Capítulo-3

Presa ainda nos fios que me cercam do aspirador, eu me viro para olhá-lo percebendo que está bem próximo de mim... enquanto estende uma de suas mãos em minha direção. Me dando um sorriso deslumbrante... eu me perco enfeitiçada em seus lábios carnudos, que se movimenta, quando sua voz soa suave e rouca ao dizer...

— Vem cá, deixa que eu te ajudo. Eu imaginei que isso fosse acontecer, mas não tão cedo.

Hesito por alguns segundos, por perceber ironia em sua voz, mas logo aceito sua ajuda pegando em sua mão e assim conseguindo me levantar, soltando meus pés dos fios caídos no chão. No entanto, constrangida demais por ter sido flagrada desse jeito pelo meu chefe, me sinto muito envergonhada para olhá-lo nos olhos e agradecer. Porém é o que eu faço mesmo assim, causando um leve rubor em minhas bochechas.

— Obrigada, Senhor Miller.

Digo gaguejando, por causa do meu nervosismo que aumenta por ver o quão perto estamos um do outro. Sua mão está sobre a minha causando um arrepio pelo calor que sobe diante de seu toque, que mesmo pequeno, me coloca fora de órbita.

Meu Deus...estou ficando louca, não posso beijar meu chefe no meu primeiro dia, e nem hora nenhuma... Acorde Maia, ele é seu patrão, o cara que assina sua folha de pagamento no final do mês. Isso não pode acontecer, você vai se lascar.

Penso comigo mesma me afastando dele, balançando minha cabeça ao tentar voltar ao normal e sair do modo hipnótico em que eu estava. Conseguindo, me lembro de sua frase esquisita, que me faz franzir o cenho ao perguntar...

— Me desculpe Senhor Miller, mas por que disse que já imaginaria por isso? E que não esperava tão cedo?

— É evidente que você nunca trabalhou de empregada antes, ou fez uma faxina em uma casa grande como esta. — Ele responde ao se afastar, caminhando até a janela do quarto.

— Putz! Sua casa não é tão grande assim! — Eu murmuro sem querer alto demais, atraindo sua atenção novamente, com um sorriso presunçoso.

— Está me dizendo que consegue limpá-la toda até o final do dia Senhorita Silva?

—Eu...Claro que sim, só me atrapalhei com esse aspirador assassino. Mal o liguei e ele me atacou.

Mas que mentira mais cabeluda, tomara que ele não me faça mesmo limpar tudo hoje ainda... eu posso me perder entre os corredores e nunca mais me acharem, diferente de Nárnia, os closets dessa mansão aparentam não ter uma saída mágica.

— Vou me encarregar de comprar um novo para que não haja mais homicídios aqui, ou pelo menos uma empregada atrapalhada no chão. — Ele sorri caminhando em direção a porta, mas logo para se virando para mim.

— Ah, só mais uma coisa...

Seus olhos verdes intensos, se encontram com os meus, tão rápido que nem percebi ele sair de perto do batente da porta, só quando sinto seu perfume perante o meu nariz... ao passar por mim direto... voltando em seguida com meu balde em suas mãos enquanto me entrega cinicamente.

— Limpe a casa toda, e me chame quando acabar, vou fazer uma vistoria. — Com isso, ele sai me deixando de boca aberta e furiosa.

— Que coisa, será que nasci na sexta-feira 13... para ser tão azarada assim? — Resmungo batendo meus punhos ao redor da minha roupa, como uma criança que acabou de ser punida com um castigo severo.

Pego meu balde e corro com a faxina dando o meu máximo para acabar ainda hoje.

No final do dia... ainda não cheguei nem na metade da mansão. Estou na cozinha limpando o mármore da pia quando sinto uma mão tocar delicadamente meu ombro atrás de mim.

— Heloise, querida... há quanto tempo não te vejo, até que enfim resolveu voltar da França... já decidiram a data do noivado? Kevin está muito contente.

Me viro e dou de cara com uma senhora de cabelos brancos, pele macia e delicada com uma voz amorosa ao sorrir. Suas mãos se enroscam no meu braço, não me dando tempo de responde-la. Seu olhar é tão cativante que acabo sorrindo também... indo para direção em que me puxa.

— Venha, tome um chá comigo, me conte sobre a França.

Ela diz ao se sentar, batendo seus dedos sobre a mesa de madeira de sua cozinha elegante. Obedecendo... me sento.

— Não tenho muito o que falar da França, cada viagem é inesquecível, Senhora Miller.

— Não me chame de Senhora, ainda sou bem jovem. Emanuel acabou de inaugurar mais uma sede do Jornal Herdeiros. Estou tão orgulhosa do meu marido, venha mais tarde para a festa, iremos comemorar essa nova conquista! Ah, ali está ele. Venha querido, Heloise veio nos visitar, está tão linda não é mesmo? Kevin teve uma sorte grande em encontrá-la.

Ela aponta para o corredor onde Kevin Miller passa, entretanto para abruptamente quando ouve ser chamado. O mesmo sorri ao caminhar até a sua mãe.

— Realmente é muito linda mãe. — Ele responde me olhando enquanto escondo meu rosto na xícara.

— Desde quando você me chama de mãe? Você me chama de meu amor, e cadê meu beijo Henrique Emanuel? — pergunta senhora Miller, com a expressão confusa em seu semblante.

— Desculpe meu amor, é que eu tive um dia corrido na empresa. Como você passou o seu dia?

Olhando-a com carinho ele a beija ternamente em sua testa, pegando suas mãos ao se agachar ao seu lado. Agora eu entendo o porquê de ela estranhar ser chamada de mãe por seu filho, em sua cabecinha ela vê seu marido quando era mais novo, espelhado em Kevin. Meus olhos se enchem de lagrimas... essa doença é tão dolorosa quanto as outras, talvez até mais, pois machuca além da pele.

— O meu dia foi tranquilo querido, passei a tarde cuidando da casa... aquela empregada, Cassandra... é muito chata. Ela fica correndo atrás de mim me dizendo o que eu devo fazer. Ah, mas logo coloquei ela em seu lugar! Disse que se eu a vesse me seguindo novamente eu ia arrastá-la pelo corredor.

— Meu amor, você não pode falar desse jeito com Cassandra, ela está aqui para cuidar de você.

Eu seguro minha risada, quase engasgando com o líquido quente que descia pela minha garganta.

— Cuidar de mim? Eu não estou doente... e já falei com o Kevin, que eu não gosto disso.

Bem quando reclama, uma moça surge. Ela veste um jaleco branco com o cabelo preso, sorrindo em direção ao Senhor Miller e sua mãe, que a propósito fecha a cara na hora por vê-la.

— Senhora Miller, você me enganou outra vez, já disse para não sair sem minha presença... pode se machucar.

— E eu já disse que não ligo para você, muito menos para sua ilustre presença. — Retruca Senhora Miller amargamente.

Eu fico apenas observando tudo, até que Kevin se levanta e coloca as mãos em seu bolso... fazendo uma pose que alinhe seus músculos no tecido fino de seu terno.

— Bom, meu amor... acho melhor você ir com a Cassandra agora.

— Mas eu não quero, diga para o Kevin demiti-la.

— Se você for com a Cassandra, eu prometo dizer a ele e ainda trago aquele doce que você ama. Mas não a deixe ver, colocarei debaixo de seu travesseiro a noite.

Kevin sussurra no ouvido de sua mãe, a convencendo ir com Cassandra mesmo fazendo caras e bocas.

— Tudo bem, eu vou com a bruxa má, mas acho melhor mesmo eu ter meu chocolate viu.

Dando passos curtos e demorados ela sai da cozinha e logo a enfermeira a segue, pelo jeito notando somente o Senhor Miller ao acenar.

Agora sozinhos, ele suspira ao passar as mãos sob seu rosto aparentando estar cansado. Eu me levanto depressa, ajeitando meu uniforme e pegando meu balde, antes que ele me pergunte algo sobre a faxina.

— Senhorita Silva? Se arrume para buscar suas coisas, eu vou te levar.

— O que? Você? Mas eu... Senhor Miller... ainda não acabei de limpar a casa toda como me pediu. Me desculpe.

Digo cabisbaixa esperando que o mesmo me demita. Mas por incrível que pareça, ouço o som de sua gargalhada no lugar de uma voz alterada, rindo de mim como se eu estivesse fazendo um show de stand-up.

— Sério? Você realmente achou que era verdade?

Ele exclama sorrindo ao cruzar os braços em torno de seu peito.

— Mas é claro... você é meu chefe. — Respondo brava com ele.

— Ah Maia... vamos nos entender muito bem. Se arrume te espero daqui uma meia hora na sala.

Ele gargalha ainda mais alto saindo e me deixando sozinha na cozinha, enquanto eu fico petrificada... tentando entender o que aconteceu.

DEPOIS DE MEIA HORA....

Vesti minha roupa logo após tomar um banho, soltei meu cabelo e avisei minha mãe que o Senhor Miller me levaria. Estou na sala esperando quando ele chega com uma roupa casual e o cabelo molhado. O cheiro da sua loção pós barba invadia meu nariz suavemente como o perfume de uma rosa que desabrochou em uma manhã.

— Senhorita...Vamos?

— Sim.

Saímos da sala para a garagem e logo noto seu conversível debaixo de um plástico transparente de proteção. Com certeza chamará atenção de todos os meus vizinhos.

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