— Lukas Haus vai se apresentar no treinamento amanhã — Teddy sorriu dando uma explicação que ninguém havia pedido.
Alex franziu o cenho, não fazia ideia de quem era Lukas Haus e não estava interessada em descobrir. Christian forçou um notório sorriso amarelo, não tinha nada pessoal contra o outro, sabia apenas o básico: Lukas era belga, tinha vinte e dois anos e era considerado uma promessa do futebol mundial, mas algo dentro dele sentia uma ameaça iminente. O clima estranho pairou por alguns segundos e Alexandria se sentiu na obrigação de intervir.
— Você disse que você e o seu irmão tocaram na garagem — os olhos claros encararam o jogador — Aprendeu alguma música nova? Nada contra seu repertório repetitivo do Ed Sheeran
Christian gargalhou. Seus sorrisos verdadeiros eram seletivos. Ele assentiu. Alex apontou com o nariz em direção à um suporte para violão na sala de estar, há alguns passos do corredor que o pai acabara de voltar. Era um violão antigo de Teddy que funcionava mais como ítem de decoração já que ninguém na casa sabia tocar. Os olhos do equatoriano encontraram os do técnico, um pedido de licença não verbalizado que foi prontamente assentido.
Ele não levou mais do que trinta segundos para ir e voltar com o violão preto em mãos. Com a mão livre, puxou a cadeira que estava sentado um pouco mais para trás ganhando espaço para o instrumento. Seus dedos removeram a palheta lisa da casa apoiando-a sobre o joelho. Com cuidado, Christian rolou os dedos sobre as tarraxas, levando um curto tempo para conferir a afinação e logo reposicionando o capotraste na parte inferior da segunda casa. Seus dedos dedilhavam algumas notas desconexas antes de finalmente uma melodia conhecida preencher a cozinha dos Tapper junto com a voz tímida do equatoriano.
I met you in the dark, you lit me up
You made me feel as though I was enough
We danced the night away, we drank too much
I held your hair back when
You were throwing up
A música de James Arthur saia como um sussurro dos seus lábios. Alex sentiu seu estômago revirar, mais tarde colocaria a culpa na comida, mas apenas naquele momento, preferiu deixar um sorriso escapar encarando os lábios vermelhos do rapaz cantando timidamente com os olhos mel se dividindo entre o chão e ela.
Then you smiled over your shoulder
For a minute, I was stone-cold sober
I pulled you closer to my chest
Teddy também deixou um sorriso escapar, mas diferente da filha, notoriamente hipnotizada, seus dentes perfeitamente brancos deixavam um misto de orgulho e malícia no ar. Christian se perdeu na melodia por uma fração do tempo. Os olhos encontrando os de Alex tempo o suficiente para sua mente vagar por todas memórias que tinha com ela, mas não o bastante para Teddy perceber algo.
And you asked me to stay over
I said, I already told ya
I think that you should get some rest
— Eu não aprendi a cifra completa — Christian mudou o tom de voz rapidamente e abaixou a cabeça, tímido. Ele sabia a cifra completa, mas parte de si percebeu como aquela música parecia uma declaração melosa e a última coisa que precisava era que Alex achasse que estava apaixonado. Ele definitivamente não queria estragar o que tinham e os termos do relacionamento eram muito claros: sexo sem compromisso. Ele mesmo tinha imposto.
— Uau — Teddy aplaudiu virando o que era a sua quarta dose de uísque duplo da noite — James Arthur é tão… — ele revirou os olhos azuis como se escolhesse as palavras com sabedoria em seu cérebro parcialmente embriagado — Romântico. Está apaixonado, Christian?
O equatoriano engasgou. O rosto se tornando vermelho à medida que ele recuperava o ar que lhe pareceu faltar. Os olhos passearam por Alex, parte de si queria ver a reação dela à pergunta, mas debaixo dos azul frio, só existiam expressões apáticas. Ele encostou o violão em uma cadeira vazia numa velocidade muito menor que o necessário, uma maneira de ganhar tempo para achar a resposta ideal.
— Relacionamentos que envolvem amor são complicados demais pra mim — ele franziu a boca, quase como se estivesse orgulhoso de si mesmo.
Alex ajeitou a coluna na cadeira. Cada feição e palavra que saia da boca do equatoriano passava por uma análise meticulosa em seu cérebro.
— Estar apaixonado e amar são coisas diferentes, Peña — ela cruzou as pernas ganhando atenção não só dele, quanto do próprio pai — Por definição, paixão é basicamente atração sexual e desejo de companhia.
— Você é uma leitora ávida de dicionários, não eu — ele riu fazendo a fotógrafa rolar os olhos.
— Não vamos misturar sentimentos aqui — a frase de Teddy fez um pequeno embrulho na barriga dos dois. Não misturar sentimentos era exatamente o que eles faziam. O lado paranóico de Christian gritava que o treinador sabia de tudo que acontecia entre eles e estava se preparando para dar um bote. Mas Teddy estava apenas curioso sobre a vida sexual do equatoriano, provavelmente uma maneira de tentar ser “descolado” ou reviver a própria juventude — Vai me dizer que não tinha nenhuma equatoriana disposta a passar um tempo, se é que você me entende, na sua presença íntima?
Christian considerou fingir uma ligação importante só para ter a chance de fugir daquele assunto. Ele não tinha vergonha daquilo, mas evitaria ao máximo que pudesse falar na frente de Alex sobre outras garotas, afinal, seu histórico com palavras erradas era mais extenso do que poderia contar.
— É… — se deu por vencido — Tinham algumas, mas não foi nada importante — a última parte soou como uma explicação para a fotógrafa sentada ao seu lado. Pelo que Christian conhecia de Alex, as expressões neutras em seu rosto não eram um sinal ruim, mas estava longe de ser bom — Na verdade, tem uma pessoa importante. Ela não é do Equador, é daqui de Londres, mas não é nada sério, a gente só… Você sabe…As sobrancelhas do patriarca Tapper se moveram para cima e para baixo, com interesse. Teddy estava bêbado e isso era uma constatação óbvia. — Vocês só transam — Alexandria ergueu o olhar entediado para ele voltando a atenção às pontas descascadas da unha sem muita importância. Teddy limpou a garganta, um pequeno traço de embaraço manchava os olhos azuis — O que? — Ela deu de ombros naturalmente — Não é como se alguém aqui ainda fosse virgem. Eu não consigo entender, por que sexo ainda é um tabu social? Não tem razão pra ter vergonha de algo que é instintivo e básico, se você existe é po
(03.01.2023)Alexandria se considerava uma fã da Lady Gaga, tinha ido para todos os shows possíveis da cantora, assistiu “Nasce uma estrela” na pré-estreia, tinha um DVD, mesmo que ninguém mais usasse DVD’s, de “Casa Gucci” em sua estante, apesar de que seu crush no Adam Driver era maior do que o apreço pela cantora, e contava os dias para “Joker: Folie à Deux”. Mas uma coisa era inegável: Alex odiava a sonoridade de “Americano”, e por isso, decidiu colocar a música como toque do seu despertador.A música era conceitual, cada mínimo verso escrito como uma crítica social a regimes xenofóbicos e homofóbicos, mas ainda assim, o tom melodramático incomodava os ouvidos da fotógrafa o suficiente para fazê-la levantar o mais rápido possível e se livrar da melodia.Não foi diferente naquela manhã. Quando o som de uma arma sendo carregada atingiu os ouvidos de Alex, seu corpo levantou instintivamente em direção ao celular, propositalmente deixado longe da cama, parando o alarme no exato segund
— Precisa de carona? — Teddy se sentiu confortável para se aproximar, beijando o topo da cabeça da filha, que se inclinou minimamente carinhosa. Eles estavam acostumados com isso, como se a falta de uma troca de farpas matinal fosse fora do normal.Alexandria digitou uma mensagem para Lauren no próprio telefone, confirmando um almoço marcado na noite anterior, antes de responder ao pai. — Vou passar na cafeteria antes de ir, mas obrigada. Teddy não teve chance de abrir a boca e a fotógrafa já estava no quarto degrau da escada de mármore branco. Alexandria bebia café demais e talvez por isso sua mente funcionasse tão rápido, deixando qualquer pessoa ao seu redor no mínimo confusa com a velocidade das suas mudanças de humor ou assunto. Ela gostava daquilo. Ter o cérebro funcionando de forma tão veloz quanto um carro de Fórmula 1 a deixava menos tempo perdida em memórias que queria esquecer. Alexandria se sentiu uma completa idiota quando a água quente batendo nos seus ombros a moveu
— O Christian voltou ontem do Equador — Isabela moveu as sobrancelhas, levemente pigmentadas de ruivo, para combinar com o cabelo chanel da mesma cor, com malícia. O sorriso crescendo cada vez mais nos lábios cheios. Isabela e Tadeu eram o tipo de casal modelo para todos ao seu redor. Começaram a namorar aos dezesseis anos, quando o rapaz ainda jogava nas divisões de base de um time do interior paulista, e desde então estavam juntos, casados e com quatro filhos. Bela tinha um tom maternal com Alex desde que ela se mudara para a capital inglesa. As bochechas redondas pareciam um pouco maiores à medida que a expectativa a alcançava — Então? Vocês se viram? — É… — falou baixinho, dando alguns passos junto com a fila diminuindo diante dela — Ele jantou na minha casa ontem — a frase soou mais como um murmúrio, um murmúrio do qual ela se arrependeria pouquíssimos momentos depois. — Na sua casa? Com Teddy Tapper? — Os olhos escuros de Tadeu brilharam. Se tinha algo que o casal tinha em com
— Você sumiu ontem — Drew virou de costas, abaixando a bermuda cinza de moletom que vestia, deixando a cueca preta que contornava suas nádegas bem na frente do rosto do equatoriano. O camisa 10 franziu o cenho, virando sua atenção para outro ponto.— Dá pra tirar a bunda da minha cara? — Ele espalmou a mão como se espantasse uma mosca. — Disse que ia passar na minha casa ontem, mas não apareceu — o norueguês acabou de vestir a calça de treino, voltando a se sentar. — Eu tive que passar a noite ouvindo o Jay falar quão próxima da perfeição é a Claire segundo a proporção áurea. Eu nem imaginava que o Jaden soubesse o que era proporção áurea. Christian suspirou. Considerou inventar alguma desculpa, mas conhecia bem o poder de argumentação do zagueiro, e pelo olhar afiado que ele recebia, não conseguiria mentir. Ele abriu a boca algumas vezes sem emitir nenhum som, gesto que o norueguês entendeu como uma tentativa de escolher as palavras certas e aproveitou a deixa para trocar a camisa,
Christian e Andrew o encararam. Gotas de suor marcavam a pele negra da sua testa e pescoço. Os dreads amarelos que usava até o dia anterior agora davam espaço para um black naturalmente preto e consideravelmente alto. Jaden sorriu para Teddy, o constrangimento palpável em cada feição.— Sinto muito pelo atraso — falou mais baixo que o de costume, o sotaque britânico presente no seu tom charmoso de voz. Jaden não levou mais do que dez segundos para recuperar o fôlego, logo empurrando Andrew gentilmente para o lado e se pondo entre ele e o equatoriano. — Perdi algo? — sussurrou, dessa vez para os amigos. — O bom senso — Andrew murmurou — Talvez tenha deixado na casa do "leite do seu chá" — abriu aspas no ar sem romper o contato visual com Teddy, que olhava para o lado oposto. Jaden ergueu a mão, mostrando o dedo do meio. Teddy balançou a cabeça em negação, ainda sorrindo. Ele estava de bom humor e parte dele com toda certeza se dava ao rapaz de vinte e três anos vindo junto com Matt D
Lukas Haus nunca acreditou no amor à primeira vista, achava brega, e muito utópica, a ideia de se apaixonar por alguém apenas olhando para ela. E apesar de a leitura ser um dos seus maiores hobbies, ele sempre abandonava livros “instalovers”. O máximo que o belga se permitia crer, quando o assunto era ver alguém pela primeira vez, era em atração. E foi essa atração que ele sentiu quando seu olhar cruzou com o da fotógrafa.O jogador sempre considerou vermelho como sua cor favorita, já tinha dito isso em algumas entrevistas para sites de fofoca e revistas teen em que seu rosto estampava a capa, mas se perguntassem novamente, ele diria que era azul. O azul frio dos olhos da mulher que encarava, especificamente. Tinha até uma justificativa para isso: “é a cor do meu novo time”, diria se fosse questionado o motivo da mudança.— Essa não é uma boa ideia — o tom de voz de Christian era diferente de minutos antes, quando se apresentou, um pouco mais grossa, quase forçada — Flertar com funci
Lukas riu, ainda com um resquício de hesitação no sorriso. Copiou o movimento dos outros dois, vestindo o colete chamativo antes de se virar e encarar o trio que enfrentariam. Christian mantinha o olhar fixo em si, desafiador, como se fosse um maldito goleiro tentando defender seu pênalti na final de uma Copa do Mundo. Andrew e Jaden, cada um de um lado do equatoriano, tinham as feições mais amigáveis. O camisa 10 do KRS não tinha gostado de si, ele tinha percebido, mas ainda não sabia a razão. ***************Alexandria já tinha mais fotos do que o suficiente para aquela manhã, mas ainda assim seus dedos não paravam de clicar no obturador, capturando desde o enorme sorriso no rosto do pai até a carranca estampada nas feições de Christian. Cole já tinha abandonado há muito a sua filmadora, sentado no chão, ele parecia entretido no seu celular. Os olhos do equatoriano caíram nela e ela pôde jurar que viu uma curvatura em seus