente pude me concentrar na pilha de papéis à minha frente. Hoje nada vai me abalar. Será a minha segunda noite no clube. O clube de luta funciona aos finais de semana apenas, de sexta a domingo, e eu estou ansiosa para encontrar o Dragão novamente. Enquanto olhava os contratos, não pude deixar de reparar em inconsistências no contrat
Emily A noite no clube começou animada, com as meninas cochichando pelos cantos, sobre o Dragão e eu. — E aí, boneca? Ouvi dizer que ele não dura cinco minutos — uma das garotas me provocou. Eu dei um sorrisinho amarelo. Eu duvido e muito disso, mas dizer que ele é uma máquina de fazer sexo seria mentira, porque a verdade é que eu não sei. Tudo o que rolou entre nós foi meio beijo, um beijinho tímido no canto da boca. — Se um cara matasse outro por mim, eu daria até os buracos proibidos. Isso é muito sexy! — Ele não matou ninguém! — falei imediatamente. As outras meninas riram, e eu fechei a cara, emburrada. — Você não deveria defender ele! Você nem o conhece. — Lindsey se aproximou de mim, os olhos vermelhos e inchados. — Ei, o que aconteceu com você? Andou chorando? — Não, é só enxaqueca. — Lindsey Lorrane, você nunca foi boa em contar mentiras... — Já falei p
Christopher Eu estava caído no meio do ringue, quando o meu raio de sol apareceu, o juiz não iria parar a luta, alguém no clube estava tentando me matar. Primeiro o drinque contaminado, agora um juiz decidido a deixar que a luta durasse até a minha morte, mas eu não iria me render. Não diante daqueles olhos esverdeados como uma pequena porção do mar, não morreria sem sentir a textura daqueles cabelos dourados por entre os meus dedos. Reage! Emily Carter era o antídoto perfeito para qualquer droga que tenham me dado. Me senti bem o suficiente para virar o jogo e vencer a luta, mas eu ainda tinha algo a fazer, tirar Emily do meio daqueles selvagens. Coloquei Emily sobre os meus ombros e a levei comigo para o meu camarim. — Você é resistente — sua voz era apenas um sussurro, quando a deitei na cama, tomando cuidado para não soltar o peso do meu corpo sobre ela. — Se você me permitir, eu te mostrarei o tamanho da minha resistência, querida! Esfreguei a minha ereção nela sem
Emily — Ele vai ficar bem? — perguntei para o Ralf, o Dragão já estava apagado no banco de trás. — Ele é um cara resistente, Srta. Carter. As palavras de Ralf me deixaram coradas da cabeça aos pés, recordando os momentos nada decentes que tive com o Dragão, pensando bem, como não percebi que ele estava tão mal? — Vocês são amigos? — perguntei, direcionando os meus pensamentos para outro rumo. — Sim — Ralf respondeu evasivo. A noite havia sido uma montanha russa de emoções, e quando finalmente cheguei em casa, senti o meu corpo dolorido de tensão, ou talvez fosse por conta do sexo selvagem com o Dragão. Deitei na cama e comecei a tentar organizar os últimos acontecimentos da semana, tudo parecia um quebra-cabeça imenso, com um ponto em comum: Ralf. Ralf estava na cafeteria no dia da confusão, Ralf estava com Christopher na AdVision e Ralf me pareceu bem próximo do Dragão. Seria coincidência? O meu irmão c
Christopher — Como se sente? Abri os olhos com dificuldade, tentando localizar onde eu estava. — Como se tivesse tomado um porre. Que lugar é esse? — perguntei confuso. — Você está na minha casa, Charles está vindo pra cá. Temos um problema! — Ralf me estendeu uma tigela com sopa. Olhei pela janela, e me assustei com a escuridão da noite atravessando a cortina. — Que horas são? — Oito horas da noite, você dormiu o dia todo. Te dei uma mistura de ervas, para que eliminasse qualquer substância tóxica do seu corpo. Acredito que funcionou, você vomitou bastante e a febre passou... — Emily? — perguntei, tentando relembrar o que aconteceu na noite anterior. — Enviei o cartão juntamente com o pacote conforme solicitado. Agora que já se atualizou, precisamos falar de um assunto um pouco mais delicado. — Quem tentou me envenenar? Eu sinto te desapontar, mas não lembro quem me deu a bebida... as lembranças de ontem estão um pouco confusas. — Eu posso te ajudar lhe infor
Apesar de toda a confusão no clube, eu consegui escapar, saí pela mesma janela que havia entrado. Caminhei com cautela pelas ruas próximas do clube, até onde deixei Ralf me esperando. — Ralf, precisamos sair daqui — devo ter demorado demais, porque o encontrei dormindo. Mexi nele com cuidado, tentando acordá-lo. Algo estava errado. Meu coração estremeceu por dentro, chequei o pulso, o coração estava batendo lentamente. — Ralf, acorda porra! — Sr. Donovan, ele não irá acordar agora — um homem se aproximava do carro. Eu ainda estava com a máscara, mas pelo jeito a minha identidade foi descoberta. Peguei a arma debaixo do banco, e desci do jipe. — O que você fez com ele? — apontei a arma na direção dele, analisando as suas feições inabaláveis. Porra, eu estou muito ferrado! — Eu sou o agente Jack Brooks! É melhor você abaixar essa arma! — ele me mostrou o distintivo e mesmo relutante, eu guardei a minha arma. — O que você fez com o meu motorista? — retirei a máscara, ter