- Que você seja muito feliz lá, minha querida. – Márcia disse, os olhos cheios de lágrimas em virtude da despedida.
- Dona Márcia, nunca esquecerei o que fez por mim e minha família. – abraçou a mulher e chorou – Eu queria que pudesse ir comigo, me sentiria mais segura.-Não posso, querida. Quem vai cuidar da minha casa, se eu for embora?Virgínia assentiu.A mulher beijou o rostinho de Diego e ajudou os dois a entrarem no quarto do advogado, que esperava pacientemente. Depois que as despedidas foram feitas e que todos estavam no carro, eles partiram, rumo a um futuro incerto que Virgínia temia que fosse um engano.Ainda não conseguia acreditar que ela e Diego tiveram tanta sorte de se tornar herdeiros de uma grande fortuna que os deixaria seguros pelo resto da vida.Durante a viagem, o advogado falou um pouco sobre a empresa, a diretoria era formada apenas por homens, por isso Virgínia não poderia se mostrar com medo ou insegura, senão seria massacrada. Ele garantiu que estaria auxiliando-a no que fosse necessário e sempre que ela quisesse.Poucas horas depois, o carro parava em frente a uma enorme construção antiga que parecia abandonada.Parecia uma casa mal assombrada, dos filmes de terror.Era uma casa muito grande, de dois andares, que, nos tempos áureos provavelmente tinha sido muito bonita e imponente no meio de uma propriedade arborizada. As árvores e a grama não viam um aparador há muito tempo.- Chegamos. - o homem disse, enquanto a ajudava a sair do carro com o bebê.Virgínia observou a construção que estava nitidamente deteriorada.- Antes de morrer, a Sra. Vera já não se preocupava mais com a manutenção da casa. Ela estava depressiva e só pensava em reencontrar seu pai. - o homem disse ao perceber o olhar de espanto de Virgínia.Era triste que tanto o pai quanto a avó tenham morrido brigados, os dois morreram sozinhos, com feridas ainda sangrando.Eles entraram e o homem foi mostrando cada canto da casa que era grande, com dois andares e precisava urgente de reparos. A escada para o segundo andar tinha alguns degraus com a madeira podre e um verdadeiro perigo, o chão estava quebrado e todo o ambiente cheio de poeira.Os dois combinaram de iniciar a reforma imediatamente, enquanto Virgínia e Diego se acomodavam no quarto menos ruim, que era o da falecida avó, o cômodo ficava na parte térrea da propriedade.O advogado instruíra aos empregados que moravam ali para que preparassem o quarto para Virgínia e o bebê, afinal eles precisavam ficar em algum lugar daquela casa enorme.O homem apresentou os empregados que permaneceram no local por todo aquele período: Celso, o caseiro e Naty, a cozinheira. Eles eram pai e filha. O homem era um senhor de estatura mediana e com a barriga tão proeminente como seu bigode grisalho, ele tinha os olhos bondosos e sorridentes. A garota era simpática e sorria abertamente, era alta, magra e tinha os cabelos castanho-claros presos em um rabo de cavalo.Virgínia gostou dos dois assim que os viu, Naty disse que adorava cuidar de crianças e já pegou Diego no colo, ninando o garotinho.- Onde estão as malas, senhora? – o caseiro perguntou, solícito.- Hm... no carro, mas não se preocupe, sr. Celso, eu posso pegar.O homem riu.- Não se preocupe, senhora. Vou levar tudo para o quarto da senhora sua avó. – ele saiu com Alberto para pegar as coisas dos novos donos da casa.- Ele é muito bonito. – Naty disse para ela – Seu filho é lindo.Virgínia sorriu e sentiu um aperto no peito ao ouvir aquilo. Todos pensavam que era a mãe do menino, sentia-se usurpando o lugar da irmã, por isso explicou que era tia dele e que a verdadeira mãe de Diego morrera logo após o garoto nascer.Naty ouviu tudo com tristeza, a menina parecia ser muito amável e carinhosa. Logo se desenvolveu um elo entre as duas e Virgínia sentiu-se mais calma, por perceber que não estaria ali com pessoas ruins.Quando suas coisas já estavam no quarto e Alberto fora embora, prometendo que voltaria no dia seguinte para que fossem à empresa, ela e Diego foram para o quarto e a tia suspirou feliz ao ver o sobrinho dormindo na enorme cama de casal que tinham arrumado para eles. Ao que tudo indicava, aquilo não era um engano. Eles estavam amparados. Eles tinham se tornado herdeiros de uma grande fortuna.Diego teria um futuro garantido.Virgínia não teria mais medo de que levassem ele para sempre.Eles ficariam bem, apesar da dor de serem sozinhos no mundo.No dia seguinte, como prometido, Alberto voltou para que ele e Virgínia fossem até à empresa.A moça sentia-se realmente nervosa.Nunca entendera de negócios ou coisa parecida. Era uma simples professora do ensino infantil, só sabia lecionar, nada mais.Escolheu um vestido que usara na sua formatura e era a roupa mais “social” que havia em seu armário: um traje verde-esmeralda, sem mangas, cinturado, justo no busto e solto até os joelhos. Calçou um sapato preto de salto médio e fez uma maquiagem bem leve.Olhou para o espelho que havia no quarto e achou que estava apresentável para uma reunião importante.Foi até o pequeno berço que trouxera do interior e observou o sobrinho dormindo. O menino era muito tranquilo, só chorava quando estava faminto. Ele era um presente que sua irmã lhe dera e faria tudo para protegê-lo.Saiu do quarto e foi para a cozinha, onde Celso, Naty e Alberto estavam.- Bom dia. – sorriu para todos.- Você está muito bonita, senhora. – a moça disse, sorrindo.- Obrigada. Naty, não é necessário que me chame de senhora. – pediu – Aliás, nenhum de vocês, por favor.- Você já está pronta para ir? – Alberto perguntou.- Sim. – respondeu para o homem – Vamos.Entraram no carro do advogado e partiram para a empresa.- Virgínia, você não pode se mostrar tímida para eles, não esqueça. O conselho diretor é formado por homens velhos, raposas que estão prontas para atacar.Ouvir aquilo só deixou a moça mais nervosa, mas Virgínia apenas assentiu.Quando chegaram no enorme prédio envidraçado de dezoito andares, foram até o elevador e subiram ao último andar.- Bom dia. – uma mulher de meia-idade levantou-se de uma mesa de mogno que havia no canto, ela sorriu para o advogado.- Bom dia, Laura. Esta é Virgínia Bianchi, neta da sra. Vera.A mulher sorriu e estendeu a mão que Virgínia apertou.- Prazer, senhorita. Ainda bem que você conseguiu encontrá-la, eu não aguentava mais esses velhos... – a mulher revirou os olhos e o advogado a reprovou com um pigarro.Mas Virgínia logo gostou da secretária que parecia ser uma pessoa bem espontânea.- Eles já chegaram? – o advogado perguntou- Sim, estão na sala de reuniões. Vou adorar ver a cara deles. – Laura disse, mas Alberto a conteve.- Laura, eu e Virgínia entraremos, você fica aqui.Ela percebeu que o rosto da mulher ficou triste por não estar presente num momento tão importante.Foram até o corredor e entraram em uma sala ampla com uma mesa grande e cadeiras em volta.- Bom dia. – Alberto disse para os presentes na sala. Todos eram do sexo masculino.- Demorou hein, Alberto. – um dos homens disse – Então, o que você trouxe?- Esta é Virgínia Bianchi, neta da sra. Vera. A única herdeira desta empresa.Os homens a olharam, uns com mera curiosidade, outros, com raiva.- Bom dia. – ela disse.- Isso só pode ser uma mentira sua, Alberto! – o mesmo homem que falara antes, disse- Eu exijo que um exame de DNA seja feito!- Tomas, não há necessidade disso. Há documentos suficientes que provam a relação sanguínea entre elas. – o advogado suspirou – A partir de hoje, ela tomará conta desta empresa, assim como o testamento determina.Um burburinho tomou conta da sala, mas os homens não puderam mais falar nada e saíram.- Muito bem, Virgínia. Tudo correu bem.Ela olhou para o homem em dúvida.Aquilo era ir bem?- Eu quero que você me ajude, sr. Alberto. Por favor.O homem concordou e logo foram para a sala da diretoria, onde Alberto lhe explicou algumas coisas sobre os negócios.Voltaram para casa já quase no meio da tarde. Virgínia foi logo ver o sobrinho que dormia no quarto.Ela sorriu para o menino e pensou que agora estavam seguros e seriam felizes.Ninguém conseguiria separá-los.O tempo foi passando.A reforma na Mansão estava sendo feita, Virgínia reformou cada canto da casa que agora chamaria de lar. Trocou todos os móveis por alguns mais funcionais e simples, uma vez que os antigos eram muito ostensivos para o gosto dela.O advogado a ajudava com os assuntos administrativos da empresa, enquanto Laura lhe fornecia assuntos mais coloquiais (as fofocas).O advogado se tornou um bom amigo. Ele era um homem honesto que auxiliava Virgínia em todos os assuntos da empresa e das propriedades. Ele a aconselhou a vender algumas propriedades e investir o dinheiro, com os juros ela faria uma poupança para o sobrinho e garantiria conforto para Diego.O menino crescia saudável e feliz, ele era paparicado por Virgínia, Naty, Celso e até mesmo pelo advogado, todos adoravam o garoto que era protegido e muito amado.Às vezes, Virgínia olhava para Diego e tinha medo que os Romano os descobrisse, que Fred o tomasse dela. Precisava construir um forte em torno da criança,
FREDDesde o momento em que chegou em casa, Fred se trancou em seu escritório. Não entendia as intenções daquela mulher, mas com certeza o objetivo principal dela não era o que dizia. Assim que saiu da empresa dela, pediu a Tim para investigá-la. Virgínia Bruni. Ele sabia que nunca ouvira aquele nome, mas aquele rosto não era totalmente desconhecido.- Fred? - ouviu a voz da irmã, Alexia, na porta.- Entre, irmã.- Fred, irmão, como foi a reunião?- Tudo certo. A empresa nos ajudará a recuperar a empresa Romano. - ele disse.- Que bom! Então tudo ficará bem?- Sim, irmã, tudo ficará bem. - a mulher saiu feliz, enquanto Fred pensava que todos ficariam felizes, enquanto ele entrava num negócio onde não sabia o quê esperar.#VIRGÍNIAConferiu seu vestido no espelho. O traje vermelho de alças finas e trançadas nas costas, justo e longo estava perfeito. Ela escovara os cabelos e os cachos desapareceram, dando espaço a uma cortina lisa de fios caramelo.- Tia, você está linda! - D
FREDNo dia seguinte, o homem foi para a empresa bem cedo. Tim já o esperava na sala de reuniões, os dois precisavam fazer um plano para apresentar a Virgínia.- Você tem certeza que conseguirá reerguer a empresa em seis meses? - o advogado perguntou, preocupado.- Eu vou conseguir, Tim. - respondeu, convicto.Por volta de oito horas, Virgínia e o advogado dela entraram na sala de reuniões. A mulher trajava um vestido colado ao corpo de cor preta e parecia muito animada naquela manhã.Ele a fitou lentamente, observando cada curva que aquele vestido revelava.A mulher era uma megera, mas era muito bonita e voluptuosa. - Bom dia! – ela falou, alegremente.Deus, ele odiava gente feliz demais. Ainda mais de manhã. Fred respondeu com um aceno de cabeça.- Bom dia, Sra. Virgínia. Nós temos um plano de recuperação da empresa. Está aqui. - Tim empurrou a pasta para ela.- Examine, Al. Veja se é possível. - ela disse ao advogado – Enquanto isso, precisamos conversar sobre a nossa f
VIRGÍNIAA mulher estava revoltada. Como ele ousara fazer aquilo? Ele não tinha o direito de beijá-la daquela forma. Esperou que a noite terminasse, que Fred estacionasse em frente a sua casa para desabafar.Tirou o cinto de segurança e olhou para o homem que parecia bem tranquilo, como se nada tivesse acontecido.- Como você ousou fazer aquilo? – perguntou, ultrajada.- O quê? – Fred Romano era um perfeito cafajeste, o homem se fazia de desentendido.- O beijo. Não era para você fazer aquilo!O desgraçado sorriu.Um sorriso aberto e sincero, como se ele estivesse se divertindo com a revolta dela.Ela nunca vira o homem sorrir, apenas aqueles levantar de lábio como um sorriso sarcástico, e por isso seu coração acelerou de repente. Ele parecia bem mais novo quando sorria, os olhos brilhavam, o rosto se iluminava e Fred ficava muito bonito.Bonito demais.- E você queria que eu fizesse o quê? Nós somos noivos.- De mentira.- Mas as pessoas não sabem disso. - ele pontuou – Você não pens
VIRGÍNIAO casamento aconteceria em três dias. Ela se sentia extremamente nervosa. Naquela noite, a mulher jantaria com a família de Fred e isso a enervava. Não sabia o que esperar deles, mas não tinha esperanças de que fosse algo positivo.Olhou mais uma vez para o reflexo no espelho, vestia uma calça social preta, com uma blusa de alças cor de pêssego. Calçou saltos altos e pretos e finalizou com uma carteira preta com pequenos brilhantes.De repente a porta do quarto se abriu e Diego entrou, trajando seu pijama e com seu carrinho de sempre.- Tia, você está linda. - a criança disse, abraçando as pernas da moça.Virgínia pegou o menino nos braços e juntos foram para o quarto dele. Deitado na cama, a moça contou uma história que sua mãe lhe contava quando era criança e, em poucos minutos, o menino adormeceu. Ela deu-lhe um beijo na testa e saiu do quarto devagar, para não acordá-lo. Foi até o quarto buscar sua carteira no mesmo instante em que a campainha tocava, Fred chegara.Desce
VIRGÍNIAOs dias passaram rápido. Entre preparativos para o casamento e planos para a recuperação da empresa de Fred, ela nem percebeu que já era o dia do jantar de ensaio. Preferiu que o jantar acontecesse no jardim de sua casa. Assim, ali estava ela, observando o trabalho que Naty fizera, tudo estava muito bem decorado.Alguns convidados já haviam chegado e estavam sentados nas mesas, ouvindo a banda tocar uma música instrumental. O jardineiro aproximou-se dela e disse:- O noivo e a família chegaram.Virgínia agradeceu ao homem e foi encontrá-los. Fred vestia um terno sem gravata, todo de preto, a mãe trajava um vestido de lantejoulas negro e Alexia vestia um tubinho azul.- Boa noite. - ela disse com um sorriso, saudando todos.- Boa noite. - Fred respondeu, ele segurava um buquê de rosas vermelhas enorme e o entregou a ela. O homem aproximou-se e deu-lhe um rápido beijo na bochecha que fez com que ela se arrepiasse, inteira.De braços com o noivo, seguidos por Alexia e sua mãe, f
FRED Ele olhava para a esposa dançando com o sobrinho. Os dois balançavam para lá e para cá sorrindo um para o outro, era muito nítido o quanto eles tinham uma relação de cumplicidade e amor. Era engraçado vê-la com o garoto, parecia que a mulher mudava, se tornava mais leve. Infelizmente a sua esposa nunca lhe dirigira um sorriso daqueles, aliás, nenhum tipo de sorriso. - Fred, os noivos não vão ter a primeira dança? - Alexia perguntou, parecendo mais feliz que ele que era o noivo. - Não acho necessário. – respondeu dando de ombros. - Fred… - a irmã repreendeu e então ele se levantou e foi até a esposa, pediu licença ao garoto e então, uma música lenta começou a tocar. Os outros casais se afastaram e os dois ficaram sozinhos na pista de dança. Fred sabia que aqueles olhos esverdeados escondiam o verdadeiro motivo por trás daquele casamento, mas não conseguia deixar de admirá-los. O homem sentia-se fraco quando ela lhe olhava. Ele desceu o olhar para a boca da mulher que parecia
VIRGÍNIADemorou alguns minutos para que Virgínia recobrasse os sentidos e visse que Fred a abandonara.Percebeu que estava seminua e, rapidamente correu para o banheiro. Tirou a camisola rasgada e vestiu o roupão. Olhou-se no espelho e estava com os lábios e pescoço marcados pelos beijos famintos.Deus, ela quase se entregara para aquele homem, o mesmo homem que fez sua irmã adoecer e morrer.Virgínia sentiu um embrulho no estômago e correu para o vaso sanitário, colocando para fora tudo que comera e sentira naquele dia.Sentiu-se suja e traidora. Estava traindo a irmã quando se oferecia daquela forma para aquele homem. Será que não tinha vergonha na cara?Depois que se sentiu mais calma, percebeu que chorava, chorava pela irmã, chorava pelo sobrinho e, também, chorava por ela, porque tinha cometido um grande erro com aquele casamento.E não tinha muita certeza se poderia consertar aquela situação.Não dormiu naquela noite que seria a sua noite de lua de mel. Sentou-se na poltrona qu