Quando eu abro a porta do meu quarto, dou de cara com Senhor Miller, passando as mãos em seu cabelo, nervosamente após suspirar.
— Senhor Miller, está tudo bem? O que houve com sua mãe?Digo ao me aproximar dele lentamente, um pouco tímida.— Eu fui levar o doce que minha mãe havia pedido, e quando cheguei em seu quarto, me surpreendi, sua cama estava vazia. Mamãe, sumiu. Ela nunca fez isso, não sei porque sairia de casa... essa hora da noite. Tenho certeza de que alguém deixou uma brecha para ela fugir, e eu tenho que achar o culpado! Quem foi que deixou o portão aberto?!Ele gritou outra vez, mas nessa... mais rude que a primeira. Seu funcionário que ouvia tudo calado, abaixou sua cabeça, e ficou em silêncio, não ousando responde-lo.Kevin estava muito alterado, como ninguém o respondeu, isso fez com que atiçassem ainda mais sua raiva, tanto que ele caminhou até seu empregado com os olhos negros. Foi então, que eu decidi intervir, me colocando na frente dele e do homem de meia idade.— Você não vai fazer isso. — Digo determinada ao bater o pé.— Saia da minha frente Maia! Ele é MEU funcionário.— Ele é seu funcionário, mas também é humano Kevin. Descontar sua raiva em pessoas que só estão trabalhando para sobreviver... é injusto, mesquinho... e arrogante. Porém o mais importante, é que não vai fazer sua mãe aparecer. Quer mesmo acha-la? Pare de agir como o filho mimado, e vá fazer alguma coisa, além de brigar com as pessoas que te serviram a vida inteira.Por um segundo, eu deixo o meu verdadeiro eu me dominar ao dizer firmemente olhando em seus olhos. A maneira como Kevin tratou esse homem me enfureceu tanto, que acabei esquecendo que também sou empregada dele. No entanto, já era tarde, falei tudo que eu tinha para falar. Arrisquei o meu emprego, mas não me arrependo, Deus sabe que eu não aguentaria assistir uma cena dessas.Miller se afastou, enquanto me olhava sem jeito. Acho que consegui fazer voltar em seu estado racional, pois ele fez uma cara de cachorrinho abandonado quando dirigiu a palavra para o homem com quem brigava.— Me desculpe Jacinto. Eu não... não foi sua culpa. Por favor volte ao seu trabalho.O homem que eu defendi anuiu um sim com sua cabeça e sorriu disfarçadamente para mim quando saiu do corredor, me deixando sozinha com Miller.Eu não sabia como ia ser agora, ou o que ele ia me dizer, afinal eu o insultei e lhe dei um belo puxão de orelha.— Senhorita Silva, se troque e pegue um casaco.Miller disse sobre os ombros, quando se virou para me olhar atras de si, e sem esperar minha resposta ele saiu andando.Surpresa eu entro rapidamente no meu quarto. Bom, pelo menos é um sinal de que ele não vai me despedir. Troco minha roupa, pego o casaco e saio pelo corredor.Quando chego na sala, não vejo ninguém. Continuo andando pelo corredor até que noto uma sala que não tinha visto antes, nem mesmo quando passei por aqui quando limpava. Talvez foi o meu nervosismo que não me fez nota-la e eu só a vi agora, por estar com a porta entre aberta.Olho dentro do lugar e há papeis espalhados para todo o lado, uma verdadeira bagunça. Vou ter que limpar esse lugar amanhã.Porém haviam também lençóis tampando os móveis de madeira, enquanto somente uma mesa estava à vista, a do escritório... com um volume abaixo dos lençóis sobre ela.—Parece um... prédio.Digo para mim mesma ao tentar adivinhar o que há embaixo daquele lençol velho. A curiosidade sempre foi minha característica, sendo mais forte que minha razão que gritava para eu dar meia volta e fingir que não vi nada. Mas claro, a curiosidade vence, assim que eu coloco minhas mãos na maçaneta para entrar.— Senhorita... por favor, não entre nesta sala.Diz o homem com quem Kevin brigava. O mesmo colocou suas mãos em meu pulso me parando na hora que eu estava prestes a mergulhar nesse mundo misterioso.— Seu Jacinto... eu estava fechando a porta e... — Gaguejo sem graça, por ter sido pega em flagrante.— Apenas siga seu caminho, Senhorita. Eu não vi nada aqui.Ele sorriu ao fazer um gesto como um verdadeiro mordomo dos tempos antigos.Eu sorrio grata ao passar por ele, continuando meu caminho pela casa... a procura de Kevin, que nem mencionou onde estaria me esperando. De qualquer forma, não demoro para acha-lo, eu o vejo em seu escritório... focado em seu computador. Bato na porta e logo o ouço responder para que eu entre.— Senhor Miller, para onde vamos?— Procurar nas ruas e nas províncias de São Franciso.Ele me responde de um jeito distante... como se tivesse visto um fantasma em seu computador.— Eu fui um tolo... olhe.Apontando seu dedo para o computador ele me chama, eu me aproximo dele na mesa para ver a tela, e fico chocada com o que vejo. Senhora Miller saiu exatamente como Kevin havia dito há poucos minutos atrás... no entanto foi outra pessoa que deixou essa brecha para isso acontecer.— Meu Deus... — Digo tampando minha boca perplexa com as imagens da câmera.Kevin por outro lado, parecia esperar isso, como se já conhecesse a personalidade da pessoa que está por trás disso.— Eu deveria ter imaginado.Enquanto isso, em algum lugar da cidade de San Francisco....— Cadê Emanuel... que não chega nunca?!Senhora Miller disse tristemente ao descer os ombros desanimada, quando se sentou no banco do Golden Gate Park. O céu estava fechado, e o frio aumentava conforme ventava mais e mais pelas copas das árvores ao redor. E mesmo sofrendo de calafrios, ela insistia em permanecer ali até que alguém notou sua presença e se aproximou com cautela.— Boa noite, está uma bela noite não está? O que uma bela dama como a Senhora faz por aqui sozinha?Um homem de aparência jovem, loiro, e cansado perguntou.— Estou à espera de meu noivo, ele me encontra toda noite aqui, mas hoje ele está demorando para chegar, deve estar nervoso com a chegada do próximo mês, vamos nos casar no início de setembro. E a proposito, é Senhorita, me chame de Senhorita ouviu? Senhora está no céu.Percebendo algo estranho em sua resposta, o jovem de aparência cansada se senta ao lado dela.— Ah, me desculpe. Como queira.... Senhorita?— Miller...— Pois bem, meu nome é Heitor e olha, tenho más notícias... seu noivo me pediu para vir no lugar dele e leva-la para casa. Ele pediu por que estava muito envergonhado por estar nervoso.— Mas eu não te conheço.— Vamos andando então... o que acha? Está armando uma chuva bem forte, se não quiser ir comigo... vai pegar um resfriado. É isso que você quer? Deus me livre perder seu próprio casamento né?Ele disse sorridente ao tentar convence-la de ir com ele. O jovem se levantou e ergueu suas mãos até a Senhora Miller, que estava desconfiada e reagia um pouco relutante.— Eu vou..., mas só por que quase me matei para caber naquele maldito vestido.Ela respondeu pegando nas mãos dele ao se levantar.De volta na mansão Miller... Kevin ainda estava desnorteado com o que acabou de descobrir, tanto ele como eu. — O que vai fazer quanto a isso agora, Senhor Miller? Pergunto ainda próxima a ele em sua mesa, olhando o seu monitor. — Eu preciso de mais provas, embora eu queira muito chamar a polícia, essas imagens estão escuras.... o culpado conseguiria facilmente desviar da acusação. — Eu entendo, mas por precaução... acho que deveria manter seus olhos abertos. A vida de sua mãe corre perigo Senhor. Eu o alerto, preocupada com a doce Senhora que sumiu. Kevin foca sua atenção em mim como se ouvisse uma prece, tornando sua feição meiga em poucos segundos. — Eu gosto de ver como você a trata, diferente de muitas outras empregadas que tentaram ocupar esse cargo. Elas tinham tudo para poder ficar, trabalhavam bem... e não caíam por aí. Ele sorriu com sua última frase, me olhando feito um bobo. Mas logo ficou sério novamente me encarando. — No entanto, eram tão cheias de vaidade... q
Kevin ficou conversando com Heitor na sua sala de estar enquanto tomavam whisky. Maia foi se deitar deixando-os a sós. Na sala de estar.... — Eu o agradeço novamente, por ter trago ela. Minha mãe sofre de Alzheimer, e cada dia fica difícil saber lidar com essa doença. — Eu percebi quando ela mencionou os dados de seu casamento, pois já passamos de setembro. Eu tenho pacientes como sua mãe. Sei que é difícil e muitas vezes você daria tudo para que voltasse a se lembrar dos pequenos detalhes da vida. Kevin fica em silêncio ao começar a mexer o seu copo com o dedo, por um instante seus pensamentos o levam a interpretar que não está cuidando de sua mãe, fazendo uma tristeza profunda em seu peito pelo que aconteceu hoje. — Olha, Kevin.... não se martirize pelo que aconteceu. Somos falhos, e os erros fazem parte do crescimento. Digo de coração está fazendo a coisa certa mantendo-a em casa e não em um hospital. Isso é amor. Cuidar de quem cuidou de você antes mesmo do mais singelo suspi
A poucos passos do meu quarto paro abruptamente no corredor, ao lembrar de algo que possa me ajudar a conseguir o dinheiro da fisioterapia de Bruno. Resolvo então ir para o jardim, tirando o telefone do meu bolso ao clicar na foto de minha mãe nos contatos. Assim que piso no gramado, o cheiro das flores ao meu redor invade meu nariz me deixando tranquila. Me sento no banco de madeira, perto de tulipas que aparentam ter florido há pouco tempo. Eu não sei por que, mas este lugar me deixa relaxada, conectada comigo mesma. Depois de olhar ao meu redor, enfim ouço chamar, e logo em seguida, ela atende com sua voz angelical. — Oi meu amor. — Diz ela sorridente do outro lado da linha. — Oi mamãe, como você está? Tudo bem por aí? — Está sim, minha querida. Não se preocupe comigo, mas sim com você. Fez sua refeição no horário certo, Maia? Correndo o risco, eu minto para ela. — Sim, mamãe. Estava uma delícia. — Eu te conheço Maia.... e sei quando está mentindo. Não esqueça de cuidar de s
Já são quase 23:00 horas quando enfim acabo o meu trabalho. Assim que chego no meu quarto, tiro os meus sapatos e desabo na minha cama, olhando para o teto sozinha com meus pensamentos. Tudo que eu quero agora, é uma boa ducha quente. Assim que recupero meu ânimo, me levanto, e vou em direção ao banheiro. Fiquei tão cercada pelas coisas que estão acontecendo na minha vida, que nem tive tempo de prestar atenção no tamanho desse banheiro, eu diria que daria para morar dentro dele. Desprendo meu cabelo e tiro minhas roupas assim que água começa cair pela banheira. Logo em seguida, eu entro dentro dela e sinto meu corpo se recompondo. Estou tão exausta, que o barulho que se faz pela torneira ainda enchendo o espaço vago, me acalma, me fazendo fechar os olhos. Em poucos segundos meu cansaço some e algo quente sobe pelas minhas pernas. E adivinha? Não é a temperatura da água. Sinto mãos sobre o meu quadril, que sobem delicadamente até minha coxa, apertando-a com vontade. Adiante, lábios
Me sento ao lado de Miller depois de seu olhar insistente esperando uma reação minha. Arrumo um prato para mim, e ele também o dele, mesmo eu insistindo para o fazer.Não acredito que aceitei isso, o nervosismo toma conta de mim e só de olhar para os brócolis, vejo que não estou com fome, porém dou algumas garfadas no macarrão por educação, enquanto o silêncio entre nós paira em toda sala de jantar.Eu não me atrevo abrir minha boca, porque as lembranças daquele sonho, estão bem vívidas em meus pensamentos, minha pele e em todo o meu corpo, me deixando elétrica simplesmente por estar perto dele.Eu tento manter a calma e consigo por alguns minutos até que começo a reparar no jeito que Kevin come. Sua boca fica levemente úmida, o que dá um contraste marcante do desenho da mesma, me fazendo viajar naqueles lábios com uma vontade louca de os possuir.Meus olhos já haviam focado por tanto tempo ali, que levo um susto quando percebo que ele está me encarando quando subo o olhar. Kevin entã
— Como passou seu dia, está se adaptando com a mansão? — Perguntou ele após beber seu suco, disfarçando seu constrangimento.— Sim, Jacinto tem me ajudado bastante a entender como funciona a organização dela.— Eu imaginei que ele se disponibilizaria para isso. Jacinto está na família desde quando nasci, sempre confiei nele e sabia que se dariam bem, apesar daquela imagem das câmeras me encher de preocupação, eu confio nele.Tocando nesse assunto, posso ver o quão estressado Kevin está, quando sua veia pulsa em seu pescoço somente por mencionar essa situação.— Conseguiu resolver esse problema Senhor? — pergunto preocupada.— Será resolvido assim que possível, contratei alguém para investigar o caso. Creio eu... que, antes do sábado, terei a minha resposta.Kevin bebe outra vez seu suco e continua a falar em seguida.— Falando nisto... neste sábado, precisarei de sua presença na festa que será dada aqui. Não use o uniforme, estou te chamando para ficar como anfitriã com minha mãe.Anf
Dias se passaram e eu ainda não consegui olhar para Kevin depois daquele beijo. Toda vez que o via mudava de cômodo ou dizia apenas palavras necessárias.É difícil entender que um homem como ele sente atração por mim. Além disso, Colin ainda está presente na minha memória, embora eu queira esquecê-lo.... sinto as marcas que esse relacionamento me deixou. Vejo que não estou pronta para outra relação, ainda mais com meu chefe.— Ei, o que você tem que está tão pensativa?Amanda, a secretária de Miller, aparece no corredor enquanto arrumo meu carrinho de limpeza.— Eu, só estou me concentrando no trabalho. Não quero fazer nada de errado aqui, ou quebrar. — Respondo sorrindo e ela sorri de volta.Amanda e eu só nos comunicamos há uns dias atrás, porém, sempre que falo com ela é como se eu sentisse sermos grandes amigas, de algum jeito ela me passa bastante confiança.... Acho que o tal do anjo da guarda que bateu! Me pergunto o porquê de ela ter sumido?— Você está bem? Não te vi por aqui.
São exatamente 22:00 horas e eu ainda nem decidi qual roupa vestir em meio a bagunça que eu fiz na minha cama. Amanda já me ligou e avisou que está vindo, o que me deixa ainda mais alvoroçada. Faz tanto tempo que não saio para me divertir, que esqueci como é que se arruma para tal coisa. Talvez eu seja a nova versão da bela adormecida, só que ao invés de dormir, eu apenas gosto de me trancar na minha torre invisível, deixando o príncipe encantado entediado do lado de fora.Pego meu secador e por enquanto foco no meu cabelo, não me importo com a roupa se meus cachos estiverem impecáveis. Demora cerca de uns 20 minutos para que ele todo fique seco, só assim, consigo ir para o meu look em seguida. Tento achar algo singular, mas bom, que me deixe com cara de mulherão. Não quero ir de qualquer jeito. É então que lembro de uma roupa que comprei há muito tempo para sair com Colin, quando ainda namorávamos. Depois de tudo que passei após o acidente, eu não conseguia olhar para esse conjunto s