VIRGÍNIA
A mulher estava revoltada. Como ele ousara fazer aquilo? Ele não tinha o direito de beijá-la daquela forma. Esperou que a noite terminasse, que Fred estacionasse em frente a sua casa para desabafar.
Tirou o cinto de segurança e olhou para o homem que parecia bem tranquilo, como se nada tivesse acontecido.
- Como você ousou fazer aquilo? – perguntou, ultrajada.
- O quê? – Fred Romano era um perfeito cafajeste, o homem se fazia de desentendido.
- O beijo. Não era para você fazer aquilo!
O desgraçado sorriu.
Um sorriso aberto e sincero, como se ele estivesse se divertindo com a revolta dela.
Ela nunca vira o homem sorrir, apenas aqueles levantar de lábio como um sorriso sarcástico, e por isso seu coração acelerou de repente. Ele parecia bem mais novo quando sorria, os olhos brilhavam, o rosto se iluminava e Fred ficava muito bonito.
Bonito demais.
- E você queria que eu fizesse o quê? Nós somos noivos.
- De mentira.
- Mas as pessoas não sabem disso. - ele pontuou – Você não pensou que fosse necessário beijos?
Virgínia odiava assumir que ele tinha razão. Eles tinham que agir como um casal apaixonado, mas quando ela fez aquele plano não pensou nesses pontos, só via a oportunidade de fazer aquele homem sofrer e se arrepender de tudo que fizera com Angelina.
Ignorou a pergunta, não iria dar razão a ele.
- Até mais. - ela disse, saindo do carro, ainda tonta pelo beijo que não conseguia esquecer. Talvez fosse porque era inexperiente, mas nunca sentira nada igual. O toque acendera um desejo que ela não conhecia, uma vontade de estar perto dele, de saboreá-lo cada vez mais.
Ela queria que ele fizesse de novo, uma vez só não fora o bastante para saboreá-lo.
Virgínia sacudiu a cabeça, afastando aqueles pensamentos da mente.
Aquele fora seu primeiro beijo, por isso a euforia.
Não se enganaria, não deixaria que a emoção tomasse conta de si. Tinha um objetivo e ia cumpri-lo.
Vingaria sua irmã e destruiria a vida de Fred.
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FRED
Nos dias seguintes, o empresário não se encontrou mais com sua noiva, mas com o advogado dela. Ele tinha a leve impressão que Virgínia estava fugindo dele. Para Fred não tinha problema, o homem que representava sua noiva era uma pessoa afável e competente. Tim e Alberto se davam bem e juntos estavam começando a colocar em prática os planos para recuperação da empresa Romano.
Fred, de vez em quando, olhava a aliança em seu dedo e a cena do beijo da noite do noivado vinha à mente. Não sabia se Virgínia era inexperiente ou estava envergonhada com a situação, ele acreditava que seria apenas vergonha, uma vez que a mulher era bonita demais para se manter casta durante tanto tempo. A moça logo se recuperou e correspondeu ao beijo, era satisfatório saber que ela não lhe era indiferente.
A lembrança dos olhos dela depois do beijo, semicerrados, nublados de desejo, a boca inchada e entreaberta, fazia com que Fred quisesse mais daquilo. Precisava beijá-la de novo, até sentir-se saciado. Ele sabia que o casamento era uma farsa, mas poderia aproveitar aqueles seis meses, desfrutaria das delícias daquele contrato.
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VIRGÍNIA
Nos dias seguintes, a mulher se ocupou com os preparativos do casamento. O dinheiro fazia com que uma festa para trezentas pessoas fosse preparada em uma semana. As maravilhas de ser rica.
Não pensaria mais no que acontecera, mesmo que a imagem e a sensação do beijo voltasse a sua mente a cada cinco minutos. Não tinha sido nada importante, apenas mais um detalhe da farsa.
- Com licença, Virgínia. - Alberto disse, entrando no escritório da casa, a moça decidiu não ir para a empresa naquela semana.
- Pode entrar, Al. - então o homem entrou, seguido de Fred.
Ao ver o homem na sua casa, todo vestido de preto e com o rosto carrancudo, Virgínia sentiu o coração acelerar, todo o trabalho para esquecer o beijo foi por água abaixo.
- Boa tarde. - o homem disse, a voz rouca e profunda que lhe causava arrepios na espinha.
Não sabia se foi o tempo que ficaram sem se ver, mas ele parecia mais atraente, não sabia o que mudou, mas tinha certeza que algo estava diferente.
- Boa tarde. O que houve?
- Trouxe alguns relatórios da empresa de Fred e ele quis vir comigo. - Alberto explicou.
- Tudo bem, que bom. Assim também podemos falar sobre o casamento. - Virgínia disse e o homem apenas aquiesceu, continuando a observá-la.
Os três sentaram-se à mesa que havia no lugar e então começaram a reunião.
#
FRED
A verdade é que ele não estava prestando atenção no que era dito, porque sua atenção estava voltada para a boca de Virgínia, queria senti-la em contato com a dele novamente, não conseguia esquecer o beijo e precisava daquele toque de novo. Urgentemente.
Seus pensamentos inapropriados foram interrompidos quando a porta do escritório se abriu e por ela passou correndo um garoto, o menino era magro, de cabelos pretos e encaracolados, sorria abertamente, mostrando que havia perdido dois dentes da frente.
- Meu querido, o que faz aqui?- Virgínia disse para a criança, enquanto ele a abraçava pelo pescoço.
Pensou se aquela criança era filho dela...
Ela nunca falara sobre ser mãe de alguém.
- A tia Márcia disse que você estava sozinha, pensei que poderíamos brincar lá fora.
- Oh querido, estou ocupada agora. - ela o beijou na bochecha rosada – Vá para seu quarto, mais tarde nós brincamos.
O menino saiu do escritório e a mulher se desculpou. Fred achou o rosto do menino familiar, ele parecia muito com alguém que o homem já tinha visto, mas não conseguia lembrar quem.
- Fred? - ouviu a mulher chamando – Podemos falar sobre o casamento?
Ele se segurou para não revirar os olhos e aquiesceu. Então a mulher começou a ladainha sobre a cerimônia, enquanto o homem voltava sua atenção para os lábios dela, que pareciam mais interessantes do que a conversa.
VIRGÍNIAO casamento aconteceria em três dias. Ela se sentia extremamente nervosa. Naquela noite, a mulher jantaria com a família de Fred e isso a enervava. Não sabia o que esperar deles, mas não tinha esperanças de que fosse algo positivo.Olhou mais uma vez para o reflexo no espelho, vestia uma calça social preta, com uma blusa de alças cor de pêssego. Calçou saltos altos e pretos e finalizou com uma carteira preta com pequenos brilhantes.De repente a porta do quarto se abriu e Diego entrou, trajando seu pijama e com seu carrinho de sempre.- Tia, você está linda. - a criança disse, abraçando as pernas da moça.Virgínia pegou o menino nos braços e juntos foram para o quarto dele. Deitado na cama, a moça contou uma história que sua mãe lhe contava quando era criança e, em poucos minutos, o menino adormeceu. Ela deu-lhe um beijo na testa e saiu do quarto devagar, para não acordá-lo. Foi até o quarto buscar sua carteira no mesmo instante em que a campainha tocava, Fred chegara.Desce
VIRGÍNIAOs dias passaram rápido. Entre preparativos para o casamento e planos para a recuperação da empresa de Fred, ela nem percebeu que já era o dia do jantar de ensaio. Preferiu que o jantar acontecesse no jardim de sua casa. Assim, ali estava ela, observando o trabalho que Naty fizera, tudo estava muito bem decorado.Alguns convidados já haviam chegado e estavam sentados nas mesas, ouvindo a banda tocar uma música instrumental. O jardineiro aproximou-se dela e disse:- O noivo e a família chegaram.Virgínia agradeceu ao homem e foi encontrá-los. Fred vestia um terno sem gravata, todo de preto, a mãe trajava um vestido de lantejoulas negro e Alexia vestia um tubinho azul.- Boa noite. - ela disse com um sorriso, saudando todos.- Boa noite. - Fred respondeu, ele segurava um buquê de rosas vermelhas enorme e o entregou a ela. O homem aproximou-se e deu-lhe um rápido beijo na bochecha que fez com que ela se arrepiasse, inteira.De braços com o noivo, seguidos por Alexia e sua mãe, f
FRED Ele olhava para a esposa dançando com o sobrinho. Os dois balançavam para lá e para cá sorrindo um para o outro, era muito nítido o quanto eles tinham uma relação de cumplicidade e amor. Era engraçado vê-la com o garoto, parecia que a mulher mudava, se tornava mais leve. Infelizmente a sua esposa nunca lhe dirigira um sorriso daqueles, aliás, nenhum tipo de sorriso. - Fred, os noivos não vão ter a primeira dança? - Alexia perguntou, parecendo mais feliz que ele que era o noivo. - Não acho necessário. – respondeu dando de ombros. - Fred… - a irmã repreendeu e então ele se levantou e foi até a esposa, pediu licença ao garoto e então, uma música lenta começou a tocar. Os outros casais se afastaram e os dois ficaram sozinhos na pista de dança. Fred sabia que aqueles olhos esverdeados escondiam o verdadeiro motivo por trás daquele casamento, mas não conseguia deixar de admirá-los. O homem sentia-se fraco quando ela lhe olhava. Ele desceu o olhar para a boca da mulher que parecia
VIRGÍNIADemorou alguns minutos para que Virgínia recobrasse os sentidos e visse que Fred a abandonara.Percebeu que estava seminua e, rapidamente correu para o banheiro. Tirou a camisola rasgada e vestiu o roupão. Olhou-se no espelho e estava com os lábios e pescoço marcados pelos beijos famintos.Deus, ela quase se entregara para aquele homem, o mesmo homem que fez sua irmã adoecer e morrer.Virgínia sentiu um embrulho no estômago e correu para o vaso sanitário, colocando para fora tudo que comera e sentira naquele dia.Sentiu-se suja e traidora. Estava traindo a irmã quando se oferecia daquela forma para aquele homem. Será que não tinha vergonha na cara?Depois que se sentiu mais calma, percebeu que chorava, chorava pela irmã, chorava pelo sobrinho e, também, chorava por ela, porque tinha cometido um grande erro com aquele casamento.E não tinha muita certeza se poderia consertar aquela situação.Não dormiu naquela noite que seria a sua noite de lua de mel. Sentou-se na poltrona qu
VIRGÍNIALogo depois do café da manhã, os três estavam no carro em direção à Mansão Romano. Diego falava animado, perguntando a Fred sobre a casa e o resto da família. O homem respondia tudo prontamente, fazendo o menino ficar cada vez mais interessado por aquelas pessoas. O coração de Virgínia se encolhia no peito ao pensar que eles poderiam tirar o sobrinho dela. Mostrava-se forte para Fred, quando, na verdade, estava morta de medo.Chegaram no pátio da Mansão Romano poucos minutos depois, Diego desceu do carro, seguido de Fred. Virgínia respirou fundo e fez o mesmo. O menino segurou na mão do tio e juntos entraram na casa, onde um homem alto, bigodudo e que se vestia com roupas formais, abriu a porta para eles.- Bem vindo, sr. Fred.Os três entraram e foram encaminhados a uma sala ampla onde Alexia e a mãe de Fred esperavam. Diego e a tia paterna se abraçaram longamente, enquanto a mulher mais velha olhava para Virgínia com um olhar de desprezo.- Bem-vinda, Virgínia. - ela beijo
VIRGÍNIAO clima entre o casal era como uma guerra fria, a mulher não sabia quando o marido ia atacá-la. Ele agia de maneira distante e a tratava com indiferença, já com Diego ele era amável e fazia tudo o que o garoto pedia.Naquele sábado ensolarado, o garotinho pediu a Fred que o levasse até Alexia, pois a tia prometera que plantariam juntos algumas rosas.- Tia, você vem também, né?- Claro, meu amor. Vamos trocar de roupa. - ela subiu com o garoto e, primeiro, foi até o quarto do menino, para depois ir ao dela, não permitiria que Fred levasse o menino e o tomasse dela.#FREDO homem não dormia há dias, tentava pensar em uma maneira de sair daquele casamento, mas até agora sem esperanças. Contou tudo a Tim, para que juntos pudessem impugnar o contrato, mas o advogado já lhe garantira que o contrato era legal e Fred assinou sem coação.Cerrou as mãos em punhos.Deveria ter decretado a falência da empresa e depois ergueria uma nova empresa, do zero. Tudo que tinha na vida conseguir
VIRGÍNIAQuando chegaram em casa, Virgínia pegou Diego no colo e levou o menino para o quarto. O pequeno tomou banho, vestiu o pijama e dormiu imediatamente, sem nem mesmo esperar a história de todas as noites. A criança se divertira muito na casa dos tios, ao contrário dela, que estava com ódio de Fred e Fernanda.A mulher saiu do quarto do garoto e foi até o quarto do marido, ela entrou sem nem mesmo bater na porta, afinal a casa era dela. O marido estava em pé, com as mãos nos bolsos da calça, virado para a janela. Ela fechou a porta com força e começou:- Devo lembrá-lo que esse casamento deve parecer real para todos à nossa volta. – disse, tentando controlar o ódio na voz – Aquela mulher não lembra que você é casado?Ele se virou e a observou, em silêncio. O rosto dele não revelava nada e isso deixava a mulher mais indignada.- Não vou aceitar que você me traia. – ela disse.- Por quê? – ele perguntou, cruzando os braços em frente ao peito.- Nós temos que manter as aparências.-
VIRGÍNIAQuando abriu os olhos no dia seguinte e viu que estava em um quarto diferente do seu, fechou os olhos novamente. Talvez fosse um sonho e Virgínia ainda estivesse dormindo. Sentiu um braço firme em volta de sua cintura e, com cuidado, tateou. Sim, era realmente um braço. Abriu um olho e olhou para o braço forte que a abraçava. Virou o rosto para trás, Fred dormia placidamente, enquanto a segurava firme, contra seu corpo.Deus, o que fizera?Bem, ela lembrava de tudo, não tinha como esquecer, uma vez que seu corpo estava dolorido em certos locais, mas onde estava com a cabeça ao fazer?E por que um minúsculo pedaço da sua mente queria que tudo se repetisse?Devagar, retirou o braço do homem e, mais devagar, tentou se sentar na cama, mas logo foi puxada para onde estava anteriormente.- Vai fugir? - a voz grave e profunda do marido perguntou em seu ouvido, enviando arrepios pelo seu corpo.Virgínia olhou para o homem que continuava com os olhos fechados, mas tinha um sorrisinho