05

VIRGÍNIA

A mulher estava revoltada. Como ele ousara fazer aquilo? Ele não tinha o direito de beijá-la daquela forma. Esperou que a noite terminasse, que Fred estacionasse em frente a sua casa para desabafar.

Tirou o cinto de segurança e olhou para o homem que parecia bem tranquilo, como se nada tivesse acontecido.

- Como você ousou fazer aquilo? – perguntou, ultrajada.

- O quê? – Fred Romano era um perfeito cafajeste, o homem se fazia de desentendido.

- O beijo. Não era para você fazer aquilo!

O desgraçado sorriu.

Um sorriso aberto e sincero, como se ele estivesse se divertindo com a revolta dela.

Ela nunca vira o homem sorrir, apenas aqueles levantar de lábio como um sorriso sarcástico, e por isso seu coração acelerou de repente. Ele parecia bem mais novo quando sorria, os olhos brilhavam, o rosto se iluminava e Fred ficava muito bonito.

Bonito demais.

- E você queria que eu fizesse o quê? Nós somos noivos.

- De mentira.

- Mas as pessoas não sabem disso. - ele pontuou – Você não pensou que fosse necessário beijos?

Virgínia odiava assumir que ele tinha razão. Eles tinham que agir como um casal apaixonado, mas quando ela fez aquele plano não pensou nesses pontos, só via a oportunidade de fazer aquele homem sofrer e se arrepender de tudo que fizera com Angelina.

Ignorou a pergunta, não iria dar razão a ele.

- Até mais. - ela disse, saindo do carro, ainda tonta pelo beijo que não conseguia esquecer. Talvez fosse porque era inexperiente, mas nunca sentira nada igual. O toque acendera um desejo que ela não conhecia, uma vontade de estar perto dele, de saboreá-lo cada vez mais.

Ela queria que ele fizesse de novo, uma vez só não fora o bastante para saboreá-lo.

Virgínia sacudiu a cabeça, afastando aqueles pensamentos da mente.

Aquele fora seu primeiro beijo, por isso a euforia.

Não se enganaria, não deixaria que a emoção tomasse conta de si. Tinha um objetivo e ia cumpri-lo.

Vingaria sua irmã e destruiria a vida de Fred.

#

FRED

Nos dias seguintes, o empresário não se encontrou mais com sua noiva, mas com o advogado dela. Ele tinha a leve impressão que Virgínia estava fugindo dele. Para Fred não tinha problema, o homem que representava sua noiva era uma pessoa afável e competente. Tim e Alberto se davam bem e juntos estavam começando a colocar em prática os planos para recuperação da empresa Romano.

Fred, de vez em quando, olhava a aliança em seu dedo e a cena do beijo da noite do noivado vinha à mente. Não sabia se Virgínia era inexperiente ou estava envergonhada com a situação, ele acreditava que seria apenas vergonha, uma vez que a mulher era bonita demais para se manter casta durante tanto tempo. A moça logo se recuperou e correspondeu ao beijo, era satisfatório saber que ela não lhe era indiferente.

A lembrança dos olhos dela depois do beijo, semicerrados, nublados de desejo,  a boca inchada e entreaberta, fazia com que Fred quisesse mais daquilo. Precisava beijá-la de novo, até sentir-se saciado.  Ele sabia que o casamento era uma farsa, mas poderia aproveitar aqueles seis meses, desfrutaria das delícias daquele contrato.

#

VIRGÍNIA

Nos dias seguintes, a mulher se ocupou com os preparativos do casamento. O dinheiro fazia com que uma festa para trezentas pessoas fosse preparada em uma semana. As maravilhas de ser rica.

Não pensaria mais no que acontecera, mesmo que a imagem e a sensação do beijo voltasse a sua mente a cada cinco minutos. Não tinha sido nada importante, apenas mais um detalhe da farsa.

- Com licença, Virgínia. - Alberto disse, entrando no escritório da casa, a moça decidiu não ir para a empresa naquela semana.

- Pode entrar, Al. - então o homem entrou, seguido de Fred.

Ao ver o homem na sua casa, todo vestido de preto e com o rosto carrancudo, Virgínia sentiu o coração acelerar, todo o trabalho para esquecer o beijo foi por água abaixo.

- Boa tarde. - o homem disse, a voz rouca e profunda que lhe causava arrepios na espinha.

Não sabia se foi o tempo que ficaram sem se ver, mas ele parecia mais atraente, não sabia o que mudou, mas tinha certeza que algo estava diferente.

- Boa tarde. O que houve?

- Trouxe alguns relatórios da empresa de Fred e ele quis vir comigo. - Alberto explicou.

- Tudo bem, que bom. Assim também podemos falar sobre o casamento. - Virgínia disse e o homem apenas aquiesceu, continuando a observá-la.

Os três sentaram-se à mesa que havia no lugar e então começaram a reunião.

#

FRED

A verdade é que ele não estava prestando atenção no que era dito, porque sua atenção estava voltada para a boca de Virgínia, queria senti-la em contato com a dele novamente, não conseguia esquecer o beijo e precisava daquele toque de novo. Urgentemente.

Seus pensamentos inapropriados foram interrompidos quando a porta do escritório se abriu e por ela passou correndo um garoto, o menino era magro, de cabelos pretos e encaracolados, sorria abertamente, mostrando que havia perdido dois dentes da frente.

- Meu querido, o que faz aqui?- Virgínia disse para a criança, enquanto ele a abraçava pelo pescoço.

Pensou se aquela criança era filho dela...

Ela nunca falara sobre ser mãe de alguém.

- A tia Márcia disse que você estava sozinha, pensei que poderíamos brincar lá fora.

- Oh querido, estou ocupada agora. - ela o beijou na bochecha rosada – Vá para seu quarto, mais tarde nós brincamos.

O menino saiu do escritório e a mulher se desculpou. Fred achou o rosto do menino familiar, ele parecia muito com alguém que o homem já tinha visto, mas não conseguia lembrar quem.

- Fred? - ouviu a mulher chamando – Podemos falar sobre o casamento?

Ele se segurou para não revirar os olhos e aquiesceu. Então a mulher começou a ladainha sobre a cerimônia, enquanto o homem voltava sua atenção para os lábios dela, que pareciam mais interessantes do que a conversa.

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