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CAPÍTULO 2 - O RUGIDO DOS CONDENADOS

O ar na câmara de contenção era denso, carregado com o cheiro metálico de sangue seco e o suor acre de corpos confinados. As luzes vermelhas piscavam em um ritmo frenético, sincronizadas com o alarme que gritava como uma fera ferida. Kael avançou entre as celas, arrancando aço como se fosse papel, libertando os híbridos um por um. Cada grade que caía no chão era um grito de desafio contra o Genesis Core, um eco do ódio que queimava em seu peito.

Aria ao seu lado, os dedos ágeis digitavam códigos em painéis eletrônicos. Ela foi rápida, mas Kael percebeu o tremor em seus movimentos, o peso da adrenalina misturado com algo que ele não conseguiu identificar — medo, talvez, ou arrependimento. Ele não tinha tempo para analisar. Não agora.

— Por aqui! — referiu-se a ela, apontando para um corredor à esquerda enquanto uma porta pesada começava a se abrir com um gemido mecânico. Do outro lado, sombras se movem — guardas armados, seus uniformes pretos reluzindo sob as luzes de emergência.

Kael Rosnou, os instintos assumindo o controle. Ele empurrou Aria para trás de uma cela vazia e avançou, o corpo moveu-se com a graça letal de um predador. O primeiro guarda apontava uma arma, mas não teve chance de disparar. As garras de Kael rasgaram o ar, cortando o rifle ao meio antes de se enterrarem no peito do homem. O segundo tentou recuar, mas Kael o agarrou pelo pescoço, erguendo-o do chão com uma força que fez os ossos estalarem.

— Kael, não! — A voz de Aria cortou o caos, agudo e urgente. Ele virou a cabeça, os olhos âmbar encontrando os dela. Ela estava de pé, o comunicador na mão, o rosto pálido mas firme. — precisamos deles vivos. Pelo menos um. Para as informações.

Ele hesitou, o rugido em sua garganta penetrando para um grunhido baixo. O guarda suspenso em sua mão tremia, o cheiro de urina misturando-se ao de sangue. Kael o soltou, deixando-o desabar no chão, ofegante.

— Fale — ordenou ele, a voz rouca de contenção. — Onde estão os outros?

O homem engasgou, os olhos arregalados de terror.

— N-nível inferior... Células de contenção máxima... Mas vocês nunca vão chegar lá. Eles já estão vindo.

Kael deu um passo para trás, deixando Aria se aproximar. Ela se ajoelhou ao lado da guarda, puxando um dispositivo do bolso — um injetor pequeno, com uma agulha fina que brilhou sob a luz.

— Isso vai fazê-lo dormir — disse ela, pressionado o injetor contra o pescoço do homem. Ele desmaiou em segundos, o corpo mole contra o chão.

— Você é cheia de truques, humana — murmurou Kael, limpando o sangue das garras na calça rasgada que era sua única vestimenta.

Aria o encarou, um leve sorriso surgindo em seus lábios.

— E você está cheio de força bruta. Acho que formamos uma boa equipe.

Antes que ele pudesse responder, um rugido soou pelo corredor — não humano, mas animal, profundo e reverberante. Kael virou-se, os sentidos em alerta. Das celas libertadas, os híbridos emergiram, alguns hesitantes, outros famintos por vingança. Um macho imenso, com traços de leão e braços grossos como troncos, avançou para o centro da câmara. Seus olhos castanhos encontraram os de Kael, e ele bateu no peito, um gesto de desafio.

— Você não manda em mim, felino — rosnou o híbrido, a voz grave como um trovão. — Eu não sigo ordens de ninguém.

Kael deu um passo à frente, os dentes à mostra em um sorriso perigoso.

— Não estou pedindo para me seguir. Estou pedindo para lutar. Ou você prefere voltar para a jaula?

O híbrido urso hesitou, os punhos cerrados. Antes que a tensão explodisse, Aria se colocou entre eles, as mãos erguidas.

— Pare com isso! — exclamou ela. — Não temos tempo para brigas. Eles virão, e se não saímos agora, estaremos todos mortos.

— Ela tem razão — disse uma voz mais suave, vinda de uma cela próxima. Uma fêmea híbrida, esguia e com olhos felino, emergiu das sombras. ela carregava uma calma que contrastava com o caos ao seu redor. — Eu ouvi os guardas. Eles estão trazendo os Caçadores.

Kael sentiu um arrepio percorrendo sua espinha. Os Caçadores eram uma elite do Genesis Core — híbridos modificados, desprovidos de alma, programados para matar sem hesitação. Ele os enfrentou uma vez, em um teste brutal que deixou cicatrizes que nunca desapareceram.

— Então vamos nos mover — disse ele, virando-se para Aria. — Qual é o plano?

Ela respirou fundo, os olhos percorrendo o grupo de híbridos que se reuniam. Eram pelo menos vinte agora, todos marcados pela dor do Genesis.

— Há uma saída de manutenção no nível inferior — explicou ela. — Não é vigiado, mas é apertado. Vamos precisar passar pelas células de contenção máxima para chegar lá. Se conseguirmos libertar mais dos seus... amigos, teremos uma chance.

— Não são meus amigos — corrigiu Kael, mas havia um brilho em seus olhos. —São minha família.

Aria assentiu, como se entendesse mais do que ele dizia.

— Então vamos buscar sua família.

O grupo se moveu como uma unidade desajeitada, os híbridos seguindo Kael e Aria por pura necessidade. O corredor descia em uma espiral de concreto, ou ficava mais frio e úmido a cada passo. Os sons dos alarmes diminuíram, substituídos por um silêncio opressivo que pesava sobre eles.

Quando chegou ao nível inferior, Kael sentiu o cheiro antes de ver as celas — um fedor de morte e desespero, misturado com algo químico que fez suas narinas arderem. As portas aqui eram mais grossas, reforçadas com barras de titânio, e as celas eram escuras, exceto por pequenas viseiras que revelavam os olhos escondidos na penumbra.

— O que fizeram com eles? — Disse a fêmea felina, sua voz tremendo pela primeira vez.

Aria parou, os punhos cerrados ao lado do corpo.

— Experimentos avançados — respondeu ela, quase em um sussurro. — Eles estão testando uma nova fórmula. Algo que apaga a mente, mas deixa o corpo mais forte. É por isso que eu saí.

Kael virou-se para ela, os olhos estreitos.

— Você sabia disso e não fez nada?

— Eu fiz o que pude — retrucou ela, o tom defensivo. — Eu roubei dados, sabotei equipamentos. Mas não era o suficiente. Por isso estou aqui.

Ele queria pressioná-la, cavar mais fundo naquele segredo que ela carregava como uma sombra. Mas um som o interrompidou — um grito agudo, quase inumano, vindo de uma das celas. Kael avançou, arrancando a viseira com um golpe. Dentro, um híbrido de lobo se contorce, as correntes cortando sua pele enquanto a espuma escorria de sua boca.

— Ajude-o! — falou Kael, mas Aria já estava ao seu lado, o injetor na mão.

— Não posso salvá-lo — disse ela, os olhos marejados. — Ele já foi longe demais. Mas posso acabar com a dor.

Ela injetou o líquido, e o lobo caiu, os olhos vidrados em paz pela primeira vez. Kael sentiu um nó na garganta, mas engoliu a raiva. Não havia tempo para luto.

— Vamos continuar — disse ele, a voz firme. — Liberte quem puder. Mate quem não pode ser salvo.

Os híbridos trabalharam em silêncio, arrancando portas e carregando os feridos. Mas enquanto avançavam, um novo som ecoou — passos pesados, metálicos, acompanhados por um rosnado que não era natural. Kael virou-se, as garras prontas.

No fim do corredor, os Caçadores apareceram. Eram três, seus corpos cobertos por armaduras negras, os olhos brilhando com um vermelho artificial. Não havia humanidade neles, apenas morte.

— Aria — chamou Kael, sem tirar os olhos dos inimigos. — Diga que você tem um plano melhor agora.

Ela engoliu em seco, puxando uma granada do cinto.

— Corra — disse ela. — E reze para que isso funcione.

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