Ela comentou algumas palavras que, à primeira vista, pareciam inofensivas, mas o tom definitivamente não era amigável.Elisa piscou os olhos com intrigada:— Afinal, Júlia trabalha com o quê em Cidade J? Porque, sinceramente, não é qualquer pessoa que consegue juntar alguns milhões assim.Júlia franziu a testa, mas Camila apertou sua mão, sinalizando que deixasse com ela.Camila disse seriamente:— Depois que a Júlia se formou, embora não tenha feito mestrado, também não ficou parada. Ela já passou por alguns empregos e economizou um dinheirinho.Natália deu uma risadinha sarcástica:— Que ótimo se foi ela mesma que economizou, mas o que preocupa é quando as meninas se perdem, desviam do caminho certo.Camila respondeu sem perder a calma:— Obrigada pela preocupação, Natália, mas ela já é adulta e tem seus próprios planos. Nosso papel, como pais e tios, é apenas apoiar.Paula levantou a sobrancelha:— Planos? Pelo que você está dizendo, parece que Júlia já tem algo em mente. Vai voltar
As pessoas correram imediatamente para o segundo andar, seguindo o som até o quarto de Júlia. Ao chegarem lá, se depararam com a seguinte cena:Carla estava sentada no chão, com duas bolsas espalhadas ao seu redor. Ao ver todo mundo entrando, ela começou a chorar alto, chutando as pernas de forma descontrolada, parecendo uma criança fazendo birra.Paula correu até ela, agachando-se ao seu lado:— Carla, o que aconteceu? Não assusta a mamãe. Vamos, levanta-se…— Eu não! Hoje, se Júlia não se desculpar, eu não vou me levantar!Júlia riu com desdém:— Tudo bem, então fique aí sentada. Ou pode se deitar, se preferir.— Você!Os olhos de Paula se estreitaram:— Desculpar-se por quê? O que aconteceu? Fala para a mamãe.— Mãe! Júlia me bateu...Paula arregalou os olhos, virando-se para Júlia:— Como você pode bater nela?Júlia explicou:— Tia, eu entrei no meu quarto e ouvi barulho no closet. Achei que fosse um ladrão, por isso…, mas, na verdade, eu também gostaria de saber por que a Carla es
Júlia ainda achava que era a mesma de antes?Tantos anos após se formar na universidade, ainda queria voltar a estudar?Sonha!Logo, quando sair o resultado, ela vai passar vergonha!Elisa comentou:— Após ouvir a Carla, fiquei curiosa também.Natália sorriu:— É verdade, estamos curiosos, né, Júlia? Por que você não verifica logo? Vamos dar uma olhada todos juntos. Não precisa ficar tão tensa, viu? Independentemente do resultado, passar ou não, tudo bem.Camila olhou para a filha, querendo recusar, mas Júlia respondeu sorrindo:— Claro.Todos se aproximaram do computador. Júlia já tinha inserido o número do registro e a senha, bastava apertar a tecla Enter para ver o resultado.Júlia estava um pouco nervosa e disse:— Pai, pode ser você.— Eu?— Sim, lembra que foi você quem viu minha nota do ENEM?— Certo.Gustavo esfregou as mãos, respirou fundo e apertou Enter.A página carregou e travou, mostrando que estava processando os dados.Todos prenderam a respiração.Um segundo, dois segu
Ela ainda estava preocupada de que talvez perdesse o aniversário de Camila, mas felizmente o presente chegou no dia anterior.Camila segurou o livro encantada:— Como você sabia que eu estava procurando essa edição original?Júlia respondeu com um sorriso:— Você vive falando disso, seria difícil eu não saber.Camila bufou:— Quem mandou você demorar tanto para voltar para casa… Mas obrigada, meu docinho, adorei o presente.Ela sorriu carinhosamente, deu um abraço em Júlia e passou a mão pelos seus cabelos de forma afetuosa:— Lembro que você sempre manteve o cabelo comprido. Por que cortou?Júlia perguntou, encostando-se mais nela:— Não ficou bom curto?Camila respondeu com firmeza:— Ficou ótimo. Minha filha é linda de qualquer jeito!Júlia sorriu e se aconchegou ainda mais.Camila perguntou:— A prova escrita já foi, e agora vem a entrevista, né? Você vai voltar para a cidade J?Júlia hesitou por um instante, depois respondeu com um leve ‘sim’.Camila sorriu suavemente:— Eu já sab
Ela mesma ainda estava sem uma ideia clara.José tinha um sorriso leve nos olhos escuros:— Você mesma disse, não passar seria uma ‘hipótese’. Eu acredito no que é provável de acontecer.Júlia deu um sorriso:— Então, vou aceitar suas palavras como um bom presságio....A entrevista de mestrado estava marcada para o início de setembro.Júlia escolheu um conjunto formal, com sapatos pretos de salto baixo. Era uma roupa simples, sem chamar muita atenção, mas também sem erros. Antes de sair, ela pegou um lenço com estampas laranja e verde e o amarrou no pescoço, dando um toque de estilo ao visual sóbrio.Na noite anterior, tinha chovido. O chão estava úmido, e o ar carregava aquela sensação de calor abafado, como se o mundo estivesse preso num saco plástico.Júlia observava as pessoas entrando e saindo da sala de espera. Alguns suspiravam, outros pareciam nervosos. No entanto, ela estava tranquila.Uma garota sentada atrás dela cutucou seu ombro, perguntando baixinho:— Ei, você não tá
José tossiu levemente e disse:— É, mais ou menos.Alguém continuou perguntando:— O que são esses tais ‘quasi-crystals’?— São os chamados cristais quase-periódicos. Diferente dos cristais comuns, onde os átomos seguem uma simetria repetitiva, nos quase-cristais, os átomos estão organizados de uma maneira não periódica. O químico Dan Shechtman os descobriu e, por isso, ganhou o Prêmio Nobel de Química em 2011.— Entendi… espera, você disse Prêmio Nobel de quê?— De Química.— Não estamos entrevistando candidatos ao mestrado de biologia?Naquele momento, outro professor lembrou:— O professor José já avisou que suas perguntas não se limitariam à biologia.— Para uma estudante de graduação, essa pergunta é bem complicada. Ela foi bem nas primeiras, mas parece que agora deu azar...José comentou, com uma expressão neutra:— Difícil? Claro, você também pode desistir da resposta.Júlia levantou os olhos e o encarou:— Tem quadro branco e caneta?O ponto crucial dessa questão estava em ‘com
Júlia relaxou o punho cerrado, fez uma reverência educada e saiu da sala.Ao vê-la partir, outro professor brincou:— José, você não foi muito rígido com essa aluna? Aquele último problema, nem os alunos do último ano do mestrado conseguiriam resolver facilmente.José respondeu calmamente: — É normal querer saber até onde os bons alunos podem ir.De fato, ela mostrou ter mais potencial do que ele esperava.…Assim que saiu da sala de entrevista, Júlia recebeu uma mensagem de Patrícia.Uma semana antes, as duas combinaram de se encontrar depois da entrevista para comemorar em seu restaurante francês preferido.Júlia preparou-se para chamar um carro.De repente, uma voz familiar soou atrás dela:— Júlia? Não acredito que é você!Bianca Lima também estava ali para a segunda fase do processo seletivo, mas sua entrevista era à tarde.Ela chegou mais cedo para se familiarizar com o local e tentar se acalmar, mas não esperava encontrar Júlia.Bianca a olhou de cima a baixo:— Você já…Júlia
Bianca deu um sorriso frio:— Terminar com meu irmão foi o maior erro da sua vida. Sem ele, você não é nada! Não fique tão confiante. Ser a primeira na prova não garante que você vai passar. Vamos ver no final!Dizendo isso, ela endireitou as costas e saiu a passos firmes.Júlia manteve a expressão serena, desviou o olhar e continuou chamando o carro.Quando Patrícia ouviu o que aconteceu, quase explodiu de raiva:— Como você deixou ela sair assim? Por que não deu uma resposta à altura? Ficou só calada, deixando te provocar desse jeito?! Não consigo parar de pensar nisso. A Bianca ainda está na universidade B? Vou até lá agora e dou uma lição nela!Júlia riu:— Calma aí, não foi nada de mais, só umas provocações bobas. Já ouvi esse tipo de coisa tantas vezes.Ela continuou cortando o bife com calma, levando um pedaço à boca.Estava na temperatura ideal, suculento e saboroso.Como sempre, delicioso.Patrícia comentou com confusa:— Você é algum tipo de super-herói? Como consegue aguenta