Ele é tão lindo que se torna impossível não babar por esse carro, tanto que eu fico deslumbrada com o assento de couro ao entrar... Sem falar no acabamento perfeito de cada detalhe. E observando bem, a única coisa simples além de mim dentro dele, é uma pequena casa entalhada em um chaveiro de madeira.
Meus dedos a tocam quase como de imediato, sentindo a delicadeza em que foi feita.Eu me pergunto por que Senhor Miller, deixaria um objeto tão singular como esse em seu carro esportivo....— Não toque nisso. — Kevin diz, me assustando pela maneira em que chega sem fazer barulho, tirando minhas mãos do seu chaveiro enquanto me encara ranzinza.Seus olhos verdes parecem me fuzilar durante o tempo em que seus dedos preenchem meu pulso com firmeza. Entretanto seu jeito enfurecido não me deixa com medo e muito menos me fere, pelo contrário... eu vejo que é ele que está machucado.Se recompondo, Miller me solta e pega suas chaves sussurrando em seguida.— Me desculpe se pareci grosso, é que é algo pessoal e eu me importo muito com isso.Constrangida com o que acabou de acontecer eu lhe lanço um sorriso fraco de lado, virando minha cabeça para o lado aposto dele. Miller dá a partida no carro, e eu fico em silêncio olhando para o lado de fora através da janela. A rua de San Francisco está calma e muito bonita também, com pessoas conversando e sorrindo enquanto caminham tranquilamente pela calçada.Eu nem me lembro a última vez que pude me sentir assim, calma e feliz como essas pessoas, depois do acidente que vem me tirando a paz. Se eu pudesse voltar no tempo, nunca teria emprestado meu carro.Já passamos cerca de 3 minutos sem dizer nada um ao outro quando de repente, Kevin para o veículo.... assim que viramos uma esquina, onde está localizada uma cafeteria pequena, mas muito linda.— Eu tenho que comprar uma coisa aqui, você quer algo?Ele me pergunta enquanto mexe em sua carteira e retira seu cartão, prestes a sair do carro.— Não, Obrigada.— Ok, não vou demorar... já estão fechando então, tenho que ser rápido.Como ele mesmo disse, não demorou para comprar o que queria, rapidamente voltou com uma embalagem pequena. Ao entrar aromatizou o carro com o cheiro de bombas de chocolate. Eu sentia até o gosto de tão perfumadas que eram.Kevin arrumou-se no banco do motorista e colocou a embalagem atrás, se virando para mim ao me olhar estranho.— Senhorita Silva... que horas vai me dar?— Como?— Seu endereço, eu preciso dele para continuar o caminho. O que estava pensando?Envergonhada por ter pensando outra coisa, eu coro.... me escondendo com meu próprio cabelo.— Você... está vermelha?— É de frio, estou desacostumada com tempo de San Francisco.— Ah... espere, tenho um casaco aqui.Esticando seus braços para o assento traseiro, Kevin pega um moletom que estava em um canto... me entregando em seguida.— Não Senhor Miller, eu não posso...Digo, devolvendo. É claro que não posso usar isso, é uma coisa muito intima de se fazer para pessoas que se conhecem há pouco tempo. Com o braço ainda esticado, eu o ouço rir, depois de voltar o casaco para o lugar em que tirou.— Estou vendo o seu frio, acho que está mentindo.— Por que eu mentiria?— Talvez por que realmente ficou vermelha, pensando em coisas que não deveria, Senhorita Silva.Seu tom sai em gozação, colocando as mãos no volante em seguida.— Eu não estou mentindo, só... não acho adequado pegar uma peça de roupa do meu chefe.Retruco ao cruzar os braços, é impossível me manter calma ao lado dele. Eu não entendo, como ele consegue me irritar tão facilmente.— Você está agindo como se fosse uma peça íntima. Relaxa Senhorita Silva, não estou te pedindo para me despir, é apenas um casaco.Com o semblante fechado, eu pego meu celular e ligo meu aplicativo ao GPS do carro, mostrando-lhe o caminho para a casa de minha mãe. Logo em seguida viro meu rosto para a janela, fingindo não ter ouvido o que ele acabou de falar.Por sua vez, Kevin sorri em silêncio, se concentrando na rodovia.Depois do que parecem ser longos minutos, enfim chegamos à casa de minha mãe. Kevin para e estaciona perto da calçada, desligando o seu carro em seguida.— Você quer entrar? Mamãe está louca para te ver novamente.Eu o pergunto quando coloco minha mão na maçaneta do carro. Kevin olha para mim sorrindo, anuindo um sim como se fosse tudo o que ele precisava ouvir.Então, saindo do veículo, Kevin e eu caminhamos até a entrada, mas antes que possamos bater na porta, ela se abre antes, mamãe aparece na minha frente de um jeito que ela não está acostumada a agir... parecendo eufórica.— Ah, vocês chegaram.... que bom! Maia... pegue esse dinheiro e vá na mercearia para mim, quero um bolo para combinar com o café gostoso que fiz para o Kevin.— Mas mamãe.... você já havia dito que tinha feito um bolo. Está tudo bem?Eu a pergunto enquanto ela move seus dedos nervosamente em sua carteira.— É que aquele não ficou como eu queria e infelizmente os ingredientes acabaram.Sem entender nada, eu a encaro prestes a fazê-la me contar o que está havendo...— Eu busco o bolo, não se incomode Senhora Silva, é por minha conta. E Maia, é bom que tenha um momento a sós com sua mãe antes de ir. Eu já volto. — Kevin se pronuncia antes mesmo que eu diga alguma coisa, saindo logo depois, enquanto mamãe e eu permanecemos paradas na porta.Observando-o sair de ré, eu finalmente presto atenção na rua e consigo entender o que está acontecendo.... do outro lado da calçada vejo um carro familiar. Minhas mãos tremem, e eu me sinto mal de repente, com o vislumbre do passado.— Mamãe... ele está aqui?— Sim meu amor, eu não queria que o Kevin o visse.Minha mãe enfim sai da frente da porta e eu entro preocupada com o que possa ter acontecido.Ao chegar na minha sala, lá está ele, um homem de 35 anos com a barba por fazer, olheiras abaixo de seus olhos e uma cara nada boa quando nota minha presença.— Olá Maia, estou vendo que está bem. Pena que Bruno continua em uma cama, enquanto você fica passeando de carro pela Califórnia.Marcos que estava sentado, se levanta depois de soltar seu veneno em mim, me encarando de um jeito presunçoso. Eu diria que se ele pudesse me matar... o faria agora, nesse exato momento. — O que está fazendo aqui? Bruno está bem? Eu o pergunto sem fazer questão da forma como me tratou. Apesar de ele me tratar super mal, eu não posso fazer nada contra isso... Marcos está sendo apenas um pai zangado como qualquer outro, reagindo a essa situação rudemente. Eu acho que faria a mesma coisa se tratasse de meu filho. E somente por esse motivo, eu engulo minha raiva e deixo passar o seu tom agressivo. — Eu vim por que está mais caro. Bruno teve uma recaída, e preciso pagar um novo tratamento eficiente de fisioterapia. — Mas... e o dinheiro que eu mando todo mês? Não está cobrindo o plano de saúde? Como se eu tivesse dito algo estúpido, Marcos bufa irritado. — O dinheiro que você manda, não dá nem para tampar o buraco do dente Maia. Eu agradeço a ajuda...mas não é mais o suficiente para
Quando eu abro a porta do meu quarto, dou de cara com Senhor Miller, passando as mãos em seu cabelo, nervosamente após suspirar. — Senhor Miller, está tudo bem? O que houve com sua mãe? Digo ao me aproximar dele lentamente, um pouco tímida. — Eu fui levar o doce que minha mãe havia pedido, e quando cheguei em seu quarto, me surpreendi, sua cama estava vazia. Mamãe, sumiu. Ela nunca fez isso, não sei porque sairia de casa... essa hora da noite. Tenho certeza de que alguém deixou uma brecha para ela fugir, e eu tenho que achar o culpado! Quem foi que deixou o portão aberto?! Ele gritou outra vez, mas nessa... mais rude que a primeira. Seu funcionário que ouvia tudo calado, abaixou sua cabeça, e ficou em silêncio, não ousando responde-lo. Kevin estava muito alterado, como ninguém o respondeu, isso fez com que atiçassem ainda mais sua raiva, tanto que ele caminhou até seu empregado com os olhos negros. Foi então, que eu decidi intervir, me colocando na frente dele e do homem de meia
De volta na mansão Miller... Kevin ainda estava desnorteado com o que acabou de descobrir, tanto ele como eu. — O que vai fazer quanto a isso agora, Senhor Miller? Pergunto ainda próxima a ele em sua mesa, olhando o seu monitor. — Eu preciso de mais provas, embora eu queira muito chamar a polícia, essas imagens estão escuras.... o culpado conseguiria facilmente desviar da acusação. — Eu entendo, mas por precaução... acho que deveria manter seus olhos abertos. A vida de sua mãe corre perigo Senhor. Eu o alerto, preocupada com a doce Senhora que sumiu. Kevin foca sua atenção em mim como se ouvisse uma prece, tornando sua feição meiga em poucos segundos. — Eu gosto de ver como você a trata, diferente de muitas outras empregadas que tentaram ocupar esse cargo. Elas tinham tudo para poder ficar, trabalhavam bem... e não caíam por aí. Ele sorriu com sua última frase, me olhando feito um bobo. Mas logo ficou sério novamente me encarando. — No entanto, eram tão cheias de vaidade... q
Kevin ficou conversando com Heitor na sua sala de estar enquanto tomavam whisky. Maia foi se deitar deixando-os a sós. Na sala de estar.... — Eu o agradeço novamente, por ter trago ela. Minha mãe sofre de Alzheimer, e cada dia fica difícil saber lidar com essa doença. — Eu percebi quando ela mencionou os dados de seu casamento, pois já passamos de setembro. Eu tenho pacientes como sua mãe. Sei que é difícil e muitas vezes você daria tudo para que voltasse a se lembrar dos pequenos detalhes da vida. Kevin fica em silêncio ao começar a mexer o seu copo com o dedo, por um instante seus pensamentos o levam a interpretar que não está cuidando de sua mãe, fazendo uma tristeza profunda em seu peito pelo que aconteceu hoje. — Olha, Kevin.... não se martirize pelo que aconteceu. Somos falhos, e os erros fazem parte do crescimento. Digo de coração está fazendo a coisa certa mantendo-a em casa e não em um hospital. Isso é amor. Cuidar de quem cuidou de você antes mesmo do mais singelo suspi
A poucos passos do meu quarto paro abruptamente no corredor, ao lembrar de algo que possa me ajudar a conseguir o dinheiro da fisioterapia de Bruno. Resolvo então ir para o jardim, tirando o telefone do meu bolso ao clicar na foto de minha mãe nos contatos. Assim que piso no gramado, o cheiro das flores ao meu redor invade meu nariz me deixando tranquila. Me sento no banco de madeira, perto de tulipas que aparentam ter florido há pouco tempo. Eu não sei por que, mas este lugar me deixa relaxada, conectada comigo mesma. Depois de olhar ao meu redor, enfim ouço chamar, e logo em seguida, ela atende com sua voz angelical. — Oi meu amor. — Diz ela sorridente do outro lado da linha. — Oi mamãe, como você está? Tudo bem por aí? — Está sim, minha querida. Não se preocupe comigo, mas sim com você. Fez sua refeição no horário certo, Maia? Correndo o risco, eu minto para ela. — Sim, mamãe. Estava uma delícia. — Eu te conheço Maia.... e sei quando está mentindo. Não esqueça de cuidar de s
Já são quase 23:00 horas quando enfim acabo o meu trabalho. Assim que chego no meu quarto, tiro os meus sapatos e desabo na minha cama, olhando para o teto sozinha com meus pensamentos. Tudo que eu quero agora, é uma boa ducha quente. Assim que recupero meu ânimo, me levanto, e vou em direção ao banheiro. Fiquei tão cercada pelas coisas que estão acontecendo na minha vida, que nem tive tempo de prestar atenção no tamanho desse banheiro, eu diria que daria para morar dentro dele. Desprendo meu cabelo e tiro minhas roupas assim que água começa cair pela banheira. Logo em seguida, eu entro dentro dela e sinto meu corpo se recompondo. Estou tão exausta, que o barulho que se faz pela torneira ainda enchendo o espaço vago, me acalma, me fazendo fechar os olhos. Em poucos segundos meu cansaço some e algo quente sobe pelas minhas pernas. E adivinha? Não é a temperatura da água. Sinto mãos sobre o meu quadril, que sobem delicadamente até minha coxa, apertando-a com vontade. Adiante, lábios
Me sento ao lado de Miller depois de seu olhar insistente esperando uma reação minha. Arrumo um prato para mim, e ele também o dele, mesmo eu insistindo para o fazer.Não acredito que aceitei isso, o nervosismo toma conta de mim e só de olhar para os brócolis, vejo que não estou com fome, porém dou algumas garfadas no macarrão por educação, enquanto o silêncio entre nós paira em toda sala de jantar.Eu não me atrevo abrir minha boca, porque as lembranças daquele sonho, estão bem vívidas em meus pensamentos, minha pele e em todo o meu corpo, me deixando elétrica simplesmente por estar perto dele.Eu tento manter a calma e consigo por alguns minutos até que começo a reparar no jeito que Kevin come. Sua boca fica levemente úmida, o que dá um contraste marcante do desenho da mesma, me fazendo viajar naqueles lábios com uma vontade louca de os possuir.Meus olhos já haviam focado por tanto tempo ali, que levo um susto quando percebo que ele está me encarando quando subo o olhar. Kevin entã
— Como passou seu dia, está se adaptando com a mansão? — Perguntou ele após beber seu suco, disfarçando seu constrangimento.— Sim, Jacinto tem me ajudado bastante a entender como funciona a organização dela.— Eu imaginei que ele se disponibilizaria para isso. Jacinto está na família desde quando nasci, sempre confiei nele e sabia que se dariam bem, apesar daquela imagem das câmeras me encher de preocupação, eu confio nele.Tocando nesse assunto, posso ver o quão estressado Kevin está, quando sua veia pulsa em seu pescoço somente por mencionar essa situação.— Conseguiu resolver esse problema Senhor? — pergunto preocupada.— Será resolvido assim que possível, contratei alguém para investigar o caso. Creio eu... que, antes do sábado, terei a minha resposta.Kevin bebe outra vez seu suco e continua a falar em seguida.— Falando nisto... neste sábado, precisarei de sua presença na festa que será dada aqui. Não use o uniforme, estou te chamando para ficar como anfitriã com minha mãe.Anf