A confusão do lado de fora rapidamente chamou a atenção das mulheres que estavam na sala privativa. Fernanda estava sendo puxada pelos cabelos por outra mulher, que gritava com ódio. Que cena! Devia haver um rancor gigantesco ali.As mulheres se entreolharam, trocando olhares rápidos e curiosos.Melissa, percebendo que havia plateia, ficou ainda mais animada:— Todo mundo, prestem atenção! Foi essa mulher aqui. O filho dela brincou com os sentimentos da minha filha, a engravidou e agora se recusa a assumir a responsabilidade!Ela apontou para Fernanda, com raiva.— A minha filha teve a vida destruída por causa disso! E essa daí, ainda por cima, se esconde de mim? Acham que, porque somos humildes, ninguém vai nos ajudar?Enquanto falava, Melissa arregaçou as mangas, pronta para mais confusão:— Todo mundo, peguem seus celulares e filmem! Vamos colocar isso na internet e expor essa família Lima. Quero ver todo mundo saber que tipo de gente vocês são, Fernanda! E o seu filho, aquele vagab
— Onde você está? Por que durante todos esses dias você não atendeu minhas ligações? Agora você não precisa mais da sua mãe, é isso?Fernanda disparou as perguntas, uma atrás da outra, em um tom cada vez mais pesado.Rafael respondeu com frieza:— Estava viajando a trabalho. Ocupado, sem tempo pra atender.Fernanda, irritada, respondeu:— Você vai voltar agora! Imediatamente! E se não voltar, não precisa mais me chamar de mãe!Rafael percebeu que o tom dela estava estranho. Sem fazer mais perguntas, desligou o telefone e foi direto para casa. Assim que chegou à porta, ouviu o som de um vaso se quebrando ao chão.Rafael parou por um instante, respirou fundo e entrou.— Mãe, cheguei.Ao ouvir a voz dele, Fernanda apareceu furiosa e começou a falar sem parar:— Que tipo de gente você anda se envolvendo? Viviane é uma vagabunda, isso eu já sabia, mas a família dela... São piores que bandidos! A mãe dela, então, é a própria encarnação de uma barraqueira! Gente baixa, nojenta! Eu sempre soub
— Não quer esperar? Vai embora, ué. Quem disse que alguém faz questão de te ver? — Patrícia revirou os olhos, claramente impaciente. — Com essa atitude aí, você ainda quer pedir favor?Bruno respirou fundo. Ele sabia que Patrícia praticava taekwondo. Provocar ela demais não ia acabar bem pra ele.— Não fica brava, não. — Bruno rapidamente forçou um sorriso. — Já te falei, estou precisando de uma ajuda de emergência. Você nessa calma toda, claro que eu fico nervoso.— Fala logo o que você quer. — Patrícia olhou para dentro do carro dele. — E aí... ainda tem cigarro aí?— Pra quê?— Me dá um.Bruno ficou sem palavras. Resignado, virou-se, abriu o carro e pegou um cigarro e o isqueiro para ela.Patrícia, no entanto, não pegou. Ela cruzou os braços, com um sorriso provocador.— Tá bom. — Bruno suspirou. — Parece que eu arrumei uma mãe, e não uma parceira.Ele abaixou a cabeça e acendeu o cigarro pra ela. Era a primeira vez que ele acendia um cigarro para uma mulher, e também a primeira vez
— Puta merda! — Patrícia deu um pulo e afastou o braço de Bruno. Ela se endireitou, agradecendo mentalmente por já ter jogado fora o cigarro.Júlia levou um tempo para conseguir fechar a boca, perplexa:— Hã... Patrícia, você esqueceu a bolsa...Ela realmente só tinha ido levar a bolsa esquecida, mas acabou presenciando algo completamente inesperado. Patrícia estava de braço dado com um homem, numa postura mais que íntima!E aquele homem... De costas, parecia tão familiar. Quando os dois se viraram, ela viu que era Bruno!Então... Esse era o "parceiro" de que Patrícia tinha falado?Patrícia se aproximou e pegou a bolsa da mão de Júlia:— Valeu, Júlia! Poxa, vir até aqui à noite só para me trazer a bolsa... Vai pra casa, tá tarde. Não é seguro. Eu vou ficar aqui olhando até você subir e me dar um tchau da varanda. Só então eu vou embora.— Tá bom.Júlia virou-se e foi para casa. Ela sabia como Patrícia era, sabia que, por trás da aparência despreocupada, ela sempre tinha tudo sob contro
No dia seguinte, Júlia saiu para sua corrida matinal. Desde que ficou com mais tempo livre, ela havia retomado o hábito de correr pela manhã. Sempre voltava suada, tomava um banho e passava o resto do dia cheia de energia.— Bom dia, professor.— Bom dia. — José já tinha terminado sua corrida e estava prestes a voltar para casa, mas ao vê-la, mudou de direção. — Vamos, vou correr mais um pouco com você.— Não vai te atrasar no laboratório?— O novo projeto está nas mãos do Professor Alan, então estou mais tranquilo ultimamente.— Ah, o Professor Alan deve estar adorando isso. — Júlia brincou.— Pode até ter opinião, mas no fim, tem que trabalhar do mesmo jeito.José respondeu com seriedade. Se Alan estivesse por perto e ouvisse isso, provavelmente ficaria louco.Os dois correram juntos por duas voltas ao redor do parque, mas logo Júlia começou a se sentir cansada.José percebeu e sugeriu:— Ajusta a respiração, mantém o ritmo. Segue comigo... inspira, expira, inspira, expira...Júlia s
Júlia estava tranquila agora. Não era mais como no início do término, quando qualquer coisa a fazia lembrar de Rafael e seus sentimentos ficavam à flor da pele. O tempo, afinal, era um remédio eficaz. Com ele, as feridas mais profundas cicatrizam. O que um dia foi dor, agora estava quase esquecido. Júlia já havia deixado tudo para trás.— O que você quer? — Perguntou Júlia.— Podemos conversar em outro lugar? — Disse Rafael.— Não vejo sobre o que precisamos conversar.— Júlia...— Sr. Rafael, por favor, me chame de senhorita. Não somos íntimos a ponto de usar o primeiro nome.Rafael sentiu-se derrotado. Lançou um olhar discreto em direção a José, esperando que ele se tocasse e desse um pouco de privacidade. Mas José não se moveu nem um centímetro, completamente alheio às tentativas de Rafael.Com o histórico de comportamentos imprevisíveis de Rafael, Júlia sabia que seria um erro ficar sozinha com ele.— Se não há mais nada, vamos indo. — Júlia olhou para José.José assentiu levemente
Júlia riu, brincando:— Nada disso, onde já se viu deixar o convidado entrar na cozinha?— O convidado disse que está mais do que disposto a ajudar.Com mais uma mão para ajudar, o preparo dos ingredientes foi bem mais rápido. Quando tudo estava pronto, Júlia retirou a garoupa da marinada, colocou-a sobre um prato e, com papel-toalha, secou o excesso de água antes de passar uma camada fina de óleo por toda a superfície.José, já sem muito o que fazer, ficou ao lado, observando:— Precisa de ajuda com mais alguma coisa?— Pode pegar a forma de assar para mim?— Claro.Por ser alto, José alcançou a forma sem esforço. O único detalhe era que a forma estava pendurada em um suporte acima da cabeça de Júlia. Isso significava que, para pegá-la, José precisaria se aproximar bastante, ficando quase atrás dela. Quando ele estendeu o braço, foi como se a envolvesse em um abraço.Por sorte, o movimento foi rápido, e a proximidade não gerou constrangimento.— Aqui está. — José entregou a forma.No
— Senta aí e para de fazer cerimônia. Assim você me deixa desconfortável. — Disse José.Júlia não pôde deixar de rir e se sentou de volta.— Eu adoro a comida que você faz. Esse almoço já é o melhor agradecimento que você poderia me dar. — Disse José e levantou o copo de suco e brindou com o dela.Em seguida, José pegou uma coxinha de frango frita, dourada e crocante. A casquinha crocante contrastava perfeitamente com o interior suculento. A combinação era deliciosa.— Lá fora, comer uma coxinha dessas é questão de sorte. — Disse José, com um sorriso.Júlia riu:— Então, quer dizer que as coxinhas que sobraram são todas suas?José arqueou a sobrancelha, com uma expressão divertida:— Mal posso esperar.Depois de terminarem de comer, já era quase duas da tarde. Eles limparam a cozinha juntos e saíram de casa. José precisava ir ao laboratório, e Júlia estava indo à biblioteca, então caminharam juntos até certa parte do caminho. Quando chegaram à bifurcação, José foi para a esquerda e Júl