A escuridão envolvia Serena como um manto sufocante. Seus pulsos estavam marcados pelas amarras que a prendiam a uma estrutura de pedra úmida, enraizada no chão de uma câmara ancestral. O cheiro de terra molhada, musgo e sangue impregnava o ar — a essência do templo oculto dos D’Argent.Ela não sabia exatamente onde estava, mas já entendia que não era um local comum. Aquela caverna cravada nas entranhas das Montanhas Negras carregava séculos de energia antiga, poderosa e doentia. Ali, o tempo parecia dobrar, e os sussurros dos mortos eram tão altos quanto as respirações dos vivos.Vincent surgira horas antes, os olhos negros ofuscando a luz fraca das tochas. Trazia nas mãos um grimório de couro escuro e nas palavras, a arrogância de quem acreditava estar no controle.— A Lua escolheu você, Serena — Ele dissera, a voz macia como veneno diluído. — E eu escolhi a Lua.Serena se debatia, mas as correntes estavam entalhadas com runas. Símbolos primordiais que drenavam sua energia, impossib
A escuridão da floresta era densa e opressiva, com o luar mal penetrando através das copas das árvores centenárias. Serena cambaleava entre as raízes retorcidas e arbustos espinhosos, cada passo uma luta contra a exaustão que pesava em seus membros. Seus pulsos ainda ardiam das amarras que os haviam prendido durante o ritual interrompido, e sua mente estava enevoada pela dor e pelo medo. Vincent a puxava pelo braço, seu aperto firme, mas impaciente, enquanto a guiava por um labirinto de vegetação densa.— Precisamos continuar — Sussurrou Vincent, seus olhos constantemente vasculhando a escuridão ao redor. — Lucian não desistirá tão facilmente.Serena não respondeu. Sua respiração era irregular, e cada inspiração parecia um esforço monumental. Ela sabia que não podia confiar em Vincent, mas, naquele momento, ele era sua única chance de sobrevivência. O ritual que ele tentara realizar a deixara debilitada, sua conexão com sua própria essência lupina enfraquecida e instável.Eles avanç
A escuridão era densa. Mais do que a ausência de luz, era uma sombra viva, pulsante, como se tivesse vontade própria. Serena caminhava descalça pela floresta silenciosa, mas cada passo afundava em algo frio e úmido. Quando olhou para baixo, o chão estava encharcado de sangue.No centro da clareira, o lobo negro. Dominic.Ou o que um dia foi Dominic.Seus olhos prateados estavam embaçados, como vidro rachado. Sua pelagem, antes imponente e reluzente, jazia suja, tingida de sangue seco e lama. Correntes negras envolviam suas patas, garras e focinho. Ele a fitava, mas não havia reconhecimento. Apenas dor.— Dominic? — Serena chamou, a voz vacilante.O lobo se contorceu, tentando se soltar, mas as correntes se apertaram ainda mais, rangendo como metal vivo. Uma sombra serpenteava entre os galhos acima, sussurrando em vozes que não eram humanas. "Traidora. Fraca. Quebrada."Serena correu até ele, mas cada passo a fazia afundar mais no chão encharcado. Quando finalmente se aproximou, estend
A lua cheia se erguia alta no céu, banhando as montanhas com sua luz prateada, enquanto Serena permanecia sentada no centro do antigo círculo de pedras. Ao seu redor, símbolos lunares brilhavam com tinta prateada, ativados pelo feitiço ancestral que Vincent entoava com voz firme e baixa. A loba do clã Blackwood, Alyra, mantinha as mãos espalmadas sobre os ombros de Serena, murmurando orações em uma língua antiga, carregada de energia.O vento rodopiava, trazendo o cheiro úmido da floresta, da terra e… de algo mais. Algo antigo. Familiar e estranho ao mesmo tempo.Serena sentia sua respiração acelerar. Um calor estranho começou a brotar em seu peito, pulsando em sincronia com as palavras sussurradas à sua volta. A energia da terra subia por suas pernas, queimando como brasas sob sua pele. Seu corpo arqueou involuntariamente, e seus olhos se reviraram.E então… tudo desapareceu.☽❂☾Ela estava em um campo florido, o céu limpo e estrelado acima dela. O perfume doce das flores silvestres
A lua cheia pairava no céu como um olho prateado, banhando a paisagem de Pembrokeshire com sua luz espectral. Serena puxou o casaco mais rente ao corpo, tentando afastar o frio cortante que invadia a noite. Caminhava lentamente pela trilha que levava de seu escritório até sua casa alugada, um trajeto que ela já conhecia de cor. As ruas estavam vazias, apenas o som distante das ondas quebrando contra as rochas ecoava na escuridão.Desde pequena, Serena sentia um magnetismo estranho em noites como essa. Era como se algo dentro dela estivesse inquieto, ansioso por algo que nem mesmo ela sabia nomear. Mas ao contrário dos alfas da matilha local, que celebravam a lua cheia como um momento de conexão com suas naturezas lupinas, ela preferia ignorar. Não era parte daquilo. Nunca fora.Suspirando, acelerou o passo. Ainda sentia os efeitos do longo expediente no escritório de arquitetura, onde passou o dia ajustando os detalhes de um novo projeto para um restaurante sofisticado no centro da ci
O dia amanheceu com o cheiro da chuva pairando no ar, as nuvens ainda carregadas no horizonte. Serena despertou com a mente embaralhada, a lembrança dos olhos prateados ainda vívida em sua memória. Tinha sido real? Ou apenas um devaneio causado pelo cansaço?Tentando afastar a sensação estranha, levantou-se e seguiu sua rotina matinal. O aroma forte de café preencheu sua pequena casa enquanto ela se sentava à mesa, distraída, rolando o feed do celular sem realmente absorver o conteúdo. Mas sua mente insistia em voltar à noite anterior.Quando chegou ao escritório, ainda se sentia inquieta. O prédio era moderno e minimalista, com paredes de vidro que permitiam a entrada de luz natural. Seus colegas já estavam em suas mesas, imersos em projetos e conversas. Laura, sua colega mais próxima, percebeu seu olhar distante.— Você está bem? — perguntou, franzindo o cenho. — Parece que viu um fantasma.Serena hesitou antes de responder:— Não é nada. Só não dormi muito bem.Laura estreitou os o
A brisa fresca da tarde soprou contra o rosto de Serena enquanto ela se apoiava na parede do lado de fora do escritório, tentando processar a presença intimidadora de Dominic. Era como se o ar ao redor dele estivesse carregado de algo que mexia com seus instintos, deixando-a inquieta. Dominic se mantinha a poucos passos de distância, com uma postura relaxada, mas ao mesmo tempo predatória, como se estivesse sempre pronto para agir.Seus olhos prateados pareciam ainda mais hipnotizantes sob a luz difusa do fim de tarde. Os cabelos negros caíam sobre sua testa de forma despreocupada, e a camisa escura, justa ao corpo, destacava cada contorno de sua musculatura. Ele não precisava dizer nada para exalar domínio. Estava no jeito como se movia, no peso de seu olhar, até mesmo no cheiro amadeirado e profundo que Serena ainda tentava ignorar.Ela cruzou os braços, num gesto defensivo.— Você parece tensa — Dominic quebrou o silêncio, inclinando a cabeça de leve, observando-a com um sorriso qu
O quarto estava imerso na penumbra quando Serena acordou de sobressalto, o coração disparado como se tivesse corrido quilômetros. Sua respiração estava irregular, e demorou alguns segundos para que percebesse onde estava: em sua cama, envolta pelo calor dos cobertores, sua casa ainda mergulhada no silêncio da madrugada.Mas o sonho ainda pulsava em sua mente.Ela se lembrava de estar na floresta, envolta por uma névoa densa que escondia as sombras ao seu redor. No meio da névoa, um par de olhos brilhantes a observava. Um lobo, majestoso e imponente, de pelagem escura como a noite. Ele não parecia ameaçador, mas sua presença era intensa, quase sufocante. Os olhos prateados perfuravam a escuridão, fixando-se nela com um reconhecimento silencioso. Serena queria se mover, correr ou ao menos falar, mas estava paralisada.Então, ele avançou um passo, e tudo ao seu redor desapareceu.O sonho ainda pairava sobre sua mente quando ela olhou o relógio ao lado da cama: 4h13 da manhã. Suspirando,