Nem acredito que hoje são as provas finais da minha graduação em contabilidade, foram longos quatro anos. Eu e Emma passamos por tantas coisas. Emma é a minha melhor amiga, uma irmã na verdade, mesmo depois que terminamos nosso "namoro", não diria bem um namoro, nossa tentativa de termos um relacionamento, ainda bem que não atrapalhou a nossa amizade.
Quando começamos a faculdade optamos por dividir um pequeno apartamento que fica ao lado dos alojamentos da faculdade, ele é simples, dois quartos, sala, cozinha e banheiro. Não precisamos de muito já que em breve iremos nos mudar.
Temos muito em comum, principalmente nossos traumas de infância e repulsa por homens. Quando tinha 10 anos o padrasto de Emma tentou abusar dela, se não fosse sua mãe ter ouvido seus gritos o pior teria acontecido. A mãe de Emma se separou e o cafajeste foi preso.
Elas se mudaram para Seattle desde então. Sua mãe nunca mais se casou, sempre dizia: filha os homens não prestam, estude, seja independente, não dependa desses trastes para viver. Emma nunca quis se relacionar com homens, ela tinha verdadeira repulsa, teve uma namoradinha no colegial, mas não durou muito.
Meu caso foi um tanto mais grave, mas igualmente traumático. Morava sozinha com minha mãe em Montesano, não temos família, minha mãe era órfã e meu pai nos abandonou quando ela ainda estava grávida.
Estava vindo da escola quando tinha 8 anos, sempre gostei de caminhar, como a escola era perto de casa ia e voltava a pé sem a minha mãe saber. Até que um dia estava fazendo muito frio e um carro parou na estrada, um senhor de aparentemente 40 anos de idade me ofereceu uma carona recusei, mas ele desceu do carro, me agarrou e jogou com brutalidade dentro do caro, bati minha cabeça no vidro da janela que trincou.
Atordoada e sem muita reação, percebi que paramos em um despenhadeiro perto de um lago congelado, o homem veio para cima de mim para me atacar, me agarrou pelos braços, rasgou minha blusa, agarrou minha intimidade com a mão de forma bruta e agoniante, mas mesmo com muita dor na cabeça consegui chutar seu rosto, ele havia deixado o carro solto sem freio, em pouco tempo o carro começou a descer e em segundos caímos dentro do lago.
Acordei no hospital com muita dor de cabeça dois dias depois, minha mãe chorava muito, não conseguia escutar direito, fiquei sabendo naquela momento que meu ouvido esquerdo foi afetado e que provavelmente ficaria com 80% sem audição. Desde então tenho nojo de homens, sei que todos não são iguais, mas o medo não me permite deixá-los se aproximar.
— Boooo!!! – Emma me assusta.
— Ai que susto Emma! – digo com o coração quase saindo pela boca.
— Está no mundo da lua amiga? – diz divertida.
— Não, só pensando nos nossos problemas. – digo pensativa.
Então me vem uma ideia desafiadora e tentadora. Vou propor a Emma um desafio para nós duas superarmos nossos traumas. Emma está tentando fazer um bolo para mim, já que meu aniversário é na próxima semana.
Minha mãe e a mãe de Emma, vem para a nossa "comemoração quarteto" como chamamos, já que ambas não temos parentes mais próximos (os avós de Emma faleceram em um acidente de carro e sua mãe é filha única) nossas mães moram juntas assim como nós duas, passaram a ser amigas depois que começamos a faculdade, acho que se aproximaram até demais...
— Emma estava pensando, acho que já está na hora de superarmos nossos traumas. – Digo enquanto Emma está comigo sentada no sofá.
— Como assim Olivia? – pergunta virando de frente para mim.
— Você já teve uma namorada, tentamos ficarmos juntas, coisa que não deu muito certo. Amo muito você, mas como uma irmã e grande amiga. – digo.
— Eu também Olivia, te amo muito como minha irmã – diz Emma com um leve sorriso no rosto.
— Então, não sei se a nossa "praia" são mulheres, me entende? – falo certo receio de magoar Emma.
— Entendi Olivia, você quer descobrir se somos assexuais ou heterossexuais, já que descobrimos que não somos lésbicas. É isso? – fala com um tom engraçado, mas sério ao mesmo tempo.
— Nossa Emma! Como você é direta. – falo exasperada.
— Como vamos fazer isso Olivia? O que você sugere? Está pensando em sair com homens? Ai meu deus, Olivia!? – Emma começa a falar alto e rir ao mesmo tempo.
— Acha que é loucura? Para Emma! Estou ficando sem graça. – falo envergonhada.
— Não desculpa! Eu estava pensando a mesma coisa, mas não tinha coragem de te falar. – fala aos risos, com a mão na barriga. Não vejo graça, pelo contrário, estou com vergonha.
— Olivia e que tal se formos a uma boate? Nunca entramos em uma boate, tenho curiosidade de conhecer. – diz entusiasmada.
— Não, imagina o que aconteceria comigo dentro de uma boate, poderia até colocar fogo sem querer, não lembra como sou desastrada. Vou pisar nos pés de quantas pessoas? Quebrar quantos copos? Não, temos que achar outra opção Emma. – digo irritada.
— Não sei Olivia, vamos pensar em algo então. Não seja exagerada, você não é tão desastrada. – diz tentando me consolar.
Emma gosta de tampar o sol com a peneira, ela sabe como sou distraída e desastrada, na escola me chamavam de D&D, não gosto nem de lembrar. Era proibida na escola de entrar na biblioteca, qualquer livro que eu quisesse tinha que pegar na porta.
Uma vez estava lendo um livro e fui ao banheiro, esbarrei em uma das prateleira que ficavam uma frente a outra, bastou uma cair e todas as outras foram caindo. Levaram mais de 3 dias para arrumar tudo no lugar. Isso foi o ápice da minha vergonha!
— Emma que cheiro horrível de borracha queimada é esse vindo da cozinha?
— Ai meu Deus! Deixei a luva dentro do forno. - saiu correndo para a cozinha.
— Meu Deus! – digo rindo.
Mais tarde ainda em nosso apartamento, cada uma em seu quarto estudando para as provas finais da faculdade recebi uma ligação urgente do meu chefe, Dr. Adam (trabalhava em um escritório de contabilidade como faturista), que havia me dado folga naquele dia para estudar mais um pouco para as provas.
— Olivia, desculpe te ligar, sei que está de folga para estudar, mas será que amanhã de manhã poderá vir ao escritório me ajudar com o caso de um cliente, porque houve divergência na nota que você faturou ontem à tarde. – fala em um tom preocupado.— Mas Dr. Adam, amanhã é sábado, não pode ficar para segunda? – digo preguiçosamente, já que amanhã Emma e eu combinamos de dormir até mais tarde.— Por favor Olivia, é urgente. – diz ainda mais preocupado.— Ok, amanhã as 9h estarei no escritório. - digo— Obrigado Olivia, até amanhã. – despede-se mais aliviado.Estranhei a ligação do Dr. Adam, para que tanta urgência? Espero que não seja nada grave. Vamos voltar aos estudos. Matemática Financeira, amo! Terei meu próprio escritório de contabilidade daqui a alguns anos, com atendimento diferenciado, irei colocar em prática minha tese sobre análise de redução de custos para empresas de modo geral, com assinaturas desnecessárias de economistas e contabilistas do meu setor de formação.Sei que
— Kalel! Acorda! - fala o rapaz loiro agitado.— Calma - digo - O socorro já está a caminho, as pessoas já chamaram os bombeiros. - digo tentando acalmá-lo.— O que você estava fazendo parada no meio da rua sua maluca? Era para você estar morta agora! Olha a situação do meu irmão. - fala gritando comigo, as pessoas se assustam.— Desculpe - digo - foi sem querer, me distraí. - falo com lágrimas nos olhos.— Aí minha perna! - grita o loiro bonitão.— Moço acorda! - Falo ao homem desacordado.De repente fogo começa a aparecer na parte de cima do carro. Olho para o rapaz loiro com uma afeição de medo, todos gritando para sair de perto, mas dois homens aparecem para me ajudar.— SAIAM DAÍ! VAI EXPLODIR! - mas permanecemos no carro tentando retirar os dois, antes que explodisse.Não podia deixá-los lá, já que a culpa de tudo era minha. Os dois homens conseguem tirar o cinto do rapaz loiro, que não para de gritar o nome do irmão. Ambos pegam o homem loiro e o leva para a calçada. Fico sozin
Não sei quanto tempos se passa, se foram minutos ou horas, apenas encaro a parede branca para não ter que olhar nos olhos de cada membro da sua família.Um médico rompe as portas duplas e levantamos, espero que seja notícias sobre Kalel e Melvin.— Dra. Miller - eles parecem ser amigos, ela se aproxima dele, assim como toda a sua família, mas decido ficar no meu lugar, pelos olhares sei que não sou bem vinda, mas não sairei até saber que Kalel e Melvin ficarão bem.— Os meus filhos Dr. Robert?— Estão bem, mas vou falar sobre o caso mais grave primeiro.— Mais grave? - percebo que Adele quer chorar, mas está se segurando.— O seu filho mais velho, o Melvin.— Melvin?— Seu filho Melvin quebrou a perna direita em três lugares, o braço direito e o antebraço, fizemos ligamentos com pinos e apesar do seu filho ser saudável a recuperação dele será mais demorada, ele fará acompanhamento médico, e as fisioterapias serão intensivas.— E Kalel? - Adele parece desesperada, eu ainda não acredito
— Eu sei, mas preciso atender os meus últimos pacientes. - diz já com voz de sono.— Eu vim visitar Kalel e Melvin Miller. - falo desanimada, já que tenho vergonha por tudo que aconteceu.— Que coincidência, os verei agora, vamos. - diz divertida.Sigo pelo mesmo caminho de ontem e entro no quarto de Kalel, já Emma vai para o quarto ao lado. Kalel ainda dorme então me aproximo, mas ao invés de pegar a sua mão eu toco delicadamente seu rosto cheio de hematomas e arranhões. Ele se meche e geme, como se estivesse acordando. Começa a abrir os olhos, e olha confuso até abrir um lindo e tímido sorriso para mim, como se estivesse em um sonho bom. Não entendo a sua reação sendo que fui eu que quase tirei a sua vida. Sorrio de volta e pergunto.— Como se sente? Sou Olivia Hill. - falo me apresentando um pouco envergonhada da maneira que ele me olha.— Você parece um anjo! O que aconteceu? - diz admirado. Quando eu ia responder, bem na hora uma voz conhecida e nada agradável entra no quarto.—
— Sr. Miller gostaria de me desculpar pelo que aconteceu, não foi minha intenção o Sr. deve saber, foi um acidente, sinto muito, assim como falei ao seu irmão, caso precise de algo, me procure estarei à disposição para ajudar. - entrego meu cartão a ele, que pega um tanto curioso. — Deve ficar mais atenta Srta. Hill, poderia estar morta a essa hora. Entregou o mesmo cartão ao meu irmão? - Como assim o que ele quer dizer? Penso. — Sim, me disponho a ajudar os dois. - Kalel sorri, e faz uma careta de dor. — Aí. Só toma cuidado, meu irmão é um tanto conquistador. - ele fala e fico envergonhada corando. — Não fique com vergonha, fica linda com as afeições rubras dessa maneira. - estou vendo quem é o irmão conquistador, penso. Mudo de assunto, não me sinto bem com elogios, ainda mais de um homem. — Se sente melhor? - pergunto. — A medida do possível, pode me ajudar a colocar aquele travesseiro nas costas? - pergunta, e pego o travesseiro ajudando a colocar nas suas costas. Ele pega m
E outra ele deve ser um conquistador barato, assim como falou que o irmão dele é, esse pessoal rico, acha que pode usar quem tem menos condições. Mas confesso que nunca senti nada parecido como o que senti naquele dia quando ele pegou no meu braço e falou perto do meu ouvido. Emma e eu combinamos de sair com David e o amigo dele para irmos ao cinema, já que da última vez furamos com eles, combinamos também de não cair nas cantadas baratas dos irmãos Miller. Chego em casa após o trabalho e encontro Emma fazendo as malas. — Oi! Vai viajar? - pergunto. — Não! É trabalho, fui escalada para ficar este mês para atender o Sr. Kalel Miller com a fisioterapia, graças a Deus David foi escalado para atender ao Sr. Melvin Miller. Eles vão precisar de fisioterapia intensiva, já que irão ficar meses em recuperação, Kalel já pode usar a cadeira de rodas, Melvin ainda não, vai ficar de cama algumas semanas ainda. - Emma fala e fico triste porque ficarei sozinha. — Mas você terá que dormir na casa
O que esse homem pretende, ele é comprometido, deve ser tão galinha como disse que o irmão dele é. Não vou cair nessa, apesar de que não posso negar que ele mexe comigo. Nenhum homem conseguiu mexer comigo do jeito que ele está conseguindo e o pior é que uma sensação estranha está dominando meu corpo, na minha vagina para ser mais exata, sem que eu perceba estou roçando as pernas em busca de algo que eu não sei, talvez alivio? Apenas sei que o olhar desse homem está me deixando úmida, e pela primeira vez nos meus 20 anos de vida pensamentos pecaminosos passam pela minha mente, me vejo querendo saber como é ter aquele homem por cima de mim, a cada pensamento o roçar de pernas se torna pior e me levanto abruptamente chamando a sua atenção. Peço para ir ao banheiro, preciso me recuperar do meu nervosismo e me acalmar. Depois de sair do banheiro, encontro Emma e o Sr. Miller conversando na sala. Cumprimento Emma, carinhosamente, Kalel fica nos olhando e fala que vai fazer algumas ligaçõ
— Desculpe, a culpa disso tudo é minha. - falo entristecida. Meu Deus porque nasci tão distraída, se não fosse por minha distração esses irmãos não estariam nessa situação. — Não Olivia, não se culpe. - diz me consolando. — Bem vou indo, não quero atrapalhar. Ótimo dia Sr. Miller e David. - me despeço deixando os dois. Desço as escadas novamente indo para o escritório de Kalel. Para que uma casa tão grande para alguém que mora sozinho? Deve ser muito triste. Ainda bem que tenho Emma na minha vida. Entro no escritório e pego o meu computador, já que havia deixado aqui ontem, coloco o pendrive e começo a analisar as planilhas de giro financeiro da empresa de Kalel mês a mês, vou utilizar o método de análise da minha tese da faculdade é mais rápido e preciso. Fico meia hora analisando, tem muitos erros nessas planilhas, estou começando a desconfiar, são sempre parecidos os mesmos erros. Preciso ir ao banheiro, quando me levanto dou de cara com uma mulher, levo o maior susto e grito.