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CAPÍTULO 5 - SOB A LUA QUEBRADA PARTE II

Talon olhou para o céu, os olhos observando algo que os outros ainda não viam.

— Minutos, talvez. Vocês deixaram um rastro que até um cego poderia seguir. O rio não esconde o cheiro de sangue e medo.

Aria xingou baixinho, puxando o comunicador do bolso.

— Eu desativei os primeiros drones, mas eles devem ter enviado reforços. precisamos nos mover agora.

— Não — disse Talon, erguendo a mão. — Correr só vai levá-los até nós. Vocês vêm comigo, ou morrem aqui. A escolha é de vocês.

Kael rosnou, o som reverberando entre as árvores.

— E por que confiaríamos em você?

Talon o encarou, os olhos verdes inflexíveis.

— Porque eu sei o que é ser uma arma deles. E sei como não ser mais. Se quiserem viver, sigam-me. Se não, boa sorte contra os Caçadores.

O nome "Caçadores" fez o grupo se calar, o medo palpável no ar. Kael sentiu o peso do olhar dos outros sobre ele — todos esperando que ele decidisse. Ele odiava isso, uma responsabilidade que nunca pediria, mas que agora era dele.

— Leve-nos — disse ele finalmente, as palavras saindo como um desafio. — Mas se for uma armadilha, você não vai viver para se arrepender.

Talon assentiu, um leve sorriso curvando seus lábios.

– Justo. Vamos.

Ele virou-se, liderando o grupo para o norte, afastando-se do rio e entrando mais fundo na floresta. As árvores eram mais densas, os galhos entrelaçados formando um teto natural que bloqueava a luz da lua. Kael mantinha Aria ao seu lado, os sentidos atentos a cada movimento de Talon. O híbrido se move como um espectro, os pés mal tocando o chão, guiando-os por um caminho que parecia invisível aos olhos destreinados.

— O que ele quis dizer com "um lugar seguro"? — sussurrou Aria, a voz baixa o suficiente para não alcançar os outros.

Kael bufou, os olhos fixos nas costas de Talon.

— Não sei. Mas se ele sobreviveu tanto tempo, deve ser mais do que uma cela nova para nos prender.

Ela concordou, mas havia uma linha de preocupação em sua testa. Kael viu que ela segurava o comunicador com força, como se fosse uma âncora em meio ao caos. Ele queria perguntar mais — sobre os Caçadores, sobre o que ela sabia que não contava —, mas o som de motores distantes ou interrompidos. Os drones estavam mais perto agora, o zumbido cortando a noite como uma serra.

Talon parou abruptamente, erguendo a mão para sinalizar silêncio. Ele apontou para uma formação rochosa à frente — uma encosta coberta de musgo, com uma fenda estreita que mal parecia uma entrada.

— Lá dentro — disse ele, uma voz baixa, mas urgente. — Rápido.

Os híbridos se apertaram para passar, resmungando enquanto forçava seus corpos maciço pela abertura. Kael empurrou Aria à frente, seguindo logo atrás. O interior da caverna era frio e úmido, o chão irregular sob seus pés. A luz da lua desapareceu quando Talon deslizou uma pedra para cobrir a entrada, mergulhando-os na escuridão total.

— Fiquem quietos — sussurrou ele, o arco ainda na mão. — Eles vão passar por cima.

Kael ouviu o zumbido dos drones se aproximar, o som amplificado pelas paredes da caverna. Ele segurou o braço de Aria, sentindo o pulso dela acelerar sob seus dedos. Os híbridos se encolheram, alguns tremendo, outros rosnando baixinho. O lobo ferido gemeu, e o fêmea felina rapidamente cobriu sua boca com a mão, silenciando-o.

Por longos minutos, o grupo esperou, o som dos drones subindo e descendo como uma tempestade que se recusava a estourar. Kael fechou os olhos, focando-se no cheiro de Aria — flores silvestres e suor —, um ponto de calma em meio ao medo que pulsava ao seu redor. Finalmente, o zumbido resultante, afastando-se até desaparecer na noite.

Talon soltou um suspiro, afastando a pedra da entrada com um empurrão. A luz da lua voltou, fraca mas bem-vinda.

— Eles foram embora — disse ele. — Por agora. Mas vão voltar com algo pior.

— E o que é pior que drones? — Disse o híbrido de leão, a voz rouca de exaustão.

Talon o encarou, o rosto sombrio.

— Caçadores. E se eles vierem, nem mesmo este lugar vai nos esconder.

Kael sentiu um frio percorrendo sua espinha, mas não deixou que o medo o dominasse.

— Então nos leve ao seu "lugar seguro" — disse ele. — E reze para que seja mais do que uma caverna úmida.

Talon riu novamente, o som mais quente desta vez.

— É mais do que isso, felino. Muito mais. Vamos.

O grupo saiu pela caverna, seguindo Talon por um caminho que descia ainda mais fundo na floresta. O terreno mudou, as árvores dando lugar a rochas escarpadas e ravinas escondidas. Kael mantinha Aria perto, os olhos divididos entre o caminho e o horizonte. Ele sentiu que estavam sendo observados — não pelos drones, mas por algo ou alguém nas sombras.

— Você já viu um lugar assim? — Disse ele a Aria, a voz baixa.

Ela balançou a cabeça, os olhos fixos em Talon.

— Não. Mas ouvi rumores no Genesis. Sobre os que escaparam. Eles os chamavam de "fantasmas da floresta". Achei que eram histórias para assustar os novos cientistas.

— Parece que os fantasmas são reais — murmurou Kael, as garras flexionando instintivamente.

Quando finalmente chegou ao destino, o grupo parou, o fôlego preso na garganta. À frente, escondido entre duas encostas rochosas, havia um acampamento — tendas de couro e madeira, fogueiras pequenas queimando em silêncio, e substituições de híbridos movendo-se como sombras vivas. Não eram prisioneiros, mas sobreviventes, com armas improvisadas e olhares suportados.

Talon virou-se para eles, o sorriso de volta.

— Bem-vindos a Haven — disse ele. — O primeiro passo para sermos livres.

Kael olhou para o acampamento, depois para Aria, a chama da esperança contra a desconfiança em seu peito.

— Liberdade — repetiu ele, a palavra estranha em sua língua. — Vamos ver quanto tempo ela dura.

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