Capítulo 0009
O vento gélido do rio soprava de frente, perfurando os ossos como uma faca de gelo. Patrícia se ergueu e continuou a perseguir, porém subestimou seu estado físico atual. Antes de correr alguns metros, caiu violentamente no chão. A porta do carro se abriu novamente e um par de sapatos de couro brilhante parou diante dela.

Seus olhos seguiram as pernas elegantemente vestidas do homem, subindo lentamente até encontrarem os olhos gélidos de Teófilo.

- Teófilo... - Patrícia murmurou com debilidade.

Uma mão com nós ósseos proeminentes pousou acima dela. Por um instante, Patrícia sentiu como se estivesse vendo novamente o jovem de branco que a tinha cativado em seus anos passados e involuntariamente estendeu a mão em sua direção.

Quando suas mãos se tocaram, Teófilo retirou sua mão friamente. Ele lhe deu esperanças, depois a afastou cruelmente, fazendo com que seu corpo caísse novamente com força.

Patrícia, que não estava ferida antes da queda, agora tinha a palma da mão pressionada sobre cacos de vidro no chão. O sangue escorria, brilhante e cortante.

Seus olhos negros ficaram momentaneamente paralisados, mas ele não se moveu.

Por um instante, Patrícia ficou atordoada. Ela relembrou a ocasião em que cortou o dedo e ele a levou ao hospital no meio da noite.

O médico de plantão até riu:

- Senhor, você teve sorte de vir cedo. Se tivesse vindo mais tarde, o corte já estaria cicatrizando.

A imagem do homem em sua memória se sobrepôs com o homem diante dela. Seus traços eram os mesmos, mas o cuidado que existia antes se transformou em um frio gélido.

Teófilo falou com uma frieza implacável:

- Patrícia, os outros podem não me conhecer, mas você não sabe quem eu sou? Alguém que consegue correr mil e quinhentos metros e ainda realizar um salto mortal, agora tropeça após apenas alguns passos?

Seu olhar para ela estava cheio de desprezo, como lâminas afiadas a cortando.

Patrícia mordeu os lábios pálidos e explicou:

- Não é isso, eu não menti para você. Só estou um pouco fraca por estar doente...

Antes que ela pudesse concluir sua explicação, o homem alto se inclinou, erguendo o queixo dela com suavidade. Seus dedos ásperos acariciaram seus lábios ressecados.

- Realmente, os filhos aprendem com os pais. Você é exatamente igual ao seu pai, aquele homem extremamente hipócrita. Por um pouco de dinheiro, não hesita em encenar esse teatro patético.

Suas palavras feriam mais do que o vento gelado, perfurando seu coração.

Patrícia afastou sua mão violentamente:

- Meu pai é um homem de caráter íntegro. Acredito que ele nunca faria algo moralmente corrupto!

Teófilo riu com frieza, como se não quisesse debater esse assunto com ela. Ele tirou um cheque da carteira, preencheu um valor aleatório e segurou o cheque diante dela entre dois dedos, questionando:

- Você o quer?

Cinco milhões, uma quantia considerável. Pelo menos, poderia garantir que ela não se preocupasse com as despesas médicas de João por um longo tempo.

Entretanto, ele obviamente não era tão benevolente. Patrícia não pegou o cheque, apenas disse:

- Condição.

Teófilo sussurrou suavemente em seu ouvido:

- Contanto que você diga pessoalmente que João é um animal inferior, pior do que um porco ou um cachorro, esse dinheiro será seu.

Ao ouvir isso, Patrícia teve uma mudança drástica em sua expressão. Ela levantou a mão para dar um tapa nele, mas Teófilo segurou seu pulso. A mão ferida de Patrícia, machucada na luta, bateu em sua camisa, deixando uma marca de sangue.

Teófilo apertou ainda mais, seu semblante se tornando mais severo:

- E então? Não está disposta? Bem, então deixe-o morrer no hospital. Já escolhi o local do enterro.

- Teófilo, como você pôde se tornar assim? - Patrícia perguntou com lágrimas nos olhos.

O homem que costumava dizer que a protegeria para sempre, impedindo suas lágrimas, parecia um sonho distante. Agora, suas lágrimas eram apenas ferramentas para diverti-lo.

Mesmo a luz amarelada e suave do poste não trazia calor ao seu rosto, em vez disso, apenas impaciência.

- Não vai falar, é isso?

Ele soltou a mão de Patrícia e, com calma, rasgou o cheque em pedaços.

Patrícia tentou impedir, correndo para pegar os fragmentos, mas ele a empurrou para longe. Ele parecia uma divindade celestial, olhando para baixo, indiferente:

- Já te dei uma chance.

Os pedaços de papel rasgado eram como sua esperança despedaçada, transformando-se em borboletas dançantes ao seu redor.

- Não, não faça isso! - Patrícia estava agitada, tentando recolher os fragmentos, suas lágrimas caindo uma a uma no chão.

Ela agia como uma criança que perdeu tudo, desamparada e confusa.

Teófilo virou as costas e, enquanto se preparava para entrar no carro, ouviu um baque surdo. Ele se virou e viu a pessoa desmaiada no chão.

O motorista, Lucas, estava preocupado:

- Sr. Teófilo, parece que a senhora desmaiou. Devo levá-la ao hospital?

Teófilo lançou-lhe um olhar gélido:

- Se preocupa tanto com ela?

Lucas estava com Teófilo havia muito tempo, sabendo que o Sr. Teófilo costumava se importar muito com a senhora. No entanto, desde do dia em que ele foi reconhecer o cadáver, mudou completamente.

Isso, afinal, era um assunto de família, e ele não ousava perguntar mais. Dirigiu o carro obedientemente.

À medida que o carro se distanciava, Teófilo observava a mulher que ainda não havia se levantado pelo retrovisor, com um olhar de desprezo no rosto.

Após tantos dias sem vê-la, ela estava cada vez mais habilidosa em atuar.

Embora Patrícia tivesse sido criada com luxo e cuidado, João a fez praticar várias atividades físicas desde a infância para que não fosse intimidada pelos outros. Ela era faixa preta em taekwondo, tinha experiência em luta e a força de um touro. Como poderia desmaiar tão facilmente?

Aos olhos dele, era apenas um teatro que Patrícia estava encenando por dinheiro.

Com esse pensamento, Teófilo desviou seu olhar frio, não a olhando mais.

Quando o carro de Teófilo desapareceu, finalmente Roberto chegou até Patrícia, aproximando-se apressadamente.

Patrícia acordou novamente, encontrando-se no quarto onde estava pouco tempo atrás. Sua mão estava conectada a um soro, um líquido frio fluindo aos poucos para dentro de suas veias arroxeadas, e o ferimento em sua mão esquerda já estava enfaixado.

O relógio de parede com design de chifre de veado marcava três da manhã. Antes que ela pudesse dizer algo, a voz amistosa de Roberto soou:

- Desculpe, estava preocupado que você fizesse algo impulsivo, então te segui.

Patrícia tentou se levantar e Roberto rapidamente colocou mais um travesseiro, oferecendo-lhe um pouco de água. Sentindo-se mais confortável, Patrícia finalmente falou:

- Você viu tudo?

- Me desculpe, não foi minha intenção invadir sua privacidade.

Roberto era como uma folha em branco, limpa e clara, alguém que podia ser lido ao primeiro olhar, bem diferente de Teófilo.

- Não tem problema, eu sou a esposa dele, não é como se eu fosse uma amante. - Ao ver a surpresa no rosto de Roberto, Patrícia sorriu amargamente. - É verdade, todos pensam que Mariana é a mulher com ele se casará um breve. Se você duvida, então...

Roberto a interrompeu apressadamente:

- Não, eu acredito. Conheço seu anel de casamento, foi lançado há três anos pela Grupo SL, uma edição limitada única no mundo. Foi desenhado pessoalmente pelo dono da Grupo SL para sua esposa. Eu sei que o maior acionista oculto do Grupo SL é o Teófilo.

Ele já havia especulado sobre o relacionamento entre os dois, mas, ao ouvir os rumores sobre Teófilo e Mariana e não ver Teófilo no hospital nos últimos dois anos, tinha descartado essa ideia.

Patrícia instintivamente tocou o local onde costumava usar o anel. Estava vazio, e sua pele parecia mais pálida ali, como se estivesse relembrando seu casamento ridículo.

- Se ainda sou a esposa dele ou não, já não importa mais. Amanhã, às nove horas, estaremos nos divorciando.

- Ele sabe sobre sua doença?

- Ele não tem o direito de saber.
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