Presa ainda nos fios que me cercam do aspirador, eu me viro para olhá-lo percebendo que está bem próximo de mim... enquanto estende uma de suas mãos em minha direção. Me dando um sorriso deslumbrante... eu me perco enfeitiçada em seus lábios carnudos, que se movimenta, quando sua voz soa suave e rouca ao dizer...
— Vem cá, deixa que eu te ajudo. Eu imaginei que isso fosse acontecer, mas não tão cedo.Hesito por alguns segundos, por perceber ironia em sua voz, mas logo aceito sua ajuda pegando em sua mão e assim conseguindo me levantar, soltando meus pés dos fios caídos no chão. No entanto, constrangida demais por ter sido flagrada desse jeito pelo meu chefe, me sinto muito envergonhada para olhá-lo nos olhos e agradecer. Porém é o que eu faço mesmo assim, causando um leve rubor em minhas bochechas.— Obrigada, Senhor Miller.Digo gaguejando, por causa do meu nervosismo que aumenta por ver o quão perto estamos um do outro. Sua mão está sobre a minha causando um arrepio pelo calor que sobe diante de seu toque, que mesmo pequeno, me coloca fora de órbita.Meu Deus...estou ficando louca, não posso beijar meu chefe no meu primeiro dia, e nem hora nenhuma... Acorde Maia, ele é seu patrão, o cara que assina sua folha de pagamento no final do mês. Isso não pode acontecer, você vai se lascar.Penso comigo mesma me afastando dele, balançando minha cabeça ao tentar voltar ao normal e sair do modo hipnótico em que eu estava. Conseguindo, me lembro de sua frase esquisita, que me faz franzir o cenho ao perguntar...— Me desculpe Senhor Miller, mas por que disse que já imaginaria por isso? E que não esperava tão cedo?— É evidente que você nunca trabalhou de empregada antes, ou fez uma faxina em uma casa grande como esta. — Ele responde ao se afastar, caminhando até a janela do quarto.— Putz! Sua casa não é tão grande assim! — Eu murmuro sem querer alto demais, atraindo sua atenção novamente, com um sorriso presunçoso.— Está me dizendo que consegue limpá-la toda até o final do dia Senhorita Silva?—Eu...Claro que sim, só me atrapalhei com esse aspirador assassino. Mal o liguei e ele me atacou.Mas que mentira mais cabeluda, tomara que ele não me faça mesmo limpar tudo hoje ainda... eu posso me perder entre os corredores e nunca mais me acharem, diferente de Nárnia, os closets dessa mansão aparentam não ter uma saída mágica.— Vou me encarregar de comprar um novo para que não haja mais homicídios aqui, ou pelo menos uma empregada atrapalhada no chão. — Ele sorri caminhando em direção a porta, mas logo para se virando para mim.— Ah, só mais uma coisa...Seus olhos verdes intensos, se encontram com os meus, tão rápido que nem percebi ele sair de perto do batente da porta, só quando sinto seu perfume perante o meu nariz... ao passar por mim direto... voltando em seguida com meu balde em suas mãos enquanto me entrega cinicamente.— Limpe a casa toda, e me chame quando acabar, vou fazer uma vistoria. — Com isso, ele sai me deixando de boca aberta e furiosa.— Que coisa, será que nasci na sexta-feira 13... para ser tão azarada assim? — Resmungo batendo meus punhos ao redor da minha roupa, como uma criança que acabou de ser punida com um castigo severo.Pego meu balde e corro com a faxina dando o meu máximo para acabar ainda hoje.No final do dia... ainda não cheguei nem na metade da mansão. Estou na cozinha limpando o mármore da pia quando sinto uma mão tocar delicadamente meu ombro atrás de mim.— Heloise, querida... há quanto tempo não te vejo, até que enfim resolveu voltar da França... já decidiram a data do noivado? Kevin está muito contente.Me viro e dou de cara com uma senhora de cabelos brancos, pele macia e delicada com uma voz amorosa ao sorrir. Suas mãos se enroscam no meu braço, não me dando tempo de responde-la. Seu olhar é tão cativante que acabo sorrindo também... indo para direção em que me puxa.— Venha, tome um chá comigo, me conte sobre a França.Ela diz ao se sentar, batendo seus dedos sobre a mesa de madeira de sua cozinha elegante. Obedecendo... me sento.— Não tenho muito o que falar da França, cada viagem é inesquecível, Senhora Miller.— Não me chame de Senhora, ainda sou bem jovem. Emanuel acabou de inaugurar mais uma sede do Jornal Herdeiros. Estou tão orgulhosa do meu marido, venha mais tarde para a festa, iremos comemorar essa nova conquista! Ah, ali está ele. Venha querido, Heloise veio nos visitar, está tão linda não é mesmo? Kevin teve uma sorte grande em encontrá-la.Ela aponta para o corredor onde Kevin Miller passa, entretanto para abruptamente quando ouve ser chamado. O mesmo sorri ao caminhar até a sua mãe.— Realmente é muito linda mãe. — Ele responde me olhando enquanto escondo meu rosto na xícara.— Desde quando você me chama de mãe? Você me chama de meu amor, e cadê meu beijo Henrique Emanuel? — pergunta senhora Miller, com a expressão confusa em seu semblante.— Desculpe meu amor, é que eu tive um dia corrido na empresa. Como você passou o seu dia?Olhando-a com carinho ele a beija ternamente em sua testa, pegando suas mãos ao se agachar ao seu lado. Agora eu entendo o porquê de ela estranhar ser chamada de mãe por seu filho, em sua cabecinha ela vê seu marido quando era mais novo, espelhado em Kevin. Meus olhos se enchem de lagrimas... essa doença é tão dolorosa quanto as outras, talvez até mais, pois machuca além da pele.— O meu dia foi tranquilo querido, passei a tarde cuidando da casa... aquela empregada, Cassandra... é muito chata. Ela fica correndo atrás de mim me dizendo o que eu devo fazer. Ah, mas logo coloquei ela em seu lugar! Disse que se eu a vesse me seguindo novamente eu ia arrastá-la pelo corredor.— Meu amor, você não pode falar desse jeito com Cassandra, ela está aqui para cuidar de você.Eu seguro minha risada, quase engasgando com o líquido quente que descia pela minha garganta.— Cuidar de mim? Eu não estou doente... e já falei com o Kevin, que eu não gosto disso.Bem quando reclama, uma moça surge. Ela veste um jaleco branco com o cabelo preso, sorrindo em direção ao Senhor Miller e sua mãe, que a propósito fecha a cara na hora por vê-la.— Senhora Miller, você me enganou outra vez, já disse para não sair sem minha presença... pode se machucar.— E eu já disse que não ligo para você, muito menos para sua ilustre presença. — Retruca Senhora Miller amargamente.Eu fico apenas observando tudo, até que Kevin se levanta e coloca as mãos em seu bolso... fazendo uma pose que alinhe seus músculos no tecido fino de seu terno.— Bom, meu amor... acho melhor você ir com a Cassandra agora.— Mas eu não quero, diga para o Kevin demiti-la.— Se você for com a Cassandra, eu prometo dizer a ele e ainda trago aquele doce que você ama. Mas não a deixe ver, colocarei debaixo de seu travesseiro a noite.Kevin sussurra no ouvido de sua mãe, a convencendo ir com Cassandra mesmo fazendo caras e bocas.— Tudo bem, eu vou com a bruxa má, mas acho melhor mesmo eu ter meu chocolate viu.Dando passos curtos e demorados ela sai da cozinha e logo a enfermeira a segue, pelo jeito notando somente o Senhor Miller ao acenar.Agora sozinhos, ele suspira ao passar as mãos sob seu rosto aparentando estar cansado. Eu me levanto depressa, ajeitando meu uniforme e pegando meu balde, antes que ele me pergunte algo sobre a faxina.— Senhorita Silva? Se arrume para buscar suas coisas, eu vou te levar.— O que? Você? Mas eu... Senhor Miller... ainda não acabei de limpar a casa toda como me pediu. Me desculpe.Digo cabisbaixa esperando que o mesmo me demita. Mas por incrível que pareça, ouço o som de sua gargalhada no lugar de uma voz alterada, rindo de mim como se eu estivesse fazendo um show de stand-up.— Sério? Você realmente achou que era verdade?Ele exclama sorrindo ao cruzar os braços em torno de seu peito.— Mas é claro... você é meu chefe. — Respondo brava com ele.— Ah Maia... vamos nos entender muito bem. Se arrume te espero daqui uma meia hora na sala.Ele gargalha ainda mais alto saindo e me deixando sozinha na cozinha, enquanto eu fico petrificada... tentando entender o que aconteceu.DEPOIS DE MEIA HORA....Vesti minha roupa logo após tomar um banho, soltei meu cabelo e avisei minha mãe que o Senhor Miller me levaria. Estou na sala esperando quando ele chega com uma roupa casual e o cabelo molhado. O cheiro da sua loção pós barba invadia meu nariz suavemente como o perfume de uma rosa que desabrochou em uma manhã.— Senhorita...Vamos?— Sim.Saímos da sala para a garagem e logo noto seu conversível debaixo de um plástico transparente de proteção. Com certeza chamará atenção de todos os meus vizinhos.Ele é tão lindo que se torna impossível não babar por esse carro, tanto que eu fico deslumbrada com o assento de couro ao entrar... Sem falar no acabamento perfeito de cada detalhe. E observando bem, a única coisa simples além de mim dentro dele, é uma pequena casa entalhada em um chaveiro de madeira. Meus dedos a tocam quase como de imediato, sentindo a delicadeza em que foi feita. Eu me pergunto por que Senhor Miller, deixaria um objeto tão singular como esse em seu carro esportivo.... — Não toque nisso. — Kevin diz, me assustando pela maneira em que chega sem fazer barulho, tirando minhas mãos do seu chaveiro enquanto me encara ranzinza. Seus olhos verdes parecem me fuzilar durante o tempo em que seus dedos preenchem meu pulso com firmeza. Entretanto seu jeito enfurecido não me deixa com medo e muito menos me fere, pelo contrário... eu vejo que é ele que está machucado. Se recompondo, Miller me solta e pega suas chaves sussurrando em seguida. — Me desculpe se pareci grosso, é
Marcos que estava sentado, se levanta depois de soltar seu veneno em mim, me encarando de um jeito presunçoso. Eu diria que se ele pudesse me matar... o faria agora, nesse exato momento. — O que está fazendo aqui? Bruno está bem? Eu o pergunto sem fazer questão da forma como me tratou. Apesar de ele me tratar super mal, eu não posso fazer nada contra isso... Marcos está sendo apenas um pai zangado como qualquer outro, reagindo a essa situação rudemente. Eu acho que faria a mesma coisa se tratasse de meu filho. E somente por esse motivo, eu engulo minha raiva e deixo passar o seu tom agressivo. — Eu vim por que está mais caro. Bruno teve uma recaída, e preciso pagar um novo tratamento eficiente de fisioterapia. — Mas... e o dinheiro que eu mando todo mês? Não está cobrindo o plano de saúde? Como se eu tivesse dito algo estúpido, Marcos bufa irritado. — O dinheiro que você manda, não dá nem para tampar o buraco do dente Maia. Eu agradeço a ajuda...mas não é mais o suficiente para
Quando eu abro a porta do meu quarto, dou de cara com Senhor Miller, passando as mãos em seu cabelo, nervosamente após suspirar. — Senhor Miller, está tudo bem? O que houve com sua mãe? Digo ao me aproximar dele lentamente, um pouco tímida. — Eu fui levar o doce que minha mãe havia pedido, e quando cheguei em seu quarto, me surpreendi, sua cama estava vazia. Mamãe, sumiu. Ela nunca fez isso, não sei porque sairia de casa... essa hora da noite. Tenho certeza de que alguém deixou uma brecha para ela fugir, e eu tenho que achar o culpado! Quem foi que deixou o portão aberto?! Ele gritou outra vez, mas nessa... mais rude que a primeira. Seu funcionário que ouvia tudo calado, abaixou sua cabeça, e ficou em silêncio, não ousando responde-lo. Kevin estava muito alterado, como ninguém o respondeu, isso fez com que atiçassem ainda mais sua raiva, tanto que ele caminhou até seu empregado com os olhos negros. Foi então, que eu decidi intervir, me colocando na frente dele e do homem de meia
De volta na mansão Miller... Kevin ainda estava desnorteado com o que acabou de descobrir, tanto ele como eu. — O que vai fazer quanto a isso agora, Senhor Miller? Pergunto ainda próxima a ele em sua mesa, olhando o seu monitor. — Eu preciso de mais provas, embora eu queira muito chamar a polícia, essas imagens estão escuras.... o culpado conseguiria facilmente desviar da acusação. — Eu entendo, mas por precaução... acho que deveria manter seus olhos abertos. A vida de sua mãe corre perigo Senhor. Eu o alerto, preocupada com a doce Senhora que sumiu. Kevin foca sua atenção em mim como se ouvisse uma prece, tornando sua feição meiga em poucos segundos. — Eu gosto de ver como você a trata, diferente de muitas outras empregadas que tentaram ocupar esse cargo. Elas tinham tudo para poder ficar, trabalhavam bem... e não caíam por aí. Ele sorriu com sua última frase, me olhando feito um bobo. Mas logo ficou sério novamente me encarando. — No entanto, eram tão cheias de vaidade... q
Kevin ficou conversando com Heitor na sua sala de estar enquanto tomavam whisky. Maia foi se deitar deixando-os a sós. Na sala de estar.... — Eu o agradeço novamente, por ter trago ela. Minha mãe sofre de Alzheimer, e cada dia fica difícil saber lidar com essa doença. — Eu percebi quando ela mencionou os dados de seu casamento, pois já passamos de setembro. Eu tenho pacientes como sua mãe. Sei que é difícil e muitas vezes você daria tudo para que voltasse a se lembrar dos pequenos detalhes da vida. Kevin fica em silêncio ao começar a mexer o seu copo com o dedo, por um instante seus pensamentos o levam a interpretar que não está cuidando de sua mãe, fazendo uma tristeza profunda em seu peito pelo que aconteceu hoje. — Olha, Kevin.... não se martirize pelo que aconteceu. Somos falhos, e os erros fazem parte do crescimento. Digo de coração está fazendo a coisa certa mantendo-a em casa e não em um hospital. Isso é amor. Cuidar de quem cuidou de você antes mesmo do mais singelo suspi
A poucos passos do meu quarto paro abruptamente no corredor, ao lembrar de algo que possa me ajudar a conseguir o dinheiro da fisioterapia de Bruno. Resolvo então ir para o jardim, tirando o telefone do meu bolso ao clicar na foto de minha mãe nos contatos. Assim que piso no gramado, o cheiro das flores ao meu redor invade meu nariz me deixando tranquila. Me sento no banco de madeira, perto de tulipas que aparentam ter florido há pouco tempo. Eu não sei por que, mas este lugar me deixa relaxada, conectada comigo mesma. Depois de olhar ao meu redor, enfim ouço chamar, e logo em seguida, ela atende com sua voz angelical. — Oi meu amor. — Diz ela sorridente do outro lado da linha. — Oi mamãe, como você está? Tudo bem por aí? — Está sim, minha querida. Não se preocupe comigo, mas sim com você. Fez sua refeição no horário certo, Maia? Correndo o risco, eu minto para ela. — Sim, mamãe. Estava uma delícia. — Eu te conheço Maia.... e sei quando está mentindo. Não esqueça de cuidar de s
Já são quase 23:00 horas quando enfim acabo o meu trabalho. Assim que chego no meu quarto, tiro os meus sapatos e desabo na minha cama, olhando para o teto sozinha com meus pensamentos. Tudo que eu quero agora, é uma boa ducha quente. Assim que recupero meu ânimo, me levanto, e vou em direção ao banheiro. Fiquei tão cercada pelas coisas que estão acontecendo na minha vida, que nem tive tempo de prestar atenção no tamanho desse banheiro, eu diria que daria para morar dentro dele. Desprendo meu cabelo e tiro minhas roupas assim que água começa cair pela banheira. Logo em seguida, eu entro dentro dela e sinto meu corpo se recompondo. Estou tão exausta, que o barulho que se faz pela torneira ainda enchendo o espaço vago, me acalma, me fazendo fechar os olhos. Em poucos segundos meu cansaço some e algo quente sobe pelas minhas pernas. E adivinha? Não é a temperatura da água. Sinto mãos sobre o meu quadril, que sobem delicadamente até minha coxa, apertando-a com vontade. Adiante, lábios
Me sento ao lado de Miller depois de seu olhar insistente esperando uma reação minha. Arrumo um prato para mim, e ele também o dele, mesmo eu insistindo para o fazer.Não acredito que aceitei isso, o nervosismo toma conta de mim e só de olhar para os brócolis, vejo que não estou com fome, porém dou algumas garfadas no macarrão por educação, enquanto o silêncio entre nós paira em toda sala de jantar.Eu não me atrevo abrir minha boca, porque as lembranças daquele sonho, estão bem vívidas em meus pensamentos, minha pele e em todo o meu corpo, me deixando elétrica simplesmente por estar perto dele.Eu tento manter a calma e consigo por alguns minutos até que começo a reparar no jeito que Kevin come. Sua boca fica levemente úmida, o que dá um contraste marcante do desenho da mesma, me fazendo viajar naqueles lábios com uma vontade louca de os possuir.Meus olhos já haviam focado por tanto tempo ali, que levo um susto quando percebo que ele está me encarando quando subo o olhar. Kevin entã