Natália olhou séria para Júlia e disse:— O que eu quero dizer é bem simples: como mulheres, por mais difícil que seja, não podemos pegar atalhos. Temos que seguir com os pés no chão, sem recorrer a caminhos errados ou pensar que a sorte vai resolver tudo.Júlia concordou com a cabeça:— É, realmente é assim.Natália disse com um ar de alívio, como se visse esperança:— Você concorda, né?— Claro.Ela assentiu, satisfeita:— Ótimo, então fico mais tranquila. Acho melhor devolver a casa quanto antes. Talvez você perca um pouco na taxa, mas pelo menos fica em paz, né?Júlia ficou perplexa e não disse nada.Natália perguntou, com o rosto já ficando sério, sentindo que tudo o que dissera tinha sido em vão:— O quê? Está com pena de devolver?Júlia riu, entendendo finalmente o motivo de tanta conversa:— Olha, tia, tudo o que você falou eu concordo. Sim, as mulheres devem contar com elas mesmas. Mas…Ela mudou o tom:— Eu não dependo de ninguém. Então, vou encarar suas palavras como uma tro
Plantar verduras, criar peixes… agora a família vai ter comida à vontade!Laura apareceu na entrada do jardim, braços cruzados e com um sorriso malicioso:— Vão se mudar?Gustavo não deu bola e continuou cavando a terra com afinco.Camila, que estava saindo de casa, ouviu a voz dela e imediatamente deu meia-volta. Prefere não ver para não se incomodar.Laura fez uma careta:— Do que adianta esse orgulho todo? No fim, fui eu quem fez eles saírem…Uma vizinha perguntou, que a encontrou voltando do mercado:— Laura, foi comprar comida?Laura disse, se gabando um pouco:— Sim, comprei uns ovos. A essa hora sai bem mais barato do que de manhã, quando está lotado!Ela não era de se gabar, mas, verdade seja dita, ninguém no bairro sabia fazer as compras tão bem quanto ela.A vizinha disse:— Vou tentar da próxima vez. A propósito, ouviu a novidade? Parece que o professor do seu lado vai se mudar.Laura fez um aceno:— Já sabia. Mas duvido que onde queira que tenham alugado seja tão prático qu
Gustavo hesitou por um momento:— Vou conversar com a Camila primeiro…A voz da Bruna ficou séria:— Conversar? Conversar o quê? Você é homem, é o chefe da família! Uma coisa tão simples assim, você ainda precisa perguntar para sua mulher para tomar uma decisão?Gustavo explicou:— Mãe, isso não tem nada a ver com ser o chefe da família, é uma questão de respeito básico. Tenho que pelo menos falar com a Camila antes…— Que fracote! Pode conversar o quanto quiser. Se ela concordar, ótimo. Se não concordar, tanto faz. De qualquer jeito, eu e seu pai vamos amanhã!Dizendo isso, Bruna desligou o celular com um estalo.Gustavo ficou silencio.Camila perguntou, entrando do jardim e vendo o marido coçando a cabeça:— O que foi? Quem estava no telefone?— A minha mãe…— O que ela disse?— Que vêm amanhã para o almoço e para aquecer a atmosfera da casa nova…Camila sorriu levemente:— Ótimo, vamos chamar o Caio, o Henrique, a Natália e todos eles também.... No dia seguinte, logo cedo, Camila
Ela comentou algumas palavras que, à primeira vista, pareciam inofensivas, mas o tom definitivamente não era amigável.Elisa piscou os olhos com intrigada:— Afinal, Júlia trabalha com o quê em Cidade J? Porque, sinceramente, não é qualquer pessoa que consegue juntar alguns milhões assim.Júlia franziu a testa, mas Camila apertou sua mão, sinalizando que deixasse com ela.Camila disse seriamente:— Depois que a Júlia se formou, embora não tenha feito mestrado, também não ficou parada. Ela já passou por alguns empregos e economizou um dinheirinho.Natália deu uma risadinha sarcástica:— Que ótimo se foi ela mesma que economizou, mas o que preocupa é quando as meninas se perdem, desviam do caminho certo.Camila respondeu sem perder a calma:— Obrigada pela preocupação, Natália, mas ela já é adulta e tem seus próprios planos. Nosso papel, como pais e tios, é apenas apoiar.Paula levantou a sobrancelha:— Planos? Pelo que você está dizendo, parece que Júlia já tem algo em mente. Vai voltar
As pessoas correram imediatamente para o segundo andar, seguindo o som até o quarto de Júlia. Ao chegarem lá, se depararam com a seguinte cena:Carla estava sentada no chão, com duas bolsas espalhadas ao seu redor. Ao ver todo mundo entrando, ela começou a chorar alto, chutando as pernas de forma descontrolada, parecendo uma criança fazendo birra.Paula correu até ela, agachando-se ao seu lado:— Carla, o que aconteceu? Não assusta a mamãe. Vamos, levanta-se…— Eu não! Hoje, se Júlia não se desculpar, eu não vou me levantar!Júlia riu com desdém:— Tudo bem, então fique aí sentada. Ou pode se deitar, se preferir.— Você!Os olhos de Paula se estreitaram:— Desculpar-se por quê? O que aconteceu? Fala para a mamãe.— Mãe! Júlia me bateu...Paula arregalou os olhos, virando-se para Júlia:— Como você pode bater nela?Júlia explicou:— Tia, eu entrei no meu quarto e ouvi barulho no closet. Achei que fosse um ladrão, por isso…, mas, na verdade, eu também gostaria de saber por que a Carla es
Júlia ainda achava que era a mesma de antes?Tantos anos após se formar na universidade, ainda queria voltar a estudar?Sonha!Logo, quando sair o resultado, ela vai passar vergonha!Elisa comentou:— Após ouvir a Carla, fiquei curiosa também.Natália sorriu:— É verdade, estamos curiosos, né, Júlia? Por que você não verifica logo? Vamos dar uma olhada todos juntos. Não precisa ficar tão tensa, viu? Independentemente do resultado, passar ou não, tudo bem.Camila olhou para a filha, querendo recusar, mas Júlia respondeu sorrindo:— Claro.Todos se aproximaram do computador. Júlia já tinha inserido o número do registro e a senha, bastava apertar a tecla Enter para ver o resultado.Júlia estava um pouco nervosa e disse:— Pai, pode ser você.— Eu?— Sim, lembra que foi você quem viu minha nota do ENEM?— Certo.Gustavo esfregou as mãos, respirou fundo e apertou Enter.A página carregou e travou, mostrando que estava processando os dados.Todos prenderam a respiração.Um segundo, dois segu
Ela ainda estava preocupada de que talvez perdesse o aniversário de Camila, mas felizmente o presente chegou no dia anterior.Camila segurou o livro encantada:— Como você sabia que eu estava procurando essa edição original?Júlia respondeu com um sorriso:— Você vive falando disso, seria difícil eu não saber.Camila bufou:— Quem mandou você demorar tanto para voltar para casa… Mas obrigada, meu docinho, adorei o presente.Ela sorriu carinhosamente, deu um abraço em Júlia e passou a mão pelos seus cabelos de forma afetuosa:— Lembro que você sempre manteve o cabelo comprido. Por que cortou?Júlia perguntou, encostando-se mais nela:— Não ficou bom curto?Camila respondeu com firmeza:— Ficou ótimo. Minha filha é linda de qualquer jeito!Júlia sorriu e se aconchegou ainda mais.Camila perguntou:— A prova escrita já foi, e agora vem a entrevista, né? Você vai voltar para a cidade J?Júlia hesitou por um instante, depois respondeu com um leve ‘sim’.Camila sorriu suavemente:— Eu já sab
Ela mesma ainda estava sem uma ideia clara.José tinha um sorriso leve nos olhos escuros:— Você mesma disse, não passar seria uma ‘hipótese’. Eu acredito no que é provável de acontecer.Júlia deu um sorriso:— Então, vou aceitar suas palavras como um bom presságio....A entrevista de mestrado estava marcada para o início de setembro.Júlia escolheu um conjunto formal, com sapatos pretos de salto baixo. Era uma roupa simples, sem chamar muita atenção, mas também sem erros. Antes de sair, ela pegou um lenço com estampas laranja e verde e o amarrou no pescoço, dando um toque de estilo ao visual sóbrio.Na noite anterior, tinha chovido. O chão estava úmido, e o ar carregava aquela sensação de calor abafado, como se o mundo estivesse preso num saco plástico.Júlia observava as pessoas entrando e saindo da sala de espera. Alguns suspiravam, outros pareciam nervosos. No entanto, ela estava tranquila.Uma garota sentada atrás dela cutucou seu ombro, perguntando baixinho:— Ei, você não tá