Enquanto falava, Laura lançou à Editora um olhar cortante, de cima a baixo:— Olha só pra você. Com essa roupa aí, não parece nem de longe uma mulher decente. Toda arrumadinha... mas aposto que passou a noite na esquina!A Editora ficou boquiaberta. Não esperava ser atacada de forma tão vulgar, com ofensas tão baixas.— Vo-você... — Gaguejou Editora, tremendo de raiva.Mas, por mais furiosa que estivesse, não conseguia descer ao nível de Laura, nem pensar em um xingamento tão sujo quanto.— Você o quê? Não consegue nem falar direito? Quanto é que os homens pagam pra dormir com você? Dá desconto? Metade do preço? Ou será que nem isso você vale? Cem reais? Você acha que vale isso? — Xingou Laura.A Editora ficou vermelha de indignação:— Eu não vou descer ao seu nível. Você é uma mulher sem classe, sem noção, e completamente nojenta!— Ai, que medo! Olha só, sabe usar umas palavrinhas difíceis, né? Mas eu também sei! Você é uma vagabunda, sem vergonha, uma piranha barata, uma galinha de
Após o café da manhã, Júlia começou a fazer uma faxina geral. Depois de duas semanas sem limpar a casa, havia bastante poeira acumulada.A manhã passou voando. Após um breve descanso no início da tarde, ela se preparou para sair e comprar alguns mantimentos. Mas, assim que estava pronta para sair, o celular tocou. Era Patrícia.— Júlia, tá em casa? — Perguntou Patrícia.— Tô sim. Aconteceu alguma coisa?— Ah, deu uma vontade de comer sua comida...Júlia conhecia Patrícia há tempo suficiente para perceber que algo estava errado só pelo tom de voz.— O que houve? Aconteceu alguma coisa? — Perguntou Júlia.— Não... Só faz tanto tempo que a gente não se vê. Tô com saudade. A voz de Patrícia soava abafada, como se ela estivesse tentando segurar as emoções.Júlia hesitou um segundo, mas decidiu não pressionar:— Então vem pra cá. Eu faço o que você quiser comer.— Oba! Chego em quarenta minutos!Júlia saiu rapidamente para comprar os ingredientes. Assim que voltou, Patrícia chegou logo atrá
Júlia ficou sem palavras.Será que a Patrícia fez isso de propósito? Não podia ser coincidência. Justamente quando ela liga, quem atende é o José? Se fosse qualquer outra pessoa, jamais teria chegado tão rápido!Dez minutos depois, Júlia ajeitou Patrícia no quarto e saiu de fininho, fechando a porta com cuidado. Ao se virar, deu de cara com José sentado no sofá da sala, os olhos fixos nas latas de cerveja que ainda estavam espalhadas pela mesa.— Foi ela que bebeu tudo isso sozinha?O tom de José não era exatamente duro, mas Júlia sentiu uma pressão inexplicável.Júlia respondeu com sinceridade:— Eu também bebi um pouco.— Só um pouco? — José a encarou, sério, com aquele olhar penetrante que parecia ver através dela.Júlia suspirou, desistindo de lutar:— Tá bom... Foram duas latas. Mas eu juro que tô bem, nem fiquei bêbada.Patrícia tinha se embriagado por causa do estado emocional. Estava claramente tentando afogar as mágoas. E, além da cerveja, tinha misturado vinho, o que só pioro
O que não esperava era que o primo "distante e quase desconhecido", de quem Patrícia sempre falava, se importasse tanto com ela.Mas, pensando bem, fazia sentido. José podia parecer frio e reservado na superfície, mas Júlia sabia que ele era do tipo que se importava profundamente com as pessoas, só não gostava de demonstrar.— Se algo assim acontecer de novo, pode me ligar a qualquer hora. — José fez uma pausa e, com um olhar discreto, acrescentou. — O álcool afeta o sistema nervoso. Pode causar desde náuseas e vômitos até desmaios mais graves. Melhor evitar beber tanto, não acha?Júlia entendeu que ele estava se referindo a ela. Seu rosto ficou imediatamente vermelho, e até as orelhas começaram a esquentar. Tentando disfarçar, ela pigarreou e se defendeu:— Eu sei que o álcool tem seus efeitos colaterais, mas ele também pode dar uma sensação momentânea de alívio. Às vezes, esvaziar a cabeça e relaxar um pouco é uma forma de lidar com as emoções. Não concorda?José não esperava que ela
De madrugada, começou a chover forte. Rafael estacionou o carro na garagem da mansão, mas não desceu. Ficou ali, parado, olhando para a casa à sua frente. Aquele lugar, sem Júlia, já não parecia um lar.Ele acendeu um cigarro. No espaço fechado do carro, a fumaça logo preencheu o ar, sem poder escapar. O brilho vermelho da ponta do cigarro iluminava suas mãos enquanto a fumaça subia e, aos poucos, embaçava seus traços no espelho retrovisor.Rafael estava imerso na escuridão, como se estivesse prestes a se fundir à própria noite. O tempo de um cigarro, nem muito longo, nem muito curto. Quando a última tragada apagou o brilho do cigarro, seus olhos, antes perdidos, de repente se tornaram claros e determinados.Desistir de Júlia? Jamais! Ter perdido não significava que ele não poderia tê-la de volta no futuro. Se ele conseguisse reconquistá-la, tudo poderia voltar a ser como antes.Rafael abriu a porta do carro, jogou a bituca no chão e caminhou em direção à mansão. Ao chegar à entrada, V
— Eu só queria te ajudar a ajeitar a gravata. — Respondeu Viviane, tentando parecer inocente.— Estou de camisa preta hoje. — Disse Rafael, seco.Viviane hesitou por um segundo, sem entender:— Eu sei...Rafael suspirou. Melhor deixar pra lá. Ele soltou o pulso dela e ajeitou a gravata por conta própria. Não adiantava. Melhor não tentar. Ela nunca iria entender como camisa preta combinava com gravata de cores variadas— Se não sabe fazer, é melhor não fazer. — Disse Rafael, já se afastando sem se importar com a reação de Viviane.À noite, Rafael terminou o trabalho e saiu da empresa. Entrou no carro, acendeu outro cigarro, mas demorou a ligar o motor. Só depois de fumar o cigarro inteiro é que ele finalmente deu partida no carro e dirigiu para longe. Em vez de voltar para casa, foi até a beira do rio, onde deu algumas voltas, tentando clarear a mente. No meio do caminho, Fernanda ligou. Ele ignorou a chamada.Dirigindo sem rumo, Rafael acabou, mais uma vez, parando em uma rua familiar.
— Sim, o Bruno também está aqui. — Disse André.— Qual bar? — Perguntou Rafael.— O de sempre.— Chego em quinze minutos.O bar estava lotado, música alta, letras vulgares e repetitivas. Mas, assim que a porta da sala VIP se fechou, parecia que os dois mundos haviam se desconectado.— Olha só quem chegou! Rafael! — Cumprimentou Bruno que estava abraçado a uma mulher voluptuosa, com roupas provocantes. Ao ver Rafael entrar, sorriu e o cumprimentou.Rafael foi direto até o sofá e se sentou sem dizer uma palavra.Bruno fez um sinal para a mulher ao seu lado, que entendeu na hora e foi se insinuando para Rafael com um sorriso malicioso.— Não encosta em mim. — Disse Rafael, segurando a mão dela com firmeza e afastando-a de sua perna.O sorriso no rosto da mulher desapareceu num instante, e ela lançou um olhar de súplica para Bruno.— O que foi? Não gostou dela? — Bruno arqueou a sobrancelha. — Posso arranjar outra.Rafael serviu-se de uma taça de vinho tinto:— Não tô interessado.— Você n
André se levantou de imediato, procurando um lugar mais tranquilo para atender a ligação. Antes que conseguisse sair da sala, Rafael e Bruno o seguraram pelos ombros. O primeiro fez sinal para que todos fizessem silêncio, enquanto o segundo rapidamente desligou a música.A sincronia dos dois foi impressionante, e André, pego de surpresa, engoliu em seco. Sentiu a pressão aumentar.Do outro lado da linha, Júlia havia pensado muito antes de fazer aquela ligação. O contrato de Camila estava prestes a expirar, e se ela não renovasse com a editora, Júlia precisaria encontrar outro editor competente, de preferência alguém com experiência em livros de suspense e terror. Melhor ainda se tivesse boas conexões para divulgação.Depois de pensar em todas as opções, a única pessoa que conhecia alguém no ramo editorial era André.O dilema de Júlia não era se deveria ou não pedir ajuda a André. Ela sabia que, se ele tivesse contatos, com certeza a auxiliaria sem hesitar. Apesar do término com Rafael,