C a p í t u l o ♡ 5

Emily 

A sala de espera da AdVision Productions era maior que o meu apartamento inteiro. Olhei para os meus pés, satisfeita por ter escolhido botas ao invés do tênis velho de sempre.

Pensei em ir mais uma vez ao banheiro, analisar a minha imagem no espelho. A calça jeans skinny, o terninho azul marinho e a camisa branca não ficariam mais elegantes, pelo simples fato de eu estar conferindo a cada cinco minutos.

Dei mais uma olhada ao redor. O ambiente era amplo, com decorações minimalistas, e a elegância em cada detalhe fazia com que eu me sentisse deslocada. 

A própria recepcionista parecia uma extensão da decoração: alta, com uma saia lápis verde musgo e um terninho de corte perfeito na mesma cor, que combinavam perfeitamente com sua pele morena bronzeada e seus olhos verdes.

— Emily Carter, o Sr. Donovan irá recebê-la agora. Por favor, me acompanhe — disse a recepcionista com um sorriso educado, levantando-se e sinalizando para que eu a seguisse. 

Quando entrei no escritório do CEO da AdVision Productions, fiquei impressionada. Uma janela ampla de vidro se estendia do chão até o teto, oferecendo uma visão deslumbrante da cidade de Nova York.

O Sr. Donovan estava de costas para mim e não se virou, mesmo com minha presença.

— Onde aprendeu russo, Srta. Carter? — suas palavras eram frias e certeiras, transmitindo uma autoridade inegável.

— Hã, sozinha... — respondi, vacilante, tentando esconder o meu nervosismo.

— No seu currículo consta que você é fluente em vários idiomas. No entanto, quem avaliou o seu conhecimento, já que aprendeu sozinha?

— Eu não sou uma mentirosa, Sr. Donovan. Eu converso diariamente com estrangeiros através de uma super tecnologia chamada internet, consigo entendê-los e me fazer entender — disparei, já cansada de conversar com as costas daquele insolente, sem educação.

Ele se virou lentamente, e o olhar intenso que me lançou me fez congelar no lugar. O arrependimento me atingiu em cheio, uma onda de pânico percorreu meu corpo; eu desejei imensamente poder retirar o que havia dito. Minhas mãos suaram, e senti meu rosto esquentar sob o olhar penetrante dele. 

O homem à minha frente tinha uma postura ereta e confiante, os olhos de um azul profundo que pareciam enxergar a minha alma, o cabelo com gel penteado para trás e a barba bem cuidada. O terno cinza impecável e suas mãos grandes subindo para ajustar a gravata transmitiam uma imagem de perfeição.

Tive a impressão de que um breve sorriso passou pelo seu rosto, mas foi rápido demais para ter certeza.

— Siga-me, Srta. Carter. Faremos um teste. Eu já fiz uma nota mental sobre o fato de não ser uma mentirosa, e de ter uma boca afiada. Se for aprovada, reduzirei 20% do seu salário inicial por deixar de utilizar uma ferramenta espetacular chamada 'respeito'.

— Me desculpe — falei, sem graça, precisaria engolir o meu orgulho, se quisesse conseguir o emprego, e o salário. Ou até o final do dia, eu estaria trabalhando de graça para o CEO arrogante.

Entramos em uma sala que destoava totalmente do restante da empresa: bonita e aconchegante, com poltronas em tons off-white e nude, mobília de madeira antiga, e uma iluminação indireta que criava uma atmosfera acolhedora. Parecia mais a sala de estar de um bilionário do que uma sala de reuniões.

— Srta. Carter, essa é Anastacia Romanova. Ela é uma cliente importante da AdVision Productions, e estamos desenvolvendo uma campanha para a marca dela. Ela é russa, e você será a nossa tradutora.

— Sim, senhor.

Anastacia Romanova, estava acompanhada por dois seguranças, ela tinha o cabelo curto, loiro platinado, a sobrancelha descolorida, era incrivelmente alta e magra. Bonita e estilosa. Me apresentei, e informei qual seria o meu papel ali, e a reunião transcorreu sem grandes problemas.

— Chega de falar de trabalho — Anastacia Romanova, estalou os dedos, e um dos seguranças trouxe uma garrafa pequena de vodka.

—Ela não quer mais falar de trabalho — traduzi.

— Ah claro — Christopher se levantou, ajeitou novamente a gravata perfeita, se dirigiu até um balcão e pegou dois copos pequenos, serviu a bebida e ambos fizeram um brinde a parceria.

Anastacia estalou os dedos novamente, e a porta da sala se abriu. Uma garota de no máximo 18 anos, muito loira e muito magra entrou, ela vestia um sobretudo preto, que parecia muito grande para o tamanho dela.

— Christopher, esse é o meu presente pra você, em agradecimento pela bela recepção. Victoria me falou sobre os seus gostos, espero que aprecie — repeti as palavras exatas de Anastacia, sentindo o meu estômago dá voltas.

A garota retirou o sobretudo, exibindo o corpo esguio.

Nesse ponto da conversa eu já estava roxa de vergonha. Christopher, no entanto, continuava inabalável.

Victoria se despediu e foi embora com os seguranças. Christopher pediu para a garota aguardar na sala, e me acompanhou até a recepção.

— Srta. Carter o mínimo que eu espero de você é descrição sobre o que acontece na minha empresa. Você está contratada!

— Obrigada, Sr. Donovan — respondi animada.

— July, leve a Srta. Carter até o RH para que ela possa preencher a papelada de admissão.

— Claro, senhor. Bem-vinda a AdVision Productions, Srta. Carter.

A AdVision Productions era uma empresa impressionante, de fato. O salário oferecido era mais do que bom, finalmente eu poderia pagar as dividas que tanto me tiravam o sono.

Christopher Donovan, era inegavelmente bonito, e tinha aquela áurea de poder que o cercava, e pensar no meu atrevimento no início da entrevista, fiquei ruborizada só de lembrar.

Será que ele realmente consideraria aceitar o "presente" de Anastacia? Ele pediu pra garota esperar, claro que ele vai ficar com ela. Talvez seja uma prática comum entre as pessoas poderosas.

Realmente, eu não tenho sorte com patrão.

Me lembrei de Gerard, do seu final trágico e confesso que uma aflição tomou conta de mim. 

Tomei um banho longo e coloquei uma roupa confortável pra ir para a faculdade, já estava de saída quando ouvi uma batida forte na porta.

Eu abri a porta receosa e me deparei com dois policiais uniformizados do lado de fora. 

— Boa noite, Srta. Carter? — um deles perguntou, seu tom formal.

— Sim, sou eu — respondi.

— Somos da polícia de Nova York. Precisamos fazer algumas perguntas sobre o assassinato de Gerard, dono da cafeteria Grão de Ouro.

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