O ar na câmara de contenção era denso, carregado com o cheiro metálico de sangue seco e o suor acre de corpos confinados. As luzes vermelhas piscavam em um ritmo frenético, sincronizadas com o alarme que gritava como uma fera ferida. Kael avançou entre as celas, arrancando aço como se fosse papel, libertando os híbridos um por um. Cada grade que caía no chão era um grito de desafio contra o Genesis Core, um eco do ódio que queimava em seu peito.
Aria ao seu lado, os dedos ágeis digitavam códigos em painéis eletrônicos. Ela foi rápida, mas Kael percebeu o tremor em seus movimentos, o peso da adrenalina misturado com algo que ele não conseguiu identificar — medo, talvez, ou arrependimento. Ele não tinha tempo para analisar. Não agora. — Por aqui! — referiu-se a ela, apontando para um corredor à esquerda enquanto uma porta pesada começava a se abrir com um gemido mecânico. Do outro lado, sombras se movem — guardas armados, seus uniformes pretos reluzindo sob as luzes de emergência. Kael Rosnou, os instintos assumindo o controle. Ele empurrou Aria para trás de uma cela vazia e avançou, o corpo moveu-se com a graça letal de um predador. O primeiro guarda apontava uma arma, mas não teve chance de disparar. As garras de Kael rasgaram o ar, cortando o rifle ao meio antes de se enterrarem no peito do homem. O segundo tentou recuar, mas Kael o agarrou pelo pescoço, erguendo-o do chão com uma força que fez os ossos estalarem. — Kael, não! — A voz de Aria cortou o caos, agudo e urgente. Ele virou a cabeça, os olhos âmbar encontrando os dela. Ela estava de pé, o comunicador na mão, o rosto pálido mas firme. — precisamos deles vivos. Pelo menos um. Para as informações. Ele hesitou, o rugido em sua garganta penetrando para um grunhido baixo. O guarda suspenso em sua mão tremia, o cheiro de urina misturando-se ao de sangue. Kael o soltou, deixando-o desabar no chão, ofegante. — Fale — ordenou ele, a voz rouca de contenção. — Onde estão os outros? O homem engasgou, os olhos arregalados de terror. — N-nível inferior... Células de contenção máxima... Mas vocês nunca vão chegar lá. Eles já estão vindo. Kael deu um passo para trás, deixando Aria se aproximar. Ela se ajoelhou ao lado da guarda, puxando um dispositivo do bolso — um injetor pequeno, com uma agulha fina que brilhou sob a luz. — Isso vai fazê-lo dormir — disse ela, pressionado o injetor contra o pescoço do homem. Ele desmaiou em segundos, o corpo mole contra o chão. — Você é cheia de truques, humana — murmurou Kael, limpando o sangue das garras na calça rasgada que era sua única vestimenta. Aria o encarou, um leve sorriso surgindo em seus lábios. — E você está cheio de força bruta. Acho que formamos uma boa equipe. Antes que ele pudesse responder, um rugido soou pelo corredor — não humano, mas animal, profundo e reverberante. Kael virou-se, os sentidos em alerta. Das celas libertadas, os híbridos emergiram, alguns hesitantes, outros famintos por vingança. Um macho imenso, com traços de leão e braços grossos como troncos, avançou para o centro da câmara. Seus olhos castanhos encontraram os de Kael, e ele bateu no peito, um gesto de desafio. — Você não manda em mim, felino — rosnou o híbrido, a voz grave como um trovão. — Eu não sigo ordens de ninguém. Kael deu um passo à frente, os dentes à mostra em um sorriso perigoso. — Não estou pedindo para me seguir. Estou pedindo para lutar. Ou você prefere voltar para a jaula? O híbrido urso hesitou, os punhos cerrados. Antes que a tensão explodisse, Aria se colocou entre eles, as mãos erguidas. — Pare com isso! — exclamou ela. — Não temos tempo para brigas. Eles virão, e se não saímos agora, estaremos todos mortos. — Ela tem razão — disse uma voz mais suave, vinda de uma cela próxima. Uma fêmea híbrida, esguia e com olhos felino, emergiu das sombras. ela carregava uma calma que contrastava com o caos ao seu redor. — Eu ouvi os guardas. Eles estão trazendo os Caçadores. Kael sentiu um arrepio percorrendo sua espinha. Os Caçadores eram uma elite do Genesis Core — híbridos modificados, desprovidos de alma, programados para matar sem hesitação. Ele os enfrentou uma vez, em um teste brutal que deixou cicatrizes que nunca desapareceram. — Então vamos nos mover — disse ele, virando-se para Aria. — Qual é o plano? Ela respirou fundo, os olhos percorrendo o grupo de híbridos que se reuniam. Eram pelo menos vinte agora, todos marcados pela dor do Genesis. — Há uma saída de manutenção no nível inferior — explicou ela. — Não é vigiado, mas é apertado. Vamos precisar passar pelas células de contenção máxima para chegar lá. Se conseguirmos libertar mais dos seus... amigos, teremos uma chance. — Não são meus amigos — corrigiu Kael, mas havia um brilho em seus olhos. —São minha família. Aria assentiu, como se entendesse mais do que ele dizia. — Então vamos buscar sua família. O grupo se moveu como uma unidade desajeitada, os híbridos seguindo Kael e Aria por pura necessidade. O corredor descia em uma espiral de concreto, ou ficava mais frio e úmido a cada passo. Os sons dos alarmes diminuíram, substituídos por um silêncio opressivo que pesava sobre eles. Quando chegou ao nível inferior, Kael sentiu o cheiro antes de ver as celas — um fedor de morte e desespero, misturado com algo químico que fez suas narinas arderem. As portas aqui eram mais grossas, reforçadas com barras de titânio, e as celas eram escuras, exceto por pequenas viseiras que revelavam os olhos escondidos na penumbra. — O que fizeram com eles? — Disse a fêmea felina, sua voz tremendo pela primeira vez. Aria parou, os punhos cerrados ao lado do corpo. — Experimentos avançados — respondeu ela, quase em um sussurro. — Eles estão testando uma nova fórmula. Algo que apaga a mente, mas deixa o corpo mais forte. É por isso que eu saí. Kael virou-se para ela, os olhos estreitos. — Você sabia disso e não fez nada? — Eu fiz o que pude — retrucou ela, o tom defensivo. — Eu roubei dados, sabotei equipamentos. Mas não era o suficiente. Por isso estou aqui. Ele queria pressioná-la, cavar mais fundo naquele segredo que ela carregava como uma sombra. Mas um som o interrompidou — um grito agudo, quase inumano, vindo de uma das celas. Kael avançou, arrancando a viseira com um golpe. Dentro, um híbrido de lobo se contorce, as correntes cortando sua pele enquanto a espuma escorria de sua boca. — Ajude-o! — falou Kael, mas Aria já estava ao seu lado, o injetor na mão. — Não posso salvá-lo — disse ela, os olhos marejados. — Ele já foi longe demais. Mas posso acabar com a dor. Ela injetou o líquido, e o lobo caiu, os olhos vidrados em paz pela primeira vez. Kael sentiu um nó na garganta, mas engoliu a raiva. Não havia tempo para luto. — Vamos continuar — disse ele, a voz firme. — Liberte quem puder. Mate quem não pode ser salvo. Os híbridos trabalharam em silêncio, arrancando portas e carregando os feridos. Mas enquanto avançavam, um novo som ecoou — passos pesados, metálicos, acompanhados por um rosnado que não era natural. Kael virou-se, as garras prontas. No fim do corredor, os Caçadores apareceram. Eram três, seus corpos cobertos por armaduras negras, os olhos brilhando com um vermelho artificial. Não havia humanidade neles, apenas morte. — Aria — chamou Kael, sem tirar os olhos dos inimigos. — Diga que você tem um plano melhor agora. Ela engoliu em seco, puxando uma granada do cinto. — Corra — disse ela. — E reze para que isso funcione.O corredor tremia com o impacto dos passos dos Caçadores, cada batida reverberando como o martelo de um tambor de guerra. Kael sentiu o chão vibrar sob seus pés descalços, o instinto felino gritando para ele correr ou lutar. Mas Aria estava certa — correr era a única opção agora. Ele agarrou o braço dela, puxando-a para trás enquanto os híbridos libertados se espalhavam em um caos organizado, alguns carregando os feridos, outros rugindo em desafio.— Jogue essa coisa! — falei ele, os olhos fixos na granada que ela segurava como se fosse uma tábua de salvação. Aria arrancou o pino com os dentes, o movimento rápido e preciso, e lançou a granada em direção aos Caçadores. O objeto girou no ar, uma esfera prateada brilhando sob as luzes vermelhas, antes de explodir em uma onda de fogo e fumaça. O som foi ensurdecedor, um rugido que engoliu os gritos dos híbridos e o zumbido dos alarmes.Kael não esperou para ver o resultado. Ele empurrou Aria à frente, correndo com os outros pelo corredor
O rio corria lento ao lado deles, suas águas escuras refletindo fragmentos de uma lua partida por nuvens finas. Kael liderou o grupo em silêncio, os pés descalços afundando na lama fria da margem enquanto os híbridos o seguiam em uma fila irregular. O ar da noite era cortante, carregado com o aroma de pinheiros e o leve cheiro metálico da chuva que se aproximava. Ele mantém os sentidos aguçados, as orelhas captando cada farfalhar das folhas, cada respiração irregular dos outros. A liberdade era um gosto amargo — doce por um instante, mas envenenado pela certeza de que o Genesis Core estava logo atrás. Aria caminhava ao seu lado, o comunicador guardado no bolso da calça rasgada, os cabelos negros grudados no rosto por suor e umidade. Ela parecia pequena ao lado dele, frágil até, mas havia uma força em seus passos que Kael não podia ignorar. Ele ainda não sabia o que pensar dela — uma humana que traíra seus próprios mestres, uma cientista que carregava culpa como uma segunda pele. Mas
Talon olhou para o céu, os olhos observando algo que os outros ainda não viam. — Minutos, talvez. Vocês deixaram um rastro que até um cego poderia seguir. O rio não esconde o cheiro de sangue e medo. Aria xingou baixinho, puxando o comunicador do bolso. — Eu desativei os primeiros drones, mas eles devem ter enviado reforços. precisamos nos mover agora. — Não — disse Talon, erguendo a mão. — Correr só vai levá-los até nós. Vocês vêm comigo, ou morrem aqui. A escolha é de vocês. Kael rosnou, o som reverberando entre as árvores. — E por que confiaríamos em você? Talon o encarou, os olhos verdes inflexíveis. — Porque eu sei o que é ser uma arma deles. E sei como não ser mais. Se quiserem viver, sigam-me. Se não, boa sorte contra os Caçadores. O nome "Caçadores" fez o grupo se calar, o medo palpável no ar. Kael sentiu o peso do olhar dos outros sobre ele — todos esperando que ele decidisse. Ele odiava isso, uma responsabilidade que nunca pediria, mas que agora era de
O amanhecer rastejou sobre Haven com uma luz cinzenta, filtrando-se pelas copas das árvores e iluminando o acampamento. Kael acordou antes dos outros, os sentidos felinos — aguçados pelo DNA de tigre em suas veias — captando cada som e movimento ao redor. Ele saiu da tenda, o ar fresco mordendo sua pele humana, marcado por cicatrizes que contavam anos de luta no Genesis Core. Não havia traços visíveis de felino, mas a força em seus músculos e a agilidade nos passos eram prova do que ele era por dentro. O acampamento era um refúgio rústico — tendas de couro e madeira, fogueiras pequenas queimando em silêncio, e híbridos movendo-se com propósito. Todos tinham aparência humana, mas Kael reconhecia os tipos: felinos como ele, com movimentos fluidos; caninos, com olhares alertas e narinas inquietas; e macacos, com mãos hábeis e posturas confiantes. Ele observava enquanto carregavam baldes d'água e afiavam armas, o som do metal contra pedra ecoando em um ritmo constante. Aria emergiu da
O sol subia lentamente sobre Haven, tingindo o céu de laranja e dourado enquanto o acampamento despertava para um novo dia. Kael estava na borda do refúgio, perto do rio que cortava a floresta, o som da água um contraste calmo com a tempestade em sua mente. Ele era um felino, com DNA de tigre que lhe dava força e agilidade sobre-humanas, mas sua aparência era totalmente humana — alto, musculoso, com cicatrizes cruzando a pele bronzeada. Seus olhos âmbar varriam o horizonte, os sentidos aguçados captando cada movimento na floresta. Aria se movia em silêncio, os pés descalços quase inaudíveis contra a terra úmida. O cabelo negro caiu solto, úmido do rio onde se lavou, e a camiseta rasgada colava-se à pele, destacando as curvas suaves de seu corpo. Kael desviou os olhos por um instante, o instinto felino lutando contra um desejo humano que crescia em seu peito. Ele não tinha garras ou presas, mas a força em seus músculos e o calor em seu sangue eram prova de sua natureza.— Você não pa
O acampamento de Haven fervilhava com movimento, o ar carregado com o som de metal contra metal e gritos urgentes. O sol subia no céu, banhando o refúgio em uma luz dourada que contrastava com a sombra iminente do Genesis Core. Kael se move entre os híbridos, ajudando a erguer barricadas de troncos e pedras, os músculos fortalecidos pelo DNA flexionando sob a pele humana marcada por cicatrizes. Sua força e agilidade eram evidentes em cada movimento, carregando cargas que fariam um humano comum desabar.Aria trabalhou perto da fogueira central, cercada por Talon, Sable e um pequeno grupo de híbridos com habilidades técnicas. Sobre uma mesa improvisada, ela montou um dispositivo a partir de peças de sucata — fios do drone destruídos, baterias velhas e um transmissor que ela jurava poder interferir nos sinais do Genesis. Suas mãos eram rápidas, precisas, mas Kael notava o leve tremor em seus dedos, o peso da responsabilidade que ela carregava.— Isso vai funciona
O crepúsculo caiu sobre Haven, tingindo o céu de tons roxos e cinzentos enquanto o acampamento se recuperava do ataque dos Caçadores. As barricadas estavam danificadas, mas de pé, e os híbridos trabalhavam em silêncio, consertando o que podiam com mãos calejadas e determinação feroz. O cheiro de madeira queimada e metal derretido pairava no ar, misturado ao sangue seco que marcava o chão onde os inimigos haviam caído. Kael estava na caverna do conselho, o ombro enfaixado por Aria em um curativo improvisado que doía a cada movimento. Ao seu redor, os líderes de Haven formaram um círculo tenso: Talon, Sable, Rook, Mara e Finn. Aria estava ao lado de Kael, o dispositivo de interferência repousava sobre uma pedra à sua frente como um troféu de guerra. — Eles vão voltar — disse Talon, a voz firme enquanto ajustava uma flecha na mão. O felino,, exibe uma autoridade natural nos olhos verdes. — Caçadores não são o fim. São o aviso. A Genesis Core está testando nossas defesas. Rook asse
A noite caiu sobre a floresta como um manto pesado, as estrelas escondidas por nuvens escuras que prometiam chuva. Kael liderou o grupo de caça, os sentidos aguçados pelo DNA felino de tigre que corria em suas veias, captando cada som e movimento no terreno irregular ao norte de Haven. Sua aparência era humana — alta, musculosa, com cicatrizes marcando a pele —, mas a agilidade e força interna o tornavam um predador nato. Sable se movia-se ao seu lado, silenciosamente, os reflexos de leopardo evidentes em cada passo, a faca longa refletindo o brilho fraco da lua quando esta espiava entre as nuvens. Rook, um macaco com mãos ágeis e visão noturna apurada, segue atrás, os olhos espertos varrendo as copas das árvores. Zane, um canino com sentidos aguçados, e Vex, outra felina com agilidade de pantera, completavam o grupo, suas respirações visíveis no ar frio. O plano foi arriscado: encontrar o ponto de origem do batedor drone e destruí-lo antes que mais Caçadores fossem enviados. Talon a