A cela cheirava a ferro e desespero, um odor que Kael conhecia tão bem quanto o som de sua própria respiração. As paredes de aço reforçadas refletiam a luz fraca de uma lâmpada suspensa no teto, projetando sombras que dançavam como fantasmas sobre o chão frio. Ele estava sentado, os músculos tensos sob a pele marcada por cicatrizes, os olhos âmbar fixos na porta trancada à sua frente. Não havia janelas, nem ar fresco, apenas o zumbido constante do sistema de ventilação que mal disfarçava os gritos distantes de outros como ele — híbridos, prisioneiros da Genesis Core.
Kael era diferente, diziam os guardas. Um modelo aprimorado, criado a partir do DNA de um tigre siberiano e de um soldado humano de elite. Seus reflexos eram mortais, suas mãos podiam partir metal, e sua mente... bem, sua mente era o que o mantinha vivo. Ele não se dobrava, não implorava, nem mesmo quando os eletrodos queimavam sua carne ou quando injetavam substâncias que faziam seu sangue parecer lava. Ele sobreviveu. Sempre sobrevivia. Mas naquela noite, algo mudou. Um som novo cortou o silêncio — passos leves, hesitantes, acompanhados pelo tilintar sutil de metal contra metal. Kael inclinou a cabeça, enquanto as orelhas captavam o ruído antes que sua mente o processasse. Não foi o passo pesado dos guardas, nem a camarilha das botas dos cientistas. Era outra coisa. Alguém novo. A porta rangeu, e uma figura surgiu na penumbra. Era uma mulher, pequena em comparação aos brutos que costumavam cruzar seu caminho. Cabelos negros caíram sobre os ombros, emoldurando um rosto pálido com olhos castanhos que brilhavam com uma mistura de medo e determinação. Ela segurava uma chave — uma chave de verdade, não um cartão magnético ou um código digital, mas uma peça antiga de metal serrilhado, como se tivesse sido roubada de um museu. — Você não deveria estar aqui — rosnou Kael, sua voz grave reverberando na cela. Ele não se moveu, mas seus músculos se contraíram, prontos para atacar ou defender, dependendo do que viesse a seguir. A mulher deu um passo à frente, o tremor em suas mãos treinando o tom firme de sua resposta. — E você não deveria estar preso. — Ela extraiu a chave, hesitando por um instante antes de inserir-la na fechadura da corrente que prendia os pulsos de Kael ao chão. — Meu nome é Aria. Vim para tirá-lo daqui. Todos vocês. Kael estreitou os olhos, o instinto guerreando com a desconfiança. Humanos não ajudavam híbridos. Os humanos os criaram, os quebravam, os descartavam. Ele viu isso com seus próprios olhos — os corpos de seus irmãos empilhados em câmaras de descarte, os experimentos falhados que gritavam até silenciados. Por que essa mulher seria diferente? — Porquê? — Disse ele, a palavra de veneno. Aria girou a chave, e o clique da corrente se soltando ecoou como um trovão. Ela não recuou, mesmo quando Kael se pronunciou, sua presença imponente preenchendo o espaço. Ele era alto, mais de dois metros, com ombros largos e uma postura que gritava perigo. As cicatrizes em seu peito brilhavam à luz fraca, testemunhas de anos de tormento. — Porque eu sei o que eles estão fazendo — respondeu ela, finalmente encontrando seu olhar. — E porque eu posso acabar com isso. Mas não sozinha. Preciso de você. Kael flexionou os pulsos livres, sentindo o sangue circular onde o metal havia mordido sua pele. Ele poderia matá-la agora, a partir do pescoço com um movimento rápido e escapar sozinho. Mas havia algo na voz dela, uma sinceridade que ele não conseguia ignorar. E o cheiro — doce, como flores silvestres num campo que ele nunca viu, mas que sua mente animal se reconhecia de algum modo. — Quem é você? — ele perguntou, dando um passo à frente. Aria não recuou, mas ele viu o pulso em seu pescoço aumentado. — Eu era um deles — admiti ela, a voz baixando para um sussurro. — Uma cientista da Genesis. Mas eu vi demais. Eles estão criando algo novo, Kael. Algo pior do que você pode imaginar. E se não os paramos, não vai sobrar nada para nenhum de nós. Antes que ele pudesse responder, um alarme soou, um guincho agudo que cortou o ar como uma faca. Luzes vermelhas piscaram no corredor, e o som de botas pesadas foram ouvidos. Aria xingou baixinho, puxando um dispositivo do bolso — um comunicador improvisado, pelo que Kael podia ver. — Estamos sem tempo — disse ela, virando-se para a porta. — Você vem comigo ou fica aqui para lutar sozinho? Kael olhou para a saída, depois para ela. A escolha era simples, mas as consequências eram um abismo desconhecido. Ele não confiava nela — ainda não —, mas confiava menos no Genesis Core. Com um grunhido baixo, ele concordou. — Leve-me aos outros — disse ele, seguindo-a para o corredor. — Mas se isso for uma armadilha, você será a primeira a morrer. Ela deu um sorriso tenso, quase desafiador. – Justo. Vamos. O corredor era um labirinto de aço e sombras, os alarmes ecoando em seus ouvidos enquanto corriam. Kael ouvia os gritos distantes de outros híbridos — alguns implorando, outros rugindo em desafio. Ele conhecia aqueles filhos, aquelas vozes. Seus irmãos. Seus iguais. E pela primeira vez em anos, a chama da esperança, pequena e frágil, acendeu-se em seu peito. Aria liderava o caminho, suas mãos rápidas enquanto digitava códigos em portas trancadas. Ela foi eficiente, determinada, mas Kael sentiu o peso de algo mais nela — culpa, talvez, ou um segredo que ela ainda não revelou. Ele a observava com atenção, os instintos em alerta, mas por agora, ela era sua única saída. Quando chegou a uma câmara maior, cheia de celas idênticas a dele, Kael parou. Dezenas de olhos o encararam através das classes — olhos de lobo, de urso, de falcão. Híbridos como ele, todos esperando, todos quebrados, mas ainda vivos. — Vamos tirá-los daqui — disse Aria, já trabalhando na próxima fechadura. Kael avançou, arrancando uma fechadura com as mãos nuas. — Sim — rosnou ele. — Vamos.O ar na câmara de contenção era denso, carregado com o cheiro metálico de sangue seco e o suor acre de corpos confinados. As luzes vermelhas piscavam em um ritmo frenético, sincronizadas com o alarme que gritava como uma fera ferida. Kael avançou entre as celas, arrancando aço como se fosse papel, libertando os híbridos um por um. Cada grade que caía no chão era um grito de desafio contra o Genesis Core, um eco do ódio que queimava em seu peito.Aria ao seu lado, os dedos ágeis digitavam códigos em painéis eletrônicos. Ela foi rápida, mas Kael percebeu o tremor em seus movimentos, o peso da adrenalina misturado com algo que ele não conseguiu identificar — medo, talvez, ou arrependimento. Ele não tinha tempo para analisar. Não agora.— Por aqui! — referiu-se a ela, apontando para um corredor à esquerda enquanto uma porta pesada começava a se abrir com um gemido mecânico. Do outro lado, sombras se movem — guardas armados, seus uniformes pretos reluzindo sob as luzes de emergência.Kael
O corredor tremia com o impacto dos passos dos Caçadores, cada batida reverberando como o martelo de um tambor de guerra. Kael sentiu o chão vibrar sob seus pés descalços, o instinto felino gritando para ele correr ou lutar. Mas Aria estava certa — correr era a única opção agora. Ele agarrou o braço dela, puxando-a para trás enquanto os híbridos libertados se espalhavam em um caos organizado, alguns carregando os feridos, outros rugindo em desafio.— Jogue essa coisa! — falei ele, os olhos fixos na granada que ela segurava como se fosse uma tábua de salvação. Aria arrancou o pino com os dentes, o movimento rápido e preciso, e lançou a granada em direção aos Caçadores. O objeto girou no ar, uma esfera prateada brilhando sob as luzes vermelhas, antes de explodir em uma onda de fogo e fumaça. O som foi ensurdecedor, um rugido que engoliu os gritos dos híbridos e o zumbido dos alarmes.Kael não esperou para ver o resultado. Ele empurrou Aria à frente, correndo com os outros pelo corredor
O rio corria lento ao lado deles, suas águas escuras refletindo fragmentos de uma lua partida por nuvens finas. Kael liderou o grupo em silêncio, os pés descalços afundando na lama fria da margem enquanto os híbridos o seguiam em uma fila irregular. O ar da noite era cortante, carregado com o aroma de pinheiros e o leve cheiro metálico da chuva que se aproximava. Ele mantém os sentidos aguçados, as orelhas captando cada farfalhar das folhas, cada respiração irregular dos outros. A liberdade era um gosto amargo — doce por um instante, mas envenenado pela certeza de que o Genesis Core estava logo atrás. Aria caminhava ao seu lado, o comunicador guardado no bolso da calça rasgada, os cabelos negros grudados no rosto por suor e umidade. Ela parecia pequena ao lado dele, frágil até, mas havia uma força em seus passos que Kael não podia ignorar. Ele ainda não sabia o que pensar dela — uma humana que traíra seus próprios mestres, uma cientista que carregava culpa como uma segunda pele. Mas
Talon olhou para o céu, os olhos observando algo que os outros ainda não viam. — Minutos, talvez. Vocês deixaram um rastro que até um cego poderia seguir. O rio não esconde o cheiro de sangue e medo. Aria xingou baixinho, puxando o comunicador do bolso. — Eu desativei os primeiros drones, mas eles devem ter enviado reforços. precisamos nos mover agora. — Não — disse Talon, erguendo a mão. — Correr só vai levá-los até nós. Vocês vêm comigo, ou morrem aqui. A escolha é de vocês. Kael rosnou, o som reverberando entre as árvores. — E por que confiaríamos em você? Talon o encarou, os olhos verdes inflexíveis. — Porque eu sei o que é ser uma arma deles. E sei como não ser mais. Se quiserem viver, sigam-me. Se não, boa sorte contra os Caçadores. O nome "Caçadores" fez o grupo se calar, o medo palpável no ar. Kael sentiu o peso do olhar dos outros sobre ele — todos esperando que ele decidisse. Ele odiava isso, uma responsabilidade que nunca pediria, mas que agora era de
O amanhecer rastejou sobre Haven com uma luz cinzenta, filtrando-se pelas copas das árvores e iluminando o acampamento. Kael acordou antes dos outros, os sentidos felinos — aguçados pelo DNA de tigre em suas veias — captando cada som e movimento ao redor. Ele saiu da tenda, o ar fresco mordendo sua pele humana, marcado por cicatrizes que contavam anos de luta no Genesis Core. Não havia traços visíveis de felino, mas a força em seus músculos e a agilidade nos passos eram prova do que ele era por dentro. O acampamento era um refúgio rústico — tendas de couro e madeira, fogueiras pequenas queimando em silêncio, e híbridos movendo-se com propósito. Todos tinham aparência humana, mas Kael reconhecia os tipos: felinos como ele, com movimentos fluidos; caninos, com olhares alertas e narinas inquietas; e macacos, com mãos hábeis e posturas confiantes. Ele observava enquanto carregavam baldes d'água e afiavam armas, o som do metal contra pedra ecoando em um ritmo constante. Aria emergiu da
O sol subia lentamente sobre Haven, tingindo o céu de laranja e dourado enquanto o acampamento despertava para um novo dia. Kael estava na borda do refúgio, perto do rio que cortava a floresta, o som da água um contraste calmo com a tempestade em sua mente. Ele era um felino, com DNA de tigre que lhe dava força e agilidade sobre-humanas, mas sua aparência era totalmente humana — alto, musculoso, com cicatrizes cruzando a pele bronzeada. Seus olhos âmbar varriam o horizonte, os sentidos aguçados captando cada movimento na floresta. Aria se movia em silêncio, os pés descalços quase inaudíveis contra a terra úmida. O cabelo negro caiu solto, úmido do rio onde se lavou, e a camiseta rasgada colava-se à pele, destacando as curvas suaves de seu corpo. Kael desviou os olhos por um instante, o instinto felino lutando contra um desejo humano que crescia em seu peito. Ele não tinha garras ou presas, mas a força em seus músculos e o calor em seu sangue eram prova de sua natureza.— Você não pa
O acampamento de Haven fervilhava com movimento, o ar carregado com o som de metal contra metal e gritos urgentes. O sol subia no céu, banhando o refúgio em uma luz dourada que contrastava com a sombra iminente do Genesis Core. Kael se move entre os híbridos, ajudando a erguer barricadas de troncos e pedras, os músculos fortalecidos pelo DNA flexionando sob a pele humana marcada por cicatrizes. Sua força e agilidade eram evidentes em cada movimento, carregando cargas que fariam um humano comum desabar.Aria trabalhou perto da fogueira central, cercada por Talon, Sable e um pequeno grupo de híbridos com habilidades técnicas. Sobre uma mesa improvisada, ela montou um dispositivo a partir de peças de sucata — fios do drone destruídos, baterias velhas e um transmissor que ela jurava poder interferir nos sinais do Genesis. Suas mãos eram rápidas, precisas, mas Kael notava o leve tremor em seus dedos, o peso da responsabilidade que ela carregava.— Isso vai funciona
O crepúsculo caiu sobre Haven, tingindo o céu de tons roxos e cinzentos enquanto o acampamento se recuperava do ataque dos Caçadores. As barricadas estavam danificadas, mas de pé, e os híbridos trabalhavam em silêncio, consertando o que podiam com mãos calejadas e determinação feroz. O cheiro de madeira queimada e metal derretido pairava no ar, misturado ao sangue seco que marcava o chão onde os inimigos haviam caído. Kael estava na caverna do conselho, o ombro enfaixado por Aria em um curativo improvisado que doía a cada movimento. Ao seu redor, os líderes de Haven formaram um círculo tenso: Talon, Sable, Rook, Mara e Finn. Aria estava ao lado de Kael, o dispositivo de interferência repousava sobre uma pedra à sua frente como um troféu de guerra. — Eles vão voltar — disse Talon, a voz firme enquanto ajustava uma flecha na mão. O felino,, exibe uma autoridade natural nos olhos verdes. — Caçadores não são o fim. São o aviso. A Genesis Core está testando nossas defesas. Rook asse