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CAPÍTULO 4 - SOB A LUA QUEBRADA

O rio corria lento ao lado deles, suas águas escuras refletindo fragmentos de uma lua partida por nuvens finas. Kael liderou o grupo em silêncio, os pés descalços afundando na lama fria da margem enquanto os híbridos o seguiam em uma fila irregular. O ar da noite era cortante, carregado com o aroma de pinheiros e o leve cheiro metálico da chuva que se aproximava. Ele mantém os sentidos aguçados, as orelhas captando cada farfalhar das folhas, cada respiração irregular dos outros. A liberdade era um gosto amargo — doce por um instante, mas envenenado pela certeza de que o Genesis Core estava logo atrás.

Aria caminhava ao seu lado, o comunicador guardado no bolso da calça rasgada, os cabelos negros grudados no rosto por suor e umidade. Ela parecia pequena ao lado dele, frágil até, mas havia uma força em seus passos que Kael não podia ignorar. Ele ainda não sabia o que pensar dela — uma humana que traíra seus próprios mestres, uma cientista que carregava culpa como uma segunda pele. Mas ela os tirara daquele inferno, e por agora, isso era o suficiente.

— precisamos parar — disse a fêmea felina, sua voz cortando o silêncio. — Alguns deles não vão aguentar muito mais.

Kael parou, virando-se para avaliar o grupo. O lobo magro, com cicatrizes frescas cruzando o peito, respirava com dificuldade, o corpo curvado como se cada passo fosse uma batalha. Uma fêmea menor, com traços caninos, mancava, uma corrente ainda presa em seu tornozelo cortando a carne. Até o leão, com toda sua força bruta, parecia exausto, os ombros largos curvados sob o peso da fuga.

— Ela está certa — disse Aria, limpando o suor da testa. — Se continuarmos assim, vamos perder metade deles antes do amanhecer.

Kael rosnou baixo, o som mais instintivo do que intencional. Parar era arriscado — cada minuto parado era um minuto a mais para os Caçadores ou drones os alcançarem. Mas ele sabia que forçar o grupo além do limite os mataria tão certamente quanto uma bala do Genesis.

— Ali — disse ele, apontando para um grupo de árvores densas à esquerda do rio. — Vamos nos abrigar. Cinco minutos. Não mais.

Os híbridos se moveram sem hesitação, alguns caindo de joelhos assim que alcançaram a sombra das árvores. Kael ficou de pé, os olhos varrendo o horizonte enquanto Aria se ajoelhava ao lado do lobo, examinando suas feridas com mãos gentis. Ela tirou um pequeno kit médico do bolso — uma relíquia improvisada, com bandagens e um frasco de antisséptico — e começou a trabalhar, os movimentos precisos de quem já fez isso antes.

— Você é médico também? — Disse o leão, a voz grave trazendo de curiosidade enquanto se sentava pesadamente contra um tronco.

— Não exatamente. Aprendi o básico em Gênesis. Eles não se importaram em nos ensinar.

Kael a observou em silêncio, as palavras dela girando em sua mente. Havia uma história ali, uma que ela ainda não contara. Ele queria pressioná-la, arrancar as verdades que ela escondia, mas o momento foi interrompido por um som — um estalo seco, como um galho quebrando sob um peso.

Ele girou, o corpo tenso como uma corda pronta para romper. Os híbridos se calaram, os olhos arregalados enquanto olhavam para a escuridão além das árvores. O vento trouxe um cheiro novo — não de metal ou morte, mas de algo vivo, quente, animalesco.

— Não é a Genesis — murmurou a felina. — É... outra coisa.

Kael deu um passo à frente, os sentidos em alerta máximo. Antes que pudesse reagir, uma figura emergiu das sombras — alta, esguia, com olhos verdes que brilhavam como jade sob a luz da lua. Era um híbrido, mas não como os outros. Sua pele era lisa, sem cicatrizes visíveis, e ele usava roupas rústicas, feitas de couro e tecido grosseiro. Um arco pendente de seu ombro, uma flecha já encaixada, mas não apontada.

— Quem são vocês? — Disse o estranho, a voz calma, mas cheia de autoridades.

Kael avançou, colocando-se entre o grupo e o recém-chegado.

— Quem é você? — retrucou ele, os dentes à mostra. — Essa não é sua terra para nos caçar.

O estranho inclinou a cabeça, os olhos verdes avaliando Kael com uma mistura de curiosidade e cautela. Ele não recuou, havia algo diferente nele — uma confiança que não vinha de arrogância, mas de alguém que conhecia o terreno, que sobreviveu fora das celas do Genesis Core.

— Não estou aqui para caçar — disse o híbrido, baixando o arco lentamente, mas mantendo a flecha pronta. — Meu nome é Talon. E esta terra não pertence a ninguém além daqueles que a tomam para si. Vocês são fugitivos, não são?

Kael estreitou os olhos, o instinto guerreando com a necessidade de respostas. Antes que eu pudesse falar, Aria se declarou do lado do lobo ferido, limpando as mãos ensanguentadas na calça.

— Sim — respondeu ela, a voz firme apesar do cansaço que marcou seu rosto. — Somos da Genesis Core. Escapamos há menos de uma hora. Você já ouviu falar deles?

Talon riu, um som curto e seco que não alcançava os olhos.

— Ouvi? Eu vivi isso. — Ele exerceu a mão esquerda, revelando uma cicatriz circular no pulso, onde um implante de rastreamento fora arrancado. — Fui um dos primeiros a sair. Há anos. Não achei que veria mais de vocês tão cedo.

Os híbridos atrás de Kael murmuraram entre si, uma mistura de esperança e desconfiança. a felina deu um passo à frente, encarando Talon.

— Você escapou? Como? Eles nunca deixam ninguém ir.

— Eles não me deixaram — corrigiu Talon. — Eu tomei minha liberdade. E construí algo com os outros que vieram depois. Um lugar seguro. Mas vocês... vocês trouxeram problemas com vocês, não foi?

Kael sentiu um arrepio na nuca, os sentidos captando o que Talon já parecia saber. Ele virou a cabeça, farejando o ar. O vento mudando, trazendo o cheiro distante de óleo e metal — drones, ou algo pior, aproximando-se rápido.

— Quanto tempo temos? — Disse ele, a voz cortante.

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