Todos ouviam com atenção.— Lívia, esse professor que você trouxe hoje é ótimo! Onde você o encontrou? Por que das outras vezes só vieram uns velhos? — Comentou uma das senhoras.O Salão de Café já tinha sido realizado algumas vezes, e em cada uma delas, uma das mulheres organizava o evento.Dessa vez, era a vez de Lívia. O problema é que o professor habitual havia ficado doente de última hora, e ela chamou Júlia para salvar o dia.Nas outras edições, não havia ocorrido esse tipo de “imprevisto”.Outra senhora rapidamente concordou:— Exato! E por que não chamaram uma professora tão bonita antes? Só chamaram uns velhos... Olha como foi ótimo dessa vez!— Além de bonita, tem uma voz agradável. A aula está excelente.Viviane e Fernanda, ao verem Júlia pela primeira vez, ficaram completamente surpresas. Elas a observaram sentar-se à vontade no palco, falar sobre a cultura do café com uma fluência impressionante, citando referências e contextos históricos com uma segurança invejável.Vivia
Viviane ficou sem palavras. Ela havia falado por falar, sem realmente ter certeza do que estava dizendo. Apesar de ter feito uma pesquisa na noite anterior, o conhecimento que adquiriu não estava tão fresco em sua mente. Ela desviou o olhar, tentando mudar de assunto:— Agora sou eu que estou perguntando: você tem ou não tem um certificado de barista? Não tente desviar o foco. Como professora, estou aqui para ouvir as opiniões dos alunos e responder às dúvidas. Algum problema com isso? O que você está chamando de desviar o assunto? Se acha que eu não sou capacitada, precisa me dizer o motivo. Eu não aceito críticas infundadas!Júlia estava sendo tão firme que Viviane começou a se sentir acuada. Ao perceber os olhares curiosos e desconfiados da plateia, ela endireitou a postura e tentou manter a compostura:— O que você disse até agora não está exatamente errado, mas são informações muito básicas. Quem aqui não sabe essas coisas? E mesmo quem não sabe, pode pesquisar na internet e desco
Júlia tirou de sua bolsa um certificado vermelho. Na capa, estavam impressas as palavras "Certificado de Qualificação Profissional". E não era qualquer certificado. Era o de uma barista mestre.— Agora está bom? Precisa que eu chegue mais perto para você enxergar melhor? — Júlia ergueu o olhar, fitando Viviane com frieza.Viviane arregalou os olhos, incrédula. Ela realmente tinha o certificado?Mesmo diante da evidência, Viviane se recusava a ceder. Com teimosia, retrucou:— Certificados também podem ser falsificados.Júlia riu:— Certificados emitidos pelo governo têm um número de registro único. Você pode verificar no site oficial, se quiser.Imediatamente, alguém na plateia, sempre atento a uma boa confusão, sacou o celular e começou a pesquisar o número do certificado de Júlia. Logo depois, anunciou em voz alta:— Olha só! Achei aqui! Informação confirmada, nível conferido. É legítimo, sem dúvida.Viviane rangeu os dentes, tentando manter o controle:— E daí que você tem o certific
— E, para concluir, deixo uma frase para todos: O café não atrapalha um bom momento. Que cada ano seja ainda melhor que o anterior! Muito obrigada.Júlia se levantou e fez uma reverência profunda para a plateia.Por um momento, o salão ficou em silêncio, e logo em seguida, foi tomado por aplausos estrondosos:— Bravo!— Maravilhosa!…A Sra. Arceno, da famosa Grupo Arceno Móveis, tinha feito fortuna anos atrás com o cultivo, torrefação e venda de café. Ela havia vindo ao evento justamente porque soubera que um mestre barista experiente daria a palestra. No entanto, ao ver que o palestrante havia sido substituído por uma jovem, ela ficou um tanto decepcionada.Pensou Sra. Arceno. “Jovens, sem experiência, só sabiam fazer firulas. Não dava para esperar que realmente entenderam de café. ”Mas, ao assistir ao processo impecável de Júlia, com sua explicação cativante e conhecimento profundo sobre a cultura do café, a Sra. Arceno ficou genuinamente impressionada.Muitos baristas gostavam de f
— Sra. Fernanda, sua família inteira é assim desrespeitosa? Isso não dá! Melhor levar de volta e ensinar boas maneiras antes de sair por aí, não acha? Não têm vergonha de manchar o nome da família Lima? Eu sei que seu gosto é meio duvidoso, mas a escolha foi péssima! Onde foi que você achou esse tipo de gente? Que falta de educação! — Comentou alguém.As outras pessoas começaram a murmurar entre si. Os olhares dirigidos a Viviane carregavam desconfiança, desprezo e uma pitada de desdém e eles pensaram:“O filho da família Lima até para trair escolhe mal... Olha só a mulher burra que ele arrumou.”Viviane não suportava aqueles olhares. Seu corpo começou a tremer levemente. Fernanda, por sua origem humilde, sempre foi subestimada naquele círculo. Depois de muito esforço e anos tentando se integrar, finalmente havia conseguido ser aceita, mas agora, por causa de Viviane, estava sendo ridicularizada mais uma vez. Ela sentia uma mistura de raiva e arrependimento. Se soubesse, não teria tra
Júlia ficou um pouco sem jeito:— Ah, não é nada demais...Nos seis anos que passou com Rafael, os dois primeiros foram dedicados à faculdade. Nos quatro anos seguintes, ela ficou confinada na mansão, vivendo uma rotina repetitiva e monótona, todas as suas atividades girando em torno dele. Rafael, com sua promessa de amor, construiu uma prisão invisível onde Júlia ficou presa por anos. Mas mesmo dentro daquela prisão, ela não ficou parada. Além de cuidar de Rafael, aproveitou para ler, estudar e cultivar novos interesses. Com o tempo, à medida que a relação entre eles esfriava, Rafael começou a aparecer cada vez menos em casa, e Júlia finalmente teve mais tempo para si. Ela se matriculou em vários cursos e tirou diversas certificações, preenchendo seu tempo livre com aprendizado.Júlia sempre se lembrava do que seu pai lhe dizia quando era pequena: "O aprendizado nunca tem fim. A gente deve aprender até o último dia de vida." Além disso, quanto mais habilidades você tiver, mais portas
Catarina ficava animada hoje. Normalmente, Lorena mal participava dessas atividades, e, quando participava, era sempre com uma atitude displicente, apenas para cumprir tabela. Mas Lorena tinha preparado uma jarra de café, e Catarina era ansiosa para alguém o provar.Júlia se aproximou delas, e, ao levantar os olhos, encontrou o olhar de Lorena. Por um instante, Lorena pareceu surpresa, talvez até um pouco desconfortável, mas logo soltou um leve resmungo pelo nariz, com uma expressão arrogante.Para Júlia, porém, essa arrogância era apenas uma forma de disfarçar o leve constrangimento que Lorena sentia. Catarina sugeriu com um sorriso:— Srta. Júlia, prove o café que a Lorena fez. O que você acha?Júlia limpou o paladar e então provou o café. Após uma breve pausa, deu sua opinião com sinceridade:— Tem muito café e pouca água. A cor está muito escura e o sabor acabou ficando amargo. E parece que você não aqueceu a jarra ou a temperatura não estava ideal, então o aroma não se espalhou c
Lívia não insistiu e pediu que o motorista partisse.Júlia também estava esperando um carro na entrada do hotel, e várias pessoas a cumprimentavam enquanto ela respondia cordialmente a cada uma. Sabendo que alguém viria buscá-la, Lívia não ofereceu carona. E de fato, José não se atrasou. Levou apenas dez minutos para chegar e ainda adiantou-se em dois. Quando ele parou o carro, começou a cair uma leve chuva. Do carro, José olhou pela janela e avistou Júlia à distância.Sob a chuva fina, vestida em sua elegante roupa de festa, Júlia parecia uma figura saída de uma pintura.José ficou paralisado por alguns segundos, mas logo voltou à realidade, estacionou o carro e desceu para abrir o guarda-chuva. Ele caminhou até ela com rapidez, segurando o guarda-chuva firmemente, e abriu a porta do carro para que ela entrasse.Júlia se abaixou para entrar no carro, e José prontamente usou a mão para proteger a cabeça dela, evitando que se machucasse ao entrar.— Obrigada. — Disse Júlia, sorrindo pa