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SOB A SUA LENTE
SOB A SUA LENTE
Por: Emilly Cerqueira
Capítulo 01 (Parte 01):

“Não se apaixone por mim, eu não vou me apaixonar por você”. 

Já fazia quase um ano desde que Alexandria Tapper ouvira aquela frase, mas não houve um dia sequer que as palavras não ressoaram em seu cérebro como um lembrete vívido da relação, meramente casual, que mantinha. Ela  odiava não saber como se sentia sobre isso. 

(02.01.2023)

O visor do ar condicionado do quarto de Alex indicava confortáveis 68ºF, o que em uma conversão para graus Celsius, ficava em torno de 20º. Deveria ser extremamente agradável, mas o vapor vindo da fresta do banheiro deixava a janela da suíte levemente embaçada e o ar pesado, como se acabasse de entrar em uma sauna.

Coberta com apenas um lençol fino floral, ela queria, desesperadamente, gritar para que Christian saísse logo do seu banho, mas estava tentando, a pedido do próprio rapaz, ser uma pessoa mais paciente, uma tarefa extremamente árdua para a fotógrafa.

Alexandria fechou os olhos, contou até dez, bateu as pernas, tentou até meditar focando em frases e trechos de Augusto Cury, apesar de não ter nenhuma complacência com livros de autoajuda. O som da água contra o piso parou por alguns segundos e Alex finalmente conseguiu sorrir, mesmo que minimamente, mas quando o barulho iniciou novamente, ela soltou um suspiro exasperado, se dando por vencida.

Rolou no colchão abafando um grunhido no travesseiro e antes que seus pés pudessem alcançar o carpete branco do próprio quarto, a porta da suíte rangeu e Christian Peña passou por ela fazendo qualquer resquício de irritação ser substituído por um longo suspiro. Ela sempre achou Christian bonito, mas olhando naquele momento, com água pingando do cabelo para o corpo, coberto unicamente por uma toalha cinza na cintura, o termo “bonito” era pífio demais. Se os Deuses gregos realmente existem, Afrodite e Apolo provavelmente morrem de inveja dele. 

A pele clara tinha um tom dourado típico de alguém que tinha passado as férias na praia, a parte alta do corte degradê caía no rosto e os cachos que a fotógrafa tanto adorava eram quase imperceptíveis. Até mesmo sua sobrancelha estava repleta de água, tão molhada que ao mínimo toque dos seus dedos, deixaram uma trilha de gotas pelo rosto. Christian era bonito, tão bonito que conseguia, apenas por existir, calar o ímpeto de Alexandria. 

Ele nunca foi um cara de muitos sorrisos, mas estava tentando melhorar por ela, mesmo que forçasse um sorriso amarelo e falso vez ou outra. Mas não era o caso com Alexandria, com ela o sorriso simplesmente aparecia. Ele se aproximou com passos lentos e um ar provocativo. Os lábios rosados estavam prensados pelos dentes e a cada centímetro que ele diminuía a distância, os olhos de Alexandria se iluminavam.

Peña era fascinante para ela, como uma droga viciante, feita em algum laboratório e usando tudo que ela mais se encantava. Os olhos castanhos mel ficavam mais perceptíveis agora, assim como as discretas sardinhas que ele tinha no nariz e sob os olhos. Ela cansou de esperar, paciência não era nem de longe, a sua maior virtude. Puxou o rapaz pelo cós da toalha o fazendo arquear a sobrancelha com malícia nas expressões. Alexandria rolou os olhos. Seus dedos acariciaram o antebraço do rapaz bem acima de uma tatuagem nova. 

A bandeira do Equador recém tatuada dividia espaço com todas as outras linhas que marcavam o braço esquerdo de Christian, um condor, uma frase em espanhol, as datas de nascimento dos pais, um leão e mais alguma que Alexandria conhecia tão bem, como se fizessem parte de si. 

— É linda — sussurrou — Acho que é a mais bonita que você tem.

O azul, quase cruel, das orbes da fotógrafa estavam escondidos sob uma faísca de total hipnose, assim como o castanho mel do jogador tão impassível e indecifrável, brilhavam em excitação. Eles não falaram nada por alguns segundos, apenas encarando um ao outro como se fosse a última vez que o fariam.   

— Eu senti sua falta lá, Alex — os dedos dele delinearam a curva do pescoço da fotógrafa, passando delicadamente por sua clavícula até alcançar uma ponta de lençol. Seus instintos primitivos queriam arrancar o tecido sem nenhuma cerimônia, mas ele se controlou — Eu cheguei a cogitar abandonar tudo lá só pra vir te ver.

Alex abaixou o rosto, rompendo o contato dos olhos deles, não era o tipo de coisa que queria ouvir. Homens conseguiam ser convincentes quando queriam, Christian era ainda melhor nisso, mas depois de quase um ano de uma relação estritamente casual, Alexandria já se sentia quase imune aos encantos do equatoriano. 

— Cogitou deixar sua família, que você não via há meses, por sexo? — franziu o cenho, o tom de voz sarcástico fez Christian bufar e se afastar — Eu duvido que você tenha tido tempo pra sentir minha falta, Peña — Alex levantou da cama em direção ao banheiro, mas antes de passar pela porta, começou uma lista em seus dedos — Você é um jogador de futebol em ascensão, tem vinte e quatro anos, é solteiro, e muito gato. Quando você enjoou dos seus pais provavelmente tinha uma fila de garotas latinas querendo escalar os seus lençóis, você não teve tempo pra sentir minha falta, Chris.

Christian abriu a boca para contrapor, mesmo que não tivesse argumento, mas a porta de madeira pela qual tinha passado minutos antes já estava fechada. Ele socou a própria coxa frustrado soltando um palavrão em espanhol. Nunca foi muito bom com palavras, mas ela conseguia tirar qualquer frase minimamente bem formulada da sua mente e deixar um borrão confuso. Alexandria Tapper era inteligente, inteligente do tipo que colocava qualquer pessoa no bolso sem se esforçar muito. 

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