No dia seguinte, Júlia saiu para sua corrida matinal. Desde que ficou com mais tempo livre, ela havia retomado o hábito de correr pela manhã. Sempre voltava suada, tomava um banho e passava o resto do dia cheia de energia.— Bom dia, professor.— Bom dia. — José já tinha terminado sua corrida e estava prestes a voltar para casa, mas ao vê-la, mudou de direção. — Vamos, vou correr mais um pouco com você.— Não vai te atrasar no laboratório?— O novo projeto está nas mãos do Professor Alan, então estou mais tranquilo ultimamente.— Ah, o Professor Alan deve estar adorando isso. — Júlia brincou.— Pode até ter opinião, mas no fim, tem que trabalhar do mesmo jeito.José respondeu com seriedade. Se Alan estivesse por perto e ouvisse isso, provavelmente ficaria louco.Os dois correram juntos por duas voltas ao redor do parque, mas logo Júlia começou a se sentir cansada.José percebeu e sugeriu:— Ajusta a respiração, mantém o ritmo. Segue comigo... inspira, expira, inspira, expira...Júlia s
Júlia estava tranquila agora. Não era mais como no início do término, quando qualquer coisa a fazia lembrar de Rafael e seus sentimentos ficavam à flor da pele. O tempo, afinal, era um remédio eficaz. Com ele, as feridas mais profundas cicatrizam. O que um dia foi dor, agora estava quase esquecido. Júlia já havia deixado tudo para trás.— O que você quer? — Perguntou Júlia.— Podemos conversar em outro lugar? — Disse Rafael.— Não vejo sobre o que precisamos conversar.— Júlia...— Sr. Rafael, por favor, me chame de senhorita. Não somos íntimos a ponto de usar o primeiro nome.Rafael sentiu-se derrotado. Lançou um olhar discreto em direção a José, esperando que ele se tocasse e desse um pouco de privacidade. Mas José não se moveu nem um centímetro, completamente alheio às tentativas de Rafael.Com o histórico de comportamentos imprevisíveis de Rafael, Júlia sabia que seria um erro ficar sozinha com ele.— Se não há mais nada, vamos indo. — Júlia olhou para José.José assentiu levemente
Júlia riu, brincando:— Nada disso, onde já se viu deixar o convidado entrar na cozinha?— O convidado disse que está mais do que disposto a ajudar.Com mais uma mão para ajudar, o preparo dos ingredientes foi bem mais rápido. Quando tudo estava pronto, Júlia retirou a garoupa da marinada, colocou-a sobre um prato e, com papel-toalha, secou o excesso de água antes de passar uma camada fina de óleo por toda a superfície.José, já sem muito o que fazer, ficou ao lado, observando:— Precisa de ajuda com mais alguma coisa?— Pode pegar a forma de assar para mim?— Claro.Por ser alto, José alcançou a forma sem esforço. O único detalhe era que a forma estava pendurada em um suporte acima da cabeça de Júlia. Isso significava que, para pegá-la, José precisaria se aproximar bastante, ficando quase atrás dela. Quando ele estendeu o braço, foi como se a envolvesse em um abraço.Por sorte, o movimento foi rápido, e a proximidade não gerou constrangimento.— Aqui está. — José entregou a forma.No
— Senta aí e para de fazer cerimônia. Assim você me deixa desconfortável. — Disse José.Júlia não pôde deixar de rir e se sentou de volta.— Eu adoro a comida que você faz. Esse almoço já é o melhor agradecimento que você poderia me dar. — Disse José e levantou o copo de suco e brindou com o dela.Em seguida, José pegou uma coxinha de frango frita, dourada e crocante. A casquinha crocante contrastava perfeitamente com o interior suculento. A combinação era deliciosa.— Lá fora, comer uma coxinha dessas é questão de sorte. — Disse José, com um sorriso.Júlia riu:— Então, quer dizer que as coxinhas que sobraram são todas suas?José arqueou a sobrancelha, com uma expressão divertida:— Mal posso esperar.Depois de terminarem de comer, já era quase duas da tarde. Eles limparam a cozinha juntos e saíram de casa. José precisava ir ao laboratório, e Júlia estava indo à biblioteca, então caminharam juntos até certa parte do caminho. Quando chegaram à bifurcação, José foi para a esquerda e Júl
Júlia levantou a saia com mais cuidado dessa vez. O pequeno incidente não chamou tanta atenção; todos só queriam saber se ela tinha se machucado.Alan estendeu o braço com um sorriso no rosto:— Aqui, Júlia! Pode segurar, tenho músculo, hein! Prometo que você não vai cair.Amanda, no entanto, fixou o olhar na cintura de Júlia, como se quisesse perfurar um buraco ali com os olhos.Na hora do jantar, Arthur notou que Amanda quase não tinha tocado na comida. Preocupado, perguntou:— Por que você está comendo tão pouco hoje? Tá com dor de estômago de novo?Amanda tinha o péssimo hábito de não manter horários regulares para as refeições, o que fazia Arthur sempre se preocupar e, claro, reclamar:— Esses pratos estão bem leves hoje, são ótimos pro estômago. E esse é o seu favorito...— Ai, que saco! — Amanda afastou a mão dele de perto de seu prato. — Não tô com vontade de comer, só isso. Preciso de uma babá agora? Não posso decidir o que eu quero?Arthur, com o garfo no ar, ficou sem reação
Laura, sendo uma pessoa de temperamento forte, não deixou barato. No mesmo dia, foi até a imobiliária, fazendo um escândalo e exigindo que o corretor aparecesse. O gerente da loja, no entanto, informou que Nelson havia pedido demissão três dias antes.Sem poder confrontar diretamente o corretor, Laura começou a ir à imobiliária todos os dias para causar confusão, levando amigos e parentes para protestar junto com ela. A situação ficou tão fora de controle que o gerente acabou cedendo e entregou o endereço de Nelson.Laura, determinada, foi até a casa dele e, para sua surpresa, o encontrou. Nelson, no entanto, não demonstrou o menor constrangimento e, com a maior calma do mundo, disse:— O fato é que a casa agora é minha. O contrato foi assinado, você recebeu o pagamento, e todos os documentos estão no meu nome. Não adianta fazer escândalo.Furiosa, Laura se jogou na porta da casa dele, gritando e chorando como uma verdadeira dramática. Mas Nelson não se intimidou. Ele se deitou no chão
— Você não estava ocupada escrevendo sua tese? A gente vindo aqui, não vai atrapalhar seu trabalho? — Perguntou Gustavo, um pouco preocupado.— De jeito nenhum! Já terminei a tese e enviei faz tempo. Agora estou só curtindo um tempo livre — Júlia respondeu, com um sorriso tranquilo.— Mas nesse calorão, com temperaturas altas em todo o país... Sair pra viajar agora não seria meio...Camila, que estava ouvindo a conversa, não aguentou: — Não dá ouvidos pro seu pai, ele tá é doido pra ir.Gustavo pigarreou, tentando disfarçar: — Eu não disse que não queria ir, oras.Júlia riu e disse, animada:— Tá bom, tá decidido! Vou comprar as passagens pra vocês agora.Assim que desligou o telefone, ela abriu o aplicativo e comprou duas passagens na classe executiva.Do outro lado, Gustavo e Camila receberam a notificação com as passagens enviadas pela filha. E, pra surpresa deles, eram pro dia seguinte! Sem perder tempo, os dois começaram a arrumar as malas.— Essa menina é muito apressada... E
José rapidamente deduziu a identidade dos dois pela aparência e idade. Sorrindo, aproximou-se e cumprimentou:— Olá, tudo bem? Meu nome é José, sou vizinho da Júlia.Júlia logo se deu conta da situação e apressou-se em fazer as apresentações:— Pai, mãe, esse é o Professor José, que me emprestou o laboratório.Gustavo, surpreso, comentou:— Não esperava que o professor fosse tão jovem. Realmente, muito talentoso.Camila também ficou um pouco surpresa, mas logo sorriu:— Muito obrigada, professor, por cuidar tão bem da nossa Júlia nesses últimos tempos.— Imagina, não precisa de tanta formalidade, podem me chamar só de José. — Respondeu José.Chamá-lo pelo primeiro nome? Isso significava que ele queria se colocar no mesmo nível que a Júlia?— Ah, isso... — Gustavo notou algo nas mãos de José: uma espécie de caderno de capa marrom, que parecia um livro, mas não exatamente.José explicou:— Isso é um “Calendário de Anotações” que peguei emprestado com um professor do departamento de Físic