Inicialmente eu pensei que ele estava procurando as palavras certas para falar. Mas o tempo foi passando e ele seguia me encarando, mudo e estático, como se tivesse levado um choque.Talvez Francis era muito mais covarde do que imaginei e jamais teria coragem de admitir que gostava de verdade de alguém. Ou quem sabe ele não sentia o mesmo que eu. A atração dele poderia sim ser só sexual e por isso ele propôs continuarmos amigos e transarmos vez ou outra.Eu fui usada, de um jeito ou de outro. Ele poderia ter acabado com tudo quando percebeu que eu estava envolvida. Porque acho que sempre deixei claro que para mim não era só sexo.Enfim, não precisava dar mais tempo para ele. Porque ele realmente não diria o que eu queria ouvir. Na verdade, acho que ele não tinha capacidade de dizer absolutamente nada naquele momento. E em nenhum outro.E aquilo doeu mais do que se ele dissesse sinceramente que não gostava de mim mais do que uma amiga. O silêncio machucava profundamente. Porque ele dei
Claro que eu sabia que Marcelus não era a solução dos meus problemas. E não era minha intenção usá-lo nem o deixar magoado, pois eu não era esse tipo de pessoa. Pelo contrário, eu me preocupava com as pessoas mais do que elas realmente mereciam.A semana passou e nestes dias eu fiz coisas importantes: não abri as mensagens de Francis, não retornei as ligações dele, recebi meu passaporte para dirigir, mesmo não tendo um carro e consegui ser aceita na faculdade.Compartilhei com meu pai a questão de estar apta para ser motorista e com Liam sobre iniciar a faculdade em poucos dias.Eu ainda estava tentando encontrar uma maneira de contar para a minha mãe que eu voltaria a estudar, sem que ela tivesse um AVC, infarto ou algo do tipo. Seria cruel matar a própria mãe por ser aceita na faculdade. Mas este era o meu caso, porque eu era filha de Michelle Miller, futura prefeita de Primavera, vuma mulher egoísta, egocêntrica, sem coração, sem alma, ambiciosa e que não queria que a filha fizesse
Que eu adorava uma rapidinha correndo risco de ser pega já estava claro. Eu nunca gozei tanto na vida quanto nos lugares inusitados que transei com Francis.Nunca imaginei que alguém pudesse acender meu fogo novamente. Quando deixei Francis, pensei que jamais sentiria prazer novamente. Não da forma como ele me dava. Mas eu estava enganada. Aquele homem conseguiu me atingir em cheio. Só o olhar dele sobre mim me excitava. Ele simplesmente era uma perdição.Mal nos falamos e ele já estava com os dedos na minha intimidade enquanto eu desabotoava a calça dele, sem que nossas bocas se desgrudassem. Ele não era do tipo que rasgava calcinhas. Era do tipo que arredava para o lado. Ah, eu gostava igual. Só não gostava dos que pediam permissão para tirar.- Você é muito gostosa... – ele disse enquanto enfiava dois dedos dentro de mim com uma mão e a outra apertava minha bunda, com os lábios ainda nos meus.- Tudo... Menos me chamar de gostosa. – pedi, entre um gemido e outro.Ouvi a risada dele
- Assustou sim... Assombração da minha vida. – falei, seriamente tentando passar por ele, que me impediu.- Assombração? Eu sou a salvação da sua vida, “mulher”.- Não me chame de “mulher”. Eu não sou sua mulher.- Você é minha mulher e sei que gosta quando a chamo assim... Só gosta mais quando chamo de gostosa. – falou baixo, tão próximo de mim que senti seu hálito quente.- Está me vigiando agora?- O médico, porra? Jura que vai ficar com o médico? Isso é jogo baixo.- Jogo baixo é você transar com outra mulher antes de vir dormir comigo.- Eu não fiz isto. Tentei mostrar a prova, mas você não quis ver. Aliás, eu já tentei de tudo. Não sei o que você quer de mim.Só quero que diga que me ama, Francis, como eu amo você. Mas não porque acha que se não disser, vai me perder. Quero que fale se este sentimento realmente existir dentro de você.- Eu não quero nada de você, Francis. – falei, incerta, com a voz fraquejando.- Vi...- Vai procurar Júlia... Ou quem sabe Dothy. – sugeri tentan
Pois bem, eu começava a entender o motivo de Otávio e sua família estarem ali. Ela estava usando-os para ganhar a eleição. A família perfeita, que nunca existiu, mas estaria retratada numa foto, na qual todos acreditariam. A cidade inteira conhecia Michelle Miller e seu temperamento explosivo. Mas nas últimas semanas ela estava mudada da porta para fora de casa: contida, educada, preocupada e cheia de carinho. E as pessoas esqueciam fácil o que ela era antes de ser Michelle Bondosa. Um bando de hipócritas. Eu que não estaria em casa às 17 horas.Cheguei no quarto de Liam e ele e Andréia dormiam agarrados, como eu a Francis fazíamos a alguns dias atrás. No meu quarto, uma Joice quase caindo da cama. Era melhor dormir com ela do que no meio de Liam e Andréia. E a cama de Francis, embora me chamasse furtivamente, seria só para sexo. E eu não queria mais ser usada por ele como um objeto.Se Francis me amasse, já teria dito. Não da forma como falou, da boca pra fora, naquela manhã. Não adi
Então a foto em família, tão planejada pela minha mãe, foi feita com Dom no lugar de Joice. Michelle Miller não fez questão de esperar a enteada para a foto. Ao mesmo tempo que quase obrigou o Dr. Domênico a fotografar. E assim ela usou as imagens em prol de si mesma, em sua campanha eleitoral. A mãe perfeita, esposa dedicada, madrasta amada e talvez amiga do ex-presidente de Noriah, Dr. Domênico, conhecido por todos.Eu chegava a rir sozinha de tão cômica e triste que era aquela vida sob o mesmo teto de Michelle Miller.Assim que passei pela porta, naquele final de domingo, ela estava esperando por mim, sentada confortavelmente na poltrona, entre a cozinha e sala.- Onde ele está? – perguntou.- Ele quem? – fiquei confusa.- Dr. Domênico. – questionou, curiosa.- Foi embora.- Mas ele volta?- Creio que não. Já resolvemos tudo que tínhamos para resolver.Ela levantou e me encarou:- Com assim? Eu não acredito que você dispensou ele.- Mais ou menos. Acho que fui dispensada. Ele é ami
Diariamente eu ficava olhando o celular, na esperança de Francis mandar qualquer mensagem. Não sabia sequer se ele viria na festa de Natal.Me arrumei para a entrevista à tarde e antes de sair passei na casa dos Provost. Irina atendeu:- Oi, Virgínia.- Irina... – abracei-a. – Aposto que está sentindo saudades da bagunça que eu e Francis deixávamos para você.Ela riu:- Confesso que sim. A casa e a vida é completamente vazia sem vocês dois.- Sabe que pode me chamar quando se sentir sozinha... Estou sempre por aqui... Sem um lugar legal para ir. – brinquei.- Quer saber do meu filho? – ela sorriu ironicamente.- Bem... Mais ou menos. Vocês... Vão participar da festa de Natal na minha casa?- Sim.- Todos vocês?Ela riu:- Querida, não sei se Francis vem.- Como assim?- Talvez ele passe com alguns amigos.- Mas... Eu sou a amiga dele.- Acho que já foram amigos... Será que ainda são?Não... Não éramos mais. E ele se afastou completamente de mim. E eu não sabia se foi porque confessei
A festa de Natal na casa de Michelle Miller seria o acontecimento do ano. Creio que nem o último baile de primavera tenha gerado tantos comentários quanto o evento na nossa casa.Todo mundo que coube estava no nosso pátio ou dentro de casa, na decoração perfeita que havia sido montada no jardim e na área gramada dos fundos.Além dos tradicionais pinheiros ornamentados espalhados por todos os lados, tinha um imponente, maior que os demais, que ficava no portão de entrada. Luzes redondas e coloridas espalhavam-se por cima de nossas cabeças, iluminando lindamente tudo. As mesas com as comidas estavam fartas e coloridas. Claro que entre um passo e outro, eu dava uma beliscada nos alimentos oferecidos. Escolhi um vestido vermelho justo e simples, mas que valorizava meu corpo “acima das medidas” padrão. Uma sandália dourada completou o look com cabelos presos num coque soltinho e maquiagem leve.Eu já tinha um copo de espumante na mão enquanto Michelle Miller ia de mesa em mesa, cumprimenta