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SOMBRAS DA LIBERDADE
SOMBRAS DA LIBERDADE
Por: Sophie Castellan
CAPÍTULO 1- A CHAVE NA ESCURIDÃO

A cela cheirava a ferro e desespero, um odor que Kael conhecia tão bem quanto o som de sua própria respiração. As paredes de aço reforçadas refletiam a luz fraca de uma lâmpada suspensa no teto, projetando sombras que dançavam como fantasmas sobre o chão frio. Ele estava sentado, os músculos tensos sob a pele marcada por cicatrizes, os olhos âmbar fixos na porta trancada à sua frente. Não havia janelas, nem ar fresco, apenas o zumbido constante do sistema de ventilação que mal disfarçava os gritos distantes de outros como ele — híbridos, prisioneiros da Genesis Core.

Kael era diferente, diziam os guardas. Um modelo aprimorado, criado a partir do DNA de um tigre siberiano e de um soldado humano de elite. Seus reflexos eram mortais, suas mãos podiam partir metal, e sua mente... bem, sua mente era o que o mantinha vivo. Ele não se dobrava, não implorava, nem mesmo quando os eletrodos queimavam sua carne ou quando injetavam substâncias que faziam seu sangue parecer lava. Ele sobreviveu. Sempre sobrevivia.

Mas naquela noite, algo mudou. Um som novo cortou o silêncio — passos leves, hesitantes, acompanhados pelo tilintar sutil de metal contra metal. Kael inclinou a cabeça, enquanto as orelhas captavam o ruído antes que sua mente o processasse. Não foi o passo pesado dos guardas, nem a camarilha das botas dos cientistas. Era outra coisa. Alguém novo.

A porta rangeu, e uma figura surgiu na penumbra. Era uma mulher, pequena em comparação aos brutos que costumavam cruzar seu caminho. Cabelos negros caíram sobre os ombros, emoldurando um rosto pálido com olhos castanhos que brilhavam com uma mistura de medo e determinação. Ela segurava uma chave — uma chave de verdade, não um cartão magnético ou um código digital, mas uma peça antiga de metal serrilhado, como se tivesse sido roubada de um museu.

— Você não deveria estar aqui — rosnou Kael, sua voz grave reverberando na cela. Ele não se moveu, mas seus músculos se contraíram, prontos para atacar ou defender, dependendo do que viesse a seguir.

A mulher deu um passo à frente, o tremor em suas mãos treinando o tom firme de sua resposta.

— E você não deveria estar preso. — Ela extraiu a chave, hesitando por um instante antes de inserir-la na fechadura da corrente que prendia os pulsos de Kael ao chão. — Meu nome é Aria. Vim para tirá-lo daqui. Todos vocês.

Kael estreitou os olhos, o instinto guerreando com a desconfiança. Humanos não ajudavam híbridos. Os humanos os criaram, os quebravam, os descartavam. Ele viu isso com seus próprios olhos — os corpos de seus irmãos empilhados em câmaras de descarte, os experimentos falhados que gritavam até silenciados. Por que essa mulher seria diferente?

— Porquê? — Disse ele, a palavra de veneno.

Aria girou a chave, e o clique da corrente se soltando ecoou como um trovão. Ela não recuou, mesmo quando Kael se pronunciou, sua presença imponente preenchendo o espaço. Ele era alto, mais de dois metros, com ombros largos e uma postura que gritava perigo. As cicatrizes em seu peito brilhavam à luz fraca, testemunhas de anos de tormento.

— Porque eu sei o que eles estão fazendo — respondeu ela, finalmente encontrando seu olhar. — E porque eu posso acabar com isso. Mas não sozinha. Preciso de você.

Kael flexionou os pulsos livres, sentindo o sangue circular onde o metal havia mordido sua pele. Ele poderia matá-la agora, a partir do pescoço com um movimento rápido e escapar sozinho. Mas havia algo na voz dela, uma sinceridade que ele não conseguia ignorar. E o cheiro — doce, como flores silvestres num campo que ele nunca viu, mas que sua mente animal se reconhecia de algum modo.

— Quem é você? — ele perguntou, dando um passo à frente. Aria não recuou, mas ele viu o pulso em seu pescoço aumentado.

— Eu era um deles — admiti ela, a voz baixando para um sussurro. — Uma cientista da Genesis. Mas eu vi demais. Eles estão criando algo novo, Kael. Algo pior do que você pode imaginar. E se não os paramos, não vai sobrar nada para nenhum de nós.

Antes que ele pudesse responder, um alarme soou, um guincho agudo que cortou o ar como uma faca. Luzes vermelhas piscaram no corredor, e o som de botas pesadas foram ouvidos. Aria xingou baixinho, puxando um dispositivo do bolso — um comunicador improvisado, pelo que Kael podia ver.

— Estamos sem tempo — disse ela, virando-se para a porta. — Você vem comigo ou fica aqui para lutar sozinho?

Kael olhou para a saída, depois para ela. A escolha era simples, mas as consequências eram um abismo desconhecido. Ele não confiava nela — ainda não —, mas confiava menos no Genesis Core. Com um grunhido baixo, ele concordou.

— Leve-me aos outros — disse ele, seguindo-a para o corredor. — Mas se isso for uma armadilha, você será a primeira a morrer.

Ela deu um sorriso tenso, quase desafiador.

– Justo. Vamos.

O corredor era um labirinto de aço e sombras, os alarmes ecoando em seus ouvidos enquanto corriam. Kael ouvia os gritos distantes de outros híbridos — alguns implorando, outros rugindo em desafio. Ele conhecia aqueles filhos, aquelas vozes. Seus irmãos. Seus iguais. E pela primeira vez em anos, a chama da esperança, pequena e frágil, acendeu-se em seu peito.

Aria liderava o caminho, suas mãos rápidas enquanto digitava códigos em portas trancadas. Ela foi eficiente, determinada, mas Kael sentiu o peso de algo mais nela — culpa, talvez, ou um segredo que ela ainda não revelou. Ele a observava com atenção, os instintos em alerta, mas por agora, ela era sua única saída.

Quando chegou a uma câmara maior, cheia de celas idênticas a dele, Kael parou. Dezenas de olhos o encararam através das classes — olhos de lobo, de urso, de falcão. Híbridos como ele, todos esperando, todos quebrados, mas ainda vivos.

— Vamos tirá-los daqui — disse Aria, já trabalhando na próxima fechadura.

Kael avançou, arrancando uma fechadura com as mãos nuas.

— Sim — rosnou ele. — Vamos.

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