Assim que falou, temendo que Patrícia insistisse no assunto, Júlia tratou de mudar o foco da conversa:— Tô com fome, e não combinamos de ir a um restaurante? Vamos lá comer.Havia um restaurante italiano que ficava lotado nos finais de semana. Patrícia tinha reservado uma mesa com dois dias de antecedência e, mesmo assim, quase não conseguiu.O restaurante ficava perto de uma fazenda, e os embutidos e queijos eram trazidos fresquinhos de lá.Júlia não costumava comer massas e frutos do mar, mas de vez em quando gostava de variar, e ali era um dos seus lugares preferidos.Principalmente porque as pizzas eram feitas com farinha de alta qualidade e o queijo mais fresco. O aroma já tomava conta do lugar antes mesmo da pizza chegar à mesa.Patrícia, animada, sentou-se e começou a apontar no cardápio:— Esse, esse e esse... Ah, e mais esse e esse... Duas porções de cada.Patrícia havia perdido peso naquela semana, por causa do excesso de trabalho, então agora queria aproveitar a folga e com
José tinha um carro, e os dois seguiam na mesma direção, então Júlia naturalmente foi junto com ele.O prédio antigo não tinha garagem, então precisaram estacionar no shopping do outro lado da rua e caminhar de volta até o edifício.No caminho, passaram por um bosque de álamos, e de repente, um vento forte soprou.Os flocos de álamo subiram aos montes, voando por toda parte, parecendo pequenos flocos de neve soltos no ar.Júlia não conseguiu evitar um espirro:— Desculpa, eu... Ah... Atchim!Foram vários espirros seguidos, e José percebeu que ela estava tendo uma reação alérgica. Rapidamente, pegou do bolso um pacote de lenços, abriu e estendeu um para ela:— Cobre o rosto e respira devagar.Júlia fez o que ele sugeriu, e seu nariz realmente se acalmou um pouco.Eles apressaram o passo para chegar logo em casa.Na porta do prédio, despediram-se rapidamente, e assim que Júlia entrou em seu apartamento, soltou mais uma sequência de espirros.Quando finalmente parou, seu nariz estava comp
Rafael recuou as mãos imediatamente, como uma criança que fez algo errado:— Desculpa, Jú, eu não queria... Eu não sei o que deu em mim... Eu só não queria que você fugisse, que ficasse longe de mim...— Não me toca! — Júlia segurava a cabeça, com os olhos cheios de lágrimas pela dor.Nesse momento, André finalmente chegou, apressado. Junto com ele, veio Lucas.— Tá tudo bem? — Perguntou Lucas e ignorou Rafael e foi direto para Júlia, a preocupação evidente em sua voz.Quando André ligou, Lucas estava em uma reunião de negócios. Se tudo corresse bem, fecharia um contrato de seis milhões naquela noite.Mas ao saber que Júlia estava em perigo, deixou o cliente falando sozinho e saiu imediatamente.Dirigiu a toda velocidade, e, depois de dez minutos, encontrou André na entrada do beco.Eles trocaram um olhar rápido e correram para o prédio de Júlia. Como esperado, encontraram Rafael fora de controle.Júlia evitava a aproximação de Rafael, mas também se afastou do toque de Lucas. Ela deu u
Rafael cambaleou:— O que você quer dizer com isso?— O que eu quero dizer você não entende? Ah, claro, você acha que escondeu tudo muito bem, mas a Júlia não é nenhuma boba. — Disse Lucas.Rafael percebeu outra intenção nas palavras e agarrou Lucas pela gola, o olhar feroz:— O que você contou para ela, afinal?— Pelo visto, você ainda não entendeu por que vocês terminaram.— Fala como se soubesse de tudo!Lucas respondeu:— Claro que sei.— Cala a boca!Lucas o empurrou, ajeitou a gola da própria camisa e, com um olhar de desprezo:— Olha pra você, Rafael... Parece um cachorro sarnento...André interrompeu:— Chega! Vocês dois, vão morrer se ficarem em silêncio por um minuto? Todo mundo aqui é amigo, não precisa disso.Rafael retrucou:— Quem é amigo dele?Lucas:— Eu também não quero um amigo desses.André ficou sem palavras.Rafael apontou para Lucas, ameaçando:— Fique longe da Júlia, senão…Lucas:— Senão o quê?Rafael:— Não me faça esquecer todos esses anos de amizade!Lucas di
Rafael não respondeu.Quando chegou na entrada do prédio, André conseguiu alcançá-lo e o segurou firme:— Para com isso, Rafael, volta pra casa! A Júlia não vai abrir a porta pra você...— Eu tenho algo pra ela. — Disse Rafael.André ficou surpreso:— O quê?Rafael tirou do bolso uma pomada antialérgica:— Nessa época do ano, ela tem alergia. Eu trouxe isso pra ela...André sentiu um nó na garganta. Era difícil de entender como um casal que um dia se amou tanto havia chegado àquela situação.— Sim. — Rafael assentiu, insistindo. — Eu vim trazer a pomada pra ela... Preciso entregar... preciso...A voz de Rafael foi ficando mais fraca, até que ele apagou e desabou, desmaiando no chão. André o segurou rapidamente e o arrastou até o carro.Depois de colocá-lo com segurança no banco de trás, olhou para o carro parado na esquina e suspirou profundamente...Quando finalmente deixou Rafael em casa, já era uma da manhã.A empregada abriu a porta, e André disse:— Rápido, me ajude! Ele está bêba
— Jú... Sinto tanta saudade de você... Volta, por favor?A única resposta que Rafael recebeu foi a escuridão da sala e o vento frio e impiedoso que assobiava do lado de fora da janela....No dia seguinte, Júlia acordou bem cedo. Lavou o rosto, fez o café da manhã, arrumou-se e se preparou para sair em direção ao laboratório. Ao fechar a porta, percebeu que havia uma sacola pendurada na maçaneta, com um tubo de pomada antialérgica para rinite.Era justamente a marca que ela estava acostumada a usar.Ela olhou em volta. Quem teria deixado aquilo?De repente, seu olhar se fixou na porta do apartamento em frente. Júlia observou a pomada em suas mãos e, curiosa, examinou melhor a sacola.Estava prestes a bater na porta e perguntar a José se ele era o responsável quando, de repente, a porta foi aberta com um puxão.José surgiu com um semblante sério e, ao vê-la, parou por um instante.Júlia percebeu a expressão preocupada do homem e perguntou:— O que aconteceu?José, sem rodeios, respondeu
O técnico suspirou, visivelmente exasperado:— Em poucos minutos, você já me perguntou isso cinco vezes. Ainda estou verificando. Deixe-me descobrir o que causou o problema, só assim posso tentar recuperar os dados para vocês.Arthur se apressou em responder:— Claro, não vou te atrapalhar mais. Pode focar na análise.Mesmo assim, não pôde evitar de lançar um olhar na direção de José, preocupado que ele pudesse culpar Amanda pelo ocorrido.Pensando nisso, Arthur se aproximou e murmurou:— Professor José, eu estava com a Amanda quando ela desligou o computador. Posso garantir que foi um acidente. Ela mal descansou esses dias para inserir todos os dados. Não faria algo assim de propósito...José passou a mão pela testa, massageando as têmporas:— Não vou tirar conclusões precipitadas antes de entender o que realmente aconteceu.Ele não duvidava da integridade de Amanda, mas preferia manter todas as possibilidades em aberto. Não assumia a pior hipótese, nem fazia suposições otimistas; par
— Há seis meses, eles lançaram uma nova funcionalidade. Júlia comentou, e o técnico que estava consertando o computador arregalou os olhos:— Você está falando do Registrador de IA, né? Todos ficaram com uma expressão de perplexidade. Não era a área deles, e realmente não entendiam muito sobre o assunto.— Você deve estar se referindo à inteligência artificial da Sun, adicionada na última atualização do software, mas esse recurso ainda é bem limitado. — Disse José.Grandes quantidades de dados foram carregadas para a nuvem sem qualquer tipo de categorização, impossibilitando uma busca por data de armazenamento. Atualmente, a única forma de busca era por palavras-chave.Em outras palavras, não só era preciso saber qual parte dos dados foi perdida, mas também lembrar o conteúdo exato desses dados. Não precisava lembrar de tudo, mas pelo menos de um décimo.Só assim era possível fazer uma busca precisa, caso contrário, era como procurar uma agulha no palheiro.— Um décimo... Isso é muit