José rapidamente deduziu a identidade dos dois pela aparência e idade. Sorrindo, aproximou-se e cumprimentou:— Olá, tudo bem? Meu nome é José, sou vizinho da Júlia.Júlia logo se deu conta da situação e apressou-se em fazer as apresentações:— Pai, mãe, esse é o Professor José, que me emprestou o laboratório.Gustavo, surpreso, comentou:— Não esperava que o professor fosse tão jovem. Realmente, muito talentoso.Camila também ficou um pouco surpresa, mas logo sorriu:— Muito obrigada, professor, por cuidar tão bem da nossa Júlia nesses últimos tempos.— Imagina, não precisa de tanta formalidade, podem me chamar só de José. — Respondeu José.Chamá-lo pelo primeiro nome? Isso significava que ele queria se colocar no mesmo nível que a Júlia?— Ah, isso... — Gustavo notou algo nas mãos de José: uma espécie de caderno de capa marrom, que parecia um livro, mas não exatamente.José explicou:— Isso é um “Calendário de Anotações” que peguei emprestado com um professor do departamento de Físic
Gustavo imediatamente assentiu:— Claro, depois conversamos.José deu um leve aceno de cabeça e finalmente se despediu.Assim que entraram no apartamento, Júlia começou a organizar as malas. Enquanto isso, Camila e Gustavo passaram a observar atentamente o local onde a filha estava morando. Era um apartamento de dois quartos e uma sala, nem grande nem pequeno. Embora a estrutura e o acabamento fossem visivelmente antigos, a decoração mostrava cuidado. O sofá, os armários e os eletrodomésticos eram novos. Alguns defeitos que não tinham como ser corrigidos eram disfarçados com enfeites. No geral, o ambiente parecia aconchegante e bem arrumado. À primeira vista, parecia um pequeno e charmoso apartamento.Ao verem o estado deplorável da escada no corredor, o casal já havia perdido qualquer esperança sobre as condições do lar da filha. Mas, ao entrarem, descobriram um verdadeiro refúgio.Camila ficou encantada. Não só porque Júlia havia transformado um apartamento alugado em um lugar tão ac
— Por que você está tão interessado em saber disso? Além do mais, a Júlia provavelmente nem sabe tanto assim sobre a vida pessoal dele. Se quer tanto saber, por que não pergunta direto pro José? — Sugeriu Gustavo.Camila, para a surpresa dele, assentiu com seriedade:— Tá bom, na próxima vez que eu tiver a chance, pergunto direto pra ele.— Você tá falando sério? — Gustavo perguntou, espantado.Camila revirou os olhos:— Júlia, você tem açúcar aí?— Tenho, vou pegar. — Respondeu Júlia, se levantando e indo em direção à cozinha.Assim que a filha saiu da sala, Camila se virou para Gustavo e falou em um tom mais baixo:— A Júlia mora sozinha e o José é vizinho de porta. Eles parecem ter uma boa relação... Não custa nada saber um pouco mais, né?— Tem razão, você sempre pensa em tudo, minha esposa. — Gustavo sorriu, satisfeito.Camila lançou-lhe um olhar de reprovação:— Fica longe de mim, vai! A Júlia pode voltar a qualquer momento e, se nos ver assim, que exemplo vamos dar?Gustavo endi
— Amor, você é demais! — Comentou Gustavo.— Para com isso... Vamos dormir. — Respondeu Camila.— Ah, tá bom.Dormir cedo e descansar bastante provou ser uma boa decisão, porque no dia seguinte Júlia decidiu levar todo mundo para uma trilha na montanha. O céu estava claro, sem nuvens, e como saíram bem cedo, o sol ainda não castigava tanto quando chegaram. Gustavo, parado no topo, admirava a paisagem grandiosa e imponente, enquanto Camila parecia perdida em pensamentos.— O que foi, mãe? — Júlia notou que ela estava olhando fixamente para um ponto distante, como se estivesse hipnotizada.— Aquilo ali é o Mirante do Sol? — Perguntou Camila, um pouco hesitante.— Isso mesmo! — Júlia respondeu empolgada. — É o ponto mais alto daqui, onde fica a famosa pedra com a inscrição "Nascer do Sol"?— Jura? — Júlia arqueou as sobrancelhas. — Dessa vez você pesquisou sobre o lugar antes de vir?Camila sempre foi uma pessoa bem espontânea. Nunca foi de planejar viagens com antecedência; gostava de a
Não era à toa que Júlia estava tão surpresa. Para começar, naquela hora, o professor José normalmente estaria no laboratório, e não em outro lugar qualquer.Além disso, José e Gustavo estavam jogando xadrez, com um " Calendário de Anotações" aberto ao lado deles. Os dois pareciam estar numa conversa animada, como se fossem velhos amigos que finalmente se reencontraram.— Júlia, você já voltou?Ao ouvir o barulho da porta, Gustavo imediatamente olhou em direção à entrada. José logo em seguida também virou o rosto, encontrando o olhar de Júlia.Os dois se encararam por um instante. José abriu um sorriso: — Está surpresa em me ver aqui?— Professor, o que o senhor faz aqui? — Júlia finalmente se recompôs, trocou os sapatos e entrou na sala.Antes que José pudesse responder, Gustavo tomou a dianteira:— De manhã, quando eu e sua mãe saímos, encontramos o José na escada, então o convidei para subir e dar uma passadinha...Mas essa "passadinha" se alongou bastante. Gustavo descobriu que, s
Gustavo ainda estava absorto em seus pensamentos: — Esse José é realmente muito interessante.Gustavo tomou dois goles d'água, fez um gesto de satisfação com os lábios e voltou a exclamar:— Sem dúvida, é uma pessoa incrível...Júlia, divertida, não conseguiu conter o riso: — Pai, esse seu olhar está parecendo o de alguém apaixonado!— Que absurdo! Minha única paixão é sua mãe! Júlia soltou uma gargalhada.Depois da exaustão da trilha no dia anterior, Gustavo e Camila decidiram em conjunto que aquele seria um dia para descansar em casa. Júlia respeitou a decisão deles e aproveitou o dia tranquilo. No dia seguinte, todos estavam renovados e saíram novamente, desta vez para visitar um antigo palácio deixado pelos portugueses. Júlia já havia garantido os ingressos com uma semana de antecedência.Camila aproveitou para tirar várias fotos. O fotógrafo elogiou: — Senhora, você tem uma presença impressionante! Cada gesto seu parece de uma verdadeira princesa no palácio...Camila, lison
— A cada cinquenta metros tem uma placa indicando a direção da biblioteca. — Explicava José enquanto caminhavam. — O campus norte é um grande anel: para a esquerda fica o Prédio Siqueira, para a direita, a biblioteca...Gustavo ouvia atentamente, balançando a cabeça e tentando memorizar o caminho. No entanto, no meio da conversa, quem aparece subindo as escadas era justamente Júlia. Os três acabaram dando de cara com ela.— Pai, mãe? Vocês estão saindo? Está prestes a chover lá fora... — Disse Júlia.Ao reconhecer José, Júlia não escondeu a surpresa:— Professor, o senhor também está aqui?Camila explicou rapidamente a situação. Júlia, após ouvir tudo, agradeceu ao José: — Não precisava, mas obrigada mesmo assim!José apenas fez um gesto com a mão, minimizando o assunto: — Não há de quê, o importante é que você voltou em segurança.Os quatro, então, começaram a voltar para casa.— Muito obrigado por ter nos ajudado, José! — Gustavo disse animado. — Que tal vir jantar connosco um d
Gustavo terminou de falar e saiu apressado, sem perder tempo. Júlia ficou parada por um momento, surpresa, mas logo deu de ombros. “Ah, tudo bem... desde que eles estejam felizes...”No laboratório, José estava analisando os dados das duas últimas séries de experimentos da semana passada. Ele logo percebeu que a quarta coluna do segundo conjunto apresentava uma discrepância. Quando se preparava para chamar Arthur, o toque do telefone interrompeu sua concentração.Ele atendeu automaticamente: — Alô? Quem fala? — Professor, sou eu, Júlia. José parou por um instante. Seu olhar, até então fixo na tela do computador, desviou-se lentamente, e sua voz suavizou: — Júlia? O que aconteceu? — Ah, é que meu pai comentou há uns dias que queria convidar o senhor para jantar lá em casa. Ele mesmo vai cozinhar... Mas se estiver ocupado, tudo bem, eu entendo...— Estou livre. Júlia ficou em silêncio por alguns segundos: — Não está ocupado no laboratório? Achei que estivessem sobrecarregad