O rio corria lento ao lado deles, suas águas escuras refletindo fragmentos de uma lua partida por nuvens finas. Kael liderou o grupo em silêncio, os pés descalços afundando na lama fria da margem enquanto os híbridos o seguiam em uma fila irregular. O ar da noite era cortante, carregado com o aroma de pinheiros e o leve cheiro metálico da chuva que se aproximava. Ele mantém os sentidos aguçados, as orelhas captando cada farfalhar das folhas, cada respiração irregular dos outros. A liberdade era um gosto amargo — doce por um instante, mas envenenado pela certeza de que o Genesis Core estava logo atrás.
Aria caminhava ao seu lado, o comunicador guardado no bolso da calça rasgada, os cabelos negros grudados no rosto por suor e umidade. Ela parecia pequena ao lado dele, frágil até, mas havia uma força em seus passos que Kael não podia ignorar. Ele ainda não sabia o que pensar dela — uma humana que traíra seus próprios mestres, uma cientista que carregava culpa como uma segunda pele. Mas ela os tirara daquele inferno, e por agora, isso era o suficiente. — precisamos parar — disse a fêmea felina, sua voz cortando o silêncio. — Alguns deles não vão aguentar muito mais. Kael parou, virando-se para avaliar o grupo. O lobo magro, com cicatrizes frescas cruzando o peito, respirava com dificuldade, o corpo curvado como se cada passo fosse uma batalha. Uma fêmea menor, com traços caninos, mancava, uma corrente ainda presa em seu tornozelo cortando a carne. Até o leão, com toda sua força bruta, parecia exausto, os ombros largos curvados sob o peso da fuga. — Ela está certa — disse Aria, limpando o suor da testa. — Se continuarmos assim, vamos perder metade deles antes do amanhecer. Kael rosnou baixo, o som mais instintivo do que intencional. Parar era arriscado — cada minuto parado era um minuto a mais para os Caçadores ou drones os alcançarem. Mas ele sabia que forçar o grupo além do limite os mataria tão certamente quanto uma bala do Genesis. — Ali — disse ele, apontando para um grupo de árvores densas à esquerda do rio. — Vamos nos abrigar. Cinco minutos. Não mais. Os híbridos se moveram sem hesitação, alguns caindo de joelhos assim que alcançaram a sombra das árvores. Kael ficou de pé, os olhos varrendo o horizonte enquanto Aria se ajoelhava ao lado do lobo, examinando suas feridas com mãos gentis. Ela tirou um pequeno kit médico do bolso — uma relíquia improvisada, com bandagens e um frasco de antisséptico — e começou a trabalhar, os movimentos precisos de quem já fez isso antes. — Você é médico também? — Disse o leão, a voz grave trazendo de curiosidade enquanto se sentava pesadamente contra um tronco. — Não exatamente. Aprendi o básico em Gênesis. Eles não se importaram em nos ensinar. Kael a observou em silêncio, as palavras dela girando em sua mente. Havia uma história ali, uma que ela ainda não contara. Ele queria pressioná-la, arrancar as verdades que ela escondia, mas o momento foi interrompido por um som — um estalo seco, como um galho quebrando sob um peso. Ele girou, o corpo tenso como uma corda pronta para romper. Os híbridos se calaram, os olhos arregalados enquanto olhavam para a escuridão além das árvores. O vento trouxe um cheiro novo — não de metal ou morte, mas de algo vivo, quente, animalesco. — Não é a Genesis — murmurou a felina. — É... outra coisa. Kael deu um passo à frente, os sentidos em alerta máximo. Antes que pudesse reagir, uma figura emergiu das sombras — alta, esguia, com olhos verdes que brilhavam como jade sob a luz da lua. Era um híbrido, mas não como os outros. Sua pele era lisa, sem cicatrizes visíveis, e ele usava roupas rústicas, feitas de couro e tecido grosseiro. Um arco pendente de seu ombro, uma flecha já encaixada, mas não apontada. — Quem são vocês? — Disse o estranho, a voz calma, mas cheia de autoridades. Kael avançou, colocando-se entre o grupo e o recém-chegado. — Quem é você? — retrucou ele, os dentes à mostra. — Essa não é sua terra para nos caçar. O estranho inclinou a cabeça, os olhos verdes avaliando Kael com uma mistura de curiosidade e cautela. Ele não recuou, havia algo diferente nele — uma confiança que não vinha de arrogância, mas de alguém que conhecia o terreno, que sobreviveu fora das celas do Genesis Core. — Não estou aqui para caçar — disse o híbrido, baixando o arco lentamente, mas mantendo a flecha pronta. — Meu nome é Talon. E esta terra não pertence a ninguém além daqueles que a tomam para si. Vocês são fugitivos, não são? Kael estreitou os olhos, o instinto guerreando com a necessidade de respostas. Antes que eu pudesse falar, Aria se declarou do lado do lobo ferido, limpando as mãos ensanguentadas na calça. — Sim — respondeu ela, a voz firme apesar do cansaço que marcou seu rosto. — Somos da Genesis Core. Escapamos há menos de uma hora. Você já ouviu falar deles? Talon riu, um som curto e seco que não alcançava os olhos. — Ouvi? Eu vivi isso. — Ele exerceu a mão esquerda, revelando uma cicatriz circular no pulso, onde um implante de rastreamento fora arrancado. — Fui um dos primeiros a sair. Há anos. Não achei que veria mais de vocês tão cedo. Os híbridos atrás de Kael murmuraram entre si, uma mistura de esperança e desconfiança. a felina deu um passo à frente, encarando Talon. — Você escapou? Como? Eles nunca deixam ninguém ir. — Eles não me deixaram — corrigiu Talon. — Eu tomei minha liberdade. E construí algo com os outros que vieram depois. Um lugar seguro. Mas vocês... vocês trouxeram problemas com vocês, não foi? Kael sentiu um arrepio na nuca, os sentidos captando o que Talon já parecia saber. Ele virou a cabeça, farejando o ar. O vento mudando, trazendo o cheiro distante de óleo e metal — drones, ou algo pior, aproximando-se rápido. — Quanto tempo temos? — Disse ele, a voz cortante.Talon olhou para o céu, os olhos observando algo que os outros ainda não viam. — Minutos, talvez. Vocês deixaram um rastro que até um cego poderia seguir. O rio não esconde o cheiro de sangue e medo. Aria xingou baixinho, puxando o comunicador do bolso. — Eu desativei os primeiros drones, mas eles devem ter enviado reforços. precisamos nos mover agora. — Não — disse Talon, erguendo a mão. — Correr só vai levá-los até nós. Vocês vêm comigo, ou morrem aqui. A escolha é de vocês. Kael rosnou, o som reverberando entre as árvores. — E por que confiaríamos em você? Talon o encarou, os olhos verdes inflexíveis. — Porque eu sei o que é ser uma arma deles. E sei como não ser mais. Se quiserem viver, sigam-me. Se não, boa sorte contra os Caçadores. O nome "Caçadores" fez o grupo se calar, o medo palpável no ar. Kael sentiu o peso do olhar dos outros sobre ele — todos esperando que ele decidisse. Ele odiava isso, uma responsabilidade que nunca pediria, mas que agora era de
O amanhecer rastejou sobre Haven com uma luz cinzenta, filtrando-se pelas copas das árvores e iluminando o acampamento. Kael acordou antes dos outros, os sentidos felinos — aguçados pelo DNA de tigre em suas veias — captando cada som e movimento ao redor. Ele saiu da tenda, o ar fresco mordendo sua pele humana, marcado por cicatrizes que contavam anos de luta no Genesis Core. Não havia traços visíveis de felino, mas a força em seus músculos e a agilidade nos passos eram prova do que ele era por dentro. O acampamento era um refúgio rústico — tendas de couro e madeira, fogueiras pequenas queimando em silêncio, e híbridos movendo-se com propósito. Todos tinham aparência humana, mas Kael reconhecia os tipos: felinos como ele, com movimentos fluidos; caninos, com olhares alertas e narinas inquietas; e macacos, com mãos hábeis e posturas confiantes. Ele observava enquanto carregavam baldes d'água e afiavam armas, o som do metal contra pedra ecoando em um ritmo constante. Aria emergiu da
O sol subia lentamente sobre Haven, tingindo o céu de laranja e dourado enquanto o acampamento despertava para um novo dia. Kael estava na borda do refúgio, perto do rio que cortava a floresta, o som da água um contraste calmo com a tempestade em sua mente. Ele era um felino, com DNA de tigre que lhe dava força e agilidade sobre-humanas, mas sua aparência era totalmente humana — alto, musculoso, com cicatrizes cruzando a pele bronzeada. Seus olhos âmbar varriam o horizonte, os sentidos aguçados captando cada movimento na floresta. Aria se movia em silêncio, os pés descalços quase inaudíveis contra a terra úmida. O cabelo negro caiu solto, úmido do rio onde se lavou, e a camiseta rasgada colava-se à pele, destacando as curvas suaves de seu corpo. Kael desviou os olhos por um instante, o instinto felino lutando contra um desejo humano que crescia em seu peito. Ele não tinha garras ou presas, mas a força em seus músculos e o calor em seu sangue eram prova de sua natureza.— Você não pa
O acampamento de Haven fervilhava com movimento, o ar carregado com o som de metal contra metal e gritos urgentes. O sol subia no céu, banhando o refúgio em uma luz dourada que contrastava com a sombra iminente do Genesis Core. Kael se move entre os híbridos, ajudando a erguer barricadas de troncos e pedras, os músculos fortalecidos pelo DNA flexionando sob a pele humana marcada por cicatrizes. Sua força e agilidade eram evidentes em cada movimento, carregando cargas que fariam um humano comum desabar.Aria trabalhou perto da fogueira central, cercada por Talon, Sable e um pequeno grupo de híbridos com habilidades técnicas. Sobre uma mesa improvisada, ela montou um dispositivo a partir de peças de sucata — fios do drone destruídos, baterias velhas e um transmissor que ela jurava poder interferir nos sinais do Genesis. Suas mãos eram rápidas, precisas, mas Kael notava o leve tremor em seus dedos, o peso da responsabilidade que ela carregava.— Isso vai funciona
O crepúsculo caiu sobre Haven, tingindo o céu de tons roxos e cinzentos enquanto o acampamento se recuperava do ataque dos Caçadores. As barricadas estavam danificadas, mas de pé, e os híbridos trabalhavam em silêncio, consertando o que podiam com mãos calejadas e determinação feroz. O cheiro de madeira queimada e metal derretido pairava no ar, misturado ao sangue seco que marcava o chão onde os inimigos haviam caído. Kael estava na caverna do conselho, o ombro enfaixado por Aria em um curativo improvisado que doía a cada movimento. Ao seu redor, os líderes de Haven formaram um círculo tenso: Talon, Sable, Rook, Mara e Finn. Aria estava ao lado de Kael, o dispositivo de interferência repousava sobre uma pedra à sua frente como um troféu de guerra. — Eles vão voltar — disse Talon, a voz firme enquanto ajustava uma flecha na mão. O felino,, exibe uma autoridade natural nos olhos verdes. — Caçadores não são o fim. São o aviso. A Genesis Core está testando nossas defesas. Rook asse
A noite caiu sobre a floresta como um manto pesado, as estrelas escondidas por nuvens escuras que prometiam chuva. Kael liderou o grupo de caça, os sentidos aguçados pelo DNA felino de tigre que corria em suas veias, captando cada som e movimento no terreno irregular ao norte de Haven. Sua aparência era humana — alta, musculosa, com cicatrizes marcando a pele —, mas a agilidade e força interna o tornavam um predador nato. Sable se movia-se ao seu lado, silenciosamente, os reflexos de leopardo evidentes em cada passo, a faca longa refletindo o brilho fraco da lua quando esta espiava entre as nuvens. Rook, um macaco com mãos ágeis e visão noturna apurada, segue atrás, os olhos espertos varrendo as copas das árvores. Zane, um canino com sentidos aguçados, e Vex, outra felina com agilidade de pantera, completavam o grupo, suas respirações visíveis no ar frio. O plano foi arriscado: encontrar o ponto de origem do batedor drone e destruí-lo antes que mais Caçadores fossem enviados. Talon a
A chuva diminuiu para um chuvisco leve quando o amanhecer chegou a Haven, o céu cinza refletindo-se nas poças que se formavam no chão do acampamento. Kael acordou com o peso quente de Aria contra seu peito, o corpo dela aninhado nas peles onde havia dormido. O calor da noite anterior ainda pulsava em suas veias, mas o comunicador do Genesis, ao lado deles, era um lembrete frio do que os esperavam. Ele a observou por um momento, os cabelos negros espalhados como tinta sobre a pele pálida, os lábios entreabertos em um sono leve. Ela era sua força, mas também suas fraquezas — uma verdade que ele aceitou com um rosnado silencioso. Ele levantou com cuidado, pegando a camisa rasgada que jogara de lado na noite anterior. O ferimento no ombro latejava, mas ele o ignorou, saindo da tenda para o ar úmido da manhã. O acampamento estava quieto, os híbridos ainda se recuperando da batalha e da tensão da caçada. Todos tinham aparência humana, mas Kael reconhecia os tipos: felinos como ele, com mo
A cela cheirava a ferro e desespero, um odor que Kael conhecia tão bem quanto o som de sua própria respiração. As paredes de aço reforçadas refletiam a luz fraca de uma lâmpada suspensa no teto, projetando sombras que dançavam como fantasmas sobre o chão frio. Ele estava sentado, os músculos tensos sob a pele marcada por cicatrizes, os olhos âmbar fixos na porta trancada à sua frente. Não havia janelas, nem ar fresco, apenas o zumbido constante do sistema de ventilação que mal disfarçava os gritos distantes de outros como ele — híbridos, prisioneiros da Genesis Core.Kael era diferente, diziam os guardas. Um modelo aprimorado, criado a partir do DNA de um tigre siberiano e de um soldado humano de elite. Seus reflexos eram mortais, suas mãos podiam partir metal, e sua mente... bem, sua mente era o que o mantinha vivo. Ele não se dobrava, não implorava, nem mesmo quando os eletrodos queimavam sua carne ou quando injetavam substâncias que faziam seu sangue parecer lava. Ele sobreviveu. S