Sofia entregou o documento para Júlia.Júlia conferiu, confirmou que era o original e trocou pela cópia que estava em suas mãos.Sofia soltou um suspiro de alívio:— Desculpa mesmo, é a primeira vez que cuido de uma venda de casa, ainda estou aprendendo, e acabei atrasando vocês…— Tudo bem.Paula estava do lado, entendendo cada palavra, mas sem conseguir processar.Paula apontou para o papel na mão de Sofia:— Você… disse que esse documento é o quê?— Contrato de compra da casa.— De quem?— Da Júlia, claro, ela comprou a casa.Paula quase perdeu o equilíbrio:— Você está dizendo que ela, a Júlia, comprou uma casa aqui?!Sofia respondeu, sem entender por que tantas perguntas estranhas:— Claro.Pareceu que Paula foi atingida por um raio, ela perguntou:— Não pode ser! Qual foi? O bloco 19 ou 20? Em que andar? Qual o tamanho?— Senhora, acho que está confundindo as coisas. Os blocos 19 e 20 são apartamentos comuns que estão à venda. A Júlia comprou uma casa, uma das nossas vilas.O quê
Paula ficou um pouco nervosa:— Pode deixar para amanhã? Amanhã com certeza eu volto para fechar.A funcionária franziu o cenho:— Tudo bem, amanhã a gente vê. Mas se alguém fechar antes, aí não tem o que fazer.Paula hesitou:— Então, deixa eu só fazer uma ligação, pode ser?— Claro.Paula saiu da área VIP, encontrou um canto mais afastado e, antes de ligar, ainda deu uma olhada em volta para garantir que Júlia e Camila não estivessem escutando. Só depois disso, apertou o número.Ela disse imediatamente:— Oi, pai! Sou eu! Hoje vim aqui na Vila Verde ver uma casa para você e a mãe… Sim, é aquele condomínio famoso, está bombando! Eu e Henrique já vimos tudo, o lugar é ótimo… Sim, está bem concorrido! Que tal vocês virem hoje mesmo para assinar o contrato? Assim fica garantido.O plano de Paula era claro.O apartamento onde mora agora não é ruim, mas comparado à Vila Verde, não chega nem perto.Se os pais querem trocar de casa, ela já pensou em convencê-los a comprar esse apartamento ma
Pensando nisso, Paula não pôde evitar sentir um certo desconforto.Os três irmãos Ferreira tinham destinos bem diferentes. O mais velho, Gustavo, vivia de maneira invejável. Ele já era um grande empresário, e a vida dele e da sua família já estava em outro nível, distante de pessoas comuns como eles.Em seguida, vinha a sua própria família. Embora Henrique não fosse tão bem-sucedido quanto Gustavo, ainda assim, estavam em uma posição relativamente confortável.Graças às conexões dos seus pais, ele conseguiu o cargo de gerente em uma empresa de inspeção, um trabalho tranquilo, com um salário anual de cerca de 300 mil reais.Ela mesma tinha um emprego estável na Companhia Elétrica, e agora até Carla havia conseguido um lugar lá. No geral, formavam uma família de classe média alta, sem grandes preocupações financeiras.Por último, a situação de Gustavo e sua família era a mais precária. Mesmo tendo se formado na renomada Universidade Q, ele acabou voltando para sua cidade e assumindo o ca
Natália captou rapidamente a mensagem: — Você disse que foi a Júlia quem comprou a mansão?— Isso mesmo, essa menina realmente se deu bem! Diferente da nossa Carla, que só conseguiu aquele emprego fixo na empresa de Companhia Elétrica…— E de onde a Júlia tirou tanto dinheiro?Paula colocou a mão na boca, sorrindo com malícia:— Ah, isso eu já não sei. Mas você mesma disse, ela é uma jovem… E hoje em dia, as meninas sabem como se virar. Roupas de grife, bolsas de luxo… se não podem comprar, sempre tem alguém que dá de presente, né?Natália franziu as sobrancelhas, incomodada.Paula continuou:— Olha só, eu e minha língua! Falei demais, coisas que não devia… tá bom, continua aí com o que você tava fazendo, vou desligar.Paula sabia quando parar e não insistiu muito.Natália, por outro lado, ficou segurando o celular já desligado, pensativa.Assim que terminou a ligação com Natália, Paula ligou para Elisa:— Elisa? Aqui é a Paula…— Ainda bem que você ligou, estava mesmo pensando em te
— Não se preocupe. Quando a situação melhorar e o dinheiro entrar, compramos de alguém e pronto.Elisa suspirou, queria perguntar quem compra casa de segunda mão para casamento?Mas, vendo as dificuldades do momento, resolveu não insistir.Porém, o Vila Verde se tornou uma obsessão para ela.Não comprar a casa a deixava inquieta, comprar, entretanto, era financeiramente inviável.Elisa perguntou novamente para Paula:— Você tem certeza de que é o Vila Verde?Paula sorriu de canto. Ela sabia que ninguém esperava isso da família de Gustavo:— Vi o contrato de compra com meus próprios olhos, preto no branco! Não tem como ser mentira, até a Camila confirmou. Diz que foi um presente da Júlia para eles. Ah, como eu queria ter uma filha assim, viu? Não dá para subestimar a Júlia só porque é mulher. Pelo visto, ela está melhor que o Vitor!Vitor tinha sua empresa, mas não tinha comprado uma casa para os pais.Elisa perguntou, tentando disfarçar o desconforto:— Mas a Júlia tem tanto dinheiro a
Natália trocou os sapatos e deu uma olhada rápida pela sala, notando várias caixas grandes empilhadas em um canto. Sentou-se no sofá com tranquilidade.Ela perguntou:— Vocês estão… fazendo uma limpeza geral?Camila sorriu de leve:— Não, estamos só arrumando uns lençóis, roupas…Natália olhou novamente para as caixas:— Já embalaram tudo?Camila respondeu:— Quase tudo.Natália continuou:— Vocês vão se mudar?Gustavo confirmou:— Vamos.— Para onde?Gustavo e Camila trocaram um olhar. Não havia razão para esconder; mais cedo ou mais tarde, todos saberiam.Gustavo disse:— Vamos para aquele novo condomínio aqui perto, Vila Verde.— Vocês compraram um apartamento?Ele balançou a cabeça:— Não, compramos uma mansão.Natália disfarçou sua surpresa de maneira impecável, como se só agora estivesse descobrindo a novidade:— Onde você arrumou tanto dinheiro? A mansão mais barata na Vila Verde custa pelo menos uns três, quatro milhões… você…Ela hesitou por um momento, demonstrando uma leve p
Natália olhou séria para Júlia e disse:— O que eu quero dizer é bem simples: como mulheres, por mais difícil que seja, não podemos pegar atalhos. Temos que seguir com os pés no chão, sem recorrer a caminhos errados ou pensar que a sorte vai resolver tudo.Júlia concordou com a cabeça:— É, realmente é assim.Natália disse com um ar de alívio, como se visse esperança:— Você concorda, né?— Claro.Ela assentiu, satisfeita:— Ótimo, então fico mais tranquila. Acho melhor devolver a casa quanto antes. Talvez você perca um pouco na taxa, mas pelo menos fica em paz, né?Júlia ficou perplexa e não disse nada.Natália perguntou, com o rosto já ficando sério, sentindo que tudo o que dissera tinha sido em vão:— O quê? Está com pena de devolver?Júlia riu, entendendo finalmente o motivo de tanta conversa:— Olha, tia, tudo o que você falou eu concordo. Sim, as mulheres devem contar com elas mesmas. Mas…Ela mudou o tom:— Eu não dependo de ninguém. Então, vou encarar suas palavras como uma tro
Plantar verduras, criar peixes… agora a família vai ter comida à vontade!Laura apareceu na entrada do jardim, braços cruzados e com um sorriso malicioso:— Vão se mudar?Gustavo não deu bola e continuou cavando a terra com afinco.Camila, que estava saindo de casa, ouviu a voz dela e imediatamente deu meia-volta. Prefere não ver para não se incomodar.Laura fez uma careta:— Do que adianta esse orgulho todo? No fim, fui eu quem fez eles saírem…Uma vizinha perguntou, que a encontrou voltando do mercado:— Laura, foi comprar comida?Laura disse, se gabando um pouco:— Sim, comprei uns ovos. A essa hora sai bem mais barato do que de manhã, quando está lotado!Ela não era de se gabar, mas, verdade seja dita, ninguém no bairro sabia fazer as compras tão bem quanto ela.A vizinha disse:— Vou tentar da próxima vez. A propósito, ouviu a novidade? Parece que o professor do seu lado vai se mudar.Laura fez um aceno:— Já sabia. Mas duvido que onde queira que tenham alugado seja tão prático qu