Rafael não respondeu.Quando chegou na entrada do prédio, André conseguiu alcançá-lo e o segurou firme:— Para com isso, Rafael, volta pra casa! A Júlia não vai abrir a porta pra você...— Eu tenho algo pra ela. — Disse Rafael.André ficou surpreso:— O quê?Rafael tirou do bolso uma pomada antialérgica:— Nessa época do ano, ela tem alergia. Eu trouxe isso pra ela...André sentiu um nó na garganta. Era difícil de entender como um casal que um dia se amou tanto havia chegado àquela situação.— Sim. — Rafael assentiu, insistindo. — Eu vim trazer a pomada pra ela... Preciso entregar... preciso...A voz de Rafael foi ficando mais fraca, até que ele apagou e desabou, desmaiando no chão. André o segurou rapidamente e o arrastou até o carro.Depois de colocá-lo com segurança no banco de trás, olhou para o carro parado na esquina e suspirou profundamente...Quando finalmente deixou Rafael em casa, já era uma da manhã.A empregada abriu a porta, e André disse:— Rápido, me ajude! Ele está bêba
— Jú... Sinto tanta saudade de você... Volta, por favor?A única resposta que Rafael recebeu foi a escuridão da sala e o vento frio e impiedoso que assobiava do lado de fora da janela....No dia seguinte, Júlia acordou bem cedo. Lavou o rosto, fez o café da manhã, arrumou-se e se preparou para sair em direção ao laboratório. Ao fechar a porta, percebeu que havia uma sacola pendurada na maçaneta, com um tubo de pomada antialérgica para rinite.Era justamente a marca que ela estava acostumada a usar.Ela olhou em volta. Quem teria deixado aquilo?De repente, seu olhar se fixou na porta do apartamento em frente. Júlia observou a pomada em suas mãos e, curiosa, examinou melhor a sacola.Estava prestes a bater na porta e perguntar a José se ele era o responsável quando, de repente, a porta foi aberta com um puxão.José surgiu com um semblante sério e, ao vê-la, parou por um instante.Júlia percebeu a expressão preocupada do homem e perguntou:— O que aconteceu?José, sem rodeios, respondeu
O técnico suspirou, visivelmente exasperado:— Em poucos minutos, você já me perguntou isso cinco vezes. Ainda estou verificando. Deixe-me descobrir o que causou o problema, só assim posso tentar recuperar os dados para vocês.Arthur se apressou em responder:— Claro, não vou te atrapalhar mais. Pode focar na análise.Mesmo assim, não pôde evitar de lançar um olhar na direção de José, preocupado que ele pudesse culpar Amanda pelo ocorrido.Pensando nisso, Arthur se aproximou e murmurou:— Professor José, eu estava com a Amanda quando ela desligou o computador. Posso garantir que foi um acidente. Ela mal descansou esses dias para inserir todos os dados. Não faria algo assim de propósito...José passou a mão pela testa, massageando as têmporas:— Não vou tirar conclusões precipitadas antes de entender o que realmente aconteceu.Ele não duvidava da integridade de Amanda, mas preferia manter todas as possibilidades em aberto. Não assumia a pior hipótese, nem fazia suposições otimistas; par
— Há seis meses, eles lançaram uma nova funcionalidade. Júlia comentou, e o técnico que estava consertando o computador arregalou os olhos:— Você está falando do Registrador de IA, né? Todos ficaram com uma expressão de perplexidade. Não era a área deles, e realmente não entendiam muito sobre o assunto.— Você deve estar se referindo à inteligência artificial da Sun, adicionada na última atualização do software, mas esse recurso ainda é bem limitado. — Disse José.Grandes quantidades de dados foram carregadas para a nuvem sem qualquer tipo de categorização, impossibilitando uma busca por data de armazenamento. Atualmente, a única forma de busca era por palavras-chave.Em outras palavras, não só era preciso saber qual parte dos dados foi perdida, mas também lembrar o conteúdo exato desses dados. Não precisava lembrar de tudo, mas pelo menos de um décimo.Só assim era possível fazer uma busca precisa, caso contrário, era como procurar uma agulha no palheiro.— Um décimo... Isso é muit
Amanda mudou a expressão e respondeu com um tom severo:— Júlia, que história é essa? Eu já fiz a entrada de todos os relatórios do grupo no sistema, não perdi nenhum! Se alguém duvida, pode verificar a lista de entradas. Embora o problema no computador tenha causado a perda de muitos dados, esse registro ainda está lá!— Não venha jogar lama em mim! —Júlia deu um leve "hum" e falou com tranquilidade. — Não houve perda, porque antes de jogá-lo no lixo, eu dei uma olhada e percebi que a data era do próprio dia, então devolvi ao lugar. — E por que você está insinuando que eu perdi o relatório? Você viu no chão, pegou, devolveu, e agora quer dar uma de esperta falando isso! — Amanda rebateu.— Em primeiro lugar, eu só relatei o fato de ter visto o relatório no chão e devolvido ao lugar, não disse que alguém perdeu nada. E ninguém mais aqui chegou a essa conclusão, então não precisa ficar tão nervosa. — Disse Júlia.— Pode até não ter dito com todas as letras, mas foi exatamente isso que
Em menos de dez segundos, uma grande quantidade de dados relacionados apareceu na tela.Andressa gritou a plenos pulmões: — Mestre! Mestre! Vem cá, vê se são esses...O técnico correu para sentar em frente ao computador e, depois de algumas manobras: — De fato, tem um lote de dados sendo recuperado, mas não posso garantir que sejam os que vocês querem. Alguém vem conferir...Amanda se aproximou rapidamente do computador, e o técnico se levantou para dar lugar a ela.O tempo passava devagar, e Andressa, vendo que Amanda não dizia nada, não se aguentou de ansiedade: — Fala logo, quanto dos dados conseguimos recuperar?— Recuperamos quase tudo. — Respondeu Amanda, mordendo o lábio inferior, mas seu rosto não mostrava muita satisfação.Andressa, não muito convencida pela resposta vaga, foi conferir por si mesma e, só então, conseguiu relaxar: — Graças a Deus! Encontramos 99% dos dados!Enquanto falava, ela agarrou o braço de Júlia: — Foi por pouco, viu? Se não fosse por você, a gente
José: [Sim. Alguém invadiu a sala de monitoramento e usou o sistema para trazer o vírus para a rede interna.]Júlia: [Quem foi?]José: [A pessoa estava encapuzada, não dá pra ver o rosto. Mas é alguém de dentro da Universidade B.]Júlia franziu os lábios e escreveu: [Não podemos deixar isso passar. Hoje foi um vírus, amanhã pode ser algo pior.]José segurava o celular e riu baixinho.O técnico ao lado dele olhou com uma expressão de curiosidade. O que poderia ser tão engraçado assim? Um sorriso repentino desses era de arrepiar...José respondeu: [Está bem, faremos do seu jeito.]Júlia sorriu, guardou o celular e foi para o banheiro tomar um banho.…A dor de cabeça causada pela ressaca fez Rafael inspirar fundo, sentindo o frio percorrer seu corpo.Ele se sentou na cama e olhou pela janela. O céu ainda estava escuro. Tinha dormido por um dia e uma noite inteiros.Seu estômago começou a doer de leve. Com movimentos automáticos, ele pegou o remédio no criado-mudo e, com a água já fria qu
— Sai daqui!— Rafael...— Eu mandei você sair, não ouviu? — A voz de Rafael ecoou fria e implacável.Viviane mordeu o lábio com força, tremendo de frustração e constrangimento. Seu corpo inteiro parecia vacilar sob o peso das palavras dele. Mas Rafael não demonstrava a menor compaixão. Seus olhos eram duros como pedra.— E mais uma coisa. — Ele acrescentou, sem o menor traço de piedade. — Daqui pra frente, sem a minha permissão, você não entra mais neste quarto. Está ouvindo?— Por quê? — Viviane levantou o rosto, os olhos marejados de lágrimas. — Este é o quarto principal. Deveria ser o nosso quarto. Por que eu não posso entrar?— Nosso? — O sorriso de Rafael, agora, era quase cruel. — Você acha que tem esse direito?Viviane deu um passo em falso, sentindo as pernas fraquejarem. Parecia que iria desabar a qualquer momento. Mas Rafael sequer fez menção de ajudá-la. Pelo contrário, seus olhos mostravam um desprezo claro, como se estivesse assistindo a uma cena de teatro mal encenada, e