Talon olhou para o céu, os olhos observando algo que os outros ainda não viam.
— Minutos, talvez. Vocês deixaram um rastro que até um cego poderia seguir. O rio não esconde o cheiro de sangue e medo. Aria xingou baixinho, puxando o comunicador do bolso. — Eu desativei os primeiros drones, mas eles devem ter enviado reforços. precisamos nos mover agora. — Não — disse Talon, erguendo a mão. — Correr só vai levá-los até nós. Vocês vêm comigo, ou morrem aqui. A escolha é de vocês. Kael rosnou, o som reverberando entre as árvores. — E por que confiaríamos em você? Talon o encarou, os olhos verdes inflexíveis. — Porque eu sei o que é ser uma arma deles. E sei como não ser mais. Se quiserem viver, sigam-me. Se não, boa sorte contra os Caçadores. O nome "Caçadores" fez o grupo se calar, o medo palpável no ar. Kael sentiu o peso do olhar dos outros sobre ele — todos esperando que ele decidisse. Ele odiava isso, uma responsabilidade que nunca pediria, mas que agora era dele. — Leve-nos — disse ele finalmente, as palavras saindo como um desafio. — Mas se for uma armadilha, você não vai viver para se arrepender. Talon assentiu, um leve sorriso curvando seus lábios. – Justo. Vamos. Ele virou-se, liderando o grupo para o norte, afastando-se do rio e entrando mais fundo na floresta. As árvores eram mais densas, os galhos entrelaçados formando um teto natural que bloqueava a luz da lua. Kael mantinha Aria ao seu lado, os sentidos atentos a cada movimento de Talon. O híbrido se move como um espectro, os pés mal tocando o chão, guiando-os por um caminho que parecia invisível aos olhos destreinados. — O que ele quis dizer com "um lugar seguro"? — sussurrou Aria, a voz baixa o suficiente para não alcançar os outros. Kael bufou, os olhos fixos nas costas de Talon. — Não sei. Mas se ele sobreviveu tanto tempo, deve ser mais do que uma cela nova para nos prender. Ela concordou, mas havia uma linha de preocupação em sua testa. Kael viu que ela segurava o comunicador com força, como se fosse uma âncora em meio ao caos. Ele queria perguntar mais — sobre os Caçadores, sobre o que ela sabia que não contava —, mas o som de motores distantes ou interrompidos. Os drones estavam mais perto agora, o zumbido cortando a noite como uma serra. Talon parou abruptamente, erguendo a mão para sinalizar silêncio. Ele apontou para uma formação rochosa à frente — uma encosta coberta de musgo, com uma fenda estreita que mal parecia uma entrada. — Lá dentro — disse ele, uma voz baixa, mas urgente. — Rápido. Os híbridos se apertaram para passar, resmungando enquanto forçava seus corpos maciço pela abertura. Kael empurrou Aria à frente, seguindo logo atrás. O interior da caverna era frio e úmido, o chão irregular sob seus pés. A luz da lua desapareceu quando Talon deslizou uma pedra para cobrir a entrada, mergulhando-os na escuridão total. — Fiquem quietos — sussurrou ele, o arco ainda na mão. — Eles vão passar por cima. Kael ouviu o zumbido dos drones se aproximar, o som amplificado pelas paredes da caverna. Ele segurou o braço de Aria, sentindo o pulso dela acelerar sob seus dedos. Os híbridos se encolheram, alguns tremendo, outros rosnando baixinho. O lobo ferido gemeu, e o fêmea felina rapidamente cobriu sua boca com a mão, silenciando-o. Por longos minutos, o grupo esperou, o som dos drones subindo e descendo como uma tempestade que se recusava a estourar. Kael fechou os olhos, focando-se no cheiro de Aria — flores silvestres e suor —, um ponto de calma em meio ao medo que pulsava ao seu redor. Finalmente, o zumbido resultante, afastando-se até desaparecer na noite. Talon soltou um suspiro, afastando a pedra da entrada com um empurrão. A luz da lua voltou, fraca mas bem-vinda. — Eles foram embora — disse ele. — Por agora. Mas vão voltar com algo pior. — E o que é pior que drones? — Disse o híbrido de leão, a voz rouca de exaustão. Talon o encarou, o rosto sombrio. — Caçadores. E se eles vierem, nem mesmo este lugar vai nos esconder. Kael sentiu um frio percorrendo sua espinha, mas não deixou que o medo o dominasse. — Então nos leve ao seu "lugar seguro" — disse ele. — E reze para que seja mais do que uma caverna úmida. Talon riu novamente, o som mais quente desta vez. — É mais do que isso, felino. Muito mais. Vamos. O grupo saiu pela caverna, seguindo Talon por um caminho que descia ainda mais fundo na floresta. O terreno mudou, as árvores dando lugar a rochas escarpadas e ravinas escondidas. Kael mantinha Aria perto, os olhos divididos entre o caminho e o horizonte. Ele sentiu que estavam sendo observados — não pelos drones, mas por algo ou alguém nas sombras. — Você já viu um lugar assim? — Disse ele a Aria, a voz baixa. Ela balançou a cabeça, os olhos fixos em Talon. — Não. Mas ouvi rumores no Genesis. Sobre os que escaparam. Eles os chamavam de "fantasmas da floresta". Achei que eram histórias para assustar os novos cientistas. — Parece que os fantasmas são reais — murmurou Kael, as garras flexionando instintivamente. Quando finalmente chegou ao destino, o grupo parou, o fôlego preso na garganta. À frente, escondido entre duas encostas rochosas, havia um acampamento — tendas de couro e madeira, fogueiras pequenas queimando em silêncio, e substituições de híbridos movendo-se como sombras vivas. Não eram prisioneiros, mas sobreviventes, com armas improvisadas e olhares suportados. Talon virou-se para eles, o sorriso de volta. — Bem-vindos a Haven — disse ele. — O primeiro passo para sermos livres. Kael olhou para o acampamento, depois para Aria, a chama da esperança contra a desconfiança em seu peito. — Liberdade — repetiu ele, a palavra estranha em sua língua. — Vamos ver quanto tempo ela dura.O amanhecer rastejou sobre Haven com uma luz cinzenta, filtrando-se pelas copas das árvores e iluminando o acampamento. Kael acordou antes dos outros, os sentidos felinos — aguçados pelo DNA de tigre em suas veias — captando cada som e movimento ao redor. Ele saiu da tenda, o ar fresco mordendo sua pele humana, marcado por cicatrizes que contavam anos de luta no Genesis Core. Não havia traços visíveis de felino, mas a força em seus músculos e a agilidade nos passos eram prova do que ele era por dentro. O acampamento era um refúgio rústico — tendas de couro e madeira, fogueiras pequenas queimando em silêncio, e híbridos movendo-se com propósito. Todos tinham aparência humana, mas Kael reconhecia os tipos: felinos como ele, com movimentos fluidos; caninos, com olhares alertas e narinas inquietas; e macacos, com mãos hábeis e posturas confiantes. Ele observava enquanto carregavam baldes d'água e afiavam armas, o som do metal contra pedra ecoando em um ritmo constante. Aria emergiu da
O sol subia lentamente sobre Haven, tingindo o céu de laranja e dourado enquanto o acampamento despertava para um novo dia. Kael estava na borda do refúgio, perto do rio que cortava a floresta, o som da água um contraste calmo com a tempestade em sua mente. Ele era um felino, com DNA de tigre que lhe dava força e agilidade sobre-humanas, mas sua aparência era totalmente humana — alto, musculoso, com cicatrizes cruzando a pele bronzeada. Seus olhos âmbar varriam o horizonte, os sentidos aguçados captando cada movimento na floresta. Aria se movia em silêncio, os pés descalços quase inaudíveis contra a terra úmida. O cabelo negro caiu solto, úmido do rio onde se lavou, e a camiseta rasgada colava-se à pele, destacando as curvas suaves de seu corpo. Kael desviou os olhos por um instante, o instinto felino lutando contra um desejo humano que crescia em seu peito. Ele não tinha garras ou presas, mas a força em seus músculos e o calor em seu sangue eram prova de sua natureza.— Você não pa
O acampamento de Haven fervilhava com movimento, o ar carregado com o som de metal contra metal e gritos urgentes. O sol subia no céu, banhando o refúgio em uma luz dourada que contrastava com a sombra iminente do Genesis Core. Kael se move entre os híbridos, ajudando a erguer barricadas de troncos e pedras, os músculos fortalecidos pelo DNA flexionando sob a pele humana marcada por cicatrizes. Sua força e agilidade eram evidentes em cada movimento, carregando cargas que fariam um humano comum desabar.Aria trabalhou perto da fogueira central, cercada por Talon, Sable e um pequeno grupo de híbridos com habilidades técnicas. Sobre uma mesa improvisada, ela montou um dispositivo a partir de peças de sucata — fios do drone destruídos, baterias velhas e um transmissor que ela jurava poder interferir nos sinais do Genesis. Suas mãos eram rápidas, precisas, mas Kael notava o leve tremor em seus dedos, o peso da responsabilidade que ela carregava.— Isso vai funciona
O crepúsculo caiu sobre Haven, tingindo o céu de tons roxos e cinzentos enquanto o acampamento se recuperava do ataque dos Caçadores. As barricadas estavam danificadas, mas de pé, e os híbridos trabalhavam em silêncio, consertando o que podiam com mãos calejadas e determinação feroz. O cheiro de madeira queimada e metal derretido pairava no ar, misturado ao sangue seco que marcava o chão onde os inimigos haviam caído. Kael estava na caverna do conselho, o ombro enfaixado por Aria em um curativo improvisado que doía a cada movimento. Ao seu redor, os líderes de Haven formaram um círculo tenso: Talon, Sable, Rook, Mara e Finn. Aria estava ao lado de Kael, o dispositivo de interferência repousava sobre uma pedra à sua frente como um troféu de guerra. — Eles vão voltar — disse Talon, a voz firme enquanto ajustava uma flecha na mão. O felino,, exibe uma autoridade natural nos olhos verdes. — Caçadores não são o fim. São o aviso. A Genesis Core está testando nossas defesas. Rook asse
A noite caiu sobre a floresta como um manto pesado, as estrelas escondidas por nuvens escuras que prometiam chuva. Kael liderou o grupo de caça, os sentidos aguçados pelo DNA felino de tigre que corria em suas veias, captando cada som e movimento no terreno irregular ao norte de Haven. Sua aparência era humana — alta, musculosa, com cicatrizes marcando a pele —, mas a agilidade e força interna o tornavam um predador nato. Sable se movia-se ao seu lado, silenciosamente, os reflexos de leopardo evidentes em cada passo, a faca longa refletindo o brilho fraco da lua quando esta espiava entre as nuvens. Rook, um macaco com mãos ágeis e visão noturna apurada, segue atrás, os olhos espertos varrendo as copas das árvores. Zane, um canino com sentidos aguçados, e Vex, outra felina com agilidade de pantera, completavam o grupo, suas respirações visíveis no ar frio. O plano foi arriscado: encontrar o ponto de origem do batedor drone e destruí-lo antes que mais Caçadores fossem enviados. Talon a
A chuva diminuiu para um chuvisco leve quando o amanhecer chegou a Haven, o céu cinza refletindo-se nas poças que se formavam no chão do acampamento. Kael acordou com o peso quente de Aria contra seu peito, o corpo dela aninhado nas peles onde havia dormido. O calor da noite anterior ainda pulsava em suas veias, mas o comunicador do Genesis, ao lado deles, era um lembrete frio do que os esperavam. Ele a observou por um momento, os cabelos negros espalhados como tinta sobre a pele pálida, os lábios entreabertos em um sono leve. Ela era sua força, mas também suas fraquezas — uma verdade que ele aceitou com um rosnado silencioso. Ele levantou com cuidado, pegando a camisa rasgada que jogara de lado na noite anterior. O ferimento no ombro latejava, mas ele o ignorou, saindo da tenda para o ar úmido da manhã. O acampamento estava quieto, os híbridos ainda se recuperando da batalha e da tensão da caçada. Todos tinham aparência humana, mas Kael reconhecia os tipos: felinos como ele, com mo
A cela cheirava a ferro e desespero, um odor que Kael conhecia tão bem quanto o som de sua própria respiração. As paredes de aço reforçadas refletiam a luz fraca de uma lâmpada suspensa no teto, projetando sombras que dançavam como fantasmas sobre o chão frio. Ele estava sentado, os músculos tensos sob a pele marcada por cicatrizes, os olhos âmbar fixos na porta trancada à sua frente. Não havia janelas, nem ar fresco, apenas o zumbido constante do sistema de ventilação que mal disfarçava os gritos distantes de outros como ele — híbridos, prisioneiros da Genesis Core.Kael era diferente, diziam os guardas. Um modelo aprimorado, criado a partir do DNA de um tigre siberiano e de um soldado humano de elite. Seus reflexos eram mortais, suas mãos podiam partir metal, e sua mente... bem, sua mente era o que o mantinha vivo. Ele não se dobrava, não implorava, nem mesmo quando os eletrodos queimavam sua carne ou quando injetavam substâncias que faziam seu sangue parecer lava. Ele sobreviveu. S
O ar na câmara de contenção era denso, carregado com o cheiro metálico de sangue seco e o suor acre de corpos confinados. As luzes vermelhas piscavam em um ritmo frenético, sincronizadas com o alarme que gritava como uma fera ferida. Kael avançou entre as celas, arrancando aço como se fosse papel, libertando os híbridos um por um. Cada grade que caía no chão era um grito de desafio contra o Genesis Core, um eco do ódio que queimava em seu peito.Aria ao seu lado, os dedos ágeis digitavam códigos em painéis eletrônicos. Ela foi rápida, mas Kael percebeu o tremor em seus movimentos, o peso da adrenalina misturado com algo que ele não conseguiu identificar — medo, talvez, ou arrependimento. Ele não tinha tempo para analisar. Não agora.— Por aqui! — referiu-se a ela, apontando para um corredor à esquerda enquanto uma porta pesada começava a se abrir com um gemido mecânico. Do outro lado, sombras se movem — guardas armados, seus uniformes pretos reluzindo sob as luzes de emergência.Kael