Christopher
— Alguém me explica como Anastacia Romanova conhece Victoria? — perguntei aos pares de olhos atônitos à minha frente, na sala de reunião. Victoria Blake era a dona da maior concorrente da AdVision Productions e, embora a nossa relação fosse aparentemente amistosa, a ligação dela com a minha melhor cliente com certeza não era mera coincidência. — Talvez Anastacia tenha procurado a concorrência buscando um melhor preço — Luke respondeu fracamente. — Anastacia me procurou porque eu sou o melhor, ela não está atrás de uma pechincha. Saiam todos daqui! — explodi. Voltei para minha sala, ainda fervendo de raiva. Notei várias chamadas perdidas de Ralf no meu celular. — Ralf, o que aconteceu? — A polícia está investigando a morte do Gerard. Um amigo disse que sabem que você esteve lá. — Você está de sacanagem, isso é impossível! — Tem uma testemunha que alega ter visto o Dragão. É melhor você evitar o clube nesse fim de semana. — Que droga! Se eu for interrogado, terei minha identidade exposta e isso seria perigoso. E se eu não aparecer no clube, será como assinar uma declaração de culpa. — Eu disse que essas lutas clandestinas te meteriam em problemas. Eu avisei, Christopher! Pelo menos você não contratou a jovem Emily. — Eu contratei — respondi desanimado — ela assinou os papéis hoje mesmo. — Ótimo! Agora eles têm um assassino com a motivação perfeita. Fale com o Charles, se alguém pode te tirar disso, é o seu irmão. Charles é o meu irmão mais velho, apenas Ralf e Charles sabem que eu sou o Dragão. Charles é advogado, uma vez eu escutei que não se deve mentir para duas pessoas em sua vida, o seu médico e o seu advogado, e o Charles é o meu advogado. Como tudo saiu fora do controle tão depressa? Observei o sol se escondendo atrás dos arranha-céus, sentindo uma sensação de desespero crescente. As nuvens escuras que se aproximavam refletiam perfeitamente o caos iminente na minha vida. Dias difíceis estavam chegando, e eu não sabia se estava preparado para enfrentá-los. Enquanto refletia sobre as complicações recentes, me lembrei da entrevista com Emily. Seu cabelo dourado como o sol era uma centelha de vida no meu mundo preto e branco, despertando desejos que não poderia satisfazer, ainda mais agora que trabalhava pra mim. Precisava de algo para aliviar a tensão. — Célia, a garota russa ainda está na empresa? — perguntei, precisando de um belo corpo feminino para acalmar os ânimos. — Sim, senhor. Na sala reservada, levei frutas e champanhe. — Obrigado! — respondi satisfeito, analisando a cópia do documento que Anastacia me encaminhou por email. Victoria deve ter dito que eu não saio com menores de dezoito. Ajeitei a gravata e segui para a minha sala reservada. A sala ficava no subsolo, poucas pessoas sabiam que ela existia, não constava na planta do prédio. Katarina estava sentada confortavelmente em uma das poltronas. Apesar de se chamar sala reservada, o cômodo possuía uma cama de dossel no centro, e a decoração em tons terrosos com detalhes dourados e vermelhos exalava sensualidade. A iluminação suave e os tecidos luxuosos faziam deste, sem dúvida, o meu lugar favorito em todo o prédio. Parei na porta, observando as feições delicadas da garota. Qualquer sinal que indicasse que ela não me quer e eu a mandaria embora. Ela se levantou sorrindo e caminhou em minha direção, os olhos fixos nos meus. Passei a mão pelo rosto dela, e ela fechou os olhos, inclinando-se para o toque, implorando silenciosamente por mais. Não teríamos muito o que conversar mesmo, então retirei o meu terno e a camisa, e aproveitei cada detalhe daquele corpo esguio e daquela boca esperta. Depois de muito sexo regado a champanhe, eu estava pronto para encarar os desafios que ameaçavam colocar o meu mundo abaixo. Ralf já estava me esperando para me levar até o Pub La Muerte, onde eu marquei de me encontrar com o Charles. Meu irmão já estava tomando uma cerveja quando eu cheguei. — Aí está você — ele me cumprimentou com um soquinho no ombro, que eu devolvi — Vai de cerveja? — Vou começar com algo mais forte hoje. Whisky, por favor — falei, me dirigindo a garçonete. — É sério assim? — meu irmão franziu a testa, evidenciando os sinais do tempo em seu rosto. — Lembra do caso "Patrícia Pontes"? — só a menção do nome dela, já me deixava nauseado. — Lembro! — meu irmão respondeu, claramente incomodado com o assunto — não vejo motivo pra tocar nesse assunto novamente, nós já enterramos essa história! — Aconteceu uma situação parecida com uma amiga... o patrão a assediou. — Ah não Christopher! Que merda você fez... — Eu fui na casa do cara, ele já estava morto. Mas, me viram na cena do crime, ou melhor viram o Dragão. — Porra! Combinamos que você ia parar de bancar o vingador, Christopher! O clube de luta era justamente pra te ajudar a lidar com toda essa merda da sua cabeça, acho que precisamos seguir os métodos tradicionais e te arrumar um terapeuta. — Eu não ia matá-lo — falei, apesar da raiva que senti quando Ralf me contou sobre o ocorrido. — Ótimo, usaremos isso em sua defesa! — Charles balançava a cabeça inconformado. — Garçom, mais uma dose de whisky, por favor! — pedi. — Duas! — Charles completou o pedido — Eu tenho um plano, mas estaremos agindo fora da lei, mais uma vez. — Que o nosso pai não nos ouça... — Thomas Donovan, mandaria prender os próprios filhos, pode apostar. Mas, mudando de assunto Chris, quem é a garota? — Emily... — bebi um pouco do whisky. — Ah, o nome dela é Emily — Charles riu, animado por eu ter mordido a isca. — Eu a conheci no clube de luta! Agora ela trabalha pra mim. — Pobre criatura... — Talvez o Dragão tenha um pouco mais de sorte no amor. — Não te falta sorte, Christopher. Te falta decência com as mulheres. — Eu não sou indecente — resmunguei. — Então me responda, qual foi a última mulher que você namorou? Você nunca leva nenhuma delas a sério. — Chega dessa conversa. Me mande o seu plano por mensagem — me levantei de uma vez, fazendo o copo escorregar e cair. — Porra, Christopher! Pare de agir feito um idiota! Eu joguei uma nota sobre a mesa e fui embora sem olhar pra trás.Emily — Srta. Carter, em cima da minha mesa estão todos os contratos da AdVision Productions. Vou pedir que confira um a um e os coloque em ordem alfabética. — Devo procurar algo específico nesses contratos, Sr. Donovan? — perguntei, enquanto admirava o quanto ele ficava lindo todo de preto: terno preto, camisa preta e gravata impecável, que ele continuava a ajustar. — Acredito que é capaz de compreender bem o nosso idioma, então apenas faça o que pedi! — Sim, senhor — respondi, sem graça, ao perceber os seus olhos azuis intensos cravados em mim. Christopher saiu do escritório e finalmente pude me concentrar na pilha de papéis à minha frente. Hoje nada vai me abalar. Será a minha segunda noite no clube. O clube de luta funciona aos finais de semana apenas, de sexta a domingo, e eu estou ansiosa para encontrar o Dragão novamente. Enquanto olhava os contratos, não pude deixar de reparar em inconsistências no contrat
Emily A noite no clube começou animada, com as meninas cochichando pelos cantos, sobre o Dragão e eu. — E aí, boneca? Ouvi dizer que ele não dura cinco minutos — uma das garotas me provocou. Eu dei um sorrisinho amarelo. Eu duvido e muito disso, mas dizer que ele é uma máquina de fazer sexo seria mentira, porque a verdade é que eu não sei. Tudo o que rolou entre nós foi meio beijo, um beijinho tímido no canto da boca. — Se um cara matasse outro por mim, eu daria até os buracos proibidos. Isso é muito sexy! — Ele não matou ninguém! — falei imediatamente. As outras meninas riram, e eu fechei a cara, emburrada. — Você não deveria defender ele! Você nem o conhece. — Lindsey se aproximou de mim, os olhos vermelhos e inchados. — Ei, o que aconteceu com você? Andou chorando? — Não, é só enxaqueca. — Lindsey Lorrane, você nunca foi boa em contar mentiras... — Já falei p
Christopher Eu estava caído no meio do ringue, quando o meu raio de sol apareceu, o juiz não iria parar a luta, alguém no clube estava tentando me matar. Primeiro o drinque contaminado, agora um juiz decidido a deixar que a luta durasse até a minha morte, mas eu não iria me render. Não diante daqueles olhos esverdeados como uma pequena porção do mar, não morreria sem sentir a textura daqueles cabelos dourados por entre os meus dedos. Reage! Emily Carter era o antídoto perfeito para qualquer droga que tenham me dado. Me senti bem o suficiente para virar o jogo e vencer a luta, mas eu ainda tinha algo a fazer, tirar Emily do meio daqueles selvagens. Coloquei Emily sobre os meus ombros e a levei comigo para o meu camarim. — Você é resistente — sua voz era apenas um sussurro, quando a deitei na cama, tomando cuidado para não soltar o peso do meu corpo sobre ela. — Se você me permitir, eu te mostrarei o tamanho da minha resistência, querida! Esfreguei a minha ereção nela sem
Emily — Ele vai ficar bem? — perguntei para o Ralf, o Dragão já estava apagado no banco de trás. — Ele é um cara resistente, Srta. Carter. As palavras de Ralf me deixaram coradas da cabeça aos pés, recordando os momentos nada decentes que tive com o Dragão, pensando bem, como não percebi que ele estava tão mal? — Vocês são amigos? — perguntei, direcionando os meus pensamentos para outro rumo. — Sim — Ralf respondeu evasivo. A noite havia sido uma montanha russa de emoções, e quando finalmente cheguei em casa, senti o meu corpo dolorido de tensão, ou talvez fosse por conta do sexo selvagem com o Dragão. Deitei na cama e comecei a tentar organizar os últimos acontecimentos da semana, tudo parecia um quebra-cabeça imenso, com um ponto em comum: Ralf. Ralf estava na cafeteria no dia da confusão, Ralf estava com Christopher na AdVision e Ralf me pareceu bem próximo do Dragão. Seria coincidência? O meu irmão c
Christopher — Como se sente? Abri os olhos com dificuldade, tentando localizar onde eu estava. — Como se tivesse tomado um porre. Que lugar é esse? — perguntei confuso. — Você está na minha casa, Charles está vindo pra cá. Temos um problema! — Ralf me estendeu uma tigela com sopa. Olhei pela janela, e me assustei com a escuridão da noite atravessando a cortina. — Que horas são? — Oito horas da noite, você dormiu o dia todo. Te dei uma mistura de ervas, para que eliminasse qualquer substância tóxica do seu corpo. Acredito que funcionou, você vomitou bastante e a febre passou... — Emily? — perguntei, tentando relembrar o que aconteceu na noite anterior. — Enviei o cartão juntamente com o pacote conforme solicitado. Agora que já se atualizou, precisamos falar de um assunto um pouco mais delicado. — Quem tentou me envenenar? Eu sinto te desapontar, mas não lembro quem me deu a bebida... as lembranças de ontem estão um pouco confusas. — Eu posso te ajudar lhe infor
Apesar de toda a confusão no clube, eu consegui escapar, saí pela mesma janela que havia entrado. Caminhei com cautela pelas ruas próximas do clube, até onde deixei Ralf me esperando. — Ralf, precisamos sair daqui — devo ter demorado demais, porque o encontrei dormindo. Mexi nele com cuidado, tentando acordá-lo. Algo estava errado. Meu coração estremeceu por dentro, chequei o pulso, o coração estava batendo lentamente. — Ralf, acorda porra! — Sr. Donovan, ele não irá acordar agora — um homem se aproximava do carro. Eu ainda estava com a máscara, mas pelo jeito a minha identidade foi descoberta. Peguei a arma debaixo do banco, e desci do jipe. — O que você fez com ele? — apontei a arma na direção dele, analisando as suas feições inabaláveis. Porra, eu estou muito ferrado! — Eu sou o agente Jack Brooks! É melhor você abaixar essa arma! — ele me mostrou o distintivo e mesmo relutante, eu guardei a minha arma. — O que você fez com o meu motorista? — retirei a máscara, ter
Emily A semana passou lentamente, o que é o oposto da sexta-feira, com o retorno de Christopher e a gravação para a campanha de Anastacia Romanova. Anastacia estava empolgada, Christopher mais carrancudo do que nunca, e também absurdamente gostoso. Não era errado olhar para o quanto a calça jeans preta marcava as suas coxas, não depois de já ter me agarrado aquele corpo forte, enquanto era invadida pelo seu membro. Christopher costuma trabalhar de terno e gravata, mas hoje ele estava no melhor estilo bad boy, camisa social preta, calça jeans e bota de couro. O cabelo que costumava usar penteado para trás com muito gel, hoje estava levemente bagunçado. Como eu não percebi antes, as semelhanças? De tempos e tempos, Christopher mexia na gola da camisa, instintivamente procurando a gravata, e maldição, como eu gostaria de sentir aquelas mãos grandes pelo meu corpo, ali, sem máscaras entre nós. Ele me olhava de relance, enquanto eu traduzia os mil e um pedidos de Anastacia, com
Christopher Emily saiu do meu escritório arrasada, tive que conter o impulso de ir atrás dela. Eu a magoei e fiz isso propositalmente. Achei que ela fosse ficar longe depois do telefonema, mas ela é esperta, descobriu que eu era o Dragão. Eu só precisaria mantê-la longe por um tempo, o trabalho com Anastacia Romanova acabaria, e eu não precisaria mais da Emily na empresa. Como ficar longe, se cada vez que os seus olhos encontraram os meus, eu sentia como se o meu coração fosse parar? Como ficar longe, se eu desejava mais do que qualquer coisa, entrelaçar os meus dedos naquele cabelo dourado e puxá-la para a minha boca? Eu precisava ao menos me desculpar, mas que boca aquela atrevida tem. O Dragão talvez fosse mais gentil com a moça, mas Christopher não, eu queria controle! Eu queria Emily sob o meu domínio, encharcada e rendida. Me tornei exatamente o tipo de pessoa que eu mais odiava, o chefe que sai com a funcionária. A culpa me pegou tarde demais, e então eu precisava acabar co