Júlia estava tranquila agora. Não era mais como no início do término, quando qualquer coisa a fazia lembrar de Rafael e seus sentimentos ficavam à flor da pele. O tempo, afinal, era um remédio eficaz. Com ele, as feridas mais profundas cicatrizam. O que um dia foi dor, agora estava quase esquecido. Júlia já havia deixado tudo para trás.— O que você quer? — Perguntou Júlia.— Podemos conversar em outro lugar? — Disse Rafael.— Não vejo sobre o que precisamos conversar.— Júlia...— Sr. Rafael, por favor, me chame de senhorita. Não somos íntimos a ponto de usar o primeiro nome.Rafael sentiu-se derrotado. Lançou um olhar discreto em direção a José, esperando que ele se tocasse e desse um pouco de privacidade. Mas José não se moveu nem um centímetro, completamente alheio às tentativas de Rafael.Com o histórico de comportamentos imprevisíveis de Rafael, Júlia sabia que seria um erro ficar sozinha com ele.— Se não há mais nada, vamos indo. — Júlia olhou para José.José assentiu levemente
Júlia riu, brincando:— Nada disso, onde já se viu deixar o convidado entrar na cozinha?— O convidado disse que está mais do que disposto a ajudar.Com mais uma mão para ajudar, o preparo dos ingredientes foi bem mais rápido. Quando tudo estava pronto, Júlia retirou a garoupa da marinada, colocou-a sobre um prato e, com papel-toalha, secou o excesso de água antes de passar uma camada fina de óleo por toda a superfície.José, já sem muito o que fazer, ficou ao lado, observando:— Precisa de ajuda com mais alguma coisa?— Pode pegar a forma de assar para mim?— Claro.Por ser alto, José alcançou a forma sem esforço. O único detalhe era que a forma estava pendurada em um suporte acima da cabeça de Júlia. Isso significava que, para pegá-la, José precisaria se aproximar bastante, ficando quase atrás dela. Quando ele estendeu o braço, foi como se a envolvesse em um abraço.Por sorte, o movimento foi rápido, e a proximidade não gerou constrangimento.— Aqui está. — José entregou a forma.No
— Senta aí e para de fazer cerimônia. Assim você me deixa desconfortável. — Disse José.Júlia não pôde deixar de rir e se sentou de volta.— Eu adoro a comida que você faz. Esse almoço já é o melhor agradecimento que você poderia me dar. — Disse José e levantou o copo de suco e brindou com o dela.Em seguida, José pegou uma coxinha de frango frita, dourada e crocante. A casquinha crocante contrastava perfeitamente com o interior suculento. A combinação era deliciosa.— Lá fora, comer uma coxinha dessas é questão de sorte. — Disse José, com um sorriso.Júlia riu:— Então, quer dizer que as coxinhas que sobraram são todas suas?José arqueou a sobrancelha, com uma expressão divertida:— Mal posso esperar.Depois de terminarem de comer, já era quase duas da tarde. Eles limparam a cozinha juntos e saíram de casa. José precisava ir ao laboratório, e Júlia estava indo à biblioteca, então caminharam juntos até certa parte do caminho. Quando chegaram à bifurcação, José foi para a esquerda e Júl
Júlia levantou a saia com mais cuidado dessa vez. O pequeno incidente não chamou tanta atenção; todos só queriam saber se ela tinha se machucado.Alan estendeu o braço com um sorriso no rosto:— Aqui, Júlia! Pode segurar, tenho músculo, hein! Prometo que você não vai cair.Amanda, no entanto, fixou o olhar na cintura de Júlia, como se quisesse perfurar um buraco ali com os olhos.Na hora do jantar, Arthur notou que Amanda quase não tinha tocado na comida. Preocupado, perguntou:— Por que você está comendo tão pouco hoje? Tá com dor de estômago de novo?Amanda tinha o péssimo hábito de não manter horários regulares para as refeições, o que fazia Arthur sempre se preocupar e, claro, reclamar:— Esses pratos estão bem leves hoje, são ótimos pro estômago. E esse é o seu favorito...— Ai, que saco! — Amanda afastou a mão dele de perto de seu prato. — Não tô com vontade de comer, só isso. Preciso de uma babá agora? Não posso decidir o que eu quero?Arthur, com o garfo no ar, ficou sem reação
Laura, sendo uma pessoa de temperamento forte, não deixou barato. No mesmo dia, foi até a imobiliária, fazendo um escândalo e exigindo que o corretor aparecesse. O gerente da loja, no entanto, informou que Nelson havia pedido demissão três dias antes.Sem poder confrontar diretamente o corretor, Laura começou a ir à imobiliária todos os dias para causar confusão, levando amigos e parentes para protestar junto com ela. A situação ficou tão fora de controle que o gerente acabou cedendo e entregou o endereço de Nelson.Laura, determinada, foi até a casa dele e, para sua surpresa, o encontrou. Nelson, no entanto, não demonstrou o menor constrangimento e, com a maior calma do mundo, disse:— O fato é que a casa agora é minha. O contrato foi assinado, você recebeu o pagamento, e todos os documentos estão no meu nome. Não adianta fazer escândalo.Furiosa, Laura se jogou na porta da casa dele, gritando e chorando como uma verdadeira dramática. Mas Nelson não se intimidou. Ele se deitou no chão
— Você não estava ocupada escrevendo sua tese? A gente vindo aqui, não vai atrapalhar seu trabalho? — Perguntou Gustavo, um pouco preocupado.— De jeito nenhum! Já terminei a tese e enviei faz tempo. Agora estou só curtindo um tempo livre — Júlia respondeu, com um sorriso tranquilo.— Mas nesse calorão, com temperaturas altas em todo o país... Sair pra viajar agora não seria meio...Camila, que estava ouvindo a conversa, não aguentou: — Não dá ouvidos pro seu pai, ele tá é doido pra ir.Gustavo pigarreou, tentando disfarçar: — Eu não disse que não queria ir, oras.Júlia riu e disse, animada:— Tá bom, tá decidido! Vou comprar as passagens pra vocês agora.Assim que desligou o telefone, ela abriu o aplicativo e comprou duas passagens na classe executiva.Do outro lado, Gustavo e Camila receberam a notificação com as passagens enviadas pela filha. E, pra surpresa deles, eram pro dia seguinte! Sem perder tempo, os dois começaram a arrumar as malas.— Essa menina é muito apressada... E
José rapidamente deduziu a identidade dos dois pela aparência e idade. Sorrindo, aproximou-se e cumprimentou:— Olá, tudo bem? Meu nome é José, sou vizinho da Júlia.Júlia logo se deu conta da situação e apressou-se em fazer as apresentações:— Pai, mãe, esse é o Professor José, que me emprestou o laboratório.Gustavo, surpreso, comentou:— Não esperava que o professor fosse tão jovem. Realmente, muito talentoso.Camila também ficou um pouco surpresa, mas logo sorriu:— Muito obrigada, professor, por cuidar tão bem da nossa Júlia nesses últimos tempos.— Imagina, não precisa de tanta formalidade, podem me chamar só de José. — Respondeu José.Chamá-lo pelo primeiro nome? Isso significava que ele queria se colocar no mesmo nível que a Júlia?— Ah, isso... — Gustavo notou algo nas mãos de José: uma espécie de caderno de capa marrom, que parecia um livro, mas não exatamente.José explicou:— Isso é um “Calendário de Anotações” que peguei emprestado com um professor do departamento de Físic
Gustavo imediatamente assentiu:— Claro, depois conversamos.José deu um leve aceno de cabeça e finalmente se despediu.Assim que entraram no apartamento, Júlia começou a organizar as malas. Enquanto isso, Camila e Gustavo passaram a observar atentamente o local onde a filha estava morando. Era um apartamento de dois quartos e uma sala, nem grande nem pequeno. Embora a estrutura e o acabamento fossem visivelmente antigos, a decoração mostrava cuidado. O sofá, os armários e os eletrodomésticos eram novos. Alguns defeitos que não tinham como ser corrigidos eram disfarçados com enfeites. No geral, o ambiente parecia aconchegante e bem arrumado. À primeira vista, parecia um pequeno e charmoso apartamento.Ao verem o estado deplorável da escada no corredor, o casal já havia perdido qualquer esperança sobre as condições do lar da filha. Mas, ao entrarem, descobriram um verdadeiro refúgio.Camila ficou encantada. Não só porque Júlia havia transformado um apartamento alugado em um lugar tão ac