De madrugada, começou a chover forte. Rafael estacionou o carro na garagem da mansão, mas não desceu. Ficou ali, parado, olhando para a casa à sua frente. Aquele lugar, sem Júlia, já não parecia um lar.Ele acendeu um cigarro. No espaço fechado do carro, a fumaça logo preencheu o ar, sem poder escapar. O brilho vermelho da ponta do cigarro iluminava suas mãos enquanto a fumaça subia e, aos poucos, embaçava seus traços no espelho retrovisor.Rafael estava imerso na escuridão, como se estivesse prestes a se fundir à própria noite. O tempo de um cigarro, nem muito longo, nem muito curto. Quando a última tragada apagou o brilho do cigarro, seus olhos, antes perdidos, de repente se tornaram claros e determinados.Desistir de Júlia? Jamais! Ter perdido não significava que ele não poderia tê-la de volta no futuro. Se ele conseguisse reconquistá-la, tudo poderia voltar a ser como antes.Rafael abriu a porta do carro, jogou a bituca no chão e caminhou em direção à mansão. Ao chegar à entrada, V
— Eu só queria te ajudar a ajeitar a gravata. — Respondeu Viviane, tentando parecer inocente.— Estou de camisa preta hoje. — Disse Rafael, seco.Viviane hesitou por um segundo, sem entender:— Eu sei...Rafael suspirou. Melhor deixar pra lá. Ele soltou o pulso dela e ajeitou a gravata por conta própria. Não adiantava. Melhor não tentar. Ela nunca iria entender como camisa preta combinava com gravata de cores variadas— Se não sabe fazer, é melhor não fazer. — Disse Rafael, já se afastando sem se importar com a reação de Viviane.À noite, Rafael terminou o trabalho e saiu da empresa. Entrou no carro, acendeu outro cigarro, mas demorou a ligar o motor. Só depois de fumar o cigarro inteiro é que ele finalmente deu partida no carro e dirigiu para longe. Em vez de voltar para casa, foi até a beira do rio, onde deu algumas voltas, tentando clarear a mente. No meio do caminho, Fernanda ligou. Ele ignorou a chamada.Dirigindo sem rumo, Rafael acabou, mais uma vez, parando em uma rua familiar.
— Sim, o Bruno também está aqui. — Disse André.— Qual bar? — Perguntou Rafael.— O de sempre.— Chego em quinze minutos.O bar estava lotado, música alta, letras vulgares e repetitivas. Mas, assim que a porta da sala VIP se fechou, parecia que os dois mundos haviam se desconectado.— Olha só quem chegou! Rafael! — Cumprimentou Bruno que estava abraçado a uma mulher voluptuosa, com roupas provocantes. Ao ver Rafael entrar, sorriu e o cumprimentou.Rafael foi direto até o sofá e se sentou sem dizer uma palavra.Bruno fez um sinal para a mulher ao seu lado, que entendeu na hora e foi se insinuando para Rafael com um sorriso malicioso.— Não encosta em mim. — Disse Rafael, segurando a mão dela com firmeza e afastando-a de sua perna.O sorriso no rosto da mulher desapareceu num instante, e ela lançou um olhar de súplica para Bruno.— O que foi? Não gostou dela? — Bruno arqueou a sobrancelha. — Posso arranjar outra.Rafael serviu-se de uma taça de vinho tinto:— Não tô interessado.— Você n
André se levantou de imediato, procurando um lugar mais tranquilo para atender a ligação. Antes que conseguisse sair da sala, Rafael e Bruno o seguraram pelos ombros. O primeiro fez sinal para que todos fizessem silêncio, enquanto o segundo rapidamente desligou a música.A sincronia dos dois foi impressionante, e André, pego de surpresa, engoliu em seco. Sentiu a pressão aumentar.Do outro lado da linha, Júlia havia pensado muito antes de fazer aquela ligação. O contrato de Camila estava prestes a expirar, e se ela não renovasse com a editora, Júlia precisaria encontrar outro editor competente, de preferência alguém com experiência em livros de suspense e terror. Melhor ainda se tivesse boas conexões para divulgação.Depois de pensar em todas as opções, a única pessoa que conhecia alguém no ramo editorial era André.O dilema de Júlia não era se deveria ou não pedir ajuda a André. Ela sabia que, se ele tivesse contatos, com certeza a auxiliaria sem hesitar. Apesar do término com Rafael,
André sabia muito bem que Júlia não queria dever favores a Bruno, então tomou a iniciativa de falar por ela, decidindo as coisas de uma vez. E ele não estava errado, afinal, só estava perguntando; não era nada certo ainda.— Então, Júlia, vai descansar cedo. Vou desligar agora, tá? — Disse André.Ele encerrou a ligação.— Cara, que empolgação a sua. O que é que a Júlia te deu em troca pra você ser tão prestativo? — Bruno não resistiu e deu uma risada irônica.— Ah, você não entende nada. Com os amigos, a gente é sincero. Se não gosta, problema seu. — Retrucou André.— Amigos? — Bruno arqueou as sobrancelhas. — Ela terminou com o Rafael, lembra? Desde quando vocês têm essa amizade toda?Ao ouvir isso, até Rafael olhou curioso para André.André ouviu e, de repente, ficou sério, endireitando-se na cadeira:— Não é bem assim, Bruno. A Júlia já me ajudou antes. Mesmo que ela e o Rafael não estejam mais juntos, isso não muda a nossa amizade.Bruno estreitou o olhar, como se captasse algo nov
— Aquela vez no hotel, você me ajudou. Eu sou o tipo de cara que paga suas dívidas. Mesmo que você e o Rafael tenham terminado, uma dívida é uma dívida, e eu tenho que te retribuir. — Disse Bruno.Ele tinha passado ali uns bons vinte minutos, fumando dois cigarros, e Júlia nem sequer pensou em ligar direto pra ele? O André disse claramente que ele tinha os contatos certos! E contatos ótimos, diga-se de passagem! Júlia não pensou nisso por que? Subestimando ele, talvez?Bruno revirou os olhos:— Procurando um editor confiável, né? Vou te indicar um agora.Júlia não era do tipo ingrata, muito menos orgulhosa demais pra aceitar ajuda. Alguém oferecendo ajuda? Seria tolice recusar!— Valeu. — Disse Júlia.— Tô só pagando minha dívida.Assim que desligou, Bruno rapidamente abriu o WhatsApp e procurou o contato do editor para mandar pra Júlia. Foi aí que percebeu que ele nem tinha o WhatsApp dela!Voltou a ligar.— Olha... me aceita no WhatsApp aí. Fica tranquila, não sou que nem o Lucas, tá
André assentiu sem hesitar: — Claro que sim, eu sempre mantenho contato com a Júlia, por quê?Bruno estreitou os olhos, como se pudesse enxergar até a alma dele: — Eu sei o que você quer saber. Seja o fato do André ainda falar com a Júlia ou de eu ter decidido ajudar hoje, você tem dúvida se nossa consideração por ela é por causa da sua ligação com ela ou porque realmente nos importamos com a Júlia em si.Bruno fez uma pausa, observando a reação de Rafael: — Posso responder com certeza: é pela Júlia. Não tem nada a ver com você. O André também deve pensar o mesmo.Rafael franziu a testa:— Por quê?Bruno soltou uma risada rápida: — Entre as pessoas, tudo é uma questão de troca, não é? A gente interage, cria uma história. Você acha que a Júlia passou esses seis anos com você como um fantasma? Nós nos encontramos ao menos duas ou três vezes por mês, e tivemos várias oportunidades de conviver com ela. Só para lembrar, André, se não me falha a memória, a Júlia já te ajudou a arruma
Maya se virou, e Viviane logo ergueu um sorriso: — Então, deixo o Rafael sob os cuidados seus. Estou exausta e vou dormir agora.Ela se afastou, saindo da cozinha. Maya ficou sem entender. Antes Viviane disputava para levar a sopa ao Rafael, e agora mudou assim de repente?Maya serviu metade da sopa numa tigela e a colocou na bandeja, levando-a diretamente ao quarto principal.Rafael não tinha bebido muito naquela noite, mas não tinha jantado, e o estômago começou a dar sinais de dor. Quando Maya apareceu com a sopa quente, ele não hesitou e tomou tudo de uma vez.Após sair do quarto com a bandeja, Maya lembrou-se de fechar a porta silenciosamente. Rafael, deitado na cama, fechou os olhos e esperou que o incômodo no estômago diminuísse. Não sabia quanto tempo tinha passado, mas sentiu que o estômago melhorara; no entanto, seu corpo estava cada vez mais quente. Quando decidiu levantar para ajustar o ar-condicionado, a porta do quarto foi aberta por alguém do lado de fora.Viviane entr