Inicio / Romance / SOMBRAS DA LIBERDADE / CAPÍTULO 3 - FOGO E FUGA
CAPÍTULO 3 - FOGO E FUGA

O corredor tremia com o impacto dos passos dos Caçadores, cada batida reverberando como o martelo de um tambor de guerra. Kael sentiu o chão vibrar sob seus pés descalços, o instinto felino gritando para ele correr ou lutar. Mas Aria estava certa — correr era a única opção agora. Ele agarrou o braço dela, puxando-a para trás enquanto os híbridos libertados se espalhavam em um caos organizado, alguns carregando os feridos, outros rugindo em desafio.

— Jogue essa coisa! — falei ele, os olhos fixos na granada que ela segurava como se fosse uma tábua de salvação.

Aria arrancou o pino com os dentes, o movimento rápido e preciso, e lançou a granada em direção aos Caçadores. O objeto girou no ar, uma esfera prateada brilhando sob as luzes vermelhas, antes de explodir em uma onda de fogo e fumaça. O som foi ensurdecedor, um rugido que engoliu os gritos dos híbridos e o zumbido dos alarmes.

Kael não esperou para ver o resultado. Ele empurrou Aria à frente, correndo com os outros pelo corredor estreito que levava à saída de manutenção. O calor da explosão lambia suas costas, e fragmentos de metal ricocheteavam nas paredes, mas ele não olhava para trás. Se os Caçadores sobreviveram àquilo, seria um problema para depois.

— Por aqui! — disse Aria, apontando para uma escotilha embutida no chão, quase invisível sob uma camada de poeira e ferrugem. Ela caiu de joelhos, as mãos trabalhando freneticamente para girar o trava manual. O felino, que Kael agora se reconhece como um líder entre os outros, se juntou a ela, suas mãos enormes girando o mecanismo com uma força brutal que fez o metal gemer.

A escotilha se abriu com um rangido, revelando um poço escuro que descia em uma escada de metal enferrujada. O cheiro de mofo e óleo levantado, misturado com algo mais acre — o fedor de um lugar esquecido pelo Genesis Core.

— Isso vai nos levar ao exterior? — Disse a fêmea felina.

— Sim — respondeu Aria, ofegante. — Mas está apertado. E longo. Vocês vão ter que confiar em mim.

Kael bufou, um som que era metade riso, metade desprezo.

— Confiar em você é o que nos trouxe até aqui, humana. Vamos ver se vale a pena.

Ele foi o primeiro a descer, as garras cravando-se nas laterais da escada para se equilibrar. O metal rangia sob seu peso, mas aguentava. Um a um, os híbridos o seguiram , Aria foi a última, fechando a escotilha atrás de si com um estrondo que ecoou como um ponto final.

A descida era claustrofóbica, o ar rarefeito e pesado. Kael ouvia a respiração dos outros, alguns gemidos de dor dos feridos, e o leve tilintar das correntes que ainda pendiam de seus pulsos. Ele mantém os sentidos aguçados, atento a qualquer perseguição. Mas por enquanto, havia apenas silêncio acima deles — um silêncio que ele sabia que não duraria.

— Quanto tempo até o exterior? — Disse ele, a voz baixa para não ecoar demais.

Aria, alguns degraus acima, respondeu entre respirações ofegantes.

— Dez minutos, talvez menos. Depende do nosso ritmo. Há um túnel de escoamento no final. Ele nos leva a um rio fora do complexo.

Kael concordou, mesmo que ela não pudesse vê-lo. Um rio dava cobertura, uma chance de apagar seus rastros. Mas também tinha vulnerabilidade — os Caçadores podiam estar esperando, ou pior, drones do Genesis Core já poderiam estar vasculhando a área.

Quando seus pés tocaram o chão do túnel, ele parou, deixando os outros descerem atrás dele. O espaço era estreito, as paredes cobertas de musgo e ferrugem. Uma corrente fraca de água corre sob seus pés, fria o suficiente para fazer seus músculos se contraírem. Ele esperou até que Aria chegasse ao seu lado, o rosto dela sujo de poeira e suor, mas os olhos ainda brilhando com aquela determinação teimosa.

— Você já esteve aqui antes — disse ele, mais uma constatação do que uma pergunta.

Ela hesitou, então concordou.

— Uma vez. Durante uma inspeção. Eu memorizei os mapas antes de... antes de decidir sair.

— Decidir sair — repetiu Kael, o tom carregado de sarcasmo. — Você fala como se tivesse tido escolha.

Os olhos dela resistiram, mas ela não recuou.

— Eu tinha. Poderia ter ficado, continuado a trabalhar para eles. Mas escolhi isso. Escolhi vocês.

Ele a encarou por um longo momento, procurando mentiras em sua expressão. Não encontrou nenhuma, mas isso não fez com que confiasse nela. Ainda não.

— Vamos ver se sua escolha nos mantém vivos — disse ele, virando-se para liderar o grupo pelo túnel.

O caminho era traiçoeiro, o chão escorregadio e o teto baixo forçando os maiores híbridos, a se curvarem. Kael mantinha o ritmo, os sentidos atentos a cada som — o gotejar da água, o arrastar de pés, o ocasional rosnado de dor ou frustração. Ele sentiu o peso dos outros atrás de si, uma responsabilidade que nunca pediu, mas que agora carregava como uma segunda pele.

Depois de minutos que pareciam horas, o túnel começou a se alargar, o som da água ficando mais alto. À frente, uma porta enferrujada bloqueada à saída, mas além dela, Kael podia ver o brilho fraco da lua refletido em um rio lento. Liberdade. Ou pelo menos o primeiro gosto dela.

— Conseguimos — murmurou uma fêmea.

— Ainda não — corrigiu Kael, avançando para a porta. Ele agarrou as barras, testando a resistência. O metal estava corroído, mas ainda sólido. — precisamos quebrar isso.

O hibrido de leão se adiantou, empurrando Kael para o lado com um grunhido.

— Deixe comigo, felino. — Ele bateu os punhos contra a porta, o impacto ecoando como um trovão. Uma, duas, três vezes, até que o metal cedeu, dobrando-se e finalmente se partindo em pedaços que caíram na água abaixo.

Kael deu um aceno de aprovação, o primeiro sinal de respeito que ofereceu ao leão.

—Bom trabalho. Agora, todos para fora.

Um por um, os híbridos atravessaram a abertura, caindo na margem lamacenta do rio. Kael foi o último, ajudando Aria a passar antes de se juntar a eles. O ar fresco da noite atingiu seu rosto como uma tapa, carregado com o cheiro de terra molhada e pinheiros distantes. Pela primeira vez em anos, ele respirou sem o peso do confinamento.

Mas o rompimento durou um pouco. Um zumbido baixo cortou o silêncio, seguido por luzes que surgiram no céu — drones, pelo menos meia dúzia, suas lentes vermelhas varrendo a área como olhos famintos.

— Droga — xingou Aria, puxando o comunicador do bolso. — Eles nos encontraram rápido demais.

Kael Rosnou, as garras se estendiam enquanto se posicionava entre os híbridos e os drones.

— Então lutamos.

— Não — disse ela, os dedos balançando sobre o dispositivo. — Eu posso desativá-los. Me dê um minuto.

— Não temos um minuto — retrucou ele, mas ficou onde estava, os olhos fixos nos drones que se aproximavam.

Aria trabalhou rápido, o rosto iluminado pela tela do comunicador. De repente, os drones hesitaram, suas luzes piscando erraticamente antes de cair, um a um, na água com estalidos e faíscas.

— Como você fez isso? — Disse a felina, impressionada.

Aria guardou o dispositivo, um sorriso cansado nos lábios.

— Um truque que aprendi no Genesis. Mas não vai durar. Eles vão enviar mais.

Kael a encarou, a desconfiança lutando com uma pontada de admiração.

— Você é útil, humano. Por enquanto.

Ela riu, um som curto e exausto.

— Vou levar isso como um elogio.

O grupo se moveu novamente, seguindo o rio para o norte, as sombras das árvores oferecendo cobertura. Kael sabia que o Genesis Core não desistiria tão facilmente. Mas pela primeira vez, ele tinha algo além da sobrevivência para lutar — uma chance, por menor que fosse, de algo maior. E enquanto olhava para Aria, caminhando ao seu lado, ele se perguntou o quanto ela estava disposta a arriscar por essa causa.

Sigue leyendo en Buenovela
Escanea el código para descargar la APP

Capítulos relacionados

Último capítulo

Escanea el código para leer en la APP