Abro meus olhos com muito esforço devido à luz intensa que está mesmo sobre mim. Quando finalmente consigo ter os meus olhos abertos, dou por mim numa sala onde a luz é se torna mais intensa ao olhar para as paredes brancas que só refletem a luz. Não sei onde estou, nem o que estou aqui fazendo. Só me lembro de um barulho e de um clarão.
Estou quieta uns minutos até que ouço a porta da sala abrir e entre uma mulher vestida de branco e cabelo preso. Uma enfermeira, uma médica?
- Olá senhorita Renata! Como se sente? - ela não deve ser americana, tem sotaque britânico.
- O que aconteceu?- pergunto, mas as palavras demoram a sair. Tenho uma enorme sensação de formigamento na minha boca.
- Você foi atropelada e esteve em coma por uns cinco meses - diz a enfermeira enquanto me avalia para ver se está tudo bem -, mas você ainda precisa estar aqui pelo menos mais uma semana para recuperar. Sua família tem vindo aqui todos os dias, mas agora estão em casa. Está na hora de avisar eles que você acordou.
A enfermeira acaba de me avaliar e sai dizendo que vai chamar minha médica para me ver. Fico à espera que alguém entre (se eu estivesse a morrer, já estaria morta), e ao fim de uns 10 minutos a porta volta a abrir e entra uma mulher com aparência rude e com uns 60 anos.
- Bom dia, menina Renata! - diz a médica com uma voz suave - Estava começando a pensar que gostava muito de nós e que não queria ir embora. - me arrependo daquilo que pensei, na verdade ela parece muito simpática - Se sente bem?
- Sim, obrigada. - digo enquanto a médica olha uns papéis, provavelmente esses papéis indicam minha situação - Eu vou mesmo estar aqui mais uma semana?
- Não! - fala a médica e eu dou um ar de alívio - Pelo contrário. Você está melhor do que parece. Só precisamos de fazer mais umas análises e se tiver tudo bem, você pode ir para casa. Sua família já foi avisada e estão vindo para cá. A polícia também. Eles estão procurando quem atropelou você.
(...)
Ligo a pequena televisão que tem naquele quarto de hospital, e nas notícias estão falando que eu acordei, mas não presto muito atenção. Contudo reparo que tenho muitos fãs à porta do hospital à espera de notícias minhas.
A porta abre, mas dessa vez não é uma enfermeira ou uma médica. É a minha amiga Susy e o seu namorado Pedro, mas eles não vêm sozinhos. Com eles vem um homem com uma jaqueta de couro negra.
- Olá, amiga. Como se sente? - pergunta Susy, muito preocupada, mas com um meio sorriso. Ela é realmente incrível.
- Bem, obrigada! - descanso ela.
- Olá, boneca! - É assim como o Pedro me chama. Ele é como um irmão para mim. Eu me dou tão bem com ele como me dou com meu irmão de sangue. E Pedro e Susy ficam mesmo bem juntos, eles se merecem.
- Olá! - respondo a ele.
- Renata, esse é o inspetor James Weiss. É ele quem está investigando o seu atropelamento.
- Senhorita Cavalcante? Como vai? - pergunta o inspetor.
- Além de estar agarrada numa cama de hospital, vou bem obrigada. - respondo seca, mas logo me arrependo de ter falado assim. Afinal ele não me fez mal algum...
- Eu não a quero massacrar muito. Eu só queria saber se se lembra se algo antes do acidente?
- Acidente? Mas não foi um crime? - pergunto incrédula.
- Quando eu apanhar o culpado, eu lhe respondo se foi acidente ou um atropelamento propositado. Lembra? - o inspetor entra num estado de impaciência, o que me irrita.
- Não. A única coisa que eu me lembro é de um carro arrancando e de um clarão.
- Bem... Isso reforça a tese de atropelamento propositado. Ninguém atropelaria você sem querer se estivesse parado. - fala o inspetor enquanto escreve no seu bloco de papéis - Me vou embora agora e vou deixar você descansar.
Talvez seja necessário eu falar com você de novo. Passe bem.
(...)
Horas depois aparece minha família: minha mãe, meu irmão, minha cunhada, minhas sobrinhas e meu afilhado. É nesses momentos que vemos o quanto as pessoas gostam de nós.
(...)
Acabo por passar apenas mais dois dias do hospital, e quando saio sou "atropelada" por jornalistas que querem saber como estou e o que aconteceu. Os meus fãs gritavam por mim, mas não conseguia olhar para eles. Toda aquela confusão, todo aquele barulho só me dava dores de cabeça. Entro no carro com meu irmão que nos leva para o apartamento penthouse da minha família em Los Angeles. Quando chego ao apartamento, minha família estava lá e fico por uns minutos conversando com eles antes de ir para meu quarto descansar.
Ficamos em Los Angeles só mais alguns dias antes de voltar para o Brasil, e a investigação foi terminada por não existirem mais provas. Quando chegamos lá chegamos eu prefiro ficar longe das grandes cidades e vou para uma fazenda da minha família em Sarutaiá. Susy e Pedro vão comigo para me fazer companhia; eu disse que não era preciso, mas eles insistiram tanto que eu não pude dizer que não.
(...)
Semanas se passaram desde que eu cheguei a Sarutaiá e já estou quase completamente recuperada. Todos os dias eu me levanto e pego meu cavalo e vou passear pela fazenda. Claro que só comecei montando a cavalo depois que a fisioterapia terminou, e depois de me sentir melhor, mas esse ar me faz sentir bem. Susy e Pedro dizem que um dia se vão juntar a mim e vamos passear a cavalo, mas a preguiça dela e de Pedro é mais forte. Chego a casa e Susy está tomando o café da manhã.
- Bom dia preguiçosa! - diz Susy ironicamente.
- Preguiçosa? Quem? Eu? - rio - Você merece um prémio.
- Porquê?
- São 10:30h e você já está acordada! - sento-me e também começo comendo.
- Vou levar o café da manhã ao Pedro. - diz Susy, rindo.
- Você tá dando mimo demais para ele.
- E você precisa de um homem. - Susy fala, me fazendo revirar os olhos. Ele tem tido essa conversa muitas vezes ultimamente.
- Não comece com essa conversa outra vez... - digo pouco preocupada com aquilo que Susy vai dizendo.
- É sério! - ela pega no celular - Eu fiz até uma lista de pretendentes para você!
- Não! Eu não quero saber! - me levanto da mesa, toda essa conversa me fez perder o apetite - Estou bem sozinha, Susy.
- Você já não tem namorado desde que o Larazo te traiu. - diz ela, mas agora séria - Você precisa de alguém para fazer você feliz. Olha, vou falando de alguns caras e você diz o que pensa, está bem?
- Não! Eu vou tomar um banho. - saio de perto dela e vou subindo as escadas e grito - Você precisa ganhar juízo!
Chego ao meu quarto e penso naquilo que Susy falou. Tá na altura de pensar em mim. Eu não posso apenas pensar em trabalhar e fazer o mundo feliz. Eu preciso pensar em mim! Eu tenho que ser feliz! Mas isso que Susy fez, a lista, é absurdo. Dou por mim a rir de mim mesma.
Pela tarde, Pedro foi ao supermercado e Susy e eu ficamos vendo um filme.
- Desculpa aquilo de hoje de manhã. - Susy quebra o silêncio.
- O quê? - Pergunto.
- A minha vontade de arranjar um cara para você.
- Por amor de Deus! - rio - Você não precisa pedir desculpa por isso...
- Eu pensei que tivesse irritado você. - ela me interrompe - Eu sei que às vezes consigo ser mesmo chata.
- Você consegue mesmo. - rio - Mas você tem razão. Quer dizer, eu acho que preciso de pensar mais em mim.
Preciso ser feliz e...
- Isso quer dizer que vai ver minha lista!? - ela salta, me assustando, com um sorrisinho na cara.
- Não, isso quer dizer que vou esperar - Susy fica desiludida -, e se alguém aparecer na minha vida, logo se vê...
- Não quero saber o que você está falando - fala ela irritada -, eu perdi meu tempo fazendo essa lista. Se não gostar de ninguém, pelo menos a gente vê uns gatos. - eu começo rindo - Não se ria. Vamos ver?
- Vamos - falo para ela acalmar -, para ver se você se cala.
- Boa! - ela pega do celular e começa mostrando fotos de caras - Zac Efron?
- Não. Demasiado velho para mim. - falo, rindo.
- Você tá brincando, né? - ela olha para mim surpreendida - Ele só tem 28 anos!
- Ok, ele não é tão velho assim, mas comparando com a minha idade...
- Tudo bem... - ele procura outro - Taylor Lautner?
- Não.
- Por que não?
- Porque não... - na verdade eu só queria despachar isso...
- Você não tá nem p'ra mim, né? - ela olha para mim, com olhar de reprovação.
- Susy, é como eu falei, eu prefiro que as coisas aconteçam sozinhas.
- Então quer dizer que eu mesmo perdi mesmo esse tempo todo para nada? - diz ela enquanto vai deslizando o ecrã do celular. Mas vejo uma foto de um cara que me chamou à atenção. Quem era ele? Eu o perdi, pois Susy continuava a deslizar o ecrã com o dedo. Mas também não podia dizer a ela para parar e me mostrar o cara. Eu acabei de dizer que queria que as coisas acontecessem normalmente. Sinto um beliscão no meu braço. - Renata?
- Ai! - me queixo - O-o que foi?
- Me deixou falando sozinha... Que aconteceu?
- Nada - minto -, só tou cansada, é só isso.
- Você é demais! - ela ri - Bem, eu vou ao banheiro, volto já...
Ele se levanta e sai. Essa é a minha chance! Eu tenho que saber quem é o cara! Mas... o que se passa comigo?
Ao bocado disse que queria que as coisas acontecessem normalmente e agora estou fazendo o que Susy queria... Não quero saber! Pego o celular dela e procuro novamente o cara. O encontro e ele era realmente bonito: estava vestido com umas calças pretas e uma blusa branca com desenhos estampados; algumas pulseiras e um pendente que eu não consegui perceber bem o que era. O seu sorriso era branco, lindo e perfeito, e os seus olhos eram castanhos escuro e brilhantes. Tinha também barba o que o deixava ainda mais lindo. Mas além de ver quem ele era, eu precisava de saber o nome...
Leon Onete... Nunca ouvi falar dele. Mas também não tinha mais tempo para saber mais sobre ele. Ouvi Susy dar a descarga e estava vindo. Pousei o celular onde Susy o deixou, e quando ela chegou lhe disse que ia para o meu quarto.
Eu nunca realmente acreditei no amor à primeira vista, nem mesmo sei se estava mesmo apaixonada por esse tal Onete, mas houve algo nele que me chamou a atenção. Não sei se é curiosidade ou algo mais, mas tenho que saber quem ele é.
Chego ao meu quarto e pego no meu computador para procurar quem é esse Leon Onete. Entro na página da G****e e pesquiso por Leon Onete. Aparece página dele do Twitter e na sua descrição tem um link para o YouTube...
Ele é youtuber? Abro o link e acedo à página dele do Youtube e vou vendo alguns vídeos dele. Ele acaba por me conquistar com a boa disposição dele e subscrevo o canal dele. Continua saltando por alguns vídeos dele e um deles tem o meu nome. Abro esse vídeo e-e... ele é meu fã? Continuo vendo o vídeo e ele diz que me ama...
Será que ele ama mesmo, ou é só para o show?
Passei o resto dos meus dias no meu quarto vendo os vídeos do Leon. Eu ainda não tinha a certeza o que sentia por ele, mas ver os seus vídeos me faziam feliz; sempre que tinha um dia mais complicado, ver o Leon com toda aquela boa disposição me punha também bem disposta. Eu praticamente só saía do meu quarto para comer e nada mais, o que começou a criar suspeitas em Susy.- Ok. Agora me diga. O que passa com você? - fala Susy entrando repentinamente no meu quarto.- Não sei... O que passa comigo?- Você passa os dias enfiados no quarto, sempre agarrada ao celular, a fazer não sei o quê... Você nem tem ido às sessões de fisioterapia e...- Eu já me sinto melhor - interrompo-a.- Quem é ele? - eu olho para ela de baixo e ela ri - Quem é o cara?- Ele quem?- Com quem você tem andado a falar?<
Faz 3 semanas que estou em Riberão Preto e até agora nem sinal do Leon. Passo os meus dias num café que fica perto da morada que o Leon tem nos seus vídeos, mas ainda não o vi. Todos os dias minha mãe me liga para saber se estou bem e se já o encontrei e, como é óbvio, a minha resposta é sempre a mesma. Susy, quando descobriu que eu tinha vindo para Ribeirão Preto sem lhe contar, ficou um pouco chateada, mas depois percebeu a minha situação e até me desejou boa sorte. Ela queria vir, mas eu disse que não precisava. Na verdade, eu não queria que ela estivesse aqui, eu a conheço; se ela estivesse aqui comigo já o tinha encontrado, eu sei disso, mas todo o mundo saberia que eu estava aqui, e não queria. Eu não queria ser reconhecida. Mesmo assim às vezes alguns fãs meus ainda me reconheceram e pediam fotos e autógrafos, mas ped
O silêncio da sala foi quebrado quando uma garotinha gritou:- Tio! - Lívia, a sobrinha do Leon salta para o colo dele, e ele para pôr um momento de olhar para mim.- Bem. O jantar está pronto. Vamos jantar? - pergunta Vera.Fomos todos jantar e Vera e Paschoal se sentaram nas cabeças da mesa. Eu fiquei junto de Paschoal e depois estava Leon e a sua sobrinha Lívia, que deveria ter uns 3 ou 4 anos. Do outro lado estava o irmão de Leon e a sua mulher com as suas outras filhas, uma mais velha, Luíza, e uma bebé muito fofa. Durante o jantar eu e Leon não conversamos muito, melhor, a gente não conversou nada! O jantar se passou com Paschoal e Ricardo me fazendo perguntas sobre como é fazer filmes e telenovelas.Depois do jantar a gente foi para a sala estivemos mais algum tempo falando. Eram onze horas da noite e a cunhada de Leon foi pôr as filhas mais novas a dormir. O so
Eu e Leon estamos indo agora para São Paulo para gravar aquele vídeo que eu tinha prometido a ele. Pelo caminho a gente já decidiu o que iria gravar: iriamos ver fazer um desafio em que íamos à internet ver posições de ginástica e íamos tentar imitar. Leon conseguiu adormecer durante o voo, apesar ter sido rápido. Ele dorme com a boca aberta e fica tão engraçado assim. O avião aterriza, recolhemos as nossas maletas e apanhamos um táxi. O Leon diz a morada dele e o taxista parte em direção ao destino. Nós também já combinamos com Alex, o colega de casa de Leon, que eu iria passar uns dias no apartamento deles. Eu menti para o Leon e disse que não havia quartos liberados em São Paulo, perto da casa dele. Então ele me deixou ficar no apartamento dele.Chegamos ao apartamento e só logo barrada à entrada por Alex, q
Quando eu acordo, o outro lado da cama está frio. Meu braço se estica, procurando pelo corpo de Leon, mas encontra apenas um espaço vazio na cama, apesar de ela ser pequena.- Leon? – chamo por ele, esperando uma resposta, mas simplesmente recebo o silencio da casa. O Alex estava em casa? Ou eu estava completamente sozinha?Tinha apenas vestido uma lingerie e tinha uma blusa jogada no chão. Pego ela e a visto. Tem o mesmo cheiro da jaqueta que o Leon me deu em Ribeirão Preto. A jaqueta! Me lembro que não devolvi ela a Leon. Pego na minha maleta e tiro ela para fora. Me dirijo ao armário para meter ela junto das outras roupas de Leon. Mas a roupa dele não estava lá. Ele ainda não arrumou as roupas dele? Fecho as portas e vejo que as maletas de Leon também não estão no quarto. Sinto um pouco de vento entrando pelo quarto, vindo da janela, que me dá arrepios. Fecho ela
Ela foi embora e eu não pude fazer nada para impedir. Preferi continuar sendo orgulhoso e deixar a mulher que eu amo ir embora. Porra, como eu sou estúpido! Mas eu não tive escolha. "Eu não estou preparado para ter um relacionamento sério!", "Eu não sei o que os meus fãs podem pensar!", "As pessoas iriam falar que eu só estava com ela por interesse!". Essas são algumas das razões que eu dava para me pararem de chatear. Mas havia uma razão maior. Uma razão que já não me impede de ficar com Renata.Meus pais e toda a gente me xingaram por ter mandado ela embora, sabendo que nós nos envolvemos e que nos amávamos. Mas como disse: havia uma razão que impedia de ficar com ela. Na festa de aniversário do Mário, toda a gente reparou que eu estava lá de corpo, mas os pensamentos não estavam lá. Mais uma vez todo o mundo começo
Quando abro meus olhos, é como se ainda os tivesse fechados. A sala onde eu estou e completamente escura e tem um cheiro horrível. Uma pequena janela aberta, deixa passar o sol, iluminando assim um pouco o chão, no meio daquela escuridão. Mas mesmo assim, continua difícil ver alguma coisa.Me lembro de ter sido apanhada por dois homens e de depois ter apagado. Me lembro também de ouvir o som de um motor de um barco e de tudo estar mexendo, acompanhando o movimento de ondas, e de depois um homem aparecer e me dopar algo novamente que fez dormir. E agora tô aqui.Tento me levantar e tentar chegar até à pequena janela, para perceber onde eu estava. Olho pela janela e só vejo uma terra amarela, e sinto uma brisa quente batendo na minha cara. Ouço passos vindos de fora da porta daquela sala escura e então me deito na cama, fingindo que estava dormindo.A porta abre e entra um homem com
Eu e Renata tentamos fugir a noite passada. Eu finalmente tinha arranjado um jeito de fugir desse lugar horrível. Mas eles sabem que existem pessoas que querem fugir. Eu tenho a certeza que eles vão redobrar a segurança deste lugar depois o que aconteceu na noite de ontem. Mas penso que eles não desconfiam que sou eu e Renata quem quer fugir.Eles confiam muito em mim, e adoram a Renata. É a mais “bela criação” deles. Mas se desconfiam de algum de nós dois, prefiro que desconfiem de mim, ao invés dela. Ela não merece ser morta por minha culpa.Ainda tenho na minha cabeça o olhar assustado de Renata quando, ontem, eles apareceram e nós tivemos que fugir.Eu vou garantir que isso não volta a acontecer. Não a quero ver mais assustada. Agora só falarei para ela que tenho um novo jeito de fugi